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História Seven love letters - Um coração começando do zero


Escrita por: myavengedromanc

Notas do Autor


Gente, aqui está o último capítulo :(
Vou postar o epílogo o mais rápido possível, mesmo que eu esteja sofrendo pq não quero que acabe

Capítulo 27 - Um coração começando do zero


 

A vida deu uma volta mágica e de repente tudo fluiu. Como uma trégua para o verão típico do sudoeste da França de 26 ºC, havia uma brisa agradável. Abri as volets da cozinha ampla e travei as pesadas portas de madeira no lugar com uma tranca de ferro, empurrando cuidadosamente de lado os ramos da minha roseira favorita. Repleto de pelo menos cem cachos escarlates, as vinhas subiam pelas vigas rústicas na parte de trás de nossa casa e se aninhavam no pequeno telhado de terracota que protegia nossa cozinha do sol. O perfume inebriante de lavanda e rosas encheu o ar. Estranhamente, todas as flores tinham florescido uma segunda vez. Como eu.

As crianças ficariam na casa da avó pelo resto do verão, dando a nós, recém-casados, algum tempo sozinhos. Quando voltassem, eu queria ter a casa em ordem, aconchegante e convidativa, para compensar o frio iminente que eu esperava estar presente quando voltassem para casa, graças à antipatia de sua avó por Gerard.

Eu era um homem com um plano.

O olhar de Gerard disparou para a pequena estante na sala. Com uma furadeira em punho, eu tinha pendurado três placas de gesso entalhadas, o trabalho ornamental e arquitetônico de um artista chamado Sid Dickens sobre ela. Junto das fotos da família que eu tinha colocado em cima da estante de livros, encontrei um navio de madeira bonito na garagem. Tinha cerca de três metros de comprimento e um metro de largura, com detalhamento impressionante, desde o piso de madeira de tábuas até as velas. Gerard olhou com orgulho.

— Meu pai construiu isso, cada peça foi esculpida com as próprias mãos.

Passei meus dedos pelo leme delicado, em seguida, pelo mastro.

— Não era um kit de montar?

— Não.

— Uau, isso é incrível.

Os olhos dele suavizaram.

— Não, você é incrível. Amo o que você está fazendo aqui. Realmente, ficou ótimo. Você já fez muita coisa em tão pouco tempo.

O Skype chamou no meu computador. Virei-me para Gerard.

— Posso retornar a ligação mais tarde.

— Atenda. — disse ele — É sua mãe.

— Eu te amo. — eu disse.

— Eu sei.

Abri a tela de vídeo.

— Oi, mãe!

— Estou muito animada para ver todo o trabalho que você fez com sua casa. Me mostre.

— Olá, Linda. — disse Gerard.

Embora passasse horas no telefone com minha mãe, algo que eu adorava a seu respeito, Gerard não era fã de vídeo. Ele me deu um beijo na bochecha e acenou para a tela, antes de se esgueirar escada abaixo, deixando-me levar minha mãe numa excursão de casa. Ela fez “Ohs” e “Ahs”.

Alguns dias depois, buscamos as crianças no aeroporto. Estavam um pouco mais quietos e reservados, hesitantes. Porém, quando abriram a porta para a cozinha, agora pintada de laranja com duas pinturas italianas que adornavam as paredes, antes nuas, e a grande tigela de prata recheada com frutas sobre o balcão, abriram sorrisos. Quando entraram na sala de estar, seus olhos dispararam de um lado para o outro. Um tapete agora decorava o chão. Adicionando-se tons de verde de almofadas, mantas, velas e plantas — tudo graças às maravilhas da IKEA e ao dinheiro que recebemos como presentes de casamento — eu percebia que eles estavam extasiados.

Mas foi quando fomos ao andar de cima, que as crianças viram a maior mudança. As estantes IKEA estavam juntas, o computador e a impressora estavam sobre uma mesa nova, e um tapete peludo borgonha enfeitava o chão. As paredes antes nuas haviam sido pintadas e decoradas com fotos da família. Peguei um porta-retratos vazio da estante. Era de madeira pintada de prateado com flores entalhadas.

— C’est pour la photo de ta mère. — era para a foto da mãe deles.

— Merci. — Elvire disse — Merci.

Não importava o que sua avó tinha lhes dito, não importava o que tinham passado com Natasha, os dois precisavam saber que eu não ia a lugar nenhum. Aquela agora era a minha casa e não havia porta giratória. Eu estava lá para ficar. Eu sabia que nunca iria substituir a mãe deles, mas agora eu era uma parte de suas vidas.

