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História Shadow Grooves - White Dancer and Dark Slayer


Escrita por: Drankenoff

Notas do Autor


Boa noite!
Aproveitando que o prólogo já foi postado, deixo aqui também o primeiro capítulo. Como é de introdução geral, é um capítulo grande, mas a leitura não deve ser muito prejudicada por isso.

A formatação dos capítulos deve mudar de capítulo a capítulo, assim como acontecia em Death Waltz, minha outra história original, visto que eu os copio do Word. Não entendo muito bem o motivo, mas fazer o quê. Peço perdão caso interfira muito na leitura, mas acredito que não seja tão impactante.
Por sinal, os personagens falam em formatação normal, pensam em itálico, e gritam com toda a força em negrito.

Boa leitura!

Capa do capítulo: Hyoru e Hikari, de pé, um de costas ao outro. Hikari, de frente à "câmera", tinha em suas mãos suas pistolas, e seus olhos, determinados, derrubavam lágrimas. Hyoru, de costas e atrás da garota, tinha uma expressão séria em seu rosto, e segurava com sua mão esquerda sua espada, que apontava para baixo.

Capítulo 2 - White Dancer and Dark Slayer


Chamas.

Demônios, de diversas formas, tamanhos, ramificações. Eles matavam, festejavam sem destino, guiados apenas por seus instintos por destruição e sangue. O sangue de suas vítimas, indefesas e agora caídas, manchava o chão e a terra da vila completamente destruída.

E então, eles rugiam e caíam perante uma sombra negra e branca, os movimentos largos e poderosos, a enorme espada em sua mão matando seus oponentes em um único golpe. A figura dançava entre os golpes, sendo rápida demais para ser acompanhada, e forte demais para ser realmente oposta por seus inimigos.

Chamas vermelhas e negras dançavam junto de chamas laranjas e amarelas, criando um obscuro e belo inferno sangrento.

O confronto é rápido. O sangue negro demoníaco mistura-se ao vermelho humano, e os corpos se desintegram ao vento e as chamas, sinalizando o fim de suas existências. Vitoriosa, a sombra desfaz sua espada em um movimento, e observa novamente a velha memória. Aquele fora mais um ataque, mais uma vila destruída, mais uma falha.

Logo, outros homens virão, para ajudar os possíveis sobreviventes e recuperar o pouco que ainda restava. Mas sua missão ali estava cumprida, de forma falha. Sua existência ali já não era mais necessária.

E então, as chamas se esvaem ao vento, deixando apenas a escuridão...

 

Três luas minguantes acompanhavam a noite fria que caía sobre a Vila Rosário, uma vila pequena localizada perto de uma cordilheira ao sul do continente de Escuria, cuja forma de governo atual era parecida com uma monarquia, o reino sendo reconhecido como Kingdom Cross. Mesmo com o frio, isso não impedia a vila de ter um festival em comemoração à boa safra daquele ano na rua principal da vila, e a ruela principal daquela vila agora tinha várias pessoas, inclusive alguns soldados do reino, vindos de uma das bases da Cidade Santuário para vistoriar o evento. Tais soldados eram identificados por suas camisas brancas com cruzes negras estampadas em suas costas e ombros, calças brancas e botas negras, além de geralmente carregarem katanas e zweihanders. Um deles utilizava por cima do uniforme comum um sobretudo aberto branco com uma cruz negra, além de um guarda-ombro de aço marrom em seu ombro direito, significando sua posição como capitão.

Na única taverna da vila, localizada dentro de uma das montanhas da cordilheira, uma jovem moça atendia os diversos clientes daquela noite, sendo ajudada por um velho senhor. O lugar era de tamanho médio, contando com várias mesas e um enorme balcão de madeira.

"O festival desse ano está sendo ótimo, não, pai?" – Disse a moça ao senhor perto de si, assim que todos haviam sido atendidos. Hikari media 1.54 m, pesava 42 kg, e tinha longos cabelos negros que modelavam seu rosto jovial e iam até sua cintura, orelhas levemente pontudas, olhos cinzas marcados por uma espécie de delineador negro natural grosso, nariz e bocas pequenos, e pele branca como marfim. Ela usava um longo qipao branco sem mangas, e sapatos negros; em sua cintura, dois tonfas vermelhos com detalhes brancos podiam ser vistos. Em seu rosto, ela possuía duas tatuagens; uma orbe negra no meio de sua testa, e outra que começava em uma ponta curvada acima de seu olho direito em sua testa, tornando-se uma linha curvada que passava por baixo de sua outra tatuagem e seguia até acima de seu olho esquerdo, onde ela então descia em direção ao mesmo, misturando-se ao delineador e continuando sua descida até sua bochecha, terminando em outra ponta. Além das tatuagens em seu rosto, seu ombro direito possuía outra orbe negra tatuada, que então desmembrava-se para descer em diversas grossas linhas lembrando galhos e flores por seu braço inteiro, terminando nas costas de sua mão, enquanto seu braço esquerdo possuía sinistras tatuagens tribais espirais negras e vermelhas por toda sua extensão.

"Sim, filha." – O velho respondeu, sorrindo, continuando a limpar o balcão. Tazuna tinha 1.73 m e 65 quilos, cabelos curtos e brancos penteados para trás, pele enrugada e branca, e olhos castanhos. Ele vestia uma simples camisa vermelha, calças negras, e sapatos negros. - "O movimento dessa noite está muito bom… Até os soldados do reino estão comemorando em turnos. Até o capitão deles já veio aqui..." - Ele comentou, observando os soldados sentados em uma das mesas próximas dali. Sem novos pedidos, os dois passaram a escutar a conversa entre eles.

“Essa bartender é bonitinha, não? Uma sanktra...” – Comentou um dos soldados, fazendo com que Hikari corasse levemente e Tazuna sorrisse. – “Foi bom terem nos mandado pra cá hoje.”

“Não nos mandaram à toa. Os ataques de demônios estão mais frequentes estes tempos...” – Disse outro soldado, bebendo. – “O Reino está mandando soldados pra várias vilas e cidades, assim como nós...”

"Houve um ataque recente em uma vila não muito longe desta, Vila Tulipa... Aquele Darkslayer estava lá também, matou todos eles." - Comentou um dos soldados aos outros enquanto bebiam. – “Os soldados e moradores que sobreviveram tiveram sorte. Disseram serem muitos...”

"Darkslayer? Cabelos brancos, máscara e roupas negras, magia de fogo negro e vermelho, usa uma zanbatou negra, nunca foi derrotado..." - Comentou outro, tomando um gole de sua bebida. - "Me pergunto se ele é realmente tão forte assim... Matar uns demônios quaisquer não é lá tão difícil assim."

"Bom, nossos homens foram incapazes, não foram?” – Comentou o quarto e último na mesa, criando um desconfortável silêncio momentâneo. – “Mas porque estamos nos preocupando com isso aqui? Vamos nos divertir.” – Ele disse, finalizando aquela conversa.

"Vai ser uma boa noite para esta vila..." - Ela disse, sorrindo, e Tazuna sorriu de volta.

 

Alguns metros longe dali, um homem montado em um grival vermelho-escuro aproximava-se da vila.

Grivais eram uma raça comum àquelas regiões do continente, sendo uma estranha, mas bonita combinação de um falcão e um leão, contendo o bico e patas de um falcão e o corpo e juba de um leão, embora não tivessem asas. Mesmo assim, eram reconhecidos por sua velocidade, força, inteligência, e facilidade em lidar com diversos tipos de terrenos devido ao corpo robusto e peludo, sendo bastante alugados por viajantes e comerciantes afim.

Medindo 1.87 m e pesando 73 kg, Hyoru usava uma máscara negra de feições demoníacas e dracônicas que cobria seu rosto inteiro, deixando apenas os olhos heterocromáticos dele visíveis, sendo o esquerdo vermelho e o direito azul; uma enorme robe negra de capuz, mantendo-a fechada por uma enorme faixa branca ao redor de seus ombros, faixa essa que também funcionava como uma espécie de cachecol, cobrindo a parte inferior do rosto do homem, que, junto com o capuz da robe, fazia com que a máscara dele fosse escondida em sombras. Por causa do vento na estrada, era possível ver por baixo da robe esvoaçante que ele usava um colar com um pingente negro em formato de espada, um haori enorme e pesado de forro branco ligeiramente rasgado e desbotado que ia até seus joelhos, as mangas indo até um pouco abaixo de seus cotovelos, haori esse que era mantido fechado por uma faixa branca em sua cintura, um cantil estilo cabaço amarrado às faixas, uma camiseta negra de mangas largas e que chegavam até abaixo de seus cotovelos com outro capuz por baixo do haori, além de largas calças negras com desenhos brancos e simples botas negras. Em seus braços, ele usava manoplas de aço branco com garras, o interior delas similar ao de luvas, permitindo flexibilidade e proteção ao mesmo tempo, as manoplas cobrindo desde seus dedos até abaixo de seus cotovelos.

Ao adentrar a vila, ele deixou o animal no estábulo comum da vila, prometendo ao animal não demorar muito.

