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História Shadow - Supernatural Fanfic - A caçada: Dama do Mar.


Escrita por: nameiswhite

Notas do Autor


Olá Hunters.
Mais uma vez demorei horrores para postar o novo capítulo e peço perdão por isso. Fiz um bem grande para recompensar.
Devo demorar um pouco para postar o próximo, pois sou fruto de uma instituição federal e não estou de férias (choro), mas farei o possível para cumprir minha meta de dois capítulos por semana.
Aproveitem a leitura.

Capítulo 11 - A caçada: Dama do Mar.


Olivia, Minnesota

Felicity estudou todos os cantos de sua casinha de bonecas, colocando um casal na cozinha, que era onde seus pais estavam naquele momento. Em um quarto qualquer, pôs Scrucia, sua bonequinha sem cabelo que simbolizava sua irmã.
           Correu a mão pelas marcas recentes do brinquedo, era como se a cada dia sua casa estivesse mais destruída, as duas. Todos os dias ela quebrada aquela casinha de bonecas em uma parte diferente.
          Tomou coragem para olhar a bonequinha preferida de Judite, que simbolizava Felicity e seu lugar na casa. Engoliu seco quando pegou a brinquedo e passou a mão sobre o pescoço. Judite havia a presenteado com uma sinistra boneca sem cabeça.

Dean estacionou em frente a casa dos Smith. Era sábado e um bom dia para encontrar todos em casa. Ele olhou para Dani, que assentiu antes de descer do carro.
           Os dois notaram a presença do conversível estacionado em frente a garagem. Pelo menos hoje, sabiam que o pai estaria em casa.

Felicity levantou a cabeça ao ver os dois se aproximando. Estava sentada na divisão da calçada com a grama, de costas para o desenho de uma borboleta feita com giz no cimento. Escutou o homem bonito instruir a mulher a ficar e conversar com ela, enquanto ele seguiu para sua casa afim de falar com os outros.

Danielle se aproximou sorrindo.

_ Posso? - ela indicou o espaço ao lado de Felicity.

A garotinha balançou a cabeça em concordância.
           Dani se sentou, olhando o desenho e o considerando um bom argumento para se começar um assunto.

_ É uma bela borboleta.

_ Obrigada. - agradeceu, olhando para ela de olhos semicerrados devido ao som.

Um silêncio torturante brotou entre as duas. A criança se dedicava em maltratar a grama, enquanto Danielle planejava palavras que não a assustasse.
Em determinado momento, Felicity parou, respirando fundo e engolindo seu medo, disse:

_ Vocês estão aqui por causa dela?

Danielle olhou para Felicity com espanto. Era evidente que a garotinha pressentia o mal que a rondava, mas saber que isso tudo era proveniente de sua amiga e, ainda sim, zelar pela estabilidade dessa relação tornava tudo ainda mais complicado.

_ O que sabe sobre a Judite?

Felicity pegou um fiapo de grama recém aparada e falou enquanto o remexia entre os dedos.

_ Você conhece a história da Dama do Mar?

_ Não... - Dani estranhou o rumo do assunto, mas deixou que a criança continuasse.

_ Na Alemanhã, há muito tempo, os pescadores deixavam suas famílias com promessas de que voltariam com o suficiente para sustentar os filhos durante aquela temporada. - ela falava fina e formalmente, o que fez Danielle deduzir que a garotinha reproduzia da forma que lhe fora contado. - Mas a vida de um pescador na Europa é difícil, principalmente pela falta de variedade. Muitos, cansados de viver na miséria, se jogavam ao mar sem rotas, sem rumo, apenas para se livrarem das dívidas e dos castigos para aqueles que não pagavam os impostos.

Ela olhou para Dani antes de voltar a contar:

