Mark acordou com a luz irradiando nos seus olhos, se arrependendo por não ter lembrado de fechar as janelas na noite anterior. Ele levantou, olhando em volta checando se Youngjae e Yugyeom ainda estavam dormindo, e até onde ele se lembrava, Jaebum era para estar ali também, mas provavelmente devia ter ido para o quarto no meio da noite.
Youngjae, por sua vez, não estar dormindo próximo de Yugyeom ou em qualquer lugar visível nos dois sofás ou chão.
Mark sentiu sua boca seca, afinal ele havia acabado de acordar. Ele se levantou, e foi em direção a cozinha.
Para a sua surpresa, ele encontrou a cena mais adorável do mundo, que nem em mil anos pensando, ele encontraria algo com aquele nível de fofura, nem mesmo se fosse ele e Jinyoung aquela cena seria tão adorável, já que provavelmente ele e o rapaz estariam pelados.
Youngjae tinha sua cabeça no colo de Jaebum, usando as pernas do rapaz como travesseiro, enquanto Jaebum estava sentado encostado no armário da pia, com a cabeça levemente caída e que Mark poderia jurar que ele iria vivenciar um horrível torcicolo quando acordasse, mas talvez valeria a pena, afinal pela direção que seu rosto estava apontando, Jaebum dormiu assistindo o rosto de Youngjae.
Uma das mãos de Youngjae estava apoiada entre seu rosto e as coxas de Jaebum, enquanto a outra estava encostada na sua barriga agarrada a do rapaz, seus dedos interconectados, como se Jaebum estivesse lhe abraçando mesmo sentado e Youngjae aceitando o gesto da única forma que ele poderia. A outra mão de Jaebum estava plantada em cima da cabeça de Youngjae, aparentemente ele havia dormido acariciando os cabelos do garoto.
Mark sorriu assistindo a cena, e antes que pudesse decidir seu próximo movimento, uma voz rouca perguntou atrás das suas costas, tentando limpar o sono dos seus olhos e enxergar o que Mark encarava com o sorriso no rosto.
“O que você está vendo?” Yugyeom perguntou, terminando de limpar seus olhos e finalmente assistindo a cena adorável na sua frente.
“Quando isso aconteceu?” Yugyeom havia despertado imediatamente, se dando conta do que estava diante dos seus olhos.
“Shiiu.” Mark pediu com os dedos, empurrando Yugyeom de volta para o sofá e deixando os dois rapazes terminarem seu sono.
//
Jaebum foi o primeiro a acordar, mas ele definitivamente não estava pronto para estourar aquela bolha que ele e Youngjae haviam criado durante a madrugada, com medo de que no momento que o garoto acordasse, ele voltaria a tratar Jaebum como um estranho.
Se antes do garoto pegar no sono Jaebum carinhava seus cabelos com delicadeza, agora era quase como se ele não estivesse o tocando, como se os fios fossem teias finas de aranha e que qualquer toque destruiria o caminho construído.
Talvez aquela fosse outra boa definição de como Jaebum enxergava o quase-relacionamento que ambos tinham, uma teia de aranha construída no meio da floresta, onde Youngjae eram os fios e Jaebum a chuva. Qualquer gota que caísse com muita força, poderia destruir todos os entrelaçados dos fios que ele havia tecido com tanto cuidado.
Youngjae sentia os toques de Jaebum no seus cabelos, e definitivamente sentia seus dedos tocando os do rapaz, a palma dos dois estavam suando e ele realmente queria enxugá-la nas calças, mas isso significaria que ele não poderia mais segurá-la sem parecer estranho. Então ele apenas ignorou a sensação úmida e continuou a receber aqueles pequenos toques na sua pele.
O garoto continuou com os olhos, fingindo ainda estar dormindo, e sentindo o carinho que as mãos de Jaebum fazia no seu corpo. Enquanto os carinhos nos seus cabelos acontecia, Jaebum fazia carinhos com a ponta do dedão as costas da mão de Youngjae, fazendo movimentos circulares e delicados.
Youngjae não tinha recebido carinho quando mais novo, seu pai era o pior tipo de pessoa que ele já teve o desgosto de conhecer e sua mãe nunca tivera recebido carinho para saber como ser amorosa. Ele sempre recebeu o contrário do que é considerado carinho, atenção e cuidado. Seu pai era abusivo não só com sua mãe, mas também com ele. Não abusivo sexualmente falando, existem outros tipos de abusos que podem ser tão traumáticos quanto isso.
O pai do garoto batia na sua mãe desde que ele entendia o que era certo e errado, ou talvez até bem antes daquilo, mas sua definição de tempo só começou a fazer sentido naquela época, e quando ele via sua mãe chorar e esconder as marcas no seu corpo, Youngjae soube que aquilo era errado.
Quando ele já era grande suficiente, pensou que defender sua mãe era o correto a fazer, mas assim que tentava entrar no meio das discussões e brigas, seu pai não só agredia sua mãe, ele também o agredia, talvez até pior do que era com a mulher. Ela devia guardar o rosto enquanto apanhava, afinal ela era esposa do grande e justo Juiz Choi, ela sempre deveria mostrar seu melhor lado, jamais deixar vestígios do inferno de vida que levava.
Enquanto Youngjae era agredido em todas as partes do corpo, objetos começaram a ser arremessados conforme ele foi crescendo, e houve tempos onde o homem usava a bituca acesa do seu charuto para deixar marcas no corpo de Youngjae em lugares que ninguém veria, tudo para puni-lo de alguma forma, por coisas que Youngjae nunca soube que era errado, pois ninguém lhe educava ou lhe tratava com cuidado o bastante para lhe dizer o que ele havia feito de errado.
Quando Youngjae perguntava para sua mãe porque eles não podiam fugir ou entregá-lo para polícia, ela só dizia que mesmo naquele inferno, era melhor daquele jeito do que piorar as coisas, pois seriam fatais.
Youngjae nunca entendeu o que ela queria dizer com fatais, e ele também não queria se importar com aquilo, ele só queria que seu pai pagasse pelas crueldades que ele fazia a ele e sua mãe.
A primeira vez que Youngjae decidiu denunciá-lo, o detetive responsável pelo caso disse que ele não tinha provas suficientes e que seu pai era poderoso demais, que provavelmente ele iria anular o caso e quem iria sofrer as consequências seria o próprio garoto e sua mãe.
Youngjae passou a desacreditar no sistema judiciário quando as fotos das suas cicatrizes foram apresentadas como provas e mesmo assim o juiz anulou o caso.
