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História Seven love letters - O blog do amor


Escrita por: myavengedromanc

Notas do Autor


Demorei mais que o esperado, desculpem :(

Capítulo 3 - O blog do amor



Bom, não era como se eu pensasse que Gerard estivesse sofrendo por mim durante todos esses anos, sentado em algum apartamento de Paris, gritando: “Oh, Frank, você partiu meu coração! Nunca vou me apaixonar por outra pessoa. Por que você não me respondeu? Por quê? Por quê? Por quê?”.

Em primeiro lugar, se tivesse dito essas palavras, teria sido em francês. Em segundo, era provável que ele nem se lembrasse de mim. Em terceiro, eu tinha certeza de que ele fazia tipo.

Afinal, ele era um francês atraente com uma boa lábia. Sinceramente, ele poderia ter escrito dezenas e dezenas de cartas para outros caras.

Isso não mudou minha missão.

Ao pedir desculpas a Gerard, eu estaria me defrontando com um arrependimento de cada vez, fazendo as pazes com meu passado, uma espécie de programa de doze passos para pessoas com deficiência emocional. Primeiro item da lista: encontrá-lo.

Sentei-me à mesa da sala de jantar com o notebook, abri uma janela do navegador e coloquei o nome dele e a ocupação na barra de pesquisa. Claro, eu não sabia se os profissionais da área dele realmente chamavam a si mesmos de cientistas de foguetes, mas já era um começo.

Prendi a respiração e…

Quarenta e dois mil resultados apareceram. O primeiro da listagem era o ator Gerard Butler.

O pequeno problema técnico, porém, não me deixou desanimado. 

Quantos cientistas franceses de foguete poderiam ter o mesmo nome que ele?

Bem, o sobrenome, na verdade.

Usando um pequeno truque que aprendi para refinar as coisas, pesquisei o nome completo de Gerard entre aspas. Mais uma vez, cliquei em pesquisar. Foi bem mais promissor: trinta e nove resultados. Cliquei em todos eles, o que incluiu a leitura de uma dissertação em PDF sobre a indústria aeroespacial. O que era um projeto hipersônico de alta entalpia? A entrada e a reentrada na atmosfera marciana? Posso não ter entendido uma única palavra do que li, mas leve-me para cima, Scotty. Como uma Mata Hari moderna, eu tinha rastreado meu cientista de foguetes.

Deixando minha compreensão limitada do que ele fazia para viver, me encontrei num enigma ainda maior. Não poderia simplesmente disparar alguma mensagem aleatória. O que eu diria? “Caro Gerard, você pode não se lembrar de mim, mas sou o garoto meio neurótico que você conheceu há vinte anos em Paris. Você me escreveu sete lindas cartas de amor. Eu nunca respondi. Bem, só quero pedir desculpas. Sinto muito, não foi você; fui eu. Espero que esteja tudo bem, Frank.”

Não. Definitivamente não.

Considerando como a minha resposta estava atrasada, eu precisava fazer algo mais, algo especial, talvez até um pouco poético. A ideia do Bert sobre o blog do amor começou a parecer boa, com grandes — eu quero dizer imensos — ajustes. Vigorosa como a corrida dos touros em Pamplona, a ideia avançou para dentro do meu cérebro. Liguei para Bert a fim de colocar um freio em sua ideia de milhões de dólares.

— Hoje pensei sobre as cartas de Gerard. — comecei — E em hipótese alguma vou publicar as cartas dele na internet para que a gente possa compará-las com outras. — eu não estava necessariamente divulgando a notícia de forma cuidadosa, mas pelo menos cheguei logo ao ponto — Bertie, pensei em algo um pouco diferente. — a empolgação fez a minha voz falhar — Sua ideia sobre um blog do amor não foi tão ruim. Na verdade, ela me inspirou. — recuperei o fôlego — Vou escrever um blog de sete postagens, o mesmo número de cartas que ele me escreveu, contando sobre o tempo que passamos em Paris. Depois vou enviar o link a Gerard junto do meu pedido de desculpas atrasado.

Eu meio que estava esperando Bert disparar alguma música sobre ser tarde demais para desculpar-se para contribuir com o choque. Ele não cantou.