_ Um dia, três pescadores decidiram abandonar a família e se aventurar em busca de um novo continente, já que seriam mortos se continuassem naquele lugar. Se despediram de suas esposas e filhos da mesma maneira, alegando que o próximo mês seria carregado de fartura. Os três iniciaram sua fuga e acabaram com o pouco de alimento que tinham em cinco noites, na décima, a fome, cede e a falta de rumo já os faziam delirar. O mais velho notou uma movimentação sob as águas. Tamanha agitação os fez pensar que o barco iria virar, mas a água se acalmou, trazendo com ela o corpo de uma mulher no balançar de suas ondas. Nua e completamente consciente disso, elas a ajudaram a subir no barco. Eram homens podres e o único motivo de aceitarem ela ali era o vislumbre de uma linda mulher como veio ao mundo. Ela não se importava nem um pouco com a forma como era molestada, mas aquela não era qualquer mulher. A Dama do Mar comprometeu servir de objeto para aqueles homens, prometendo-lhes riquezas e uma vida muito melhor do que viviam. Os três logo aceitaram, mas essas dádivas seriam fornecidas à apenas um. O do meio foi tomado pela raiva, disposto ser ele a levar tamanho prêmio. O mais velho, cansado demais para viver ao mar e muito menos ser morto pelos delírios causados por ele, pediu a Dama uma morte rápida e indolor. A mulher aceitou sua oferta, retornando as profundezas com o senhor em seus braços. Deixou os dois que disputariam sua atenção e disse que para vencer era preciso matar o seu adversário e o jogar no mar, isso a atrairia de volta. Depois de mais duas noites de briga, o corpo do homem do meio foi lançado ao mar com a garganta cortada e a Dama surgiu no momento em que ele se foi. Ela parabenizou o mais novo, o chamando de Louis, que significa guerreiro. Naquela noite, os dois se deleitaram e, quando o homem acordou, viu que a mulher já não estava ao seu lado. Um canto superior ao mais belo ecoava pelo mar aberto. Sabendo que vinda de baixo da água, o homem colocou sua cabeça para dentro, vendo a Dama nadar em sua direção enquanto toda sua beleza era deixada para trás a medida que se aproximava. Tentou tirar rua cabeça da água, mas não conseguia. A mulher desfigurada segurou seu rosto, beijando sua boca e o puxando para o fundo do mar enquanto a pressão da descida destruía o corpo do homem da mais perversa maneira.

Danielle estava boquiaberta. Era como estar na frente de um conto grego sobre oráculos. Aquela era apenas uma criança, não podia acreditar que aquelas palavras foram ditas de forma voluntária.
           Felicity se virou para ela, sorrindo debilmente.

_ Na mesma noite, cada família recebeu um presente vindo juntamente com a maré.

_ O tronco de cada homem, - Dani arriscou, vendo o sorriso de Felicity se alargar ainda mais. - nada mais que isso.

A criança se levantou, mostrando seu sorriso diabólico antes de retornar a serena expressão de inocência. Ela beijou o rosto de Dani antes de correr pela grama e entrar dentro de casa.

(...)

_ Ela fala muito sobre essa nova amiga, mas nunca a vimos. - disse o pai.

Dean estava na cozinha, na companhia de Senhor e Senhora Smith.
           Ele já havia relatado que o mistério envolvendo a amiga da filha era algo a ser investigado, mas eles não estavam satisfeitos com a descoberta.

_ São os pais dela? - Senhora Smith perguntou, preocupada. - Eles são bandidos?

_ Essa é a questão, não sabemos. - Dean observou a filha mais velha se interessar pelo assunto e se sentar próximo a eles. - Ela comentou sobre essa amiga com minha parceira e pesquisamos sobre ela por precaução, assim como fizemos com todos que citaram no depoimento. E parece que não há registro nenhum sobre ela.

O casal se entreolhou, preocupados com o bem estar da filha.

Danielle entrou na casa, cumprimentando os donos e se virando para Dean.

_ Agente, será que podíamos conversar um minuto a sós?

Dean pediu licença, deixando a família sozinha para assimilarem o conflito que estavam presenciando.

Dani parecia a ponto de explodir. Caminhou até o corredor com o dedo na boca, sussurrando no momento em que o Winchester parou para escutá-la.

_ Temos um problema!

_ Novidade. - ele revirou os olhos. - Qual?

_ Acho que o espírito de Judite possuiu o corpo de Felicity.

(...)

Sam havia acabado de chegar e os três discutiam em frente a casa dos Smith se submetiam ou não a criança a todos os testes.
         Danielle preferia não expressar muito sua opinião.  Estava preocupada demais para poder dizer algo coerente. Um desespero maçante a consumia. Não uma apreensão por si, mas por Felicity.
        Não negava que havia pegado o caso para se distanciar de seus próprios temores, mas não percebeu que estava tão ligada a criança. A idéia de perdê-la fazia se sentir derrotada.

_ Dani? - Sammy chamou. - Nós vamos testa-la.

Danielle assentiu, acreditando que essa seria a única opção.

_ Precisamos bolar um plano para tirá-la de casa.