Depois do julgamento, Youngjae foi mandado para o hospital com três costelas quebradas e sangramento interno. Seu pai o bateu até sua própria mão sangrar. Youngjae não quis imaginar o estado da sua mãe, já que ele estava naquela situação, ela definitivamente estaria pior.
Foi nesse momento que ele decidiu que iria fazer as coisas do seu jeito, ele tinha 14 nessa época e passou dois anos estudando tudo que conseguiu sobre informática, invasão de sistemas e leis. Conforme ele aprendia algo novo e tinha certeza de que não seria pego, ele recolhia informações que incriminavam seu pai, seja por violência doméstica ou nos seus anos aceitando suborno de pessoas ricas que não queriam pagar pelos seus crimes na prisão, então eles pagavam pelo preço da liberdade, um preço alto e que sempre garantiu Youngjae uma vida rodeada por riquezas e que ele detestava.
Aos poucos Youngjae se deu conta de que não só recolher provas era o bastante, ele precisava pensar no que viria depois, e foi assim que ele começou a roubar do próprio pai. Roubar 1 milhão em um dia chamaria muita atenção, mas roubar mil por mês de uma conta que era constantemente movimentada, era quase nada. Mas Youngjae não tirava só mil, ele tirava cada vez mais, ao ponto de no final dos seus 18 ele tinha uma fortuna quase do mesmo tamanho que a do homem. Não só roubando do seu pai, claro, Youngjae aprendeu como investir em negócios imobiliários e aplicar em ações, sua fortuna era quase que seu plano B, em caso dele ter que agir de forma suja e fazer seu pai pagar por todos os anos de abuso.
Quando Youngjae completou a maioridade, ele tinha dinheiro suficiente para comprar uma pequena cidade, e ainda assim viver no luxo pelo resto da vida. Mas Youngjae não queria uma cidade, ele queria justiça.
Após anos recolhendo provas, roubando do próprio pai e sendo agredido diversas vezes na semana e assistindo sua mãe chorar escondido de dor. Youngjae decidiu que aquela era hora certa para entregar as provas de todos os crimes que seu pai havia cometido no decorrer de todos seus anos sendo juiz.
A entrega foi anônima, mas havia conteúdo suficiente para derrubar uma sociedade corrupta inteira e com aquilo quem quer que fosse o 'anônimo’ estaria em extremo perigo.
Youngjae se recordava perfeitamente sobre como foi o dia em que seu passado e futuro colidiram.
[flashback]
Youngjae assistiu seu pai sendo algemado e carregado para fora da mansão onde eles viviam, ele se recorda de não ter sentido nenhum remorso aparecendo na sua expressão, e o homem o encarava enquanto era algemado, sabendo que havia sido seu próprio filho que havia lhe entregado para a polícia.
Youngjae assistia sua mãe desesperada, segurando os policiais para não levarem o homem que havia passado os últimos 20 anos de casamento abusando fisicamente e emocionalmente dela, com medo de que se ele saísse ileso daquele novo processo, e pudesse ser capaz de matar ela e Youngjae.
A tarde daquele dia passou ao som dos telefones e celulares tocando em busca de informações sobre o caso do homem, alguns sendo falsos e outros preocupados se seu nome estaria no meio do dossiê que Youngjae havia entregado.
A distância entre Youngjae e sua mãe ficou ainda maior conforme o homem era mantido em custódia da polícia, vários advogados tentando montar o caso que era impossível de ganhar, até mesmo com suborno. Embora Youngjae tivesse lidado com aquela parte também, ele havia limpado as contas de seu pai, fazendo parecer que ele havia investido em uma ação, porém essa ação era de Youngjae e todo o dinheiro agora pertencia a ele.
Quando o juiz decretou o homem culpado, o peso que Youngjae carregava nas costas por tantos anos finalmente saiu, e pela primeira e última vez sua mãe o abraçou.
Após o julgamento ela disse que precisava de tempo longe da cidade e que Youngjae tinha idade suficiente para conseguir cuidar de si mesmo. Ela pediu desculpas por tê-lo feito sofrer por todos aqueles anos e por ter sido uma mãe incapaz de protegê-lo.
Youngjae cresceu sem carinho ou sem alguém dando qualquer tipo de importância para quem ele era ou como ele se sentia. Embora ele tenha feito aquelas coisas para deixar sua mãe livre, ele sentia que a mulher na sua frente era uma conhecida próxima, não a mulher quem tinha lhe dado a luz.
Youngjae entregou documentos novos para mulher, dizendo que seria melhor se ela trocasse de identidade, afinal seu pai tinha muitos inimigos. Ele lhe deu documentos sobre uma conta que havia criado para ela, lhe deixando dinheiro suficiente para viver uma boa vida até morrer.
Os dois terminaram a conversa, como se tivessem fechado um negócio e não uma despedida entre mãe e filho.
Quanto a mulher saiu do café onde ela e Youngjae haviam tido a conversa, um homem sentou na cadeira que antes havia sido ocupada pela sua mãe, surpreendendo Youngjae mas não o bastante para lhe causar medo.
“Você é bom garoto.” O homem disse o elogiando, buscando por algo no bolso interno do seu casaco e quando encontrou o que procurava, entregou um pequeno cartão para o garoto.
“Lee Jowon?” Youngjae repetiu o nome escrito no cartão.
“Prazer Choi Youngjae.” O homem estendeu a mão para cumprimenta-lo, mas Youngjae ignorou, deixando a mão do homem no ar.
“Como você sabe meu nome?”
“Você sabe...Choi Youngjae, que na vida, sempre vai existir alguém melhor que você em alguma área. Enquanto uns acreditam saber tudo, outros sabem mais do que tudo, e então o conhecimento se torna um paradoxo.” O homem disse, observando a janela e ignorando o olhar confuso de Youngjae.
“Você foi muito bom recolhendo todas as provas contra seu pai. Uma das minhas equipes estavam trabalhando no caso deles faziam anos, mas você conseguiu tudo em menos de 4 anos. Impressionante.” O homem elogiou e aquela era a primeira vez que alguém além dos seus professores o elogiava. Seus pais nunca lhe deu um elogio sobre nada que ele obteve sucesso fazendo.
“Eu não faço ideia do que você está falando.” Youngjae tentou esconder a mentira, mas se tinha algo no qual ele não era bom, era em mentir.
“Como eu disse, você é bom, mas existem pessoas melhores. Você não devia parar só no 'bom’, você devia tentar ser o melhor. Eu posso te ajudar com isso Choi Youngjae.” O homem soava sério, mas Youngjae não iria cair naquele papo de primeira.