Faz tempo desde que eu não vou a um festival…" - Pensou o homem, observando a ruela principal, retirando então sua máscara e a guardando em seu sobretudo. - “É uma vila pequena, e muitos soldados do reino não sabem como eu sou sem a máscara, só a cor do meu cabelo...” – Ele raciocinou, embora ele se sentisse exposto sem sua máscara, mesmo com a faixa e o capuz ainda ajudando a encobrir parcialmente seu rosto. Daquela forma, era possível ver que ele tinha pele branca, um rosto de traços definidos com ralos fios brancos de barba e bigode, cabelos brancos espetados e bagunçados curtos, e grossas marcas negras ao redor de seus olhos, olhos estes que eram mantidos com os cenhos franzidos. Seu rosto possuía largas, irregulares cicatrizes: Uma diagonal começando entre sua orelha e olho direitos e terminando após seu nariz, o cruzando; uma grande começando à esquerda de sua boca e descendo diagonalmente até sua garganta; e uma vertical começando abaixo de seus lábios e terminando em seu queixo. - "Mas, de qualquer jeito, eu preciso comer um pouco, e além disso..." - Hyoru pensou, tocando o cantil amarrado à sua cintura, sentindo o vazio por sua leveza.

Embora não fosse sua intenção chamar atenção, especialmente devido à presença de soldados do reino na vila, era difícil não notar o rapaz, tanto por sua altura quanto por suas roupas. Ele andava a passos largos, porém tranquilos, caminhando entre as pessoas à procura de algum lugar onde pudesse comer. As pessoas ao seu redor o observavam com certo medo, e em grande parte tentavam afastar-se dele, e ele silenciosamente agradecia por isso, preferindo que ninguém visse seu rosto.

É uma vergonha... Este rosto, essas cicatrizes...” – Hyoru pensava, desconfortável, desacostumado a ficar sem sua máscara ao redor de outras pessoas.

Foi então que ele sentiu algo bater em sua perna esquerda, retirando-o de seus pensamentos. Olhando para baixo, ele pôde ver uma pequena garotinha de cabelos negros sentada no chão e olhando para cima com medo e lágrimas não caídas em seus olhos, e observando melhor, ele pôde ver que o sorvete dela havia caído no chão devido à batida. A mãe dela, ele deduziu pela aparência e preocupação, aproximava-se de si, e as pessoas ao seu redor observavam a cena na espera de uma possível reação do homem.

"De-desculpa..." - Ela sussurrou, quando então o homem ajoelhou-se a sua frente, colocando a mão direita dele em sua cabeça enquanto a outra procurava por outra coisa por dentro de suas robes.

"Eu que peço perdão..." - Hyoru disse, sua voz barítona em um tom relaxado, retirando então algumas moedas de bronze de seu bolso, oferecendo-as à garotinha em sua mão esquerda. - "Compre um maior para você."

"Mu-muito obrigada, moço!" - Ela disse, pegando cuidadosamente as moedas, levantando-se e correndo em direção à mãe dela. As duas agradeceram-no antes de continuarem a andar, e o rapaz levantou-se com um suspiro, notando que as pessoas ao seu redor agora pareciam um pouco mais tranquilas, e que os soldados ainda não haviam o notado, embora o capitão deles agora o observasse com mais atenção.

Hyoru então continuou a andar, quando finalmente encontrou o lugar que procurava, e como se combinado, uma fina chuva começou a cair. Mesmo assim, as pessoas continuavam a festejar, pouco se importando com a chuva.

 

Ainda mais ao longe, dois homens escondidos nas sombras observavam a vila, ajoelhados nos galhos das enormes árvores.

"Então essa é a Vila Rosário..." – Comentou um homem alto e musculoso, a falta da parte direita da pele em sua mandíbula de traços definidos o fazendo parecer sorrir de forma macabra constantemente. Ele tinha cabelos castanhos curtos espetados, pele bronzeada, olhos vermelhos, e uma tatuagem similarmente vermelha de uma caveira na parte esquerda de seu rosto. Ele usava simples calças negras e botas negras, deixando seu torso descoberto, e amarrada à uma faixa em sua cintura jazia uma bainha negra estranhamente vazia.

"Eles estão comemorando a boa safra do ano, que foi exportada recentemente à Cidade Santuário. É uma ótima chance..." - Disse um demônio, sorrindo. Vestido em roupas negras, ele tinha uma aparência reptiliana, embora levemente humanoide.

"Sim. Comecem a se preparar... Nós vamos saquear e destruir essa vila inteira..." - Ele disse, também sorrindo maliciosamente, e então outros diversos demônios fizeram-se presentes, todos sorrindo de forma similar.

 

Estranho, a temperatura abaixou...” – Pensou Hikari, agora atrás do balcão do bar, sentindo um repentino frio mesmo naquele bar tão confortável, vendo alguns dos clientes tendo reações ao repentino frio também. Logo, ela pôde ver uma figura vestida em roupas negras sentando-se no canto mais afastado do balcão, e aproximando-se, ela notou que se tratava de um homem de cabelos brancos bastante chamativos, mesmo quando ela não conseguia ver seu rosto direito pelo capuz e faixa dele, além das sombras do canto escuro do bar. Ele parecia preocupado com seus arredores, observando por baixo do capuz os homens ao seu redor, e ela esperou por alguns segundos antes de fazer-se presente à ele. – “Boa noite. O que gostaria? – Ela perguntou, e ele levantou seu rosto à moça em ligeira surpresa, ainda mais ao ver que a garota possuía orelhas pontudas, olhos cinzas e diversas tatuagens em seus braços. Com o movimento, a moça fora capaz de vê-lo mais claramente, notando em especial as cicatrizes e os olhos heterocromáticos dele, as marcas grossas e os cenhos franzidos fazendo com que o olhar dele parecesse ver através dela. – “Que olhar... e mesmo com as cicatrizes, é bonito...”

Muito bonita... as orelhas e olhos são diferentes. E as tatuagens... Ela é definitivamente mais do que parece.” – Hyoru pensava, percebendo então o ligeiro desconforto dela com o peso de seu olhar, ciente também de que ela era capaz de ver seu rosto e suas cicatrizes. - “Boa noite...” – Ele respondeu enquanto abaixava seu olhar, retirando cinco moedas de prata de seu bolso e oferecendo-as à moça, notando ela relaxar um pouco com o tom calmo de sua voz barítona. – “Dois sanduíches de carne, um copo de água, e o resto em vodca, por favor." – Ele pediu, levantando também ao balcão sua cabaça, e a garota simplesmente assentiu com a cabeça enquanto sorria, entregando o copo de água e enchendo o cantil do rapaz com vodca enquanto Tazuna, que havia ouvido o pedido, pusera-se a preparar os sanduíches, aproveitando que o movimento havia baixado um pouco. – “Obrigado.”

"Você parece cansado." - Ela comentou ao vê-lo tomar a água em seu copo com certa necessidade, mas ele não a respondeu de primeira, fazendo-a sentir-se desconfortável. - "Eu disse algo errado?" - Ela pensou, relaxando quando ele assentiu com a cabeça em um movimento relativamente lento, e Tazuna logo se aproximou dos dois com os sanduíches do rapaz.

"Você não é desta vila, não é?" - O velho questionou com um sorriso, e o rapaz apenas concordou com a cabeça novamente. - "Também não é de muitas palavras..." - Ele comentou em um tom leve, fazendo com que o rapaz observasse os dois por breves segundos debaixo de seu capuz antes de responder. - “Talvez seja a conversa que os soldados tiveram antes, mas... cabelos brancos, roupas negras, está escondido...”

"Vim só para ver o festival antes de ir à Cidade Santuário..." - Ele disse, devorando um dos sanduíches enquanto isso. – “A estação de vocês não é civil. Os trens não param aqui normalmente.” – Hyoru comentou, e Tazuna decidiu jogar um verde em cima do rapaz.

“Realmente, é voltada mais para exportação. Vila Rosário é uma vila pequena e voltada a agricultura, não possui muitos atrativos para turismo e visitas... São raros trens com passageiros que ficam... especialmente com os ataques de demônios recentes.” – O dono do bar disse, e como ele esperava, o rapaz não ofereceu reação expressiva, simplesmente assentindo com a cabeça ao que ele finalizou seu primeiro sanduíche e começou seu segundo.

"E é uma viagem longa... a estação civil mais próxima é em Camélia, e só então os trens vão pra Santuário...” - Hikari o informou, e o homem simplesmente assentiu com a cabeça novamente, dando mais algumas mordidas em seu sanduíche.

"Entendo... e quem é você?" - Tazuna o questionou ao que ele terminou seu segundo sanduíche, e o rapaz levantou seu rosto ao homem, os olhos heterocromáticos do rapaz encontrando os olhos castanhos do velho, que, como ele esperava, não demonstrou qualquer desconforto. – “É um olhar pesado... Como esperado.” – Tazuna pensava, notando de canto de olho o desconforto de Hikari. O rapaz pareceu notar também, quebrando o contato de olhos ao abrir seu cantil e tomar um grande gole, suspirando então ao amarrá-lo novamente em sua cintura.