_ Não precisamos. - Dani se voltou para a casa, vendo a garotinha brincar no gramado.

Os três caminharam até ela. Dean voltou para dentro da casa, dizendo que distrairia os pais da garota enquanto eles a testavam com ferro.

Felicity entregou uma boneca a Dani, pedindo para brincar com ela. Assentiu, se virando para Sam e implorando que fizesse isso rápido. Decidiram que encostar sua pele ao ferro seria a melhor opção.
          Sammy caminhou até as duas, pegando um dos brinquedos e escondendo a ferramenta atrás de seu corpo.

Quando Felicity estendeu o braço para fazer com que as duas bonecas se encontrassem, Dani a segurou com força. A criança tentou se soltar, pensando que Sam iria machuca-la. Todavia, ele apenas encostou um martelo frio em seu braço.

_ Ela não está em mim! - Felicity gritou, se soltando.

Sam e Dani se entreolharam, se voltando a garota novamente.

_ Tudo bem. - O Winchester guardou o martelo. - Você vai nos dizer tudo que sabe sobre Judite.

Ela lançou um olhar em direção a Dani, em um pedido para ser protegida. A caçadora apenas sorriu, prometendo silenciosamente que zelaria pela criança.

_ Foi na saída da escola. - começou a contar. - Ela estava com o novo namorado da Lily.

_ O que ela fazia com ele?

_ Eles são irmãos. - ela olhou para baixo, mostrando que havia algo mais.

_ Você me disse que sua irmã te deixou de lado quando começou a namorar esse garoto...

_ Sim... Judite também acredita ter sido deixada de lado.

_ Acredita? - Sam ponderou.

_ Ela é um fantasma, o irmão não.

Dani respirou fundo, quase arrancando os cabelos.

_ Como ela chegou aqui, você sabe?

_ Jared está mudando de cidade em cidade. Ele é de maior, mas ainda não terminou os estudos.

_ Ele deve ter algo que pertenceu a ela. - Sam disse. 

_ E ela deve estar querendo se vingar pela namorada ter tirado a atenção do irmão. - Dani concluiu.

_ Ela só quer ser minha amiga. - Felicity disse com uma voz chorosa. - Não vai fazer nada a Lily. 

Danielle segurou as mãos da garota, enxugando suas lágrimas.

_ Você sabe que há algo errado, nos contou isso tudo porque estava com medo. - disse. - E nós vamos te proteger.

_ Felicity disse que só vê a garota quando Jared está em sua casa ou por perto. - Dani disse.

Os três estavam no carro, enquanto Sam pesquisava e fazia ligações.

_ Em Billings,  - começou a dizer. - era amigo do filho mais velho. E eu liguei para Senhora Reynolds que alega que os Furtwängler em Casper tinham um jardineiro com esse nome.

_ É algo que ele carrega no corpo. - Dean analisava a foto que Lily havia postado em sua rede social com o namorado.

Dani se inclinou para ver a foto, deixando Dean um pouco desconfortável com a aproximação.

_ O pingente sob a camisa - indicou - é uma bailarina.

_ Bem feminino para um homem.

_ O garoto também não tem registros. - Sam continuou compartilhando o que encontrava em suas pesquisas. - Muda o sobrenome a cada cidade que visita.

Os três ficaram em silêncio, observando o garoto que, do outro lado da rua, cuidava do jardim de uma família qualquer.
          Jared era muito comum e nem um pouco suspeito. Um garoto de estatura média de cabelo castanho. Era forte, mas seus músculos não indicavam obsessão pelo corpo saudável, mas de anos de trabalho. Aparentava ter menos do que indicava.

_ Vamos falar com ele? - Dani perguntou.

_ Ele vai responder todas as nossas perguntas quando eu mostrar minha beleza. - Dean disse, se referindo a arma.

Dani revirou os olhos, se virando para Sam.

_ Nada sobre a morte de Judite?

_ Nada.

Ela suspirou, abrindo a porta do Impala e a fazendo ranger.

_ Então vamos no improviso.

Sam e Dean a seguiram, vendo-a ajeitar a saia sobre o corpo. O mais velho sorriu para o irmão, desdenhando da feminilidade da garota, mas Sammy nem deu atenção.

_ Jared Berkeley? - Dani chamou, recebendo a atenção do menino.

Os três mostraram os distintivos e ele não pareceu intimidado.

