1. Spirit Fanfics >
  2. She Is Art >
  3. O Disco de Prince

História She Is Art - O Disco de Prince


Escrita por: angieoak

Notas do Autor


Peguem suas jaquetas, luvas, cachecóis e filmes franceses. Há uma nevasca chegando, prontos para uma mudança no tempo?

Capítulo 2 - O Disco de Prince


Uma nevasca atingirá o estado de Nova Iorque neste final de semana, preparem-se! Será a maior nevasca dos últimos trinta anos. Aproveitem as próximas horas para lotarem seus estoques de comida.

- Ah, ótimo, o que mais falta para piorar meu final de semana?!

Peguem seus cobertores, juntem-se ao amor da sua vida e relaxem no sofá ao som de Frank Sina...

A funcionária desligou o rádio, enquanto reclamava de sua má sorte. A última coisa que ela precisava era ter que lidar com um metro de espessura de neve em frente ao estabelecimento. Teria que conversar com seu chefe para sair mais cedo.

- Senhor Manson, eu teria sua permissão para sair mais cedo? Há uma nevasca vindo e minha irmã está sozinha em casa.

- Claro, mas fique mais um pouco no caso de algum cliente aparecer. Você fecha a loja hoje. Tenho um jantar familiar para ir. – Senhor Manson, empolgado, esfregou uma mão na outra. Sua funcionária sabia o quanto aquilo era importante para ele. Seus filhos se mudaram para a Pensilvânia junto com suas esposas e filhos depois de aceitarem uma proposta de abrir seu próprio negócio, uma mercenaria.

Quem em sã consciência sairia de casa na véspera de uma nevasca para comprar discos de vinil ou livros antigos? Pensou Lauren, porém permaneceu em silêncio, sabendo que a loucura de nova-iorquinos não tinha limites. Afinal, não era a toa que aquela cidade era conhecida como a que nunca dormia.

- Tenha um bom final de semana, senhorita Jauregui.

- O mesmo ao senhor, divirta-se! – Acenou para o chefe e voltou a organizar a pilha de discos, a qual havia chegado na última terça-feira.

Lauren estava preocupada com Taylor, sua irmã. Eram 16:00 e tinha certeza que ela já deveria ter chegado em casa depois da escola, e não queria que ela ficasse sozinha. A irmã mais velha pegou seu celular chegando na conclusão de que ligaria para sua pequena.

- Alô, Taylor? Ainda estou no trabalho. Se ninguém aparecer na próxima meia hora, eu fecho a loja. Sim... Quero que fique com a vizinha, dona Felicity. Você aguenta. Peça para ela fazer aqueles cookies com Blueberry que você ama. Sei que sim. Tenho que ir, beijos. Rey também ama pequena Princesa Leia.

Taylor era apaixonada por Star Wars, era sua maior obsessão. Todos os dias, sentava com sua irmã mais velha para que lessem um pouco dos livros, todos os fins de semana assistiam, pelo menos, um dos filmes. Taylor ficara dois meses atormentando Alexa para que ela aceitasse vestir-se como Rey para o lançamento de O Despertar da Força, o mais recente filme. Desde então, Lauren tornara-se a Rey de Claire, que por sua vez era a Princesa Leia.

Lauren sorriu ao finalizar a ligação, mal podia esperar para chegar em casa e abraçar sua pequena. Ao virar-se em busca de pegar as chaves da loja, ouviu o som dos sinos da porta de entrada.

Droga, sempre tem um empata foda, Lauren pensou.

- Boa tarde, como eu poderia ajudar? – A funcionária deu seu melhor sorriso ao encarar o senhor que entrava na loja.

- Você teria o disco Purple Rain do Prince? – O senhor, que aparentava estar na casa dos 70 anos, mexeu nervosamente em seu pequeno lenço antes de passa-lo na testa em busca de limpar o suor que escorria.

- Ahn. – Os discos do Prince haviam esgotados nos últimos dias, irônico como as pessoas buscam conhecer artistas e valorizar seu trabalho depois de sua morte, mas o desespero daquele idoso havia deixado Lolo desamparada. – Dúvido que tenhamos algo, senhor, acho que nosso esto...

- Por favor, verifique para mim! – Sua voz saiu embargada e seus olhos estavam cheios de lágrimas. Aquilo deveria significar muito para ele.

- Tudo bem, vamos fazer o seguinte: Verifique na letra P, enquanto eu dou uma olhada no estoque, ok?

- Obrigado, muito obrigado! – O senhor foi às pressas em direção à bancada que disponibilizada os artistas de O à R.

Lauren, por mais durona que havia se mostrado a vida inteira, não suportava manter-se indiferente aos sentimentos alheios. Achava aquilo crueldade. Entrou no estoque empoeirado, tossiu uma ou duas vezes, e encontrou caixas dos discos recém-chegados. Não deveria abrir, senhor Manson sempre deixou claro que essas caixas só deveriam ser abertas na segunda feira, para repor as estantes. Mas era um caso de urgência.

A funcionaria abriu a caixa e foi à procura de Purple Rain.

Lauren sentou no chão ao lado da última caixa fechada. Sua testa estava pingando, e a sensação térmica do ambiente estava de 35ºC, apesar de ter plena consciência de que deveria estar no máximo 4ºC fora do estabelecimento. Estava procurando pelo disco há duas horas e já estava pronta para desistir.

