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História She Will be Loved - Primeiro.


Escrita por: hellbound

Notas do Autor


Oi gente!
Enfim, lá venho eu com mais uma fanfic de nct (eu mesma, a maior nctzen que vocês respeitam), dessa vez, tendo como protagonista o fofo do Ten, também conhecido como "pessoa que vive pra bagunçar a minha lista de bias", mas vida que segue né hahahaha <3
Essa fanfic deve ter mais dois ou três capítulos, e vou postar toda terça-feira! Bem, é isso, espero que gostem! Boa leitura <3

Capítulo 1 - Primeiro.



"Give me something to believe in
'Cause I don't believe in you anymore."

 

 

Aquelas luzes lhe incomodavam.

Elena não gostava das reuniões de negócios que seu pai lhe obrigava a ir. Podia afirmar com convicção que sua mãe também não era fã delas, se sentindo deslocada no meio dos assuntos daquelas senhoras tão distintas e pomposas. Todas as pessoas naqueles lugares pareciam impecáveis, quase como se fossem recém-saídas de um conto de fadas moderno.

Talvez fosse essa questão que realmente incomodava Elena.

 A grande mecha loira em sua nuca tinha sido ocultada pela cabeleireira, que utilizou uma série de truques para cobri-la. Se dependesse de seu pai, o senhor William Lightwood, Elena teria pintado o cabelo todo de preto azulado, mas sua mãe tinha lhe salvado de tal atrocidade. Victoria compreendia que a filha tinha suas peculiaridades, e mesmo que cabelos coloridos não fossem sua coisa favorita do mundo, uma mecha loira não faria mal a ninguém. Seu pai tinha ficado furioso, mas a jovem já tinha aprendido a ignorar as vontades do homem. Soltou um suspiro longo e insatisfeito, desejando poder falar com suas amigas. Seu telefone celular estava desligado, guardado no bolso do paletó da terrível fera que ela conhecia como “pai”. O homem insistiu que a garota deveria socializar ao invés de continuar presa naquela bolha tecnológica. Ele argumentava que Elena era muito antissocial, e que não sabia socializar com as pessoas. Talvez ele fosse cego demais para perceber o desinteresse da garota.

Mas, veja bem, não tinha sido por falta de tentativas.

Uma versão mais jovem de Elena tinha tentado mais vezes do que podia contar. Fazia seu melhor para ser gentil, educada e qualquer característica que pudesse atrair as pessoas, mas ninguém parecia interessado em conhecê-la. Os grupos já haviam sido formados, e não existia um lugar onde ela pudesse se encaixar. Tinha se sentido muito triste na época, e durante muito tempo, questionou o que havia de errado consigo, e demorou até que finalmente entendesse que estava tudo bem, e o fato era que ninguém estava interessado em se aproximar. Era uma realidade cruel, mas não podia culpar ou obrigar alguém a criar afeição e interesse por ela.

 A vida era assim.

Dispersou tais pensamentos, tentando se esgueirar para algum lugar longe de todo aquele barulho. A fumaça dos charutos estava lhe sufocando, e todo aquele falatório estava lhe deixando louca, mas quando uma mão pousou em seu ombro, soube que tinha sido pega. Virou-se na direção da pessoa, vendo seu pai lhe lançar um olhar reprovador e revirou os olhos mentalmente. Era difícil se lembrar de uma época que ele era amoroso de verdade, e não como uma encenação na frente dos sócios.

— Onde estava indo? — questionou, franzindo o cenho. — Você sabe que...

— Devo me manter no seu campo de visão pra servir como troféu na hora que você precisar, eu já sei, obrigada por me lembrar. — sussurrou com deboche, vendo-o se irritar com seu comportamento. —Quem é dessa vez, papai?

— Vamos conversar sobre a sua falta de educação quando chegarmos em casa. — ditou lentamente, soltando um suspiro irritado. — É uma família vinda da Tailândia. Eu estudei com o atual chefe dos negócios durante um bom tempo, e quero que você conheça a filha dele. Ela tem quase a sua idade, e é minha esperança em tirar você dessa... Esquisitice sua.

Ótimo, mais gente chata. Não verbalizou seus pensamentos, vendo que seu pai já estava furioso consigo. O seguiu pelo salão, vendo-o cumprimentar brevemente algumas pessoas no caminho, como se fosse uma espécie de político. William prezava as boas relações com possíveis sócios, tendo uma ampla rede de contatos. Era impossível que ele ficasse isolado em uma festa, visto que sempre conhecia alguém. Queria que toda aquela comunicação descontraída também fosse aplicada em casa, e não que ele se comportasse como um maldito general, tratando ela e a mãe como recrutas indisciplinados. Ele tocou seu ombro de repente, fazendo-a acordar de seu transe repentino.