_ Ou devemos dizer Jared Cage... - Sam leu os papeis. - Ou Stewart.

O garoto estalou a língua, largando a pá que segurava.

_ Vocês vão me levar para o juizado de menores? - ele perguntou.

_ Pelo o que nós sabemos, você não é de menor... Ou é?

_ Às vezes é preciso alguns documentos falsos para se passar por maior.

Os três se entreolharam, sabendo que não podia puni-lo por isso.

_ Se você nos contar sobre sua irmã, podemos te deixar em país.

_ Não tenho nada para falar sobre ela, esta morta.

Dean parou em frente ao garoto,  sorrindo antes de o imprensar contra a parede da casa. Danielle e Sam não gostaram da atitude, mas não podiam desfazer o feito.

_ Ela pode estar morta, mas não para você, não é mesmo? - Dean disse.

_ Você é maluco! - o garoto começou a se mostrar desesperado. Algumas crianças que passaram na rua se assustaram com o que viram. - Ela morreu há sete anos!

_ Nós sabemos que o colar é o que a prende aqui. - Dani falou, acreditando que ele estava escondendo a irmã.

_ Ou você. - Dean completou, soltando o garoto que ajeitou a camisa quando se viu livre.

Ele olhou para os três, mostrando que não sabia do que falavam. Para ele, eram todos malucos.

_ Eu realmente não sei o que vocês estão falando.

Dean passou a língua pelos lábios antes de partir para cima do garoto novamente. Entretanto, dessa vez, Sam o segurou.

_ Dean, pare!

Danielle se pôs no campo de visão dos dois.

_ É, Dean. - disse, entediada com a demonstração de virilidade dele. - Pare de bancar o macho alfa. Você só rosna, nem late. Muito menos morde.

O Winchester mais velho olhou para a garota com o mesmo ódio que havia depositado em Jared, mas vê-la dando de ombros e nem ligando para sua expressão o fez cessar.

_ Ele não sabe do que estamos falando. - Sam continuou.

O garoto ainda estava parado diante dos três, assustado demais para reagir.

Sammy foi até ele e arrancou o colar com força, deixando marcas na pele branca. Ele tentou reagir, mas Dani fez um sinal para que se controlasse, mostrando que seria pior reagir.

_ Há mais alguma coisa que pertenceu a sua irmã?

_ Não... - ele alternou olhar dela para Sam. - Será que pode devolver?

_ Sinto muito... - ele caminhou até a lata de lixo e jogou o colar lá dentro.

_ Ei! - Jared estava visivelmente frustrado e ver o homem salgar e atar fogo no objeto o fez partir para cima dele, mas Dean o segurou.

Eles observaram o fogo que começou tranquilo, mas que aos poucos atingia os outros descartáveis da lixeira e se tornava intenso.
          Danielle cruzou os braços em frente ao corpo, esperando o alívio por ter encerrado um caso surgir,  mas ele não veio. O fogo que emergia a sua frente não a aquecia nem nos pés.
            Foi fácil demais, pensou.

Os irmãos haviam concordado em ficar mais um dia antes de encerrar o caso. Era a noite do dia seguinte quando começaram a arrumar suas coisas para voltarem para casa.
           Felicity contou a eles que Judite não apareceu quando Jared foi a sua casa, o que os fez acreditar que o trabalho estava terminado. Para restaurar a paz depois da aparição do FBI, George Smith levaria a família para uma cabana nos arredores da cidade, na esperança de fazê-los se unir e que Felicity sentisse menos falta da "amiga desaparecida."
           Para Sam e Dean aquela era uma boa hora para partir, mas Danielle não se considerava tão segura.
          Ela estava sentada no carro do lado de fora, com a porta do carona aberta. Lia a carta de sua mãe mais uma vez. A carregava para todo lugar desde que encontrará.
           Dean observou-a distraída pela janela. Era difícil não se perguntar o que passava em sua mente. No começo, quando voltavam do hotel, acreditava que Danielle estava muito enferrujada para o trabalho, por isso não reconhecia que havia acabado. Naquele momento, ele percebeu que era totalmente ao contrário. Ela era perfeita para a caçada, pois ao contrário de muitos caçadores, ela sentia. Danielle não havia descolado um caso para matar uma coisa e extravasar sua raiva. Ela havia descoberto um caso e se doou para livrar uma família de um destino horrível. Devotou-se de tal maneira que ainda tinha medo de algo acontecer a eles.
           Quando Sam se sentou  frente ao seu notebook, Dean foi até a porta, abandonando o que fazia e se acomodando ao lado de Dani no Impala.