“Não sei do que você está falando e qualquer que seja isso de bom ou ótimo, não estou interessado. Desde já obrigado pela oferta.” Youngjae tirou algumas notas do bolso e colocou na mesa, deixando o homem sentado o observando sair do café.
Quando Youngjae estava próximo de virar a esquina, ele sentiu um vulto o seguindo, sua espinha gelou e ele começou a andar mais rápido.
Mais duas quadras e o frio na espinha só ficava mais gelado, Youngjae entrou em uma loja de artigos antigos para revender, dando a desculpa de querer comprar um relógio. Seus olhos estavam tão focados na janela de vidro em busca de quem quer que fosse a pessoa quem estava o seguindo. Sua mente dizendo que podia ser o homem do café, mas se ele tivesse que fazer qualquer mal para Youngjae, ele já teria feito silenciosamente minutos atrás.
A campainha da porta balançou indicando um novo cliente, e Youngjae voltou sua atenção para os relógios, tentando acalmar seu coração acelerado imaginando que aqueles eram os últimos minutos da sua vida.
O dono da loja perguntou o que o novo cliente gostaria de ver, mas aparentemente a pessoa apontou para Youngjae, indo em direção ao lado onde ele tentava ridiculamente se esconder.
Quando uma mão tocou seu ombro, Youngjae colocou as mãos pra cima, quase chorando, seus olhos fechados tão apertados que as lágrimas começaram a escorrer.
“Por favor não me mate.” O garoto pediu e quando tudo que recebeu foi silêncio, ele abriu os olhos para enxergar quem era a pessoa na sua frente.
“Jowon pediu para eu checar você, tinha alguém seguindo você e sua mãe, nós cuidamos dela e colocamos alguns seguranças pra vigiar ela a distância, e o grupo que estava te seguindo, nós demos um jeito também. Acho melhor você aceitar a oferta do Jowon.” Um garoto quase da mesma idade de Youngjae e definitivamente mais alto que ele estava parado na sua frente, lhe dando o sorriso mais reconfortante que já havia recebido em toda vida. Youngjae nunca teve um amigo, ele se lembrou ao encarar o garoto na sua frente.
“Quem me garante que eu posso confiar em vocês?”
“Ninguém. Você tem que arriscar e se der errado, você lida com isso depois. Sem a gente, você está em mais perigo do que com a gente. Sua escolha.” O garoto disse sério e então como se não tivesse praticamente lhe dado um ultimato, o garoto sorriu em direção a Youngjae, estendendo a mão e se apresentando.
“Eu sou Kim Yugyeom, prazer em te conhecer.”
Youngjae olhou a mão estendida na sua frente e então sem pensar duas vezes, a segurou cumprimentando o garoto.
[final Flashback]
Youngjae só decidiu se levantar e parar de fingir que estava dormindo, quando seu corpo começou a doer por estar deitado no chão.
“Bom dia Raio de Sol.” Jaebum disse e embora não pudesse ter saído como uma cantada barata, tinha saído exatamente como uma cantada barata.
Youngjae sorriu para ele, e imediatamente cobriu a boca.
“Mal halito, desculpa.” O garoto pediu.
Ele e Jaebum estavam sentados novamente no chão, Jaebum esticando o corpo dolorido e Youngjae se preparando para levantar e ir até o banheiro lavar o rosto e tirar o gosto de guarda chuva da boca.
Jaebum segurou seu pulso exatamente como durante a madrugada e antes que Youngjae pudesse se afastar por completo, os dois se olharam nos olhos por alguns segundos, fazendo seus estômagos vazios agitarem pela ansiedade.
“Nós precisamos conversar sobre o que aconteceu.” Jaebum tomou a iniciativa e Youngjae sabia que era aquilo que ele iria dizer, mas preferia que o outro não tivesse dito.
“Eu realmente preciso escovar os dentes Jaebum.” Youngjae não respondeu o que o outro havia dito, ele segurou a mão de Jaebum envolta do seu pulso, o fazendo soltar.
Antes que Jaebum repetisse, Youngjae correu para o banheiro, deixando Jaebum sentado no chão sem saber o que fazer em seguida, enquanto ele fazia algo que a muitos anos não fazia... Youngjae deixou o nó que havia se formado na sua garganta se ir e deixou as lágrimas saírem.
//
Quando Mark saiu do vestiário masculino e passou na frente do vestiário feminino, havia uma garota inquieta andando de um lado para o outro, embora Mark não pudesse ver quem era, ele via a sombra da menina.
Ele esperou alguns segundos para garantir que havia alguma outra garota junto dela ou esperando que outra garota aparecesse e pudesse entrar no vestiário para checar se a outra estava bem. Porém ninguém apareceu.
Mark bateu na porta do vestiário, seu rosto virado do lado contrário.
“Está tudo bem ai?”
A garota não respondeu e Mark sentiu que a aflição da garota estava passando para ele.
“Se você precisa de ajuda, pode me falar, eu sou professor daqui e já não tem quase ninguém na acadêmia.” Mark assumiu que fosse alguma aluna de outro instrutor, já que sua aula havia terminado a 20 minutos atrás e seus alunos tinham ido todos embora.
“Professor Mark, eu estou com um pequeno probleminha.” A garota finalmente falou baixo, e Mark reconheceu a sua voz.
“Nari? Nari é você?” Mark quis confirmar.
“Sou eu Professor. Eu estou com um pequeno probleminha que aparece todo mês na vida das garotas, mas eu não posso sair daqui.” Mark entendeu o que ela quis dizer.
“Você precisa que eu busque algo pra você?” Mark não se importava de cuidar de uma de suas alunas, não era porque Nari era irmã de Jinyoung, que ele trataria ela diferente de qualquer outra de suas alunas.
“Não, Não... Esse não é o problema.” A voz da garota parecia ainda mais aflta. Mark mantinha o rosto virado, mas a garota provavelmente conseguia vê-lo parado entre a porta e o corredor.
“Quando o Jinyoung não vem me buscar, eu vou de ônibus. Mas hoje ele não pôde vir e eu não posso ligar pra ele ou pra mais ninguém. E eu preciso ir pra casa, mas minhas roupas...minhas roupas estão sujas, se é que me entende.” Nari provavelmente estava vermelha ao contar aquilo, já que a maioria das garotas ficam envergonhadas ao falar sobre aquilo. Pelo menos foi isso que Mark pensou, embora Nari não dava a menor importância em falar sobre algo natural do corpo humano feminino, sua aflição era de passar vergonha no ônibus com a calça suja.
“Pega sua mochila, eu te deixo em casa.” Mark ordenou.