— Filha? — ele lhe chamou, fazendo-a se alarmar por um momento. — Peço desculpas, ela é sempre distraída. Esse é o meu amigo que eu te falei, e essa é a filha dele, Kulisara.

— Pode me chamar de Tern. — a menina sorriu simpática, fazendo uma leve reverência, estendo a mão para a garota em sua frente.

— Prazer em conhecer Tern. — retribuiu o cumprimento, sorrindo levemente. 

Tern era uma jovem bonita, com olhos pequenos e lábios carnudos, os cabelos escuros chegando pouco abaixo dos ombros e uma pequena franja sobre os olhos. Tinha um sorriso cativante, e Elena não pode evitar sentir certa simpatia por ela. O pai da tailandesa encorajou as duas a conversarem, e quando se viraram para ir ao jardim do palacete, alguém trombou violentamente com Elena, lhe fazendo fechar os olhos e arfar, imaginando sua queda e a expressão reprovadora de seu pai. Mas não foi o que aconteceu. Ao invés disso, braços foram envolvidos ao seu redor, e pôde ouvir Tern murmurar algo que parecia “caramba Ten, presta atenção”, e abriu os olhos, se deparando com a pessoa mais bonita que já tinha visto em sua vida todinha.

E ela já tinha visto muitas pessoas, mas aquele garoto era surreal.

A pele dele era pouco mais pálida do que a tailandesa, mas era possível perceber que os dois possuíam algumas semelhanças. Ele tinha traços faciais perfeitamente esculpidos, e mesmo com a expressão assustada que tinha no momento, ainda parecia incrível diante de seus olhos. O rapaz balbuciava incansavelmente, pedindo desculpas e ajudando a garota a se pôr de pé propriamente, parecendo aliviado quando ela lhe disse que estava bem. Era difícil pensar com toda aquela beleza tão perto de si.

— Elena, esse é meu Ten, meu irmão mais velho. — Tern surgiu, dando um tapinha amigável no ombro do garoto bonito.

Ela definitivamente ia se lembrar desse nome.

***

Chittaphon Leechaiyapornkul. Esse era o nome do irmão bonito de Tern.

Aquela noite era fresca em sua memória, mesmo tendo sido há dois meses. O rosto dele estava gravado em sua mente, e Elena duvidava ser capaz de esquecê-lo algum dia. Tern riu da cara de boba que ela mantinha, alegando que era comum esse tipo de reação diante de seu irmão mais velho, e falou um pouco sobre ele — talvez tenha percebido que sua mais nova amiga estava um pouquinho interessada no garoto. Novato em uma das melhores faculdades de Arquitetura do país, ele pretendia se mudar para a Europa quando fosse fazer sua especialização. Tern sempre demonstrava explicitamente o quanto admirava seu irmão, e Elena achava bonitinho quando a tailandesa tinha os olhos brilhando e um tom de voz todo amoroso ao se referir a ele. 

Mas ela mesma era incrível por si só.

Kulisara fazia parte do time de basquete do colégio, e era igualmente habilidosa em outros esportes. Tinha um grande interesse em História, Geografia e Desenho — mesmo que sempre dissesse não ser tão boa quanto seu irmão. Era praticamente impossível não gostar dela, e ficou feliz ao vê-la pelo Skype, comentando animadamente sobre o intercolegial. Seu time tinha ganhado por uma diferença considerável, deixando para trás um dos favoritos da competição. A tailandesa tinha ido para uma comemoração com as companheiras, e assim que chegou em casa ligou para Elena, a fim de lhe contar as novidades.

— Foi incrível! Quando eu fiz o último passe, e a Mintty marcou... Eu quase não acreditei. Todo mundo começou a gritar, e quando eu olhei o placar, quase caí pra trás! Semana que vem, vou jogar de novo em outra cidade.

— Deve ter sido incrível mesmo, eu queria muito estar lá! — respondeu animada, se ajeitando na cama. — Eu confio em você e nas meninas, acho que vão fazer um jogo incrível!

— Mintty e Lisa estão se achando, mas eu vou perdoar porque elas realmente estão dando o sangue pela equipe. — assentiu satisfeita, logo formando uma expressão triste. — Queria que nós estudássemos juntas, aí eu ia poder convencer o maninho a pagar um jantar pra gente e nos levar pra um boliche. Eu fui pra comemoração com as meninas, mas eu queria estar com vocês também. — formou um biquinho insatisfeito.