Ela percebeu quando ele se sentou, mas não o encarou.

_ Sabe... - ela começou a dizer, observando a carta. - Às vezes me culpo ter acusado minha mãe de abandono.

Dean se virou para ela.
          Era um daqueles momentos em que a pessoa precisa ouvir a coisa certa, mas essa é uma tarefa muito difícil para quem diz. Ser responsável por apaziguar a dor do outro é um trabalho árduo.

_ Não importa o que você achou antes, mas sim saber que ela te protegeu durante toda sua vida.

Ela piscou algumas vezes, afastando o sentimento nostálgico de ser fraca novamente.

_Eu acho que é isso que estamos fazendo com eles. - ela finalmente começou a encará-lo. - Estamos julgando errado, deixamos algo passar.

Dean estalou a língua, jogando os braços sobre o volante e olhando para ela.

_ Dani, algumas vezes encontramos caçadas fáceis... Outras não. - disse. - Essa, por exemplo, é uma fácil no meio de uma difícil.

_ Eu sou a difícil. - ela concluiu.

O clima voltou a ficar triste, mas Dean não podia permitir isso. Era fato que o caso de Danielle estava entre os seus mais complicados, mas mostrar isso a ela não fazia as coisas melhorarem.

_ É... Você é difícil em muitos aspectos. - falou, com um sorriso sacana no rosto e disposto a esquecer o que havia dito.

Danielle ergueu as sobrancelhas, sabendo o que ele se referia, mas não acreditando que estavam prestes a tocar no assunto novamente.

_ Eu tenho uma conclusão ... - ele passou a língua pelos lábios, mas voltou a sorrir. - Você me disse que garotas difíceis mostram que vale a pena lutar, mas eu discordo.

_ Então você pensou no assunto... - ela cruzou os braços.

_ Não são difíceis, são espertas. Elas transformam a arte da conquista em uma caçada. - fez uma pausa. - Elas atraem a atenção, recebem o carinho e retribuem com migalhas porque sabem como um homem reage ao se sentir tentado.

_ Espera.  - Dani riu. - Você acabou de me chamar de difícil, logo me encaixo nesse quadro?

_ É claro. - ele deu de ombros.- Por qual motivo ser difícil se esta interessa?

_ Acho que tem a ver com o problema de confiar. - contou. - Às vezes a gente se faz de difícil para testar o cara, ver se ele está realmente afim.

_ Então esse é o seu jeito?

_Não. - Danielle sorriu. - Acho que o meu problema esta mais para medo de me apaixonar por alguém e no final a caçada atrapalhar.

_ Mas você largou essa vida.

Ela encarou as mãos por uns segundos e se voltou para ele. 

_ Nós nunca deixamos de ser caçadores, Dean. Você sabe disso.

E, mais uma vez, Dani estava certa. Ele já havia experimento a experiência de ser alguém normal, com Lisa e Ben, mas só conseguiu virar a vida dos dois de cabeça para baixo. Era delicado demais se lembrar daquilo e mais triste ao perceber que foi esquecido. Mas aquela era a escolha dele.

Ele olhou para a figura de Dani ao seu lado, quase oculta pela falta de luz. Um silêncio mórbido se instalava entre os dois, mas, ao mesmo tempo, era como se dissessem tudo. Naquele momento, Dean reconheceu que tinham mais em comum do que apenas o temperamento forte.

Sam saiu do quarto as pressas, encontrando o irmão e Danielle no carro. Não quis se perguntar o que estava acontecendo, mas era involuntário. Todavia, tinha outros assuntos para tratar.

_ Vocês precisam ver isso! 

(...)

Os três voltaram ao quarto e Sam se pôs de frente as suas pesquisas, abriu uma página na Internet e mostrou aos dois.

_ Investiguei a árvore genealógica dos Furtwängler até onde possuia informação. - contou. - Encontrei um fabricante de peças para carros, Valentim Furtwängler. Ele era muito rico, pois a Alemanha é a maior importadora de carros desde o século passado.

_ Vai com calma, Wikipédia. - Dean debochou. - Na verdade, vá direto ao ponto.

_ Valentim perdeu a esposa com o nascimento de sua última filha e , mais tarde, veio a se casar novamente com uma mulher mais nova e estrangeira, Anabelle.