"Apenas um vagabundo qualquer." - Hyoru respondeu enquanto levantava-se, despedindo-se e agradecendo aos dois pela hospitalidade com um movimento de mão. Ao que ele deixou o bar, Hikari pôde sentir a temperatura voltar ao normal, e ela questionou-se se aquele frio tinha algo a ver com ele.

“Ele era diferente... as cicatrizes, os olhos...” – Hikari comentou, recolhendo o prato e copo dele.

"Sim... Ele não era um vagabundo qualquer." - Ele comentou, um pequeno sorriso em seu rosto, e Hikari sabia que aquilo significava que ele tinha certeza do que falava. – “Há uma diferença no olhar de um vagabundo qualquer, e o de um homem determinado. Embora eu não faça ideia do real objetivo dele...”

"O olhar dele me deixava desconfortável... Muito pesado e sério. Não sei como você conseguiu encarar ele tão fácil... quando ele chegou e eu fui atender ele, eu fiquei até com medo... Até o ar pareceu mais frio com ele. Você não notou?” – Hikari questionou.

"Notei... e eles também." - Ele disse, apontando aos soldados do reino que estavam no bar, e Hikari notou que um deles havia saído. – “Mas quem diria... Você por aqui.” – Ele adicionou de forma misteriosa, sorrindo, mas Hikari decidiu não pressioná-lo, finalizando a conversa.

E pensar que um dos ex-capitães agora mora aqui... Bem, hora de seguir viagem, visto que me notaram...” – O homem pensava enquanto colocava sua máscara e montava novamente em seu grival, indo embora logo em seguida.

 

"Todos prontos? Chegou a hora de agirmos. Vamos nessa!" – Disse o homem de rosto deformado alguns minutos após a saída do homem de cabelos brancos, pulando em direção à vila junto dos outros demônios.

 

"Finalmente um sossego..." - Ela comentou, vendo alguns dos clientes indo embora após pagarem pelas bebidas. De dentro do bar, eles não ouviram os demônios começarem os saques na vila, matando os habitantes enquanto roubavam pertences.

"Aproveite para descansar um pouco. Daqui a pouco voltam..." - Ele comentou, poucos segundos antes de diversas explosões atingirem a vila, incluindo a estação de trem e o próprio bar.

Fora rápido e brutal demais. Minutos atrás, um comum festival ocorria, as pessoas dançavam e festejavam, e não havia muitas preocupações. Em breves segundos, porém, a vila havia sido reduzida, em grande parte, a escombros e fogo, e gritos de desespero e surpresa eram ouvidos pela vila inteira, assim como risadas dos demônios que saqueavam e destruíam a vila.

"Você está bem, Hikari?" - Tazuna gritou ao ar com certa dificuldade, um pilar de madeira impedindo que ele levantasse-se. Tazuna agora não tinha mais sua camisa, seu corpo possuindo agora alguns cortes e queimaduras, mas nada grave.

"Pai!" - Ela exclamou ao recuperar-se, correndo em direção ao velho, retirando o pilar de cima do mesmo com pouca dificuldade.

“Sua força é uma benção...” – Ele disse, agradecendo-a, notando então melhor o estado dela. Hikari tinha parte de seu qipao rasgado e queimado, revelando tatuagens similares às maoris de seu braço direito, e assim como Tazuna, possuía alguns pequenos cortes, mas nenhum grave, e ele sabia que os ferimentos dela curariam sozinhos logo. Enquanto recuperavam-se, eles viram os soldados do reino correrem em direção a vila, logo entrando em combate com os demônios, e olhando ao seu redor, eles conseguiam ver os corpos inertes e queimados dos clientes do bar.

"Vamos sair daqui..." - Ela disse, ajudando-o a levantar-se. Concordando, os dois então se puseram a correr pelas ruas, desviando das eventuais batalhas entre os saqueadores e os soldados do reino, notando no caminho a quantidade de pessoas mortas e de escombros, e que a chuva também havia ficado um pouco mais forte. – “Nossa vila...”

"Tudo foi dominado pelo fogo da destruição..." - Tazuna sussurrou, desolado, vendo ao longe a estação pegando fogo também.

"De fato." - Disse um dos demônios saqueadores após aparecer bem a frente dos dois. Hikari e Tazuna pararam instantaneamente, vendo então o demônio reptiliano retirar uma katana de sua bainha. - "E vocês vão me passar tudo o que vocês têm, ou vão morrer."

"Como se isso fosse mudar o fato de que você vai nos matar depois..." – Tazuna disse, Hikari tomando uma posição de luta com seus tonfas também.

"É, de fato." - Ele comentou, partindo em direção aos dois já com um golpe de sua katana preparado. Hikari lançou-se contra o saqueador, desviando do golpe de espada dele em um movimento fluído de dança, ficando em uma posição perfeita para desferir um golpe com seu tonfa na parte de trás da cabeça do demônio, e assim que o fez, o mesmo caiu nocauteado no chão.

"Não me subestime!" - Ela exclamou, tremendo por conta do medo.

"Ótimo, Hikari, mas precisamos continuar a correr!" – Tazuna disse, pegando-a pela mão e continuando a correr. – “Embora você seja uma ótima combatente, isso é diferente dos nossos treinos...”

"Correr pra onde?!" - Ela perguntou, com lágrimas em seus olhos. – “Para onde correr, se a vila inteira agora é tomada pelo fogo?”

"Pra qualquer lugar seguro!" - Ele respondeu, mas sem firmeza em suas palavras.

"Não há lugar seguro, velho!" – Exclamou outro saqueador, pulando junto de outro em cima das casas em lados opostos da rua. Eles pularam em direção aos dois com golpes já preparados, mas não acertaram seus alvos, já que Hikari lançara um de seus tonfas em direção a Tazuna, permitindo que ambos bloqueassem os golpes de katana. Hikari, com sua maior força, recuperou-se mais rápido, desferindo rapidamente um golpe na barriga do demônio felino, atordoando-o, para logo em seguida atingi-lo com um uppercut, nocauteando-o instantaneamente.

Tazuna, embora tivesse bloqueado o golpe, não conseguiu acompanhar a velocidade de seu atacante, que logo após o primeiro ataque girou em seus calcanhares para desferir-lhe um segundo, tentando acertá-lo enquanto ele se recuperava. Antes que ele pudesse atingir o golpe, porém, ele foi acertado na cabeça com força por um golpe de Hikari, para o alívio de Tazuna.

“Você realmente é muito forte, Hikari...” – Ele a elogiou, devolvendo-lhe o tonfa.

“Graças aos seus ensinamentos.” – Hikari respondeu.

“Realmente. Três demônios? Você é mais forte que aqueles soldados...” - Comentou outro saqueador, dessa vez aparecendo bem atrás dos dois.

Hikari, em um rápido movimento, girou em seus calcanhares para desferir um golpe com seu tonfa, mas o homem não foi atingido, agarrando o soco da garota antes que o acertasse, rapidamente então girando a garota no ar e atingindo Tazuna com o movimento, logo então jogando ambos contra uma casa com grande força.

"Ele é diferente... ele é mais forte do que os outros!" - Ela pensou, levantando-se junta de Tazuna, que ainda estava meio tonto devido a força do arremesso. - "Você está bem, pai?"

"Sim, de alguma forma..." - Comentou ele, ainda atordoado. – “E você?”

"Consegue correr ainda?" - Perguntou ela, pondo-se mais a frente de Tazuna, observando melhor seu atacante, surpreendendo-se ao ver que ele possuía uma aparência humana, embora sua mandíbula direita não possuísse pele, dando-lhe uma aparência macabra. – “Ele é... um humano liderando demônios?!

"O que você está pensando em fazer, Hikari?" – Tazuna perguntou, temendo a resposta.

"Se nós dois corrermos, ele vai continuar a nos seguir. Eu vou enfrentá-lo." - Ela respondeu, determinada.

"Hikari, isso é...!" – O velho tentou contestar, sendo interrompido pela garota.

"Nossa melhor chance de sobrevivência, já que os soldados do reino ainda enfrentam os outros saqueadores. E não se preocupe, eu sou mais do que capaz, como você mesmo sabe..." - Ela disse, fazendo Tazuna suspirar em derrota.

"Vou procurar nos estábulos por um cavalo. Tentarei te encontrar assim que puder, e iremos para nosso outro destino. Tome cuidado, Hikari." – Ele pediu. – “Eu sei que você não gosta de lutar...”

"Eu tomarei." - Ela respondeu, e o velho continuou a correr. – “Nosso outro destino...”

"Então você realmente quer enfrentar Shuura, o Katsu Demon? Devo admitir, eu gosto de garotas fortes..." - Disse o assassino, sorrindo. – “Especialmente quando elas gritam depois do primeiro soco... mas não é o seu caso, é?”

"Oh, você acertou em cheio..." - Ela o respondeu, assumindo uma posição de luta, vendo o sorriso dele aumentar. – “A bainha da katana dele está vazia... ele está sem arma, aparentemente. Talvez ele não seja tão bom desarmado...”