— Seria uma ótima ideia mesmo, eu não sei o que é me divertir assim há um tempinho. Eu e minhas amigas estamos lotadas com milhões de relatórios, é um pesadelo. — reclamou, ouvindo Tern rir do outro lado da linha. — Você tá cansada, né? Eu vou te deixar dormir.

— Eu queria discordar, mas seria mentir. — riu, em meio a um bocejo. — Até depois Lena. Me deseje sorte no próximo jogo!

— Até depois Tern! Boa sorte no jogo, e mande um abraço para as meninas! Eu vou ligar para você depois. 

Desligaram a chamada, e Elena se jogou sobre a cama, fitando o teto do quarto como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Tinha conversado com Tern sobre o colégio e sobre suas notas ruins em matemática, frustrada por não conseguir se recuperar. Às vezes, se juntava à suas amigas na biblioteca do colégio — mesmo que Meredith não parecesse muito feliz com isso —, estudando e fazendo anotações até que ficasse exausta e seus bocejos se tornassem contínuos, mas ainda assim, nada parecia funcionar. A verdade é que não se dava bem com exatas. Gostava mesmo de palavras, de estar com a cabeça nas nuvens pensando em fábulas, ou até mesmo refletindo sobre conflitos passados que transformaram o mundo. Em algumas ocasiões, imaginava que seu excesso de sede de conhecimento deixava seu pai irritado, pois ela sempre tinha uma resposta na ponta da língua para cada mínima situação.

E por falar em seu pai, pôde ouvir a voz dele berrar seu nome. O que não costumava ser um bom sinal.

Saiu do quarto, passando pelo corredor e descendo as escadas rapidamente, encontrando o homem no meio da sala. Ele ainda usava o terno do trabalho, o rosto convertido em uma expressão colérica, os cabelos escuros levemente desgrenhados e, em suas mãos, havia um envelope amassado com o brasão da Academia Estudantil onde Elena estava matriculada. Engoliu em seco, já imaginando do que se trataria aquela discussão, e se sentiu boba por tentar esconder o documento. Era óbvio que ele receberia aquele papel de qualquer jeito, visto que pagava uma fortuna de mensalidade, então qualquer detalhe de sua vida acadêmica — especialmente notas baixas — não passaria despercebido.  Ouviu passos apressados, e pôde ver sua mãe descendo apressada, provavelmente temendo algum embate entre William e a filha. Os dois tinham uma língua afiada, então não era incomum que sempre acabassem discutindo, o que era um pesadelo para Victoria, que sempre ficava extremamente nervosa com as vozes alteradas e palavras agressivas.

— Alguma das duas quer fazer o favor de explicar esse absurdo? Por que eu adoraria um esclarecimento! — bradou sarcástico, e era possível ver uma camada de suor se formando em sua testa. Seu olhar logo se voltou para a esposa. — Você sabia disso, não é? Aposto que sabia! Você sempre acoberta os erros dela!

— A mamãe não tem nada a ver com isso, pai! — Elena disparou, cansada das palavras cruéis de seu pai. — Eu escondi de vocês justamente por saber que isso ia acontecer! Eu tô cansada de ser um troféu, e só ter sua atenção quando você pode se gabar pros seus amigos!

O tapa estalou em sua bochecha direita antes que pudesse pensar muito. Seu pai nunca tinha levantado a mão para ela antes. O olhou através de olhos lacrimejantes e viu algo em sua postura inabalável vacilar, como se finalmente tivesse percebido o que fez. Victoria se enfureceu, repreendendo a atitude do marido, mas Elena estava cansada demais para brigar. As lágrimas escorriam quentes por sua bochecha, e ela nunca se sentiu tão humilhada em toda sua vida. Seu corpo inteiro tremia, e ela sabia que ia desabar em um pranto sofrido a qualquer momento. Sentia a decepção dominar cada célula de seu corpo.

— Eu não conheço mais você. Na verdade, acho que nunca conheci. — balbuciou, sacudindo a cabeça.