_ Deixe-me adivinhar, nova e totalmente interessada no dinheiro. - Dani disse.

_ Exatamente. - Sam se pôs a continuar. - Anabelle desapareceu com Valentim e seus três filhos, os corpos nunca foram encontrados.

_ Exceto o da filha mais nova, apenas o tronco. - Dani leu, concluindo.

_ Mas não foi Anabelle. - Sam falou, fazendo os dois estreitarem as sobrancelhas. Eles não disseram nada. - Petrus Furtwängler era o filho mais velho, Odete a mais nova e única encontrada e... Judite Furtwängler, a filha do meio.

_ O que? - Dani indagou. - Está dizendo que é a mesma Judite? Ela que matou a família? Como assim?!

Sam abriu a ficha de Jared, sem nada a acrescentar além de seus palpites.

_ Talvez estivéssemos errados. - falou. - Jared mentiu sobre o sobrenome, mas nada prova que não mentiu sobre o nome também.

_ Acha que ele é Petrus, o filho mais velho. - o corpo de Danielle caiu sobre a cama, pesado com tantas informações.

_ Então não é fantasma. - Dean cruzou os braços sobre o peito e sua expressão variava de surpresa a raivosa.

_ Eu te disse! - Dani se virou para ele, que revirou os olhos e ignorou a garota. - Precisamos ir até os Smith, eles estão em perigo!

(...)

No caminho, Sam ainda pesquisava sobre o que encontrariam naquela cabana. Era óbvio que não estavam lidando com fantasmas e estavam prestes a entrar no ninho das cobras sem saber qual veneno possuíam.

Dani ligava para os Smith, mas não obtinha respostas. George havia garantido que seu celular era via satélite e que teria sinal aonde quer que estivessem. Essa recordação só a fez ficar mais angustiada.
         Antes de sair da cidade, haviam passado pelo endereço que Jared - ou Petrus - deu na escola, mas descobriram que era falso. Naquela altura o peso do fracasso já caia sobre eles, desapontados consigo mesmos. Haviam deixado passar muita coisa.
       

  Dean martelava em sua mente idéias absurdas, mas havia uma imensidão de monstros para escolher.

_ Dani... Você teve mais contato com a criança. - Sam, vendo as opções se esgotar, implorou. - Tente se lembrar de algo.

Danielle passou a mão pelo rosto, frustrada. Fechou os olhos na tentativa, inútil, de conseguir alguma coisa.

_ Quem diria, Sam Winchester pressionando uma dama. - Dean debochou, mas Dani não arregalou os olhos por isso.

_ Dean, você é um gênio! - ela se inclinou sobre o banco e beijou o rosto dele, o fazendo, pela primeira vez na vida, enrubescer. Sam estava em estado de êxtase com aquela cena. - A história da Dama do Mar. Felicity disse que Judite contou essa história, no final tudo a resume aos troncos das vítimas.

Sam digitou algumas coisas, lendo as em seguida.

_ É uma história do norte da Alemanha, mais precisamente, de um povoado. - Sam clicou nas informações sobre aquela região.

Enquanto ele passava as fotos e textos, Dani estava a espreita, pronta para intervir caso a intrigasse.
           A imagem de um crânio com um tijolo na boca a chamou atenção.

_ Espere! O que é isso? - apontou.

Sammy clicou na foto.

_ É como as pessoas eram enterradas naquela localidade. Segundo as crenças, isso impede que se tornem Nachzehrer.

_ Já ouvi falar sobre eles, mas nunca vi um. - Dani disse. - Vocês já?

_ Uma vez. - Dean respondeu por ele e pelo irmão.

Nachzehrer era uma espécie de vampiro alemã que inspirou a maioria das histórias sobre esses sangue sugas, pelo menos na parte física. Possuiam apenas os caninos como arma, não vários dentes como os outros. Mas a forma como atacavam era muito diferente.
          Não é necessário uma mordida ou um arranhão para se transformarem... Era preciso um acidente ou suicido para que a morte viesse e com isso, a transformação. A única forma de matar essa espécie de vampiro era decapitá-lo e colocar uma moeda em sua boca.

_ Nós estamos vendo de uma perspectiva errônea novamente. - Dani concluiu. - Petrus e Judite se suicidaram.

_ Como pode ter tanta certeza? Está querendo dizer que eles são Nachzehrer?