— D’accord. — disse Gerard — Range tes sacs. On partira demain.

Partiríamos no dia seguinte?

— Ah, oui. — disse Max — On ira en Espagne.

Eu havia estado tão ocupado, que tinha quase esquecido da viagem anual com o clube de mergulho de Gerard naquele fim de semana. Era hora de viver sua paixão subaquática, algo que nem as crianças nem eu já tínhamos feito. Na tarde seguinte, carregamos o carro e dirigimos pouco mais de três horas até L’Estartit, um vilarejo à beira-mar localizado na região da Costa Brava no norte da Espanha. Elvire, Max e eu nos juntaríamos ao grupo para uma manhã de mergulho: um baptême de plongée. Caminhamos até o centro de mergulho, passando por restaurantes e inúmeras lojas típicas de qualquer comunidade balneária europeia: as que vendiam protetores solares, jangadas, cangas e quinquilharia, o tipo de loja em que Elvire e Max poderiam passar horas. Eles pararam em frente a uma das boutiques.

— À plus tard — disse Gerard.

Mais tarde significava agora. As crianças dispararam para dentro da loja. Gerard deu-lhes três minutos e os puxou para fora.

Enquanto meu marido, mestre de mergulho, estava ocupado com seus colegas, as crianças e eu fomos colocados nas mãos da nossa instrutora, uma ruiva catalã com cabelo de fogo, que falava tanto espanhol quanto francês. Contudo, não falava inglês e isso me deixou extremamente nervoso. Enquanto entendia os conceitos básicos de mergulho, eu esperava que não perdesse nada importante. Porque eu poderia morrer. Max foi o primeiro a levantar a mão quando ela perguntou quem queria ir primeiro. Elvire foi a segunda. Fiquei por último.

— C’était bon? — perguntei a Max quando ele voltou do mar para o barco.

Se tinha sido bom? Ele fez sinal de positivo com o polegar.

— Tu as eu peur? — Deus sabia que eu estava morrendo de medo.

Ele deu de ombros.

— Non, pas vraiment.

Quinze minutos depois, Elvire subiu a escada, seus olhos azuis brilhando sob o Sol espanhol. Com um grunhido e um aceno de cabeça, um homem cheio de sal com uma barba por fazer me chamou. Ele me fazia lembrar de um pirata — só faltava o tapa-olho. Primeiro, colocou um cinto pesado em volta da minha cintura, depois apontou para um par de pés de pato, que eu coloquei. Ele me entregou uma máscara e jogou o colete estabilizador e o tanque na água.

— Sautez! — disse.

Um passo de pé de pato de cada vez, fui até a escada e pulei na água, batendo os pés por alguns minutos, esperando a nossa instrutora, que era fácil de ver, já que sua roupa de mergulho era equipada com chifres vermelhos sobre o capuz e uma cauda pontuda no traseiro.

Ela nadou até mim, me ajudou a amarrar o colete e, em francês, me disse para colocar o regulador na minha boca e respirar.

De mãos dadas com o diabo, comecei a descida lenta pelo Mar Mediterrâneo. Os três primeiros minutos foram um inferno absoluto. Meu medo não era a vida marinha nadando ao meu redor; era a asfixia. Sempre tinha pensado que a primeira vez que eu tentasse mergulho seria numa piscina, porém ali, eu estava em águas abertas. A instrutora ajustou meu colete, tornando mais fácil minha orientação. Pouco a pouco, meus nervos se acalmaram e minha respiração se tornou mais natural, estável. A vida do mar era abundante — centenas de minúsculos peixes fluorescentes roxos, grandes peixes listrados de preto e branco, pequenos amarelos, azuis e até mesmo algumas estrelas-do-mar. Segurando a mão dela, eu relaxei um pouco e aproveitei — ou tentei aproveitar — o mundo ao meu redor.

Cinco minutos mais tarde, saímos. Eu ainda estava vivo, me sentia mais do que vivo. Tinha vencido mais um dos meus medos. Gerard sorriu para mim de cima do deque. Com o amor do meu lado, eu percebi: poderia fazer qualquer coisa.