“Mas não vai sair do seu caminho?” Nari tentou ser educada, embora ela realmente só queria poder chegar em casa e se livrar daquela sensação ruim.
“Vem Nari, vamos levar você pra casa.” Mark tirou um dos seus casacos de dentro da sua enorme mochila de academia, e esticou o braço em direção a onde ele assumiu que a garota estava, ainda não olhando pra dentro do banheiro.
“Obrigado.” Nari agradeçeu, segurando o casaco e amarrando em volta do corpo.
//
“Se alguém perguntar quem é você quando nós chegarmos em casa, você diz que é meu professor de inglês ok?” Nari pediu e Mark sorriu.
“Okay, I think I can do it.” Mark respondeu em inglês para a surpresa de Nari.
“E agora você está se mostrando. Não é a toa que Jinyoung te olha daquele jeito.” Nari falou sem pensar, e Mark a olhou surpreso, logo virando seu rosto de volta para a estrada.
“Que jeito ele me olha?” Mark ficou curioso de repente.
“Como nadinha, você não ouviu nada de mim.” Nari respondeu e Mark achou melhor não forçar, já que Jinyoung havia pedido para que ele não envolvesse a garota em qualquer coisa sobre os dois.
“Porque ele não pode vir te buscar?”
“Ele está doente. Achei melhor não arriscar, já que se eu falasse que precisava de ajuda ele provavelmente iria dirigir doente só pra vir me buscar.” Nari contou e Mark sentiu seu coração gelar, preocupado com o bem estar do outro rapaz.
“O que ele tem?”
Nari olhou para Mark dirigindo e ele podia jurar que o olhar da garota era tão assustador quanto o de Jinyoung quando bravo. Mark sentiu os poros do seu pescoço ficarem agitados quando a garota ainda o encarava.
“O que?”
“Pensei que vocês se falavam o tempo todo.” Ela respondeu e finalmente virou para o lado da janela.
“Eu mando mensagens todos os dias, mas ele não responde” O rapaz confessou e por um momento se perguntou o que diabos estava acontecendo com ele para estar desabafando com uma garota de 17 anos.
“Ele está gripado desde o início da semana. Mas ele é teimoso e não toma os remédios certo, dai fica cada dia pior ao invés de melhor.”
Mark conseguia ver Jinyoung reclamando sobre tomar remédio, descascar, tomar sopa e se hidratar. A ideia de que Mark conseguia enxergar a imagem de Jinyoung tão nitidamente, fez seu coração acelerar de repente, além da sua mente ficar repetindo que ele não deveria se importar com o outro, pois no final das contas, Jinyoung era só um alvo.
Quando o GPS avisou que eles estavam próximos, Mark percebeu que ele estava em uma vizinhança com enormes mansões e propriedades grandes, Jinyoung morava em uma daquelas casas enormes e a idéia do quão rico a família dele provavelmente era, fez o estômago de Mark revirar.
Não era como se Mark não tivesse dinheiro, mas comparado com as pessoas que moravam nas mansões que ele observava da rua, ele era um ninguém. Aquelas pessoas estavam acima do que é considerado rico.
Antes que o GPS avisasse que eles haviam chegado, Nari apontou para a enorme mansão no final da rua, e que Mark percebeu ser uma das maiores.
“O segurança vai perguntar quem é você e pedir sua identificação, mesmo que eu diga que você é meu professor. Desculpa.”
“Está tudo bem.” Mark alcançou sua carteira de motorista, com o nome que ele usava na sua vida normal e entregou para o segurança assim que eles chegaram na frente do enorme portão.
“Bobby, ele me trouxe pra casa. Pode nos deixar entrar.” Nari gritou do lado do passageiro, quando o segurança do rosto fechado encarou Mark
Mark observou o tal Bobby dizer algo no microfone, voltou para dentro da guarita, enquanto os dois esperavam no carro.
“Meu pai é um lunático que pensa que todo mundo é uma ameaça. Agora você já sabe quem o Jinyoung puxou.” Nari contou e Mark riu, lembrando das vezes que Jinyoung desconfiou dele. Embora ele tivesse razão em desconfiar.
“Pode entrar.” O tal Bobby disse, entregando a carteira do Mark e acenando para outro segurança abrir o portão.
Mark entrou com o carro, observando tudo em volta, caso ele eventualmente precise invadir a mansão.
“Quer entrar e checar o Jinyoung? Talvez se você pedir ele toma os remédios.” Nari perguntou, destravando o cinto.
“O que te faz pensar que eu conseguiria persuadir seu irmão?” Mark perguntou rindo, ainda com o carro ligado.
“Você me parece bem persuasivo.” Nari respondeu saindo do carro.
“Vem, eu vou pedir para uma das empregadas lavar seu casaco. Se o Jinyoung reclamar você diz que só está esperando pelo casaco, nada mais.” Mark notou que Nari realmente conhecia Jinyoung.
//
Mark estava no corredor com Nari, ela explicando onde era o quarto de Jinyoung e falando sobre como ele se recusava a comer. Quando eles chegaram na frente do quarto que aparentemente era de Jinyoung, uma senhora vestida com uniforme de empregada saiu do quarto carregando uma bandeja.
“Senhora, o Senhor ainda não quer comer.” A empregada contou em direção a Nari. Sua expressão era de tristeza, e Mark suspeitou que ela era uma das empregadas antigas que deve ter cuidado de Jinyoung a vida toda.
“Ele é muito estúpido mesmo.” Nari comentou irritada.
“Quer que eu tente fazê-lo comer?”
“Se você conseguir, vai ser o primeiro na vida toda.”
“Eu vou tentar.” Mark disse sorrindo, se aproximando da mulher com a bandeja na mão.
“Posso?” Mark pediu antes de receber a pequena mesa de cama com uma bandeja trazendo um prato de sopa e um copo de água.
A mulher acenou concordando e entregou a pequena mesa nas mãos de Mark com cuidado.
“Professor, eu vou tomar banho e Suria, por favor lave esse casaco e entregue para o Senhor Mark aqui quando ele estiver saindo ok?” Nari desamarrou o casaco do quadril, entregando nas mãos, agora livres, da senhora.
“Boa sorte ai dentro, ele fica ainda mais rabugento doente.” Nari sorriu e começou a se afastar, deixando só Mark e a empregada no corredor.
“Eu vou abrir a porta para você e vou ir lavar o casaco.” A mulher avisou sorrindo e Mark concordou com a cabeça.
//
“Suria, eu já disse que não vou comer nada, tire a bandeja daqui.” Jinyoung disse ao ouvir o barulho da porta se abrindo e o cheiro da sopa invadindo o quarto.
