MATTEO
Deixando você ir sem qualquer expressão, como se isso não fosse nada
Eu pratiquei isso todos os dias, mas ainda é estranho
Eu também pratiquei como chorar secretamente enquanto sorrio, mas
eu sinto que minha voz trêmula vai me entregar rapidamente
Amar é, provavelmente, centenas e milhares de vezes mais difícil do que terminar
Mas eu sou um tolo que não pode viver sem você
O que você quer que eu faça?
Severamente, eu acho que amei muito severamente
Eu sequer respiro e apenas olho para você
Eu não sei quando vou ser capaz de parar
Severamente, eu acho que amei muito severamente eu acho que deixar você ir é mais cruel do que a morte
A sala de ensaio estava vazia, apenas eu estava lá, com o meu violão. Incrível ainda saber tocar, aprendi quando tinha 12 anos e parei de tocar por um longo tempo. Respirei fundo e coloquei o violão em cima do sofá ao meu lado.
Eu tenho só 12 semanas para tentar reconquistar a Luna, eu sei onde encontrá-la, só tenho medo de espantá-la de novo, como da primeira vez. Me levantei de onde estava sentado e caminhei a passos lentos até a recepção, assim que saí do elevador, vi a Luna conversando com um dos seguranças. Ela fazia uma cara tão fofa, quase implorava para o segurança e o mesmo só balançava a cabeça negativamente.
Eu me aproximei deles e cruzei os braços.
-O que está acontecendo aqui? - perguntei e eles me encararam.
-Senhor Matteo, sinto muito, mas essa garota insiste em entrar dizendo que uma amiga entrou. - respondeu e eu sorri fraco.
-Ela entrou, você que não viu, ela está lá dentro procurando pelo Nico. - replicou Luna e eu franzi o cenho. Nenhum dos meninos veio hoje, só eu.
-Vem, vamos procurar por ela. - segurei sua mão e puxei-a para o elevador. - Tem certeza que ela foi atrás do Nico? - perguntei assim que as portas do elevador se fecharam.
-Tenho quase certeza que sim. - respondeu e eu ri fraco. Uma coisa nunca ia mudar, essa incerteza que eu amo nela. - Por que está rindo? - perguntou cruzando os braços, parecia indignada.
-Nada, eu só... é que o Nico não está aqui. - falei e ela arqueou uma das sobrancelhas.
-Eu sei, acabei de vê-lo do lado de fora, enquanto o Gastón engolia um hambúrguer. Pena que a Jim não soube antes de entrar.
-Tem certeza que não veio aqui só para me ver? - perguntei e ela pareceu engasgar, pois começou a tossir incontrolavelmente enquanto o seu rosto ficava vermelho, ela estava nervosa?
-Quê? - perguntou rindo.
-Sério mesmo? Veio para me ver? - perguntei surpreso e ela parou de rir.
-É, eu... fiquei curiosa para saber sobre... - ela acabou em meus braços por conta de um solavanco, o elevador parou e as luzes apagaram. Ela se afastou e encarou as portas. Pelo que eu conhecia da Luna, ela iria ficar ofegante daqui à pouco, então é melhor eu ficar longe.
-Luna... - ela me interrompeu.
-Como sabe o meu nome? - perguntou se afastando de mim.
-Da mesma forma que sei que você tem medo de confinamento. Daqui à pouco você vai parecer que correu uma maratona e vai querer mover essas portas com as unhas. - respondi e ela ficou surpresa. Ela não tem para onde fugir mesmo, eu posso agir da forma que eu quiser.
-Como você...? - eu a interrompi.
-Eu sei tudo sobre você.
-O quê? - perguntou confusa e eu sorri fraco.
-Sabe aqueles filmes que uma pessoa volta no tempo, modifica algo no passado que pode prejudicar o "futuro"? - perguntei e ela encarou o piso. - É o que eu estou tentando fazer, estou tentando te falar do que vai acontecer daqui à 3 meses e 2 semanas, exatamente às 21:45, estou tentando falar que você morrerá atropelada por um bêbado que vai estar dirigindo em alta velocidade...
-Pare. - pediu e eu resolvi não dar ouvidos.
-... para ver se, pelo menos, assim eu consiga modificar o fato de que você vai morrer!
-Pare! Eu disse para parar! - bravejou me encarando furiosa. - Você tem problemas, é isso? Que brincadeira de mal gosto é essa, Matteo? Você acha que eu sou idiota? Que eu vou acreditar em cada asneira que sai da sua boca? - perguntou com a raiva transbordando. - Você é um stalker/sociopata, é isso? Esperou eu baixar a guarda para atacar? - vi quando ela respirou fundo e botou a mão no peito. - Estou tão cansada. - murmurou começando a ficar ofegante.
-Luna... - ela me interrompeu.
-Não. - replicou se sentando. Talvez jogar tudo de uma vez não tenha sido uma boa ideia, é que... eu preciso muito que ela se lembre de mim e talvez assim eu consiga mudar o que vai acontecer.
