História Severely (Adaptação) - Luna Valente

MATTEO
    -Você sabe quem eu sou, Matteo? - abri os olhos lentamente e vi diante de mim uma mulher de cabelos negros, ela se aproximou em passos lentos e eu percebi que tudo ao redor começou a perder as cores, tudo começou a ficar escuro e frio. Nem mesmo com aqueles saltos ela fazia barulho ao andar. Ela era bonita, estava usando um vestido longo preto, os cabelos longos ondulados da mesma cor do vestido e a pela branca, quase pálida. Ela parou de frente para mim, pôs a mão no meu peito esquerdo e fechou os olhos. - Seu coração bate, cheio de vida, cheio de bondade... - ela abriu os olhos. - ... mas, também, cheio de dor, sofrimento. - ela me empurrou e eu acabei sentado em uma cadeira que eu nem sabia que estava atrás de mim. Ela sorriu e ergueu a mão direita, onde estava disposto um relógio de bolso antigo. - Luna também está sofrendo muito. - murmurou e eu arregalei os olhos.

    -Luna? - tentei me levantar, mas algo me impedia de levantar.

    -Eu me divirto com o sofrimento de dois apaixonados, mas eu resolvi dar uma chance para vocês. - ela deixou o seu rosto na altura do meu.

    -Você... - ela me interrompeu.

    -Eu sou a morte, Matteo. Fui eu quem tirou a sua namorada de você. - falou me mostrando o relógio. - Estou disposta a te dar sua namorada de volta.

    -Qual é a pegadinha escondida? - perguntei desafiando-a com o olhar, ela moveu os ponteiros do relógio no sentido contrário e pôs o relógio no bolso do meu casaco.

    -Eu só quero me divertir, te darei sua namorada de volta, mas eu vou poder tirar ela de suas mãos, como da primeira vez.

    -Para me ver sofrer de novo? Não, obrigado. - ela fingiu ficar triste pela minha resposta.

    -Você pode ter a sua namorada de volta pelo resto de seus dias... se conseguir fazer com que ela se apaixone por você de novo antes que eu possa leva-la comigo. - explicou e eu encarei meus dedos.

    -Quê?

    -Essas são as regras, eu volto o tempo e te dou sua namorada de volta, mas para ficar com ela, você tem que fazê-la se apaixonar por você de novo, antes de eu leva-la comigo.

    -E quando vai ser isso? - perguntei tornando a encará-la.

    -No mesmo dia e na mesma hora que ela morreu.




                    [...]




    Acordei e percebi que aquilo não passara de um simples sonho. Me sentei no sofá em que eu estava deitado e vi que eu tinha dormido na empresa. Respirei fundo e cobri o meu rosto com as mãos. Quando é que eu ia deixar de sofrer tanto.

    -Ei! Matteo! - escutei a voz do Gaston e eu levantei a cabeça, vendo-o na entrada da sala. - Você não vem? - perguntou e eu franzi o cenho.

    -Para onde? - perguntei confuso e ele cruzou os braços.

    -Pra minha casa, esqueceu que vamos comemorar? É o nosso último mês como pessoas normais. - perguntou e eu permaneci confuso. Normais? Não somos mais Normais há 4 meses, fiquei ainda mais confuso quando eu vi o cabelo do Gaston, que eu me lembre o cabelo dele estava com luzes.

    -Gaston, o seu cabelo não estava com luzes? - perguntei me levantando e ele me encarou como se eu fosse louco.

    -O que está dizendo? Eu nunca pintei o cabelo. - replicou. - Então, você vem ou não? - perguntou e eu assenti, ele foi na frente e eu fui logo em seguida. Nós entramos no elevador e fomos para a recepção, onde o resto do pessoal estava a nossa espera. Pedro se aproximou de mim e passou o braço pelos meus ombros.

    -O que foi, Matteo? Que cara é essa? - perguntou com seu sorriso quadrado no rosto.

    -Ele ta estranho desde que acordou. - respondeu Gaston enquanto saíamos da empresa, o Pedro me soltou e foi na frente de todos. Eu pus as mãos nos bolsos da calça, suspirei e encarei o chão, começando a seguir os garotos, foi quando eu esbarrei em uma pessoa.

    -Desculpa. - pedi sem encarar a pessoa. Ergui a cabeça e arregalei os olhos ao ver a pessoa diante de mim. Minha respiração ficou descompassada e o meu coração acelerou. Ela estava ali, diante de mim, linda como sempre. - Luna! - exclamei abraçando ela, fechei os olhos e senti ela hesitante.

    -Me solta, eu nem te conheço! - bravejou me empurrando e eu caí sentado no chão, foi quando o Pedro apareceu.

    -O que ta havendo aqui? - perguntou alternando o olhar entre mim e a Pedro.

    -O seu amigo é louco! - exclamou a morena indo embora. Pedro se virou para mim e estendeu a mão para me ajudar a levantar.

    -Você precisa de umas aulas para aprender a conquistar uma garota, Matteo. - falou Pedro assim que eu me levantei.

    -Como assim "conquistar", Pedro? É a Luna. - repliquei e ele arqueou uma das sobrancelhas.