_ Sim. - ela estava inquieta. - É só ligar os pontos. Eles estavam furiosos com o pai por arrumar uma nova mulher, por isso matou os dois e logo depois se suicidaram. E os Nachzehrer só se alimentam dos cadáveres da própria família, por isso estão desaparecendo com o que restou dos Furtwängler.

_ Estão matando dois coelhos com uma cajadada só. - Sam falou, mostrando que havia entendido o raciocínio. - Estão se vingando daqueles que deixaram as origens alemãs e se uniram a estrangeiros e ainda estão fazendo uma boquinha...

_ Ou os corpos podem estar apodrecendo em algum lugar até se transformarem. - Dani finalizou.

Dean continuou com a atenção na estrada, mas ainda tinha uma dúvida.

_ Isso não explica a morte da filha mais nova de Valentim.

_ Foi com o seu nascimento que a mãe das crianças morreu. - Sam deu de ombros. - Eles culparam a irmã pela morte da mãe.

_ É um drama e tanto. - Dean não estava seguro da idéia dos dois.

Quando chegaram a trilha, perceberam que enfrentariam uma subida e tanto até a cabana.
           Desceram do carro e se armaram com facões. Dean, por sua fez, conferiu se sua arma estava devidamente carregada.
           Quando viu que os dois perceberam, falou:

_ É um tiro no escuto entrar nessa mata e acreditar que vamos encontrar dois Nachzehrer. Vocês podem estar errados.

_ Você também errou ao dizer que era um fantasma. - Dani ergueu as sobrancelhas.

_ Todos nós estamos propícios a errar. - ele começou a subir pela trilha. - E essa arma vai comigo.

Decidiram que era melhor terem certeza do que iriam enfrentar, com isso, o melhor plano que conseguiram bolar era chegar perto o bastante para conseguir espiar.
        Se realmente eram Nachzehrer, então lidariam com predadores que sentiriam seu cheiro a quilômetros de distância. Por sorte, um sereno frio se misturava com o cheiro de terra molhada da floresta, isso era o suficiente para escondê-los por um tempo.

Quando chegaram a cabana, Dani soltou um suspiro ao ver as janelas quebradas e o corpo de George jogado na varanda. Naquele momento, ela odiava estar certa.

Sam deu a volta na propriedade, tentando encontrar uma forma de entrar.

_ O que vamos fazer agora? - a garota perguntou para Dean, sem encará-lo.

_ Eu não sei.

Petrus saiu da cabana, o que fez os três se esconderem. Mesmo de longe e no escuro, puderam perceber que que as dobras de seus dedos estavam machucadas, como se estivesse em uma briga recentemente. A julgar pelo estado do corpo de Senhor Smith, a briga havia sido com ele.
          O monstro arrastou o corpo para dentro, fechando a porta com força em seguida.

Sam retornou para perto dos dois:

_ Há uma porta nos fundos, mas seria suicídio entrar lá sem um plano.

_ Nós só temos uma opção, se esperarmos mais a família inteira pode morrer. - Dani disse, olhando para Dean.

_ Entrar e lutar. - ele falou.

Um barulho de galho quebrado os chamou atenção, vinha de trás.
           Por entre as árvores surgiu uma garotinha de roupas antigas, cabelo castanho trançado e um rosto angelical. A princípio, se assustou com a presença dos três, mas logo exibiu um sorriso maléfico que exibiu os caninos.

_ Judite. - Dani sussurrou.

No momento em que Sam ergueu o facão para decapita-la, a menina soltou um grito que fez os três pararem por um segundo para se situar. Todavia, segundos eram o bastante para fazer com que Petrus percebesse que a irmã estava em apuros e imobilizasse Sam. Dean foi para cima dele, mas Judite, que também era uma Nachzehrer, o impediu, o desarmando e torcendo seu braço até cair de joelhos no chão.
           Dani tentou atacar Petrus, mas ele virou Sam de frente, mostrando que quebraria o pescoço dele se ela desse mais um passo.

_ Vocês se meteram aonde não deviam. - ele disse. - Estranhos não devem interferir em assuntos de família.

_ E familiares não devem matar uns aos outros. - Dani percebeu que conversar a faria ganhar tempo. - Você teve a coragem de matar seu pai e sua irmã!

_ Eles são os culpados nessa história! - ele berrou. - Nós éramos felizes até Odete nascer e nossa mãe morrer. E ao invés de cuidar daquilo que nos restou e zelar pela alma de nossa mãe, ele se casou novamente!