Subiu as escadas, os soluços fazendo seu corpo tremer enquanto ela se afastava. Seu pai ainda lhe chamou, mas ela o ignorou, e logo ouviu uma ameaça de “isso não acabou”, calada pela voz irritada de sua mãe. Assim que abriu a porta do quarto e entrou, se jogou sobre a cama, desabando em um choro nada contido, a dor em seu coração parecendo lhe sufocar. Por que seu pai era daquele jeito? Ele podia ser ocupado, mas era realmente necessário se tornar alguém tão grosseiro e arrogante? Foi envolvida em um abraço aconchegante, sentindo o cheiro de sua mãe lhe confortar. Como a amava! As mãos pequenas afagaram seus cabelos, e pequenos beijos foram depositados em sua testa, e ela se aninhou a mulher como uma criança pequena, deixando que ela lhe consolasse até cair no sono.

Elena faria qualquer coisa por sua mãe.

***

“Querida, pode vir direto para casa? Precisamos falar com você. A Jessie vai te buscar. Beijos, mamãe.”

Soltou um suspiro cansado, guardando o celular no blazer do uniforme. O gesto não passou despercebido por suas amigas, que lhe lançaram olhares questionadores. Elena não contou sobre a discussão que teve com seu pai e nem sobre a agressão. Achava aquela situação constrangedora, e mesmo que a marca tivesse desaparecido, sentia quase como se ela ainda estivesse ali, estampada em sua bochecha e ardendo como um maldito lembrete de toda aquela situação. Esconder o boletim não tinha sido uma decisão inteligente, mas nunca imaginou que seu pai teria um rompante de fúria daquele nível. Se fechasse os olhos, podia rever a cena com riqueza de detalhes. Não era algo que pudesse ser facilmente esquecido.

— Ok, você vai contar o que tá acontecendo, ou vou ter que insistir? — Mel questionou, arqueando uma de suas sobrancelhas desafiadoramente.

— Eu tô legal, cara. Quer dizer, se você não considerar minhas notas ruins. — deu de ombros, querendo fugir daquele assunto. — Mas é só isso mesmo, relaxa.

Mel lhe lançou um olhar desconfiado, buscando apoio em Meredith, mas a morena sacudiu a cabeça, e Elena agradeceu mentalmente por isso. Beliscou a lanche em seu prato, seu estômago embrulhado não lhe deixando comer. A situação lhe deixou ansiosa, e até mesmo com um pouco de medo, era obrigada a admitir. As aulas se passaram em um borrão, e Elena tinha se mantido calada fazendo anotações — o que era incomum, considerando que ela gostava bastante de conversar. Despediu-se das amigas, entrando no carro da família e cumprimentando a motorista. Jessie era uma mulher simpática e competente, além de bastante divertida. Costumava conversar bastante com Elena nas raras ocasiões que era enviada para buscar a jovem, e via o quanto ela era uma boa menina, mesmo tendo que ouvir absurdos do pai. O caminho até sua casa não foi demorado, e a jovem logo se viu prestes à encarar seus pais e descobrir o que sua mãe queria lhe falar.

E algo lhe dizia que o assunto não iria lhe agradar.

— Elena... – Jessie começou, virando para a garota com uma expressão séria. – Eu sei que você tá angustiada com alguma coisa, e espero que você consiga passar por essa situação. Força! Eu sei que você vai conseguir resolver isso!

A garota sorriu, agradecendo a mulher e saindo do carro. Liesel, a governanta — uma senhora baixinha de bochechas coradas — a aguardava na porta da casa, lhe encarando com uma expressão estranha. O estômago de Elena se agitou em nervosismo, e ela sentiu como se pudesse vomitar bem ali. Liesel lhe apressou com um gesto das mãos, e a menina caminhou apressadamente, a mulher lhe avisando que seus pais a aguardavam na sala de estar.

— A expressão deles... É algo ruim? — questionou aflita.

— Não menina! Eles só parecem preocupados. — a acalmou, mas logo sua expressão se tornou severa. — Você devia ter dito de uma vez pro seu pai sobre aquelas notas, ficar calada só piorou tudo! No fim, ele acabou descobrindo. Eu sempre digo a você que mentira tem perna curta!

— Eu sei Liesel! Mas meu pai não entenderia de qualquer jeito! Tudo o que ele sabe fazer é reclamar sobre tudo o que eu faço! Não tem uma coisinha que deixe ele satisfeito! Você sabe, vê como ele me trata e como trata a mamãe. — argumentou com o rosto franzido em descontentamento. — Eu errei em esconder as notas, mas ele não precisava ter feito tudo aquilo. E ele não perguntou, mas eu já estou estudando pra tentar me recuperar. Mas pelo jeito, ele não tá nem aí.