 

**

 

Setembro chegou de mansinho, e as crianças voltaram para a escola, Gerard voltou a trabalhar, e eu fiz meu melhor para me acomodar naquela nova vida como imigrante padrasto dono de casa. Por enquanto. Durante o dia, eu cortava as ervas daninhas no jardim e podava as roseiras, enquanto batia papo furado com meus vizinhos pela cerca de arame que separava as propriedades. Um casal na casa dos 70 anos, Claude e Paulette, me agraciaram com tomates enormes coeur du boeuf de seu jardim e foie gras caseiro. Embora meu francês tivesse melhorado, ainda era, por vezes, difícil de me comunicar com eles, mas eu estava tentando.

Um dia, ociosamente, entrei na minha página do Facebook. O que eu encontrei me surpreendeu a ponto de me deixar sem fala. Meu pai biológico não apenas tinha me rastreado, como tinha me enviado um pedido de amizade e uma mensagem dizendo que eu tinha sorte de viver na França e, além disso, que eu tinha um meio-irmão de 16 anos, que eu deveria conhecer um dia.

Fazia mais de vinte anos desde que tinha tido notícias dele pela última vez. E aquilo? Era aquilo que ele mandava? Sua atitude indiferente de não dar as caras me deixava consternado.

Não consegui impedir que as lágrimas caíssem quando disse a Gerard. Sufoquei minha raiva.

— Preciso colocar um ponto final nisso agora. Não o quero mais na minha vida, aparecendo assim sem aviso-prévio.

— Frank, eu já lhe disse uma vez antes, você tem de tirar todo o veneno da sua vida. Se não o fizer, ele vai te matar. — ele apertou meus ombros — Então, faça-o.

Levei três dias para encontrar as palavras certas:

 

Caro Anthony,

Desculpe, Charlie, você é um completo estranho e minha amizade não está à disposição. Não, eu não te odeio, nem desejo mal, mas ninguém precisa trazer à tona as lembranças dolorosas do passado, quando já foram superadas. Quanto a seu filho, se ele ou eu algum dia quisermos entrar em contato um com o outro, entraremos. Por favor, respeite meus desejos e continue com sua vida do jeito que tem sido: sem minha mãe e sem mim.

Tudo de bom,

Frank Iero Way


 

Capaz de dizer adeus em meus próprios termos, finalmente tive o encerramento de que eu precisava. Ufa. Toda a minha raiva reprimida tinha ido embora. Até o meu coração parecia mais leve. Liguei para Bert a fim de atualizá-lo a respeito da minha última vitória.

— Você não tem curiosidade sobre seu irmão? — perguntou ele.

— Tenho. Você acha que a gente se parece?

— Só há uma maneira de descobrir. Peça uma foto.

— Não posso, Bert. De certa forma, me sinto aliviado de finalmente conseguir colocar para fora o que eu sentia depois de todos esses anos. Estou feliz que Anthony esteja fora da minha vida.

— Tem certeza?

— Sobre Anthony, sim.

— E sobre seu suposto irmão?

— Só o tempo irá dizer.

Por mais que eu tivesse reescrito meu passado com Gerard, também tinha sido capaz de fechar o livro sobre uma história assombrosa que me impedia de seguir adiante por completo.

Mas será que eu tinha realmente superado? Mais uma vez, só havia uma maneira de descobrir.

Peguei a sétima carta de Gerard da pasta de plástico azul para relê-la.

 

Carta sete

PARIS, 23 DE NOVEMBRO DE 1989

Frank,

Nunca recebi qualquer notícia sua, nem mesmo uma única carta com um “Como vai você, cara?”. Tenho certeza, agora, de que minhas cartas te surpreenderam de modo negativo. É provável que você tenha ficado se perguntando se eu era um completo idiota e a única maneira de parar esse absurdo era não me responder. Acho que você está errado por se comportar dessa maneira.

Claro, só nos conhecemos por um tempo curto, mas somos seres humanos e não funcionamos como máquinas, regidos por um programa. Não me arrependo de nada; nem falado, nem escrito.

Realmente espero que você responda a esta carta.

Gostaria muito de ter alguma notícia sua. Só porque existem cinco mil quilômetros entre nós, não significa que temos de apagar a amizade. Gostaria de saber os motivos por trás do seu silêncio.

Talvez você tenha razão. Não importa. Assim é a vida.

Não vou mais escrever se você não quiser. Então, desejo que tudo dê certo para você em Syracuse.

Cordialmente,

Gerard

 

**

 

Fechei meus olhos com força, grato por finalmente ter ganhado coragem para responder a Gerard. Eu tinha me encontrado. Coloquei a carta de volta no plástico de proteção que separava as sete cartas da pilha de outras cartas, que formavam, pelo menos, cinco centímetros de espessura.