Jinyoung parecia um principe adoecido descansando na cama, Mark observou. Seus olhos estavam cobertos com uma máscara de dormir, seu pijama era de um tecido grosso e de cor azul pastel com bordas azul marinho, seu cobertor cinza por cima do seu corpo e seu rosto encarando o dedo.
Mark ficou alguns segundos o observando até se aproximar da cama e colocar a pequena mesa no lado livre de onde Jinyoung dormia.
“Suria, você nunca me desobedeu antes. Vou pedir mais uma vez, por favor tire essa sopa daqui e avise as outras empregadas que eu não estou com fome.” A voz de Jinyoung era rouca e Mark notou sua dificuldade para falar, provavelmente por dor na garganta e fraqueza.
Após garantir que a pequena mesa não iria se desequilibrar em cima da cama king size de Jinyoung, Mark deu a volta e ajoelhou no chão ao lado do rapaz deitado.
Mark ficou o observando por alguns segundos, analisando seu rosto com pelos faciais, devido ao fato de não ter se barbeado nos últimos dias. Seus lábios pareciam secos, mas não suficiente para racha-los, e seu cabelo estava bagunçado de um jeito que Mark nunca tinha visto. Um jeito que Mark achou Jinyoung ainda mais adorável.
“Você vai ter que comer. Ou eu não saio daqui.” Mark sussurrou após dar um selinho no rapaz. Ele agora sentava ao lado da cama, esperando pelos movimentos lentos de Jinyoung que estava pronto para brigar por qual motivo Mark estava ali.
“O que você está fazendo aqui?” Jinyoung perguntou assustado, seus cílios pareciam ainda maiores agora que ele havia tirado a máscara. O rosto de Jinyoung era preto e branco, as únicas vezes que outra cor surgia, era quando a iluminação refletia. Sua pele branca constratava com o preto dos seus olhos, cabelos e os pelos pequenos da sua barba.
“Eu soube que ninguém consegue te fazer comer ou tomar os remédios, então fui convocado a persuadir você.” Mark respondeu sorrindo e Jinyoung virou para o lado, evitando encontrar os olhos do rapaz ou assisti-lo sorrir, já que quando aquilo acontecia, ele queria deixar seu coração sentir o que estava começando a sentir de verdade.
“Nari?” Jinyoung se ajeitou na cama, um pouco desajeitadamente e Mark tentava guardar aqueles momentos, já que era quase impossível ver Jinyoung tão frágil e descomposto. Até mesmo quando os dois tinham atividades sexuais, Jinyoung sempre manteve a compostura, nunca deixando aparecer seu lado frágil. Mas agora ele parecia tão indefeso.
Mark carinhou o rosto de Jinyoung antes mesmo de pensar o que estava fazendo. O rapaz havia terminado de se arrumar na cama e agora tinha suas costas encostada na cabeceira, enquanto Mark ainda estava sentado na beirada da cama ao seu lado.
Jinyoung fechou os olhos, muito cansado para renegar o toque ou discutir pela ação do outro.
“Porque você está aqui?” Jinyoung perguntou novamente.
“Já disse, fui convocado--”
“É sério Mark.” Jinyoung disse sério, segurando a mão do outro o impedindo de continuar com os carinhos.
“Nari teve uns problemas femininos e eu me ofereci para trazê-la.” Mark explicou, sentindo o toque de Jinyoung afrouxar e ele voltar a carinhar seu rosto.
Jinyoung tentava olhar para todos os lugares, menos nos olhos de Mark. Olhar nos olhos de Mark era mais doloroso do que estar com a garganta inflamada.
“Mark.” Jinyoung chamou, fechando os olhos pela fraqueza.
“Hum”
“Tranca a porta por favor.”
“Jinyoungie, você está doente, agora não é hora de pensar nessas coisas.” O rapaz comentou rindo e um pequeno sorriso deixou seu rosto. Um pequeno sorriso que fez o coração de Mark acelerar de repente e seu estômago ficar agitado.
“Meu pai tem menia de entrar sem bater. Se ele te ver aqui…”Jinyoung deu uma breve pausa, cansado e fraco demais para conseguir falar tudo de uma vez.
“Se ele te ver aqui, ele vai suspeitar de algo e vai ser perigoso para você.” Jinyoung terminou de explicar.
“Seu pai é chefe da máfia ou algo assim? Porque seria perigoso pra mim?” Mark perguntou rindo, claro que ele já sabia a resposta e sabia quem era o pai de Jinyoung, mas ele ainda estava vivendo na sua mentira, e na sua mentira, ele era só um professor de acadêmia que gosta de apostar.
“Só faça o que eu to pedindo, por favor.” Jinyoung segurou a mão de Mark mais uma vez, a tirando do seu rosto e finalmente olhando nos olhos do outro.
Mark levou e trancou a porta, voltando para o lado oposto ao que ele estava, ficando próximo a pequena mesa com a sopa.
“Eu fiz um favor pra você e agora você vai fazer um pra mim. Tome a sopa.” Mark apontou para o prato, que ainda liberava um pouco de vapor, indicando que ainda estava quente.
“Eu não quero.” Jinyoung respondeu, fechando os olhos e ignorando a presença de Mark.
“Você quer sim. Sabe porque você quer? Porque você está fraco e precisa ficar bom logo pra transar gostoso comigo.” Mark parecia tão sério, que Jinyoung tinha pode deixar de rir da sua afirmação.
“Então eu devo me alimentar e me cuidar, só pra transar com você?” Jinyoung abriu os olhos, se virando para Mark.
“Exatamente. Que bom que você aprende rápido. Agora coma.” Mark apontou para o prato.
“Mark, transar com você é um preço muito baixo. Eu só faço apostas altas.” Jinyoung respondeu sério e Mark sabia que tinha dado corda para o lado pervertido de Jinyoung.
“Me fale o que você quer que eu aposte e eu digo se fecho a aposta.” Mark provocou.
“Eu quero ser ativo com você uma vez.” Jinyoung disse sem precisar pensar muito.
Mark riu do pedido do outro, ele decidiu demorar uns segundos para criar um sentimento de antecipação no outro.
“E se você não comer o que eu tenho direito?”
“Não sei, diga sua aposta e eu digo se fecho.” Jinyoung repetiu as palavras de Mark.
“Se você não comer, você vai ter que me contar algo pessoal da sua vida, algo que ninguém sabe. Algo que só está guardado na sua mente.” Mark sabia que Jinyoung não gostava de compartilhar coisas pessoais, mas caso ele perdesse, Mark poderia saber mais sobre ele e o tal Jackson.