Liesel suspirou, sabendo que as palavras da jovem eram verdadeiras. Seu patrão era um homem truculento, que tratava sua esposa e filha com uma superioridade incômoda. Em algumas ocasiões, Victoria se enfurecia e gritava com o marido, mas era visível a submissão que existia entre os dois — o que já não acontecia com a jovem, que costumava responder William na mesma moeda. Elena soltou um longo suspiro, ajeitando a bolsa em seus ombros e passando as mãos na saia do colégio, querendo secar suas mãos suadas de nervosismo.

Estava na hora de enfrentar a fera.

Caminhou até a sala de estar, vendo seus pais sentados em um dos sofás, encarando o que permanecia vazio de forma fixa. Soltou um longo suspiro, contando até dez mentalmente, cumprimentando os pais e ocupando o assento vazio diante dos dois. Evitava contato visual com seu pai, ainda muito ressentida com as atitudes dele. Se dependesse de si, jamais voltaria a lhe dirigir à palavra, mas o fazia por sua mãe, querendo evitar um clima ruim da residência — apesar de tal feito ser praticamente impossível.

— Querida, — sua mãe começou com a voz hesitante e as mãos inquietas em um nervosismo visível — eu e seu pai conversamos sobre suas notas baixas em algumas matérias, e pensamos em contratar um professor particular pra você.

Franziu o cenho, não achando que a notícia era tão ruim quando parecia. Mas pelo jeito, havia algo ali que ela não gostaria. Acreditava nisso só de ver o brilho satisfeito nos olhos de seu pai, mesmo que ele mantivesse uma expressão impassível.

— Seu pai conversou com o senhor... Bem, com o senhor Lee, pai da Kulisara. — apesar de sua expressão neutra, não pôde deixar de achar graça do embaraço de sua mãe ao pronunciar o sobrenome da amiga. — Ele disse que o Chittaphon podia te ajudar com algumas aulas particulares semanais.

Qualquer possível traço de risada presente em sua mente sumiu como mágica.

Sua mãe continuava falando, mas a voz dela parecia distante, quase como um sonho ou outra dimensão. A premissa de ter um professor particular não era ruim, pois seria alguém que adaptaria seu ritmo de ensino à velocidade que ela aprendia — o que não acontecia no colégio, quando o professor parecia furioso o tempo todo. Porém, saber que Chittaphon ocuparia aquele lugar lhe fez sentir humilhada e envergonhada. Não tinha nada contra o garoto, mas ouvir o tempo todo sobre o quanto ele era brilhante e teria uma carreira invejável fez com que se sentisse intimidada. É claro que a aparência dele era um adicional à seu nervosismo, mas o fato de ele ter sua vida completamente encaminhada e ela ser apenas uma jovem perdida era o principal agravante de toda aquela situação. Se limitou a assentir, sabendo que aquela era uma batalha perdida. Seu pai sempre conseguia o que queria. Pediu permissão para se retirar e subiu as escadas, indo para seu quarto e se jogando na cama, fitando o teto. Aquela história ainda soava incômoda, mas só lhe restava aceitar.

Odiava a influência que seu pai exercia sobre sua vida.

***

Todas as conversas que teve com Tern não lhe prepararam para aquele momento.

A tailandesa teceu elogios para o irmão, dizendo que Ten era gentil, paciente e que com certeza a ajudaria muito em seus estudos. É claro que ela não perdeu a chance de provocar a amiga, dando uma sonora gargalhada ao vê-la corar. Meu Deus, você definitivamente tem um crush no meu irmão, caçoou, fazendo Elena corar até o último fio de cabelo. Conversou com suas amigas, explicando que iria embora mais cedo às quartas por causa das aulas particulares. As meninas não questionaram muito — apesar de Mel e Meredith terem parecido desconfiadas, mas Demetria apenas assentiu e Nana imitou o gesto dela —, e Elena ficou grata por isso.

 As aulas seriam ministradas logo após o colégio, e Jessie a levaria até o prédio onde Ten vivia. O porteiro lhe fitou com estranheza, provavelmente questionando a razão de uma colegial estar indo sozinha até a casa de um rapaz mais velho, e ela quis enfiar sua cabeça em um vaso de plantas ao imaginar as opções nada castas que provavelmente podiam se passar por sua cabeça. Não era como se ele tivesse algo a ver com sua vida, mas quando menos as pessoas soubessem sobre as visitas dela, melhor. O apartamento do tailandês ficava no sexto andar, então a subida de elevador não foi muito longa. Quando ouviu um apito anunciando o andar desejado, Elena deixou o cubículo em passos cautelosos, encarando o longo corredor e tentando descobrir onde diabos ficava o apartamento 604, quase engasgando ao ouvir uma das portas ser destrancada, e a figura de Ten agraciar sua visão, usando calças de moletom e uma blusa azul.