— Fico feliz por você tomar alguma iniciativa. Afinal de contas, só comecei com toda essa coisa de “blog do amor” para chutar a sua mente numa direção melhor. — ele fez uma pausa — Você precisava de um bom chute.

Independente das verdadeiras intenções de Bert, o plano dele funcionou. De repente, Gerard e suas cartas eram tudo em que eu conseguia pensar. A lembrança era pura felicidade, e eu precisava de mais.

— Por favor, encontre as fotos da nossa viagem. — implorei — Estou morrendo de vontade de ver.

— Deixar de ver essas fotos não vai fazer mal algum, mas, ao continuar com o seu casamento, você estaria se matando. Então, quando é que você vai largar o Chris? E eu que sempre pensei que era o tipo de cara “até que a morte os separe”.

— Quando for a hora certa.

— A hora nunca vai ser a certa.

— É tão difícil ir embora. Ficar é mais fácil. Minha confiança foi atingida.

— Não faça tanto drama. — disse ele — Pare de inventar desculpas.

Quando o meu melhor amigo tinha se transformado num guru de relacionamento, eu nunca saberia.

 

Naquela noite, antes de eu ir para a cama, meu marido ligou. Conversamos por alguns minutos. Nada fora do comum. Ele me contou sobre a viagem. Minha voz estava animada o suficiente, mas meus pensamentos estavam em outro lugar. Ele me disse que estava sentindo saudades. Que me veria em poucos dias. Por força do hábito, eu disse que estava com saudades também, que mal podia esperar para vê-lo. A culpa pesava nos meus ombros como um traje de ferro que eu não conseguia tirar. Eu não estava com saudades dele.
De jeito nenhum.

No começo, eu tinha sido atraído pelo espírito empreendedor do meu marido, seu ímpeto e dedicação, o senso de humor sutil. Ele tinha uma bela casa no lado norte de Chicago, com um jardim espetacular e uma bonita árvore de magnólias. Eu era um otimista de 27 anos e pensei que poderíamos construir o nosso futuro juntos. Nos primeiros anos, tínhamos sido o feliz casal clichê, dando jantares e saindo da cidade, fazendo viagens incríveis. Porém, depois de algumas empresas falidas, as coisas mudaram. Ele começou a nos comparar a outros casais, amigos dele ou meus, que tinham casas maiores, ganhavam mais dinheiro, tinham filhos. Optei por dormir no quarto de hóspedes com o meu cachorro, culpando o ronco do meu marido pela mudança. A portas fechadas, a fachada do casal feliz foi caindo por terra até que sobrassem apenas raiva (ele) e ressentimento (eu).

Desligamos. Abri meu blog e escrevi a primeira postagem. Eu não tinha nenhuma paixão na minha vida atual, mas pelo menos poderia reviver os dias de glória do meu passado. Sendo levado pela minha aventura parisiense, a primeira postagem foi seguida pela segunda, meus dedos assumindo vida própria. Liguei para minha irmã e passei o endereço. Alertei alguns outros amigos, via e-mail.

— Por que você nunca me contou sobre Gerard? — minha irmã Jessica gritou ao telefone na manhã seguinte.

— Jessie, a gente não compartilhava as coisas naquela época. Crianças de 8 anos não costumam dar os conselhos de relacionamento mais espetaculares.

Ela bufou.

— Então é por isso que você nunca confiou em mim?

— Pode-se dizer que sim. — eu disse — Mas os tempos são outros.

Na verdade, parando para pensar, não existiam muitas diferenças entre um homem de 39 anos e uma mulher de 28, ainda mais quando o primeiro era um pouco mais louco do que a segunda.

Considerando que eu definitivamente era filho da minha mãe, Jessica tinha a mente mais pragmática do nosso pai. Mesmo assim, nossa diferença de idade não era tão importante como tinha sido no passado, especialmente desde que ela mesma já havia experimentado um pouco da vida àquela altura.

— Quero ler essas cartas. — disse Jessica. Não era um pedido, mas uma exigência — Digitalize e mande para mim.

— Não.

— Por quê?

— Porque são melhores ao vivo.

Ela suspirou.

— Está bem. De qualquer forma, quero te fazer uma visita em breve.