“Aposta alta e arriscada.” Os olhos de Jinyoung que antes queria evitar os de Mark, agora penetravam os dele como se estivesse tentando ler a sua alma.
“Essa sopa parece deliciosa.” Jinyoung quebrou o contato visual, comentando sarcasticamente sobre a sopa e fazendo Mark perder a aposta.
“Sua bunda é minha. Há!!” Jinyoung trouxe a mesa para próximo do seu colo, Mark tentou ajudar, mas ele tinha muito orgulho pra aceitar qualquer ajuda.
Jinyoung começou a tomar a sopa, Mark o encarando até ficar entediado e começar a andar pelo quarto, observando coisas sobre a vida do outro que os relatórios não contavam.
Nenhum porta retrato. Livros em duas estantes que tocavam o tete. Prêmios por melhor aluno, por poker, por esportes, por trabalhos sociais. Em uma pequena estante separada, diários organizados por bimestres.
A decoração era clara, mas Mark não podia ter certeza da cor, já que as janelas com cortinas grossas impedia da luz entrar.
O quarto de Jinyoung era exatamente como ele, não tinha nada chamativo, mas os pequenos detalhes descreviam quem ele era.
“Pronto.” Jinyoung havia terminado a sopa e Mark sentiu a felicidade crescendo no seu peito.
“Agora os remédios.” Mark apontou para o criado mudo ao lado da cama, com um enorme copo de agua e diversos comprimidos.
Enquanto Jinyoung tomava os remédios, Mark tirou a mesa da cama, a deixando em cima da escrivaninha de Jinyoung no meio do quarto.
“Pronto. Mais alguma coisa?” Jinyoung perguntou irritado, e isso queria dizer que ele já se sentia mais forte e disposto a brigar.
“Só mais uma.” Mark respondeu voltando para cama e sentando ao lado vazio da cama, encostando suas costas na cabeceira, como Jinyoung tinha a dele, e então abrindo os braços em sua direção.
“Me deixa cuidar de você. Venha aqui.” Antes que Jinyoung pudesse contestar, Mark já havia puxado seu corpo para em cima do seu peito, e agora o que antes eram travesseiros apoiando suas costas, agora era o corpo de Mark junto ao seu.
“Você é ridiculo Mark.” Jinyoung comentou, arrumando seus braços, de forma que um estava atrás das costas de Mark e o
outro o abraçando pela frente.
Jinyoung tinha forças para negar o carinho e cuidado, mas ele decidiu que ceder e aproveitar aquele momento o faria mais bem do que qualquer sopa.
Mark aproveitou os cabelos bagunçados de Jinyoung próximos do seu rosto, e beijou sua cabeça, carinhando seus cabelos bagunçados.
Mark queria não sentir tão confortável fazendo aquilo, mas Jinyoung o fazia agir contra suas próprias razões.
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[Uma semana antes]
“Quando você chegou?” Jinyoung encostou as costas na cadeira, afastando o corpo da mesa e começou encarar o teto.
“Essa manhã. Como você está?” Jackson perguntou do outro lado da linha.
“Cansado, cheio de problemas no cassino, cheio de problemas em casa. E você?” Jinyoung confessou sem nem menos cogitar esconder a quantidade de problemas que sua mente estava guardando e tentando encontrar soluções naquele momento.
“Parece que cheguei na hora certa então. Tem tempo livre agora?”
“Mesmo lugar de sempre?” Jinyoung iria arrumar tempo mesmo que não tivesse, afinal era Jackson quem estava pedindo.
“Te espero lá em meia hora.” Jackson confirmou.
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Quando Jinyoung chegou na estação, Jackson já estava lhe esperando. Fazia tempo que ele não o via e esperava ainda que o amigo estivesse com os cabelos loiros, mas agora estava castanho escuro e repicado.
Se Jinyoung não soubesse das atividades de Jackson tão bem, aliás, se ele não conhecesse Jackson de qualquer jeito, ele acreditaria que o rapaz era só um professor universitário, esperando o trem para dar sua próxima aula.
“Eu estou perdido. Teria como me ajudar?” Jinyoung perguntou sério, usando o melhor das suas habilidades de encenação.
“Só se você pagar com o corpo a ajuda.” Jackson respondeu rindo, abraçando o amigo que fazia tanto tempo que não via.
“O trem está pra chegar, eu já comprei nossas passagens, vamos ficar próximo da porta.” Jackson segurou a mão de Jinyoung e começou a puxá-lo para próximo de onde o trem iria parar para eles entrarem.
“Você parece mais novo com o cabelo escuro, estou com inveja.” Jinyoung confessou, tocando os fios do cabelo de Jackson com a sua mão livre.
O que fazia Jinyoung adorar Jackson era a liberdade que ele podia ter quando os dois estavam juntos. Andar de mãos dadas, se abraçar em público, se tocar amigavelmente e poder falar sobre qualquer coisa sem medo do julgamento, era o que ele mais adorava e era o que seu pai mais detestava no outro rapaz. Mas Jinyoung não precisava se preocupar em defender Jackson da sua própria família, afinal embora o amigo tivesse sua idade, ele carregava tanto poder quanto seu pai.
“Como se você parecesse velho. Olha esse tudo rosto de bebê.” Jackson tocou suas bochechas fazendo um carinho delicado.
Jinyoung e Jackson não eram um casal, eles estavam longe de ser um casal, embora eles já tenham feito tudo que um casal faria juntos.
O relacionamento dos dois era mais intenso e complexo do que uma simples amizade. Jackson tinha sido o cara com quem Jinyoung teve sua primeira vez, que por sinal também foi seu primeiro beijo. Jackson tinha sido aquele a defendê-lo quando Jinyoung pensou que iria morrer. Jackson patrocinou o sonho de Jinyoung, quando ninguém no planeta podia ajudá-lo. Jackson esteve lá quando ninguém mais estava. Jackson desistiu do seu próprio sonho por culpa de Jinyoung. Jackson quase perdeu tudo, só para garantir que Jinyoung ficaria são e salvo. Jackson era o anjo da guarda mais atrapalhado que Jinyoung podia ter ganhado, mas ele agradecia todos os dias por ter encontrado alguém tão maravilhoso e especial como Jackson. Embora Jackson tivesse seu lado obscuro e que Jinyoung sabia que era similar ao que seu pai tinha, ele resolveu que seria melhor ignorar aquilo e continuar com a amizade que os dois haviam construído no decorrer dos anos.