A garota partiu em direção ao homem em grande velocidade, desferindo um golpe com seu tonfa direito na direção do homem, que bloqueou com apenas um braço. Porém, para a surpresa do mesmo, ele viu um novo golpe surgir na direção de seu rosto, atingindo-o antes que ele pudesse reagir. Continuando, ela aproveitou para desferir mais golpes no rosto do homem, desferindo então um chute que o mandou deslizando alguns metros para trás.

"Rápida... e também não é tão fraca..." - Ele pensou, cuspindo um pouco de sangue, vendo a garota lançar-se contra si novamente.

O homem desferiu um soco em direção a garota quando ela aproximou-se, mas ela desviou girando em seus calcanhares, desferindo então um novo chute no queixo dele, erguendo-se ao ar ao mesmo tempo. Ela aproveitou enquanto estava no ar para tentar atingí-lo novamente no rosto com um chute, mas ele foi mais rápido, bloqueando o chute com seu braço direito, e antes que ela pudesse pular para trás apoiando-se em seu braço, ele desferiu um soco na barriga da garota, atingindo-a em cheio e a mandando voando vários metros para trás.

"Ele é realmente forte..." - Ela pensou enquanto recuperava-se do soco, vendo o homem então pousar sua mão direita fechada sobre a bainha em sua cintura, como se ele fosse sacar uma katana.

“Você é habilidosa com esses tonfas, garota. Vou ter de usar minha Kotetsu...” – Ele disse, fazendo o movimento de saque, e para a surpresa de Hikari, uma katana negra e vermelha materializou-se durante o movimento.

Antes que ela pudesse entender o que havia acontecido, Shuura partiu em grande velocidade em direção a si, surpreendendo-a com sua velocidade, desferindo então vários golpes com sua katana na tentativa de atingí-la, não tendo sucesso, já que ela desviava rapidamente dos golpes que ela podia e bloqueava aqueles que não conseguia.

Ele pode ser forte... mas não é habilidoso. Ataca muito cegamente... se eu achar uma brecha, eu posso...!” – Ela pensava, quando uma oportunidade de um contra-ataque surgiu entre os ataques dele.

Para a surpresa dele, ela desviou seu downcut para o lado com o tonfa dela ao deixar que o tonfa guiasse a lâmina para baixo. Perdendo o equilíbrio devido à força anteriormente colocada no golpe agora sendo desviada e caindo para frente, Shuura não pôde desviar de um poderoso uppercut de Hikari, atingindo-o em cheio em seu queixo e fazendo com que ele pendesse um pouco para trás, e sem perder tempo ela começou uma rápida sequência de golpes com seus tonfas, tentando nocauteá-lo o mais rápido possível, e ela só parou ao que Shuura recuperou-se o suficiente para desferir-lhe um poderoso soco no rosto do qual ela não conseguiu desviar, sendo lançada deslizando alguns metros para trás com a força.

Mais um pouco...” – Ela pensou, cuspindo o sangue que lhe subia à boca, vendo que o assassino se encontrava desnorteado e com sua própria boca e nariz sangrando. – “Mesmo sem habilidade, ele é resistente e forte. Eu não tenho a força física para competir com ele...”

“Sua... sua desgraçada!!” – Ele exclamou, concentrando-se por um segundo e estendendo sua mão esquerda em direção a Hikari, que por instinto desviou para o lado com um impulso, escapando de uma explosão escarlate que ocorrera aonde ela estava antes de pular.

Uma explosão?!” – Ela pensou, surpresa e aterrorizada.

“Essa é a minha magia, a capacidade de criar explosões em uma área ao meu alcance... É um poder muito acima do que você pode imaginar!” – Ele exclamou, criando uma nova explosão, da qual Hikari escapou com dificuldades, fugindo para longe do assassino, e Shuura passou a perseguí-la maniacamente. – “Você pode até ser mais forte do que o capitão que eu enfrentei... mas vai morrer do mesmo jeito!”

Eu preciso achar um esconderijo e ataca-lo quando ele não puder me ver... ataca-lo de frente é muito arriscado agora!...” – Ela pensava enquanto fugia, mas sem conseguir despistar o assassino.

O que eu estou fazendo?” – Pensava Tazuna enquanto corria pelas ruas, atordoado e distraído demais para ouvir as explosões ao longe. – “Devia ser eu a proteger ela... fui eu quem a encontrou quando pequena naquele templo, quem a criou como uma filha... sou eu quem deveria ser o protetor nessa situação!” – Logo então, para a sua surpresa, ele viu Hikari correndo em sua direção. – “Hikari! Você –“ – Ele foi interrompido quando Shuura surgiu em um dos telhados perto de lá, com a mão estendida em direção a si ao que a garota aproximou-se de si.

“Tazuna!!” – Ela gritou em desespero, pulando com toda a força que tinha para empurrar o homem da explosão que ocorrera onde ele estivera. Mesmo rápida, ela ainda fora parcialmente atingida em seu braço direito, a garota gritando de dor ao cair no chão junto de Tazuna.

“Hikari!” – Ele gritou ao que se pôs sobre a menina, tentando estancar os enormes sangramentos e as queimaduras no braço dela, que por pouco não havia sido explodido também, notando que suas tatuagens em seu braço não haviam sido afetadas pelas queimaduras.

“Fim da linha...!” – Shuura exclamou, sorrindo maniacamente enquanto descia do telhado, andando lentamente em direção aos dois. Sem que Tazuna ou Hikari percebessem, a katana dele se desfez em partículas escarlates.

“Tazuna, corre daqui!” – Ela exclamou de forma desesperada, tentando de alguma forma estancar seus sangramentos e queimaduras. A dor era massiva, e ela mal conseguia pensar e concentrar-se direito, vendo o assassino aproximando-se cada vez mais.

“Não adianta correr. Vocês dois vão morrer aqui.” – O assassino dizia, andando lentamente em direção aos dois, procurando estender o pavor dos dois ao máximo.

“Não... eu não seria homem de deixá-la sozinha numa situação dessas!” - Ele disse, deixando junto dela um pequeno e pesado saco preto. – “Você já me protegeu tanto... Por uma última vez, eu a protegerei, minha filha.” – Ele disse determinadamente, pondo-se a frente. – “Lembra-se do nosso outro destino? Vá para lá quando tudo acabar. Varkis me deve um favor até hoje...” – Ele disse. – “Eu não sairei desta luta vivo... mas pelo menos tentarei levá-lo comigo. Agora que eu sei a magia dele, eu posso voltá-la contra ele... E você herdou os meus tonfas. Quando eu morrer, eles se tornarão comuns...”

“Tazuna, não!!” – Ela exclamou, tentando impedir o homem, mas sem resultados, ciente de que ele pensava em usar sua magia. – “Sua magia é suicida!”

“Não se esqueça que eu já fui um capitão do reino... Eu posso não ser mais tão jovem, mas ainda posso lutar!” - Ele disse, correndo em direção ao assassino. – “E Hikari... Me desculpe. Por todos esses anos, eu menti sobre quem você realmente é, sobre a sua verdadeira descendência, mas saiba que eu fiz isso pelo seu bem, pra poder te dar uma vida tranquila... e obrigado. Obrigado por todos esses anos maravilhosos. Obrigado por me fazer tão feliz. Por me fazer sentir como o pai que nunca pude ser. Por ser minha filha, mesmo que não de sangue. Obrigado... por tudo.”

Deve estar de brincadeira...” – Shuura pensou, criando uma explosão aonde Tazuna estava. O velho foi engolido completamente pela explosão, criando uma camada de chamas e fumaça, fazendo com que Hikari gritasse pelo velho, mas antes que Shuura pudesse contar vitória, Tazuna surgiu das chamas em um pulo, para a surpresa do assassino, desferindo um soco no desprevenido homem e causando uma similar explosão com o soco, atingindo o assassino a queima-roupa.

“Eu... consegui...” – Tazuna arfou, tendo imensa dificuldade apenas para manter-se de pé, seu corpo inteiro queimado e ferido pela explosão que ele havia sofrido. – “Minha magia permite que eu absorva dentro de meu corpo o golpe ou magia do adversário e devolva a ele com o meu próprio poder... isso não era problema quando era jovem, mas agora...” – Ele pensava, quando então, para a sua surpresa e a de Hikari, uma mão surgiu das chamas, agarrando a cabeça de Tazuna, e logo em seguida as chamas pareceram abrir-se para revelar Shuura, que não havia mais do que ligeiras queimaduras e sangramentos em seu corpo. – “Não teve efeito?!”

NÃO!!” – A garota exclamou, incapaz de mover seu corpo.

“Boom.” – O assassino disse enquanto sorria maleficamente, causando uma enorme explosão a queima-roupa, criando uma massiva camada de chamas e fumaça, da qual o corpo de Tazuna logo surgiu, sem cabeça e queimado a ponto de ser irreconhecível.

TAZUNA!!” - Ela gritou com todas as suas forças, chorando lágrimas negras enquanto o corpo queimado do velho caia no chão, fazendo com que o assassino risse ainda mais alto do que antes.