[...]
NICO
-Ouvi dizer que o Matteo estava na sala de ensaio, por que a gente não entra? - perguntei para Gastón que apenas continuou comendo. - Que amigo mais desnaturado! - reclamei e ele me encarou ainda mastigando um pedaço do terceiro hamburguer que ele estava comendo.
-Me chama de disso de novo que eu quebro a tua cara. - e voltou a comer.
-Eu vou... - fui interrompido por um grito agudo, me virei e senti algo (na verdade, alguém) esbarrar contra mim, acabei caindo no chão com um corpo pequeno por cima do meu.
-Me desculpa. - escutei uma voz feminina dizer, era a garota que tinha caído em cima de mim. - Eu não prestei atenção e acabei caindo em cima de você. - ela começou a se levantar e eu fiz o mesmo. Ela era bonita, era tão pequena, que parecia que iria se quebrar com apenas o soprar do vento. - Eu sou muito desastrada, mas hoje eu bati o recorde. - falou rindo e eu achei estranho, por que ela estava rindo?
-Você cai com muita facilidade? - Ramiro brotou do inferno e perguntou para a garota. Eu tenho que colocar um sino no Ramiro, ele tem a mania de aparecer sem ser notado, dá raiva.
-Sim. - respondeu ainda rindo, ela era assim mesmo? Ria demais?
-Você ri o tempo todo? - Ramiro cruzou os braços e eu arqueei uma das sobrancelhas.
-Sim, mas rir me deixa mal. - respondeu rindo. Deus, essa garota não parece ter mais de 15 anos!
-Por que rir te deixa mal? - perguntou Gastón, deixando de lado a sua comida.
-Porque, mesmo triste, eu rio, me deixa mal ficar rindo enquanto eu vejo os outros chorando. - respondeu e eu passei a me preocupar.
-Você já foi ao médico para ver isso? - perguntou Ramiro e ela negou. - É bom você ir, porque, talvez, sua risada seja um problema e, talvez, você precise de uma cirurgia.
-Você tem quantos anos? - perguntei e ela me encarou.
-Eu tenho 16 anos. - respondeu e eu me surpreendi, ela parecia ser mais nova, era pequena e frágil.
[...]
MATTEO
Respirei fundo e me sentei de frente para ela no chão do elevador, peguei o meu celular e vi que estava sem sinal, desliguei o celular e peguei o relógio que estava no bolso da minha jaqueta, o encarei fixamente e os flashes do acidente vieram nas minhas lembranças. Eu a encarei e percebi que ela me encarava. Eu precisava dessa garota, ela não fazia ideia disso. Sorri fraco e tornei a encarar o relógio.
-Mesmo que não fiquemos juntos, eu vou fazer de tudo para que ela não leve você. - falei encarando o relógio. - Eu posso e vou enganar a morte.
-Já tentou ir se tratar, você tem sérios problemas, cara. - quando ela falou isso, o elevador voltou a funcionar. Ela se levantou e eu fiz o mesmo, ela apertou no número 1 e cruzou os braços. Quando as portas do elevador se abriram, ela saiu e eu fui atrás dela.
-Luna! - chamei-a e ela parou de andar.
-Não vem atrás de mim! - replicou indo embora e guardei o relógio no bolso.
-Ei! Temos que ir, tem uma reunião marcada. - escutei a voz de Gastón e me virei.
-Eu preciso... preciso fazer uma coisa.
-O quê? Não, Matteo, temos que ir, só faltam 5 minutos.
-Diz que eu não estou me sentindo bem, sei lá, inventa. - comecei a correr para longe dali.
-Matteo! - escutei ele gritar, mas eu não parei e correr. Eu estava seguindo a Luna que estava longe demais, fazia de tudo para não esbarrar em alguém, mas parecia impossível. Um ônibus parou e eu vi que ela ia entrar.
-Luna! - gritei e ela virou o rosto para mim, revirando os olhos e entrando em seguida, parei de correr quando vi o ônibus saindo. - Droga!
[...]
LUNA
Respirei fundo e me sentei em um lugar vago, bem lá no fundo do ônibus, atrás de um garoto que carregava um violão, encostei a cabeça na janela e prestei atenção no que acontecia do lado de fora do ônibus, a paisagem sempre mudando, as pessoas passando. Acabei metendo a cabeça no banco da frente com o breque repentino do ônibus.
-Ai. - resmunguei e escutei uma risada fraca. Olhei para cima e vi o garoto do violão.
-Você está bem? - perguntou e eu alisei a minha testa.
-Meu dia pode ficar pior? - resmunguei ignorando a pergunta dele.
-Está tendo um dia ruim? - perguntou e eu o encarei sem responder. - Quer que eu cante para você?
-Não precisa.
-Eu me chamo Simón. - ele estendeu a mão e eu a apertei.
-Luna.
[...]
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.