“Pra onde nós vamos hoje?” Jinyoung perguntou assim que eles entraram no trem e como havia sido Jackson quem comprou as passagens, ele não sabia qual o destino.
“Lugar longe o suficiente para você me contar os problemas que fez você criar mais uma ruguinha aqui.” Jackson apontou para o final dos olhos de Jinyoung, onde haviam varias curvinhas que apareciam só quando ele sorria.
“Chegaremos na China então.” Jinyoung brincou.
“Então China é o nosso destino.” Jackson respondeu dando risada, como se eles realmente estivessem indo para a China.
Jinyoung e Jackson haviam criado esse tipo de encontro, onde eles pegavam um trem com destino aleatório e viajavam todo o caminho, conversando e observando os lugares e as pessoas que passavam por eles, até finalmente chegar no destino e então voltar para a cidade de origem.
Pra algumas pessoas aquilo podia soar como uma tremenda perca de tempo, mas para Jackson e Jinyoung, era um momento só deles e eles estavam satisfeitos com aquilo.
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[Na mesma manhã daquele dia]
“Eu falei pra você cuidar dele.” Jackson disse irritado, passando a mão nos cabelos furioso.
“Eu fiz o que eu pude, mas depois que ele conheceu o tal jogador misterioso, ele tem estado distraído.” Bambam respondeu, sua cabeça baixa sem deixar seus olhos encontrarem os do seu chefe sentado com as pernas cruzadas no enorme sofá da sala de visitas da cobertura de um dos hotéis que ele era dono na cidade.
Haviam dois outros seguranças junto de Jackson no cômodo, não para proteger Jackson de Bambam, mas sim para fazer companhia ao rapaz que odiava se sentir sozinho.
“Jongup, Himchan, nos dê licença por favor.” Não importava se Jackson tivesse 200 empregados, ele iria se esforçar para lembrar o nome de todos e tratá-los com o máximo de respeito, afinal quem o ajudava a manter tudo que ele tinha atualmente, eram aquelas pessoas que faziam o possível para garantir sua segurança.
“Que jogador?” Jackson finalmente perguntou quando os dois rapazes saíram do cômodo.
Bambam continuava em pé na frente de Jackson, e em contraste com o céu limpo e claro, o corpo do garoto na sua frente lhe dava a perfeita visão do seu tipo ideal. Bambam tinha longas e finas pernas, havia zero curvas ou músculos no seu corpo, mas ainda assim, Jackson não podia negar que ele queria despir o garoto e apreciá-lo completamente nu exatamente ali na sua frente.
“Nós não sabemos muito sobre ele. O que eu e meus meninos descobrimos é que ele trabalha em uma academia de artes marciais e que ele e Jinyoung tem se encontrado algumas vezes.” Jackson não olhava no rosto de Bambam, mas mantinha seus olhos fixos nas suas pernas e quadril. E como Bambam também não o olhava nos olhos, ele não podia ver o rapaz o despindo com os olhos.
“E o nome desse tal jogador seria…?” Jackson não dormia com seus funcionários, por isso naquele momento ele se segurava tanto para não jogar Bambam naquele sofá e fode-lo com força.
“Mark.”
“Só Mark?”
“Foi só o que nós descobrimos. Desculpa.”
“Vocês passaram 9 vezes na fila da incompetência quando nasceram né?” Jackson levantou do sofá, indo em direção ao mini bar, dm busca de uma bebida que acalmasse seus hormônios.
“Tem mais alguma coisa que eu deveria saber?”
“Esse fim de semana houve um incidente estranho. Um rapaz entrou na área restrita, começou a espancar os seguranças e então fugiu. Mas quando nós fomos checar as câmeras de segurança, não havia nada, nem ninguém. Como se tudo tivesse nunca acontecido.”
“Estranho…” Jackson conseguia sentir o cheiro de armações de longe. E aquilo definitivamente cheirava estranho.
“Investigue melhor e traga um relatório para mim em dois dias. Me traga informações desse Mark também. E por favor não venha com calças tão justas.” Jackson finalizou, terminando de beber o líquido do copo.
“O que tem de errado com as minhas calças?” Bambam perguntou por impulso.
“Elas me distraí. Agora pode ir.” Jackson não esperou a reação de Bambam e começou a ir em direção ao seu quarto, checar alguns emails e finalmente ligar para Jinyoung, contando que estava de volta na cidade.
Bambam era alguém importante para Jackson, assim como Jinyoung era, então quando Jinyoung disse que iria assumir o controle do cassino, ele disse que tinha um bom chefe de segurança e que poderia ajudá-lo a tomar conta dos negócios. Na época, Jinyoung aceitou sem nem pensar duas vezes, o que ele não sabia era que o tal chefe de segurança, seriam os olhos e ouvidos de Jackson sobre tudo que ele fizesse.
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[De volta ao dia atual]
“De onde saiu essa gripe?” Mark perguntou enquanto alisava o cabelo de Jinyoung, os dois estavam ainda na mesma posição de antes. Jinyoung tinha seu rosto encostado no peitoral de Mark, enquanto suas costas encontravam a cabeceira da cama.
“Eu e um amigo tivemos a maravilhosa ideia de tomar banho de cachoeira. Mas nem eu, nem ele havíamos levado roupas limpas e voltamos pra casa encharcados.” Jinyoung explicou e Mark imediatamente parou de alisar seus cabelos, fazendo com que ele deixasse um sorriso discreto sair.
“Que amigo?” Mark perguntou irritado, sua linguagem corporal informando Jinyoung que ele estava enciumado.
“Está com ciúmes Mark?” Jinyoung perguntou, não levantando da sua posição e consequentemente não vendo a expressão do outro.
“Porque eu teria?” Mark tentou agir como se por dentro sua mente não estivesse uma bagunça, e ele não estivesse realmente sentindo ciúmes.
“Você parou de alisar meu cabelo assim que eu mencionei meu amigo.”
“Minha mão está cansada.” Mark mentiu, e Jinyoung riu.
“Continua alisando meus cabelos que eu te conto quem é meu amigo.”
Aquilo era estranho da parte de Jinyoung, compartilhar algo pessoal da sua vida, mas Mark decidiu não fazer piada sobre aquilo, a fim de descobrir mais sobre o outro.
“Seu nome é Jackson, ele é um amigo querido de muitos anos e agora ele está de volta na cidade.” Jinyoung apresentou o rapaz em poucas palavras.
“Voltou para quê?” Mark pensou rápido, se dando conta de que talvez aquela fosse uma pergunta muito direta. “Pra ficar com você? Te deixar doente? Ser irresponsável e te levar junto?”