 

Flashback

“Pai... o que acontece comigo? – Uma pequena Hikari perguntou ao senhor sentado à sua frente. – “Porque eu tenho essas coisas no meu corpo, e as outras crianças não?” – Ela disse, apontando às tatuagens em seus braços, logo então às suas orelhas. – “E minhas orelhas, porquê são pontudas? E porque meus machucados saram muito mais rápido do que os dos outros? Porque meus olhos são tão escuros em volta, e meu choro é preto? Eu sou uma maldição?”

Ele já esperava por aquelas perguntas, sabendo que, naturalmente, ela as faria algum dia. Ela era diferente, as tatuagens em seu corpo e suas orelhas deixando isso claro, e mesmo que ela não usasse maquiagem e seus olhos fossem naturalmente delineados, as lágrimas dela eram negras como se borrassem uma maquiagem.

“Minha filha... A razão de você ter suas marcas, suas orelhas serem pontudas, de você sarar tão rápido, de suas lágrimas serem negras e seus olhos tão marcados, eu não sei.” – Tazuna respondeu, pegando a pequena em seu colo e a colocando de frente a si, mesmo que, no fundo de sua mente, ele soubesse estar mentindo. – “O que eu sei, porém, é que eu te amo, independente de tudo. E nunca deixe suas diferenças te impedirem de conversar, de brincar, de crescer, de ser quem você é. Suas diferenças não te fazem uma maldição. Te fazem uma benção.”

“Tazuna... você sabe quem foram os meus pais?” – Ela perguntou, e o velho suspirou, ciente de que ela o perguntaria aquilo também, embora não tão cedo.

Eu dei a brecha... mas ainda sim, ela não pareceu surpresa... É uma garota inteligente, deve ter percebido isso antes... mas ela não merece o sofrimento de saber.” – Ele pensou solenemente, dando um melancólico sorriso. – “Não sei. Quando te encontrei, você era bebê e estava sozinha. Mas você não parece surpresa, Hikari.”

“Nós não somos parecidos.” – Ela disse em uma voz tranquila, fazendo com que Tazuna desse uma pequena risada. – “Mas você continua sendo o meu pai, não é?” – Ela o questionou, e ele a abraçou contra seu peito antes de respondê-la.

“Sempre, minha filha." - O velho respondeu. - "Família não é só de sangue.”

”Mas... porque você não tem filhos também?” – Ela perguntou, e o velho deu uma breve e triste risada antes de respondê-la.

“Grande parte da minha vida eu vivi como um capitão do reino. Eu batalhei, venci, protegi... Servi ao reino com as melhores das intenções e sempre lutei pelo bem maior, e nunca me envergonhei em dizer isso. Mas ainda sim, minha vida foi toda voltada à batalha, nunca tive uma mulher... então, quando eu me aposentei por estar velho demais para continuar, de repente, o mundo perdeu o sentido para mim, e eu percebi que, mesmo lutando tanto, no final, eu não havia deixado nada para mim mesmo...” – Ele fez uma pausa, separando-se um pouco da menina para observá-la fundo nos olhos, sorrindo então. – “Até o dia em que você apareceu para mim. Desde então, minha vida voltou a ter sentido, a ter propósito. Você não é uma maldição, Hikari... Você é uma benção. Nunca se esqueça disso.”

Fim do flashback

 

A morte de Tazuna passava diante de seus olhos em câmera lenta, repetindo-se inúmeras vezes, cada vez mais devagar. A raiva, a culpa e a tristeza invadiram sua mente, e de repente, o corpo de Hikari foi envolto em uma aura branca poderosa, suas tatuagens e lágrimas negras contrastando com sua aura em meio às queimaduras.

O que é isso?! Que aura e que luz são essas?! Ela não tinha aura segundos atrás!” – Shuura pensava, sentindo a aura da garota aumentando a cada segundo. – “Que porra...?”

Hikari também não sabia o que acontecia, mas ela não se importava, a tristeza e a raiva em sua mente a impedindo de raciocinar completamente. Ela sentia seus ferimentos curando-se ainda mais rápido do que o normal e uma força incrível dentro de si, e ela aproveitaria dessa força para fazer aquele homem pagar. – “Seu... SEU FILHO DE UMA PUTA!” – Ela exclamou, partindo em direção ao assassino em completa fúria, ignorando completamente os tonfas que jaziam no chão.

Shuura riu, estendendo novamente sua mão em direção à garota, criando uma explosão a queima roupa e, consequentemente, uma camada de fumaça. Dela, porém, Hikari surgiu sem danos, a aura ao seu redor a protegendo da explosão, atingindo então Shuura em seu rosto com um soco mais forte do que o normal, fazendo com que o demônio fosse lançado deslizando vários metros para trás com uma marca do soco em seu rosto parecida com a queimadura que ele havia infligido na garota, o demônio sentindo um ardor diferente das quais ele já havia sentido.

Que força é essa? Não, não é a força em si...” – Ele pensava, vendo então Hikari vindo em direção a si novamente, a garota desferindo uma enxurrada de socos ao que ela se aproximou dele, as lágrimas dela caindo em seus punhos fechados. Shuura bloqueava aqueles que conseguia, sendo atingido pelos socos que ele não conseguia bloquear ou ver direito, a dor e o subsequente ardor causados por eles sendo diferente da dor causada pelos socos normais dela. – “Essa aura branca... É alguma magia, mas é diferente... embora ela em si seja forte, ela não é tão forte assim pra me machucar tanto com socos... Os golpes dela não doíam dessa forma antes, mesmo com os tonfas. Que magia é essa?” – Ele pensava, quando então Hikari desferiu-lhe um soco particularmente forte de direita, o mandando deslizando vários metros para trás antes de finalmente parar, seu corpo agora possuindo diversas marcas e em uma dor que ele nunca havia sentido, e Shuura tomou uma expressão mais séria, percebendo que estava perdendo. – “Você me surpreendeu, garota. Mesmo minha Kotetsu não vai adiantar aqui... Por isso, eu vou te mostrar o meu verdadeiro poder!”

“Seu desgraçado!” – Hikari gritou, pulando em direção a ele, quando então ele exalou uma poderosíssima aura, o envolvendo completamente e a lançando vários metros para trás com a pura força da mesma. Ao que a garota voltou ao chão, a aura que envolvia Shuura se desfez, revelando que ele agora tomava uma forma mais demoníaca, seu corpo agora maior e ainda mais musculoso, coberto pelo que pareciam escamas e placas queimadas, com largos espinhos brotando de suas costas, seus olhos agora parecendo brilhar um vermelho sangue igual à tatuagem ainda presente em seu rosto ainda defeituoso. – “Então ele também é um demônio... mas ainda com traços humanos!”

“Sinta-se honrada, garota... forçou-me a usar minha verdadeira forma. Poucos a viram... apenas um sobreviveu.” – Shuura disse, sua voz saindo mais ressoante, estendendo então sua palma esquerda aberta em direção à Hikari. Quase instantaneamente uma poderosa explosão a atingiu, mais forte do que as anteriores, sua aura a protegendo, mesmo quando a aura em si diminuiu consideravelmente de tamanho, a garota curvando-se um pouco pelo cansaço que começava a subir por seu corpo.

Ele está mais forte... E esse poder me cansa demais... Eu não vou poder levar outra dessas, e tenho que acabar com isso logo!” – Ela pensou, sentindo então objetos metálicos surgirem em suas mãos, e abaixando seu olhar, ela pôde ver que se tratavam de duas pistolas, uma branca como marfim em sua mão direita, e outra negra como ébano em sua esquerda. – “Pistolas? Mas o que...”

Então aquelas são as reais armas dela...” – Shuura deduziu, notando também as pistolas. – “Isso é ruim... Se ela atirar com esse mesmo poder, talvez...”

Antes que ela pudesse entender o que acontecia, porém, ela o viu estender sua mão esquerda à si, obrigando-a a desviar com um pulo da nova explosão gerada pelo assassino. Ao que ela recuperou seu chão, ela atirou com sua pistola direita, surpreendendo-se ao que um grande tiro de mana branca foi disparado em grande velocidade, atingindo Shuura e o envolvendo em uma pequena explosão de luz.

MAS QUE PORRA... É ESSA?!” – Ele gritava em pura dor, balançando seus braços na tentativa de dispersar a luz ao seu redor. Vendo uma chance, Hikari passou a atirar com ambas as pistolas, sentindo sua mana diminuir com cada tiro, mas impedindo também que Shuura contra-atacasse, o demônio gritando em puro ardor com cada tiro seu. Ao que ela sentiu sua mana chegar quase ao seu fim, ela reuniu todo o resto em suas pistolas.

ISSO É PELO TAZUNA!” – Ela exclamou, disparando ambas ao mesmo tempo e criando um enorme tiro de luz, que atingiu Shuura com força o suficiente para empurrá-lo até o outro lado da rua onde lutavam, fazendo-o colidir contra uma casa e desabá-la em cima de si com a força, os gritos do demônio cessando por fim. - “Eu... consegui...” – A garota pensou, extremamente cansada, sentindo então as armas se desfazerem junto com sua aura, sua pistola branca desfazendo-se em partículas de luz enquanto sua negra desfazia-se em escuridão.