Jessica não me deixou largar o telefone até que eu tivesse prometido continuar com a minha história. Verifiquei os comentários no blog, alguns minutos depois, e o consenso dos poucos seguidores que eu tinha era o mesmo. A história era um bombom coberto de chocolate, incrivelmente delicioso, de lamber os beiços, e ainda com recheio cremoso. Eu me encontrei desejando as palavras de Gerard, um vício doce mascarando a acidez da minha vontade de me divorciar de Chris.

Contei sobre nosso primeiro encontro no café parisiense, em que, mesmo estando um de cada lado do salão, nossos olhares haviam travado, esperando que a explosão do passado fosse despertar as memórias de Gerard, rezando para que ele se lembrasse do nosso tempo juntos. O e-mail para ele foi um pouco mais difícil de escrever. Demorou quatro dias, incontáveis rascunhos, e algumas dezenas de ligações para Bert até chegar a um pedido de desculpas que não parecesse insano. Chegou o dia cinco. De acordo com o plano na minha cabeça, era hora de convidar Gerard para visitar o blog. Antes de enviar a minha carta para o ciberespaço, liguei para Bert.

— Isso é loucura. — falei — Passaram-se vinte anos. Eu deveria simplesmente apagar aquelas mensagens.

— Não se atreva. — disse Bert — Termine o que você começou. Eu te conheço, Frankie. Você quer fazer isso.

Queria? Diferente de uma carta de papel, eu não podia correr até a caixa de correio e rasgar a mensagem antes que o carteiro recolhesse. Bati o mouse sobre a minha mesa, deliberando, olhando para a tela do computador. Por outro lado, do que eu tinha tanto medo? Era apenas um pedido de desculpas — um que ele podia até não receber. Em um momento “agora ou nunca”, prendi a respiração e cliquei em “enviar” antes que eu pudesse mudar de ideia. Observei a barra enchendo enquanto o e-mail era enviado. Estávamos em tempos modernos, e o que era feito, estava feito.
 

De: Frank

Para: Gerard

Assunto: Minha carta está muito atrasada

Caro Gerard,

Caso você esteja se perguntando, sim, esta carta está vinte anos atrasada.
Semana passada, encontrei as suas cartas (sempre as guardei), e senti uma forte necessidade de me desculpar. Em profusão. Você me escreveu sete das mais belas cartas que já li, e nunca encontrei a coragem de responder. Tentei te encontrar alguns anos mais tarde, mas você tinha seguido em frente. Infelizmente, a internet não era tão poderosa como é agora.
Naquela época, a maneira como você expressou seus sentimentos por mim, do jeito que você escreveu, tão apaixonado, tão romântico, era muito intimidadora. Não importava o quanto eu tentasse, as minhas palavras saíam errado. Não preciso dizer que a lixeira no meu dormitório transbordava com folhas de papel amassado.

Mas esse motivo é apenas uma pequena parte. É hora de confessar e chegar à razão verdadeira.
Logo antes de eu partir para Paris, meu pai biológico entrou na minha vida. Tão rápido como ele apareceu, mais uma vez desapareceu. O que deixou minha cabeça muito confusa. Para ser breve, por causa dele, eu sempre afastei as pessoas (homens), em especial quando elas se aproximavam. E você chegou perto demais.

Então, aqui está. E realmente sinto muito.
Dito tudo isso, estou contando a nossa história em um blog. Minha intenção não é te envergonhar, mas suas palavras foram tão bonitas, que postei trechos das suas cartas online. E, por causa de como sou, estou colocando um pouco de humor na nossa história. Agora estou na quinta postagem, e nossa história vai durar sete postagens, o número exato das cartas que você me mandou. Um pouco de poesia da minha parte? Se você não me responder, naturalmente, vou entender.

Cuide-se,
Frank 

 

E logo abaixo coloquei o link do blog para que ele pudesse acessar.

Não pensei sobre a diferença de fuso horário ou o fato de que eu tinha acabado de mandar um e-mail para o endereço de trabalho do Gerard em uma noite de sexta-feira. Não, eu atualizava minha caixa de entrada a cada dois minutos na esperança de uma resposta imediata.

Fantasias brincavam com a minha cabeça.

“Eu te perdoo”, ele escreveria.

Ao que eu responderia: “Obrigado. Eu sabia que você ia entender. Por acaso eu falei? Quero largar do meu marido. Não sei como fazer isso. Tem algum conselho?”.

É tarde demais para pedir desculpas. 
 



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