    -A garota? Você conhece ela? - perguntou e eu franzi o cenho. O que estava acontecendo?

    -Você não conhece?

    -Nunca vi essa garota na minha vida. - negou me encarando preocupado. - Tem certeza que está bem, Matteo? - perguntou pondo a mão no meu ombro.

    -Estou, só... sem cabeça para comemorar. Vão sem mim.

    -Matteo... - eu o interrompi.

    -Eu estou bem, de verdade, pode ir. - falei e ele foi, hesitante.




                        [...]





               LUNA
    Assim que cheguei na lanchonete, vi as minhas amigas sentadas em uma mesa, encarando a tela do tablet enquanto exclamavam algo que eu não estava entendendo. Elas estavam animadas com alguma coisa. Sorri e me aproximei delas em passos lentos, me sentei de frente para aquelas duas, mas elas continuaram conversando animadamente, como se eu não estivesse aqui.

    -O Matteo é lindo! - gritaram em uníssono e finalmente me encararam.

    -Quem é Matteo? - perguntei e elas me encararam surpresas.

    -Você não viu? - perguntaram, novamente, em uníssono.

    -O quê? - perguntei curiosa e Yam me mostrou a foto do tal Matteo. Eu arregalei os olhos, foi o mesmo maluco que me abraçou ainda pouco.

    -Liberaram as fotos dos novos membros do Roller Band e esse é o mais novo do grupo, Matteo, ele não é lindo? - perguntou Jim e eu permaneci encarando a foto dele. Ele era bonito, tinha que admitir, mas era bem maluco, ele me abraçou do nada e disse o meu nome. Como ele sabia o meu nome?

    -Você disse Matteo? - perguntei e elas assentiram.




                        [...]





                MATTEO
    Ando devagar, pensando e repensando no que tinha acabado de acontecer. Como assim a Luna não me conhecia? Desde quando nós ainda somos pessoas normais? Por que todos eles estão morenos? Eu me lembrava perfeitamente bem do dia em que o Gaston pintou o cabelo.

    "Essas são as regras, eu volto o tempo e te dou sua namorada de volta, mas para ficar com ela, você tem que fazê-la se apaixonar por você de novo, antes de eu leva-la comigo."

    Lembrei do sonho e arregalei os olhos, não podia ser verdade. O relógio, se eu encontrasse o relógio saberia se foi verdade. Pus a mão no bolso da minha jaqueta e senti o objeto redondo, peguei o mesmo e o encarei por um longo tempo, ele era dourado com detalhes em prata.

    -Luna. - murmurei encarando o objeto. - Você está viva. Eu não vou te perder de novo.




                        [...]






                LUNA
    Respirei fundo e mordi o lábio inferior. Aquele cara não sai da minha cabeça, tem algo nele que me é familiar, eu só não lembro. Ele devia me conhecer, ele disse o meu nome e me abraçou. E se já fomos amigos quando pequenos? Eu o empurrei, eu fui grossa demais. Eu devia, pelo menos, ter falado com ele. Devia ter perguntado se já nos conhecíamos. Eu fiquei pensando nele desde que saí daquela lanchonete, já é noite e nada de eu esquecer ele.
    Escutei uma buzina, gritei assustada quando senti uma mão me puxar e, logo em seguida, braços ao redor do meu corpo. Foi então que eu dei conta do que aconteceu, eu quase fui atropelada. Encarei o rosto da pessoa que me puxou e fiquei vidrada em seus olhos castanhos. Nossos rostos estavam próximos e os nossos corpos colados. Era o Matteo.

    -Você está bem? - perguntou e eu me afastei dele.

    -Você está me seguindo? - perguntei ríspida.

     Ok, Luna! E aquele papo de ter sido grossa demais com ele? Ele salvou a sua vida, poderia, ao menos, agradecer?

    -Desculpa. - pedi pondo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. - Você me salva e eu te trato desse jeito, desculpa.

    -Tudo bem, eu já me acostumei. - falou e eu franzi o cenho.

    -O quê? - perguntei confusa e ele passou a mão na nuca.

    -Eu já estou acostumado a ser tratado assim. - explicou e eu me senti mal por ele. Sempre trataram ele assim?

    -Nós... já nos conhecemos? - perguntei e ele pareceu surpreso com a minha pergunta.

    -Você... me reconhece? - perguntou apontando para si.

    -Então já nos conhecemos. Desculpa, é que... eu não te reconheço. - respondi cruzando os braços em volta da minha cintura. - É que você falou o meu nome, mais cedo. Eu não parei de pensar em você desde então. Você é cantor, certo? - perguntei e ele apenas assentiu.

    -Luna, nós... - ele foi interrompido por uma garota morena, que devia ter uns 16 anos.

    -Matteo, quem é ela? - a garota perguntou ficando ao lado do Matteo, devia ser a namorada dele, ela era bonita, parecia uma boneca de porcelana.

    -Eu acho melhor eu ir. - falei me preparando para ir embora.

    -Luna! - me chamou e eu me virei. - Toma cuidado. - sorri fraco.

    -A gente se vê por aí. - acenei e fui embora. Seria possível sentir ciúmes de alguém que eu nem conheço?