Jinyoung finalmente levantou do peito de Mark, ficando sentado e encarando o outro.
“Desde quando eu te dei algum direito de dizer o que eu devo fazer algo, ou com quem eu faço algo?” Jinyoung perguntou sério e Mark olhou para o lado, se recusando a encontrar os olhos furiosos do rapaz.
“Mark, eu e você? Nós não temos nada e mesmo que tivéssemos, você não teria absolutamente nenhum direito de ditar regras para controlar minha vida.”
“Não gosto da ideia de que você ficou doente por agir irresponsável com o seu tal amigo.”
“Até onde eu me recordo, eu não pedi sua opinião sobre o que é ou não um ato irresponsável.” Jinyoung estava irritado e ele queria poder estapear Mark, mas ele além de odiar violência, estava ainda muito fraco para iniciar qualquer tipo de discussão mais séria.
“Mark acho melhor você ir.” Jinyoung disse soando mais como uma ordem do que uma sugestão.
“Jinyoung…” Mark pensou em contestar.
“Mark, por favor. Vai embora, eu estou cansado.” Jinyoung pediu e então deitou de volta na cama, na mesma posição em que Mark havia o encontrado.
Mark tinha estragado tudo e ele sabia disso, ele havia deixado suas emoções tomarem conta e o feito agir por impulso.
Atendendo o pedido de Jinyoung, ele saiu do quarto e nem se deu o trabalho de buscar pelo seu casaco. Afinal, era só mais um casaco.
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Mark entrou no apartamento assumindo que Jaebum estava fora de casa, já que nenhum gemido era ouvido. Mas para sua surpresa, o rapaz estava deitado de forma lamentável no sofá, que por sinal foi uma das primeiras coisas que ele notou ao entrar no apartamento.
“Nós temos um sofá novo?” Mark se aproximou do rapaz deitado, colocando a mão na sua testa e checou sua temperatura.
“Eu gostei da cor.” Jaebum respondeu, olhando para o nada a sua frente e nem reclamando por Mark ter tocado sua testa.
“Você está doente?” Mark sentou no outro sofá, testando o novo estofado.
“Porque estaria? Estou perfeitamente bem.”
“Você está jogado no sofá, encarando sei lá o que--”
“Meu celular” Jaebum o corrigiu.
“Que seja. Encarando seu celular, não está se alimentando feito um porco e o mais assustador de tudo…” Mark fez uma pausa dramática. “Você não está transando com ninguém.”
“Queria estar.”Jaebum confessou e Mark riu da falta de empolgação do amigo.
“Eu não sei porque estou assim, talvez esteja mesmo doente e não sei.”
“Acho que sei o nome da sua doença.” Mark disse rindo e quando Jaebum não respondeu nada, ele continuou.
“O nome da sua doença é Choi Youngjae.”
Jaebum que antes olhava para o nada ou para o celular, como ele havia dito, agora de levantou para sentar direito no estofado.
“Porque ele não sai da sala cabeça?” Jaebum soava desesperado, e ver o amigo naquele estado só fazia com que Mark quisesse rir cada vez mais alto.
“Porque é isso que acontece quando as pessoas gostam de outra. Elas se importam, querem cuidar da outra o tempo todo, tudo faz lembrar daquela pessoa, até quando você fecha os olhos, é como se a imagem daquela pessoa estivesse pintada na parede da suas pálpebras.” Mark dizia aquilo pensando em Jinyoung.
“Eu tenho certeza de que ele não me vê nas pálpebras dele.” Jaebum respondeu, como se tivesse só prestado atenção naquela parte.
“Jaebum, Youngjae é mais especial do que você acredita que ele seja.” Mark queria poder contar a história do garoto para o amigo, mas ele não tinha direito de compartilhar algo que nem mesmo Youngjae sabia que ele tinha conhecimento.
“Se ele não me confundisse tanto, eu saberia o que fazer em seguida. Faria igual eu faço com as outras garotas.”
Mark alcançou uma pequena almofada e jogou no rosto de Jaebum.
“O que?”
“Se Youngjae fosse simples e fútil igual as garotas com quem você dorme, você não estaria tão confuso. Cresça Jaebum.” Mark respondeu irritado.
“Então o que eu faço? Ele não vai me ligar, eu deveria ligar? Perguntar porque ele me beijou?”
“YOUNGJAE TE BEIJOU?!?” Mark gritou, sua expressão em choque.
Jaebum parecia em choque também, mas pelo grito de Mark, não por Youngjae.
“Porque você acha que eu estou aqui encarando o celular?” Jaebum perguntou frustrado, olhando para o celular novamente.
“Ok, acho que isso está ficando mais sério do que eu imaginava que seria. Jaebum, me deixa falar com ele primeiro. Não faça nada estúpido até que eu saiba o que você pode fazer sobre ele ok?”
“O que você considera estúpido é perfeitamente normal pra mim, então seria melhor se você fosse mais específico.”
“Nada de dormir com mulheres até ter certeza do que ele sente por você.”
“Isso não faz o menor sentido, já que sou eu quem estou confuso, não ele.”
“Faz total sentido já que se ele gostar de você e você fizer algo estúpido, quem vai sofrer é ele.”
“Obrigado pelo voto de confiança. Sempre bom ter um amigo que se importa com você.” Jaebum respondeu sarcasticamente.
“Vocês dois são meus amigos, reflita Jaebum.”
“Verdade. Acho que vou pra oficina, lá eu não tenho como fazer merda.” Jaebum se levantou do sofá, deixando Mark lidando com seus pensamentos de como ajudar os dois rapazes, como se sua própria mente já não estivesse uma bagunça por conta de Jinyoung.
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“Mark?”
“Fala.” Mark respondeu o amigo do outro lado da linha.
“Eu não sei se você já está sabendo, provavelmente já, porque você e seu time sempre sabe--”
“Jaebum, fala logo, corta a sinopse.” Mark estava na sua escrivaninha, analisando alguns dados que Youngjae havia lhe mandado mais cedo.
“O seu cara está aqui na pista, com o Jackson Wang.” Mark se arrumou na cadeira, ouvindo o nome de Jackson.
“Que 'meu cara’?” Mark soltou os papéis em cima da mesa, pensando no que ele faria agora que Jackson Wang estava na cidade.
“O cara da piscina. SEU cara, Mark.” Jaebum enfatizou o 'seu’.
“Jaebum me manda o endereço da pista que você está.”
Mark não sabia exatamente o que faria quando chegasse lá, mas ele queria ver com seus próprios olhos Jinyoung e Jackson juntos.
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