De quem eram todas aquelas outras cartas? E por que diabos eu as estava guardando? Não precisava mais me apegar ao passado, procurar validação emocional ou inflar meu ego. Não quando, no presente, tinha tudo que eu sempre quis. Tive uma inspiração.

Isqueiro em mãos, juntei tudo no quintal, pronto para purgar. Sem fôlego por causa da emoção, coloquei uma pilha de cartas na churrasqueira e acendi um canto. Folhas amassadas curvaram-se e se tornaram cinzentas, depois pretas, por fim se transformando numa pilha de cinzas fumegantes. Nuvens de fumaça subiam até meu nariz. Envoltas em chamas alaranjadas, lembranças de relacionamentos passados crepitavam e assobiavam, e nomes, há muito esquecidos, desapareceram. Os vapores de carvão e poeira encheram meus pulmões. Sufoquei uma tosse e joguei mais cartas na pilha, dizendo au revoir para um admirador secreto e um adieu final a namorados do ensino médio e da faculdade. Meus olhos lacrimejavam e ardiam, mas eu não poderia parar a limpeza. Prendi a respiração e joguei outra carta antiga sobre as chamas em celebração. Era o cartão “Toque mais uma vez, Frank”, de Anthony.

Uma estranha sensação de prazer inundou meu corpo. Assisti ao cartão de Anthony queimando, até que se tornasse uma pilha de cinzas. Depois joguei outra carta nas chamas, tentado a dançar ao redor do fogo em algum tipo de ritual tribal bizarro, enquanto cantava “Free at Last”, enfim livre.

Gerard chegou do trabalho e me encontrou no jardim, cercado por uma nuvem de fumaça, atiçando o fogo com um tubo de ferro. Seus olhos dispararam para o pinheiro enorme acima da grelha.

— Frank, que diabos você está cozinhando?

— Estou queimando todas as minhas cartas antigas. — virei-me para encará-lo, atiçador em punho — Menos as suas, claro. E algumas do Bert.

A risada dele começou lenta e, depois, cresceu.

— Mas poderíamos ter lido juntos. E poderíamos ter rido.

Ele já tinha todos os pontos que compunham minha vida; não tinha necessidade de ligá-los uns aos outros. Minhas sobrancelhas franziram.

— Mas pensei que era romântico, um gesto simbólico…

— E é.

Gerard estalou os lábios, colocou as mãos na minha cintura e me puxou para um beijo.

Soupe de langues! O período de lua de mel estava longe de terminar. Desvencilhei-me de seu abraço, antes que as temperaturas subissem demais.

— Você acha que vai durar? Esta paixão?

Gerard sufocou outra risada.

— Frank, como eu te disse numa das minhas cartas, uma vida sem paixão é como um céu sem lua ou sem estrelas, como um mar sem peixinhos.

— Mas você não me escreve mais cartas de amor. — provoquei.

— Não preciso. Você está aqui comigo, agora mesmo, bem onde deveria estar.

Sim, ali estava eu, no presente, vivendo a vida no sul da França, casado com um homem que eu tinha conhecido havia mais de duas décadas. Como meus pais haviam me dito logo após a minha adoção, amor não vinha com DNA; vinha de se abrir o coração, assim como meu pai de verdade, Ernest, tinha feito por mim. Assim como eu poderia fazer de todo o coração agora. O resto, como diziam, era história.

Vinte anos atrás, eu tinha pavor de amor, de me permitir ser amado, e deixei Gerard parado, sozinho, numa plataforma na Gare de Lyon. Mas o trem finalmente tinha parado na minha estação. Quando abri mão da raiva, da culpa e do medo, finalmente deixei o amor entrar. Pelo menos uma vez, toda a minha vida havia saltado para o caminho certo e estava seguindo em frente, avançando a toda velocidade.

L’amour! Encore l’amour! Toujours l’amour! (O amor! Ainda o amor! Para sempre, o amor!)


Notas Finais


Nem acredito que a partir do próximo não vai mais existir atualização dessa adaptação
Bom, eu vou começar a postar uma outra adaptação, porque não vou conseguir viver sem estar postando algo hashuahs Então, ainda essa semana começo a postar essa nova adaptação que se chama Maybe Not, e que é muito maravilhosa
Ah, e esses dias postei uma one também: https://spiritfanfics.com/historia/crystal-skies-8937566

Bom, a gente se vê no epílogo :( <3


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