_ Ela nos torturava. - Judite começou a dizer. - Nos tratava como animais.

Ela levantou a saia, mostrando a cicatriz de uma queimadura de ferro.

Dean se viu livre da garota, mas sabia que tinha que ser rápido.

Dani observou aquele machucado e, por um momento, sentiu pena dos dois. A imagem do sofrimento que foram submetidos foi formada e sua mente e, durante alguns segundos, pode idealizar o motivo de tanta raiva.

_ Eles merecem morrer. - Petrus jogou Sam no chão, mas segurou seus braços para trás. - Esther é uma traidora como todos os outros. Ela se casou com um americano e nem possui mais nosso nome. Tem uma família podre e falsa!

_ E o que você faz com os corpos?

Ele ponderou por uns segundos, pensando se respondia.

_ Nos alimentamos. - ergueu o pescoço de Sam. - O sangue estrangeiro os impede de se transformar.

Dani olhou rapidamente para Dean e, ao ver o que ele pretendia fazer, se voltou para Petrus. 

O Winchester mais velho atirou nas pernas de Judite, que se distraiu o bastante para que Dani a pegasse e a imobilizasse com o facão diante do pescoço.

_ Solte-o, ou ela morre. - a criança tentava se livrar, mas Dani sabia como prender um corpo, mesmo forte.

Dean se pôs atrás de Petrus, que se viu desesperado. Soltou Sam e partiu para cima do outro quando esse tentou ataca-lo. Eles brigaram durante um tempo, mas Dean acabou no chão.

_ Ei! - Petrus batia a cabeça do Winchester contra o solo duro, mas parou quando Dani o chamou.

Ela não sabia o que sentia ao exato, mas precisava salvar Dean. Sua consciência implorava para que fizesse, ansiando ser um monstro como aqueles que estava enfrentando. Era como se sua mente desejasse seu próprio mal e usasse a imagem de Dean sendo agredido como incentivo para o sentimento de retaliação.
          Dani segurou o corpo de Judite com mais força, passando o facão de forma rápida no pescoço da garota.

Petrus gritou, desabando no chão ao lado de Dean e ficando assim até se ver tomando pela vingança. Ele não pensou, só sentiu o sangue impuro de suas veias desejar a morte de Danielle.

_ Você pode vencer hoje, mas vai morrer mais cedo ou mais tarde. - ele se levantou pronto para partir para cima dela. - Você é tão monstro quanto eu.

Sua mandíbula se dilatou quando os caninos surgiram e em uma velocidade super rápida partiu para cima de Dani.

Ela desviou quando o corpo de Sam se pôs a sua frente e cortou o pescoço de Petrus como um golpe em uma bola de beisebol.

Seu rosto rolou por entre as folhas enquanto Sam corria para ajudar o irmão e ela se lembrava que também era uma aberração.

(...)

Esther e as filhas lamentavam a morte do pai enquanto Dean e Sam preparavam as moedas e queimavam os corpos dos irmãos.
          Lily parecia estar mais preocupada com a morte do namorado monstro do que a do pai, mas era algo que iria superar. Felicity, por sua vez, nunca esqueceria do que passou.

Danielle olhava seu facão ensanguentado e se perguntava se um dia seria ela a estar naquela situação. Ela sentia que estava mudando e que o que a rondava era forte demais para ser controlado. Era apavorante se sentir assim.

Dean olhou para trás, vendo Dani encostada em uma árvore. Ele ouvira tudo que Petrus havia dito e sabia o quanto aquilo devia ter mexido com a mente de Dani.
          Caminhou até ela, se sentando ao seu lado.
          Ela entregou a facão a ele e, pela primeira vez, sentiu vontade de chorar.

Danielle tentou se controlar, mas o quando Dean jogou o facão para o lado e a abraçou, ela desabou.
         Chorou até molhar o casaco dele e os soluços parassem de ecoar por sua garganta. Se sentia consolada mesmo sem nenhuma palavra, era bem melhor assim.

Ele a envolveu com mais força e ela desfrutou disso. Uma confiança extrema brotou de seu coração e ela vivenciou a necessidade de compartilhar seu mais corrosivo segredo com Dean.

_ Eu sinto... - falou com a voz abafada pelo casaco. - Eu sinto que sou um monstro.


Notas Finais


E ai, o que acharam? Me avisem se encontrarem qualquer erro.
Até o próximo capítulo. MIL BEIJOS


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