- Minha jovem... – Disse o cliente. – Perdoe-me ter te desgastado de tal forma. – Ele estava se sentindo culpado, e aquilo fazia com que o coração da jovem Jauregui doesse mais ainda. Queria ter achado o disco. – Sabe... Gostaria de te contar a razão de eu estar à procura desse disco. Hoje eu e minha esposa completamos 50 anos de casados... – Ele completou, baixo e devagar, respirando fundo várias vezes. – Queria poder dizer que a valorizei por todo segundo que estive ao seu lado, mas seria mentira. Nos últimos 20 anos, não a amei como deveria ter feito, não me mantive presente o suficiente. Fomos um casal que existiu, mas não viveu. Hoje ao acordar, reparei que ela chorava baixinho. Resolvi a surpreender enquanto ela trabalhava. Ela é uma poetisa, sabia?! Quando cheguei a seu escritório com o café da manhã, encontrei apenas um bilhete em cima de seu caderno de poemas. Ela foi ver nossos filhos no aniversario de nosso casamento. Li seu último poema. Era sobre como gostaria de ser amada como havia sido há 50 anos. Purple Rain é a música favorita dela, e sempre a prometi que um dia, compraria o álbum do Prince para ela. Só mais uma das mil promessas não cumpridas.

Lauren fechou os olhos com força. Seu coração havia parado junto com o tempo. Sua mente estava a mil por hora. Por um segundo em 1966, em um casamento de jovens apaixonados, no outro estava em 1984, vendo uma mulher cantar Purple Rain para os filhos. E então os anos se passaram e seus filhos cresceram, formaram e mudaram-se para a própria casa, o marido que antes sorria para a esposa ao ouvi-la cantar, estava a jogar garrafas e a gritar absurdos contra a mulher. Jauregui voltou a abrir os olhos, encarando o senhor tristonho. Aquelas imagens eram as de seus pais, de suas brigas e gritarias, e diferente de seu pai, o senhor ainda havia o desejo de amar sua mulher.

- Desculpe o transtorno! Só gostaria que soubesse que o seu esforço foi muito significativo para mim.

Tudo em volta de Lauren girava, mas mesmo assim, esticou seu braço e buscou a última caixa. Tem que ter algo aqui, pensou. Rasgou a abertura da mesma e foi tirando as pressas disco por disco. Até ver a capa roxa de Prince.

- Graças a Deus. – Suspirou levantando e entregou o disco para o senhor. – Boa sorte com a sua esposa. – Com um sorriso sincero, Lauren auxiliou o idoso, acompanhando até a porta.

- Você foi tão gentil, quanto custou? Posso te pagar mais, fiz com que ficasse aqui antes de uma nevasca. – disse o mais velho, pegando sua carteira.

- Por conta da casa, não poderia comprar do senhor a tentativa de recuperar um amor. Boa sorte!

- Deus te abençoe, jovem. Eu nunca deixarei de ser grato pelo o que fez por mim e pela minha esposa.

Lauren assistiu o senhor atravessar a rua as pressas até seu pequeno carro. Sua renda não parecia ser abundante, mas o senhor não exitou em  ofereceu um pagamento extra pelo tempo. Talvez ainda houvesse exceções no amor.

Se, pelo menos, uma dessas exceções tivesse atingido sua casa.

A garota suspirou enquanto observava flocos de neve investindo contra o asfalto da rua. Tão genuinos, mas capazes de tantas catástrofes. Seria uma ótima analogia aos relacionamentos da morena.

Não existiu um no qual saiu ilesa.

Sentia que era um grande imã de relações ruins. Como se seu caminho estivesse predestinado a se cruzar com estradas sem saídas, obrigando-a a regredir e recomeçar. Esperava que Nova Iorque fosse o lugar para isso.

Às vezes, soava ridículo até mesmo para ela. Ò pobre jovem deslocada, viciada em nicotina, com uma irmã a cuidar, tendo que viver em um apartamento no Brooklyn e tudo isso por causa de sonhos e um desejo por mudança.

Taylor...Merecia muito mais que aquilo.

- Taylor! - ela soltou, assustada. Estava quase se esquecendo que teria que voltar para casa mais tarde.

Procurou as chaves nos bolsos e constatando que ali nao estavam, passou a procurar nas bancadas. Tirou o casaco, facilitando sua mobilidade e correu até o estoque.

- Eu vim para cá, peguei as caixas da primeira fileira... Usei as chaves para abrir algumas caixas e eu me levantei, apoiando... - Lauren recitava cada palavra se apegando a cada pequena lembrança. - Ali! - completou, aliviada.

Pegou as chaves e as segurou entre os dedos como se sua vida dependesse disso, bom... era quase isso.

Fechou o caixa e recolheu suas coisas. E antes que pudesse colocar as chaves na tranca, sua visão ficou esbranquiçada. A neve já cobria tudo em sua volta, nevasca estava começando. Era ela contra o tempo.

Buscou pela chave correta e assim que a encontrou, o coração já acelerado e com as mãos tremendo, tentou encaixar o objeto na fechadura. Porém, um grito fez com que o bolo de chaves fosse direto ao chão.

E em questão de segundos, Lauren puxava um corpo para dentro da loja.


Notas Finais


E então, o que acharam? Além de muita neve, a nevasca promete trazer muitas novidades.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...