A sensação de vitória não durou mais do que breves segundos, porém, já que ela foi atingida por uma nova explosão, que a mandou também voando vários metros para trás com sua pura força, a aura branca que ainda a envolvia protegendo-a de grande parte do impacto antes de desfazer-se por sua falta de mana, mas não prevenindo as queimaduras e machucados ainda mais profundos do que os anteriores que agora cobriam a parte direita de seu corpo, começando em seu ombro e terminando em seu pé, também cobrindo seu braço direito, e suas roupas haviam sido desintegradas quase inteiramente, salvo uma microssaia com bolsos restando de suas calças, a falta de roupas revelando que suas tatuagens maoris estendiam-se de seu ombro por todo seu torso, seios, costas, quadris, cintura e pernas, terminando ao que chegavam em seus pés, formando diversas galhos, rosas e flores diversas negras grossas pelo corpo da garota, revelando também uma enorme e complicada tatuagem em suas costas similar à uma mandala negra com bordas vermelhas e azuis, e novamente, suas tatuagens pareciam não ser afetadas pelas queimaduras.

No chão, sangrando e lutando contra sua dor, Hikari pôde ver uma explosão ocorrer aonde Shuura havia sido soterrado pelos escombros, e da fumaça ele surgiu rindo maniacamente, seu peito possuindo uma marca enorme onde ela o havia atingido, assim como o resto do corpo dele possuía marcas menores, mas similares, a aura dele sendo exercida agora com ainda mais força. Porém, mesmo que ela tentasse, ela já não conseguia mais mover seu corpo, paralisada pela aura assassina daquele homem e também tomada completamente pelo medo e pela dor, sendo capaz apenas de observar a destruição, o corpo de Tazuna, e de ouvir os gritos e o fogo estalar alto na vila junto das risadas. Logo, seis outros demônios aproximaram-se do assassino de Tazuna, todos vestidos de forma similar e carregando sacos cheios em suas costas.

“Shuura!” – Exclamou um dos demônios de seu bando, aproximando-se de si junto com outros homens, notando então que Shuura estava atualmente em sua forma demoníaca. – “Teve algum problema com o capitão do reino, chefe?” – Ele questionou, recebendo como resposta um soco de lado de Shuura, com força o suficiente para lançar o homem voando violentamente contra uma casa, quebrando-a no contato. Ao que a poeira baixou, o corpo do homem, ensanguentado e perfurado por toras de madeira, fez-se visível a todos ali, para a surpresa e ligeiro temor dos demônios ali presentes.

“Nunca duvide de minha força. E sou eu quem faz as perguntas aqui.” – Ele disse, virando-se aos outros homens, seu olhar demoníaco passando pelos sacos que eles carregavam. – “Vejo que conseguiram alguma coisa.”

“Ahh, sim!” – Exclamou outro demônio, um tanto nervoso após a cena. – “Conseguimos uma boa quantidade nesta vila!”

“Entendo...” - Disse o líder do bando. – “E os soldados do reino?”

“Resistiram, mas no final, morreram por suas próprias espadas!” – Exclamou outro deles, rindo junto dos outros homens.

Hikari estava paralisada. O medo, o fogo, a morte de Tazuna, sua própria fraqueza, o demônio, e a própria aura assassina de todos aqueles demônios a preenchendo completamente, seu corpo já não mais respondendo a seus comandos. Agora, ela podia apenas observar, em meio à dor e ao medo, aqueles homens rindo em meio a toda a destruição e morte.

“Mas alguém sobreviveu...” – Disse outro homem, notando Hikari. – “E ela é gostosa, mesmo com as cicatrizes... Vamos nos divertir com ela.”

Foi então que, para a surpresa deles, um soldado do reino pulou alguns metros a frente de Hikari. Ele tinha sua postura curvada e suava bastante, sua dor proveniente de um enorme corte diagonal por seu torso, mas ele parecia disposto a lutar sozinho contra o bando de demônios inferiores liderados por um demônio superior.

“Seus... demônios malditos...” – O soldado disse, empunhando sua katana com suas duas mãos. – “Shuura, um dos quatro líderes da Redskull, e seu bando... Vocês não vão... tocar um dedo nesta garota!”

“Oh, então você sobreviveu...” – Disse um dos subordinados de Shuura, rindo. Para a sua surpresa, porém, ele sentiu algo violentamente empalar suas costas e peito, e olhando para baixo enquanto cuspia uma enorme quantidade de sangue, ele pôde ver uma mão demoníaca encoberta com seu sangue saindo de seu peito esquerdo, a mão segurando seu coração ainda pulsante. Virando seu rosto ao seu assassino, ele descobriu ser o próprio Shuura, fazendo com que o homem arregalasse os olhos. – “O... quê?”

“Eu não tolero fracasso.” – Shuura respondeu, fechando com força sua mão esquerda, explodindo o coração do demônio e o matando por fim, o corpo do demônio curvando-se em seu braço ao perder as forças, como se em reverência. - “Mas vejo que nosso grupo é reconhecido... é uma honra.”

“Você é mesmo um demônio como todos de sua raça...” – Disse o soldado do reino, que assistia a tudo também com uma expressão de surpresa. Em resposta, Shuura riu enquanto retirava a katana de seu subordinado de sua bainha com sua mão direita, e então, em um movimento de grande força, ele jogou o corpo de seu antes subordinado contra o soldado do reino antes que o corpo do demônio desintegrasse.

“Não um mero demônio, garoto. O Katsu Demon!” – O soldado ouviu o demônio dizer enquanto desferia um preciso golpe com sua katana, cortando o corpo do demônio que havia sido jogado em direção a si ao meio. Ao que as metades passaram por seus lados, ele pôde ver que Shuura tinha sua mão esquerda estendida a si, e então uma explosão ocorreu aonde o soldado estava, o mesmo não tendo tempo de reagir ou escapar, sendo engolido pela explosão. O corpo queimado e irreconhecível do soldado logo caiu no chão após a fumaça baixar, e Hikari só podia observar atônita sua morte cada vez mais se aproximando, incapaz de fazer qualquer coisa. Shuura retornou a sua forma humana pouco após criar a explosão, curvando-se e respirando pesadamente por alguns segundos antes de retomar sua postura. – “Eu me deixei levar demais por hoje... Vamos acabar logo com isso. Você, mate a garota, antes que mais alguém apareça para protegê-la.” – Shuura disse a um de seus homens, virando-se de costas então.

“Como quiser.” – Respondeu o demônio, partindo em direção a Hikari. A garota, imóvel contra sua própria vontade, pôde apenas fechar os olhos enquanto esperava por seu fim, culpando-se por não ter nem ao menos conseguido vingar Tazuna antes de morrer.

Foi então que, para a surpresa de todos ali, o homem que partira em direção à Hikari teve um enorme corte alastrado por seu corpo pela zanbatou de uma figura que aparecera em uma velocidade incrível a frente da garota, sem que qualquer um dos homens pudesse acompanhar sua velocidade. Abrindo os olhos após alguns segundos, Hikari pôde ver a enorme espada negra de lâmina branca com desenhos espirais vermelhos no começo de sua extensão que a figura empunhava com sua manopla esquerda branca, e então a robe negra ligeiramente rasgada dela a sua frente com uma cabaça amarrada às faixas brancas, e levantando os olhos, ela pôde ver uma faixa branca e um capuz negro, reconhecendo a figura como o homem de cabelos brancos que havia visitado o bar minutos atrás. A pressão da aura da figura podia ser facilmente sentida por todos ali presentes, e Hikari questionou-se o motivo de não tê-la sentido antes, notando também que sua capacidade de respirar havia voltado e que a temperatura novamente havia baixado.

“Vo-você...” - Ela disse, finalmente conseguindo ao menos falar. O homem em questão virou seu olhar à si rapidamente, seu olhar por trás da máscara tornando-se baixo e culpado ao ver as queimaduras pelo corpo quase nu da menina e os traços negros de lágrimas em seu rosto, e sem hesitar ele retirou sua robe e faixa, jogando-as por cima da morena para dar-lhe alguma forma de proteção e calor em meio a chuva.

“Perdoe-me. Eu não voltei a tempo...” - Disse o homem de cabelos brancos em uma voz baixa, mas ainda audível à garota, retirando qualquer dúvida restante da garota sobre a figura a sua frente. – “Eu não ouvi o ataque até ser tarde demais...”

“Quem é esse?! Mais outro idiota que vai morrer tentando proteger a garota?!” – Exclamou Shuura, fazendo com que o homem de cabelos brancos voltasse sua atenção para frente, seu olhar agora raivoso dentro de seu outro capuz e sua máscara, e em resposta sua aura passou a ser exercida com mais força, chamas negras e vermelhas surgindo em seu braço esquerdo e alastrando-se por seu corpo e zanbatou, a temperatura abaixando ainda mais.

Fogo...?!” – Hikari pensou, notando então a ironia. – “Magia de fogo... mas a aura é fria?!...”