Merda, ele era incrivelmente atraente.

Ela se manteve parada no corredor, encarando-o como se ele fosse uma espécie de visão. Suas mãos apertavam as alças da bolsa, e quando o garoto sorriu, gesticulando para que ela entrasse no apartamento, abrindo um sorriso que deixou suas pernas bambas. Parou de frente para o tailandês, curvando-se brevemente para cumprimentá-lo — o gesto foi prontamente retribuído — e entrou no apartamento, descartando os sapatos na entrada. A porta se fechou, e ela pôde ouvir os passos de Ten atrás de si, e ele logo indicou que ela podia pôr a mochila na sala.

— Eu encomendei um almoço. — ele anunciou, sorrindo simpaticamente e parecendo até mesmo um pouco tímido. — Não sei se você está com fome, mas achei que seria uma boa ideia.

— Ah, obrigada pela gentileza, eu não almocei no colégio. — respondeu, assentindo rapidamente.

Ele lhe lançou mais um daqueles sorrisos e gesticulou para Elena, que o acompanhou até a cozinha. O tailandês tinha comprado uma carne com molho madeira e alguns acompanhamentos, a comida com um aroma tão delicioso que fez o estômago da garota protestar. Ten lhe passou um prato, e depois de se servirem, comeram em silêncio. O fato era que, ambos queriam puxar assunto, mas não faziam ideia do que dizer. Elena manteve os olhos em seu prato, mas teve sua atenção chamada por um pigarro vindo do garoto.

— Eu sei que não nos conhecemos muito bem, e que não fomos devidamente apresentados. Imagino que esteja sendo uma situação desconfortável pra você, mas eu só quero te ajudar. — sua fala era macia, e seu rosto tinha uma expressão tão adorável que a garota não soube reagir. — Vamos começar de novo, está bem? Eu sou o Ten. — e estendeu a mão para ela.

— Meu nome é Elena, prazer em conhecer. — respondeu tímida, estendendo sua mão para apertar a dele. A pele era macia e quente sob seus dedos.

— Viu? Esse foi um bom começo. — sua voz era simpática, e ele lhe mostrou mais uma vez aquela fileira de dentes perfeitos. — A Tern fala muito de você, sabia? É quase como se eu já te conhecesse. Se bem que... Bem, a gente se conheceu quando eu esbarrei em você. Desculpa por isso.

—Está tudo bem. — ela balançou a cabeça. — E a Tern também me fala bastante de você. Ela te admira muito, é bonito.

Mais um sorriso foi lançado em sua direção, e Elena o correspondeu, sentindo as bochechas arderem devido ao constrangimento. A partir dali, a conversa fluiu normalmente, e enquanto ajudava o garoto mais velho a arrumar a mesa e lavar as louças, soube que ele morava sozinho desde o ano anterior à sua ingressão na faculdade, que ele amava sua família e morria de saudades deles — mas que morar sozinho tinha sido um passo deveras importante em sua vida, e que tentaria sua especialização ou na Alemanha ou na Inglaterra. Ele pareceu surpreso ao saber que a garota era um pouco rebelde, e não conteve uma risadinha baixa ao saber da mecha loira em seus cabelos — que ainda continuava ali, em um tom ainda mais claro do que já era anteriormente — e da história do boletim.

— Eu sabia que ele ia surtar se visse aquelas notas, e decidi esconder o envelope e só mostrar quando estivesse recuperada. — deu de ombros, franzindo os lábios. — Acho que esqueci que o colégio é meio rígido, e não iria deixar eu me safar disso. Resumindo, eu fui pega.

— Não se preocupe, vou te ajudar disso. — ele virou-se para ela, os pequenos olhos escuros transbordando determinação. — Vou dar o meu melhor para que você entenda a matéria, e daqui a pouco você vai ser expert, tenho certeza! É uma promessa. Você confia em mim? — perguntou, estendendo seu dedo mindinho na direção dela. 

Elena achou graça daquele gesto, mas tinha mudado sua concepção sobre ele. Chittaphon não era um garoto pedante que acreditava ser superior por saber o que queria, muito pelo contrário. Pôde ver o motivo de Tern ser tão orgulhosa pelo irmão que tinha.

— Sim, eu confio. — respondeu, entrelaçando o dedo dele com o seu. E estava certa de suas palavras



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