“Chefe, não...” – Comentou um dos homens de Shuura, observando com olhos arregalados a figura a frente da garota. – “A máscara, as roupas negras, a espada, a aura fria de chamas negras e vermelhas... ele não é um idiota qualquer! Ele é um assassino famoso, reconhecido por deixar apenas fogo e destruição por onde passa... Darkslayer!!” – Ele disse, surpreendendo todos ali presentes.

"Darkslayer? Aquele sobre o qual os soldados comentavam?!" - Hikari pensava, atônita e tremendo de frio e medo, observando as costas de seu salvador. – “Sim, é verdade... eu já tinha suspeitado antes, só pela aparência, mas agora... zanbatou negra, magia de fogo... então era você!”

Mesmo tentando, eu ainda sou reconhecido...” – Hyoru lamentou mentalmente, sua aura retrocedendo ao que ele acalmava-se e recuperava sua seriedade. – “Preciso me acalmar. Não posso usar muito da minha magia, ou deixar a raiva me possuir...”

“Darkslayer, hm? Vamos ver do que é capaz.” – Shuura disse, fazendo uma menção com sua mão, e os demônios ao seu comando avançaram em direção ao rapaz ao que a aura de chamas dele se desfez.

O rapaz não perdeu tempo, cruzando a distância entre si e o assassino mais próximo e deferindo-lhe um golpe horizontal giratório com sua espada sem que o demônio pudesse ao menos reagir, cortando-o ao meio e o matando instantaneamente. Os outros capangas de Shuura, ali tão próximos, visivelmente hesitaram, e aproveitando-se disso, o homem de cabelos brancos partiu em direção ao demônio mais próximo de si, desferindo um golpe vertical em direção ao mesmo, que tentou bloquear com sua katana. A zanbatou do rapaz, porém, pareceu passar a katana do demônio sem resistência, atingindo logo em seguida o corpo do demônio e deixando um profundo corte vertical no torso do mesmo, matando-o instantaneamente e fazendo com que sangue negro manchasse a máscara e as roupas do rapaz.

Os dois restantes decidiram, com um olhar entre eles, avançar ao mesmo tempo, um deles reaparecendo bem a frente do rapaz enquanto o outro vinha pelas costas do mesmo, procurando não deixar brechas para que o homem de cabelos brancos desviasse. Eles não contavam, porém, que o rapaz girasse em seus próprios calcanhares em um movimento brusco, atingindo ambos ao mesmo tempo com cortes profundos horizontais, matando-os instantaneamente e fazendo com que mais sangue o manchasse.

"Ele matou todos aqueles demônios... e tão facilmente...!" – Hikari pensava, abismada com a habilidade daquele homem, vendo os corpos dos demônios desintegrando ao vento. – “Mesmo com uma espada tão grande, ele só usa uma mão para empunhá-la, e ataca com tanta força e velocidade... é um nível totalmente diferente!”

Porém, para a surpresa e horror da garota, uma explosão atingiu o rapaz ao que ele terminava seu movimento giratório, e a risada de Shuura fez-se presente então, lembrando a garota que ele ainda estava lá, apenas esperando pelo melhor momento para usar suas explosões, mesmo que isso custasse a vida de seus subordinados. Antes que Shuura realmente pudesse contar vitória, ou que Hikari pudesse gritar pelo homem, Hyoru, sem danos, reapareceu bem atrás de Shuura já com um golpe de espada pronto, para a surpresa do líder do bando, que o notou apenas ao ouvir o som do vento deslocado pelo movimento do rapaz.

"Que velocidade!" - Shuura pensou, virando-se a tempo de bloquear o golpe com extrema dificuldade. – “E que força!” – Ele adicionou ao que Hyoru apenas completou um movimento giratório enquanto suas espadas ainda colidiam, a katana de Shuura partindo-se em vários pedaços ao que seu dono foi mandando voando vários metros para trás ao perder seu chão perante a força do rapaz, o demônio então colidindo violentamente contra uma casa ao final da rua, fazendo com que a mesma ruísse sobre si.

Acabou?” – Ela pensou, esperançosa, vendo então uma nova explosão ocorrer onde a casa soterrara Shuura, exatamente como acontecera minutos atrás. – “Esse cara... não morre nunca?!”

"Você é realmente muito bom, Darkslayer. Assim como a garota, me obrigou a usar minha katana..." – Elogiou Shuura, saindo das chamas de sua explosão sem nenhum dano, dessa vez com sua katana negra em mãos, a qual Hyoru reconheceu imediatamente.

Kotetsu... então ele finalmente a sacou.” – Hyoru pensava.

“Chegou a hora de parar com brincadeiras... eu eliminarei vocês dois sem que consigam revidar!" - Shuura exclamou, exercendo sua aura. Hikari foi novamente imobilizada pelo medo, porém, para a surpresa de Shuura, o rapaz não parecia afetado de qualquer jeito.

Pelo contrário, já que o rapaz sem perder tempo lançou-se contra Shuura em um forte impulso, cruzando a distância entre os dois em um piscar de olhos, já com um golpe de espada preparado. Shuura o bloqueou com bastante dificuldade, surpreendendo-se novamente com a força do rapaz, que continuou a desferir ataques em grande velocidade contra o demônio. Shuura os bloqueava como podia, e ao que ele tentava estender sua mão esquerda em direção ao rapaz, o espadachim desaparecia em movimentos de alta velocidade, reaparecendo em um novo ângulo de ataque, e o som do metal contra metal tornava-se mais pesado a cada segundo. Shuura não conseguiu bloquear direito um rápido golpe por parte do rapaz de cabelos brancos, porém, sua katana sendo lançada bruscamente para longe de suas mãos, e ao que ele instintivamente estendeu sua mão esquerda em direção ao rapaz na tentativa de criar uma explosão a queima-roupa, o espadachim desferiu um uppercut diagonal preciso e rápido, cortando parte do braço esquerdo do Katsu Demon, que pulou vários metros para trás por instinto ao receber o golpe, ficando perto de sua katana novamente. Ao retomar seu chão, Shuura passou a tentar de alguma forma estancar o enorme sangramento no que restara de seu braço esquerdo, grunhindo em dor e respirando pesadamente.

“Seu... Seu desgraçado!” – Shuura exclamou enquanto recuperava sua katana, exercendo sua aura ao máximo, tomando novamente sua forma demoníaca. Hikari ficou de joelhos no chão, ainda mais aterrorizada agora pelo fogo, que pareceu tornar-se mais intenso em resposta a aura de Shuura, a Kotetsu do demônio sendo envolvida pela aura escarlate também. – “Eu vou te mostrar... minha explosão mais forte! S-BLAST!!” – Ele exclamou, balançando sua katana com força e lançando uma lâmina em forma de lua crescente escarlate em direção ao rapaz, que desta vez não fez questão de mover-se, fincando sua zanbatou no chão ao seu lado, o rapaz sendo então atingido em cheio e engolido pela massiva explosão gerada, que criou uma enorme camada de fogo. Shuura começou a rir maniacamente, enquanto Hikari observava a cena atônita.

"NÃO CONSEGUIU DESVIAR, SEU MERDA?!" - O demônio questionava, rindo. - "OU FICOU NA FRENTE PRA PROTEGER A GAROTA?!"

Shuura obteve sua resposta ao que uma enorme lâmina branca em forma de lua crescente surgiu de dentro de suas chamas, seguindo em direção ao Katsu Demon em grande velocidade. Rapidamente, Shuura criou uma explosão a sua frente ao que a lâmina aproximou-se, procurando dispersar a lâmina antes que a mesma o atingisse, mas sem efeitos, já que a lâmina cortou sua explosão sem dificuldades, e sem tempo de desviar, Shuura teve seu braço direito arrancado fora, a lâmina passando a milímetros do resto de seu corpo antes de continuar seu caminho pela ruela, deixando um enorme e profundo corte no chão por onde passava até finalmente dispersar-se por completo ao chegar ao fim da rua.

“Que poder cortante...! Se aquilo me atingisse em cheio, mesmo que eu causasse uma explosão ao meu redor, eu estaria dividido ao meio...!” – Pensava o assassino, atônito e com medo, a dor consumindo seu corpo. – “Meu outro braço...! Esse infeliz não morre nunca?! O quão forte ele é?!”

A atenção de Shuura logo voltou para sua frente, já que uma aura massivamente poderosa foi exercida de dentro das chamas de onde a lâmina surgira, a pura pressão da aura fria dispersando as chamas ao redor de ambos combatentes e revelando Hyoru, que não havia sofrido dano algum com a explosão de Shuura. O rapaz tinha sua espada agora em seus ombros, e as chamas vermelhas e pretas passaram novamente a envolver o corpo e espada do rapaz ao que ele continuava exercendo sua aura, e Shuura passou a andar para trás lentamente, tomado pelo medo, a dor pela perda de seus dois braços, a aura massiva e fria exercida, as chamas que pareciam dançar e estalar pelo corpo do rapaz e ao seu redor, os olhos heterocromáticos extremamente assassinos do Darkslayer em sua demoníaca máscara, e sua resistência a suas explosões o intimidando como ele mesmo fazia com suas vítimas antes de mata-las. – “Você... não... você não é humano! Sua força, sua resistência, sua aura, são completamente diferentes... O que realmente é você, Darkslayer?!

"Sua morte." - Hyoru o respondeu por fim, desaparecendo em um borrão negro logo em seguida. Shuura tentou criar uma nova explosão ao seu redor para proteger-se, mas tarde demais, já que Hyoru reaparecera atrás de si enquanto um massivo corte vertical alastrava-se pelo corpo de Shuura, matando-o instantaneamente e fazendo com que sangue negro jorrasse, o corpo de Shuura sendo engolido por chamas negras e vermelhas logo depois, não deixando que nada do mesmo sobrasse para que fosse desintegrado.

ディバイダー: DIVIDER.

Hyoru então balançou sua zanbatou para retirar o sangue dela, e ao terminar o movimento a mesma desfez-se em mana negra e vermelha parecida com as chamas que ele usava, o rapaz seguindo então em direção a Kotetsu de Shuura, que jazia no chão junto com os restos do braço direito amputado do demônio, pegando-a e a guardando em sua bainha negra e vermelha, que ele havia obtido enquanto desferia o golpe em Shuura.

Como se combinado, a chuva pareceu tornar-se mais forte. Fogo era apagado enquanto o sangue era lavado e misturado à terra, e Hyoru virou-se à Hikari, que abraçava as próprias pernas enquanto chorava, finalmente tendo a chance de deixar-se ficar de luto e chorar após todos os eventos daquela noite. Logo, a garota sentiu a robe dele ser retirada de si momentaneamente, o rapaz colocando seu haori e depois então sua robe por cima da garota, a protegendo melhor do frio e da chuva, e levantando seu olhar de suas pernas, ela pôde ver o rapaz sem sua máscara ajoelhado a frente dela, e silenciosamente ele passou a enfaixar os ferimentos dela como podia com as faixas que antes ficavam ao redor de sua cintura e de seus ombros, usando o que sobrara da faixa para fechar o haori. Mesmo tão desnuda e fraca, o rapaz em momento algum observava o corpo dela de forma erótica, mesmo que ele tivesse notado as tatuagens pelo corpo da garota e que, mesmo com diversas queimaduras recentes, ela não parecia mais sentir dor em relação a elas, os olhos sérios e tristes e a cabeça baixa dele pedindo silenciosamente perdão e tentando esconder as cicatrizes que ele possuía.

"Não foi culpa sua..." – Hikari sussurrou, tentando tocar-lhe o rosto abaixado com sua mão direita, mas ele afastou a mão dela gentilmente com sua manopla antes que ela pudesse tocar suas cicatrizes e absolvê-lo de sua culpa. – “Eu estou bem. Minhas queimaduras não doem mais. Você me salvou.”

"Eu devia ter ouvido, percebido algo. Eu podia ter parado esta destruição... mas ao invés disso, novamente, eu falhei..." - Hyoru culpava-se, incapaz de admitir que a garota estava certa.

"No fim, você ainda me salvou, e matou aqueles demônios...” – Hikari disse, apertando a manopla dele, e ele a observou fundo nos olhos em resposta, mas ao contrário de antes, ela não sentiu medo do olhar dele, reconhecendo nas orbes heterocromáticas dele o peso da culpa que ele sentia pelo estado dela. - “Eu agradeço, tanto por mim quanto pela vila. Todos podem descansar em paz agora..."

"Menos você..." - Hyoru pensava, abaixando seu olhar novamente, incapaz de mantê-lo diante dos gentis e tristes olhos da garota, tentando também esconder de alguma forma as cicatrizes que o amaldiçoavam. -"...Você continuará a ser assombrada por isso, por suas cicatrizes... e por minha culpa. Eu sei que você me culpa, mesmo que não admita, e você tem razão. Eu podia ter impedido esta destruição, de novo. Eu..."

"Seu destino é Santuário, não é?" - Ela o questionou, retirando-o de seus pensamentos. Olhando-a novamente, ele pôde ver que ela agora limpava as lágrimas e tentava levantar-se, sem sucesso.

"Sim." - Ele respondeu enquanto levantava-se e a ajudava a levantar-se, tentando não apoiá-la em sua perna direita e não deixa-la forçar também seu braço direito. Quando ela o fez, ele notou o quão pequena ela parecia perto de si, sendo mais de uma cabeça mais baixa do que ele.

"Posso viajar com você até lá? Tazuna tinha um conhecido lá, pediu que eu o procurasse caso..." – Ela falhou em continuar, mas ele não hesitou em respondê-la, entendendo o que ela queria dizer.

"... Pode. Serei seu guarda-costas até lá. Mas antes de irmos..." - Ele disse, virando seu olhar a vila, e Hikari entendeu o que ele queria "dizer".

"Sim." - Hikari concordou. - "Partiremos depois que enterrarmos todos..."

 

E então, a roda do destino começa a girar...


Notas Finais


Breves comentários sobre Hyoru, Hikari, Tazuna e Shuura.

Hyoru: Hyoru, originalmente "Kaguro", sempre foi um dos protagonistas da história, mesmo quando ela era radicalmente diferente da atual. Quando o original Kaguro se provou um personagem muito... desfocado, eu o dividi em Hyoru e Leon, com Hyoru mantendo sua aparência, magia, e o status de protagonista. Ao contrário de muitos outros protagonistas de shonen/seinen, Hyoru é um rapaz altamente pragmático e sério, que não perde tempo conversando com oponentes ou gritando os nomes de suas técnicas. Além disso, ele (assim como diversos outros personagens) possui diversas cicatrizes, inclusive em seu rosto, algo que é difícil ver em mangás e animes, e um ponto de realismo (Afinal, se você passa a vida inteira batalhando, cicatrizes virão eventualmente). Por trás de toda sua seriedade e pragmatismo, porém, ele tem um lado sensível e humano, mostrado com mais frequência do que ele próprio gostaria de forma a lembrar não apenas o leitor, mas Hyoru mesmo, que ele não é tão ruim quanto pensa ser.

Hikari: A dama também sempre foi uma das protagonistas da história, desde seus primórdios, embora ela fosse muito menos capaz de lutar antes. Pequena, de feições jovens, uma personalidade mais "leve", e sua inexperiência em combate, ela e Hyoru se contrastam em quase todos os pontos, mas não se deixe enganar por essa aparente superficialidade; ainda mais do que Hyoru, ela esconde segredos importantíssimos à história, embora ela em si não tenha consciência disso. Ainda sim, eu a considero um personagem similar ao de Gohan em Dragon Ball: Assim como Gohan era um gênio que facilmente poderia se tornar mais forte que Goku, mas não gostava de lutar, não é porque Hikari tem todo esse potencial e esse mistério em volta dela que ela necessariamente tem que gostar disso. Hikari é uma personagem "down to earth"; ela queria uma vida tranquila e pacata, mas os eventos deste capítulo e dos próximos a farão lentamente mudar de idéia, embora ela ainda continue sendo pacifista. Uma coisa notável dela, porém, não são nem apenas as tatuagens, mas as cicatrizes que ela obtém e que são permanentes; mais ainda que homens, é difícil ver mulheres com várias cicatrizes em outras histórias, para não "estragar" a beleza feminina; Hikari é um grande dedo do meio à esse conceito, já que não apenas ela adquirirá diversas outras durante a história, mas ela nunca perderá sua beleza.

Tazuna: O pai doce e gentil, e, ao mesmo tempo, um sacrifício necessário à história; Tazuna sempre foi o "personagem que morre no primeiro capítulo", embora a posição dele tenha mudado com as mudanças da história. É ele quem cria Hikari para ser a mulher exemplar que é, mas seu ponto principal é sua morte; não apenas a forma que ele morre é bastante cruel (para mostrar como neste mundo as mortes normalmente não são bonitas ou até mesmo sacrifícios são válidos), mas é a quebra das correntes de Hikari, já que era ele quem a "segurava" em uma vida tranquila e sem conflitos. Descanse em paz, Tazuna.

Shuura: O "vilão inicial", o destruidor, aquele que entrega o chamado à protagonista. Sua aparência e personalidade não mudaram muito desde sua criação inicial, assim como seu papel na história, embora ele antes fosse mais importante no "geral". Mesmo assim, ele deixa seu impacto com força; as cicatrizes em Hikari, a destruição de Rosário praticamente sozinho, a abertura do "mundo negro" no qual Shadow Grooves se passa. Sua derrota pelas mãos de Hyoru também serve para mostrar o quão ridiculamente forte o Darkslayer é, ainda mais do que os rumores do Reino dizem, embora deva-se notar que ele venceu Hikari apenas por conta da má compatibilidade de seus poderes e da inexperiência da garota tanto em real combate quanto com sua magia; ainda sim, como ele mesmo diz, ela ainda sim fora capaz de forçá-lo a transformar-se para que ele pudesse vencer, mostrando o quão superior Hikari era ao capitão que ele enfrentara anteriormente.


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