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História Sherlock por Ela - A importância da verdade


Escrita por: juliaschirow

Notas do Autor


Preciso agradecer as mais de 2000 exibições e a todas as favoritadas e comentários. Nunca divulguei minha fanfic, pra ninguém, em nenhuma rede social ou blog, nada, nada, nada. Esse história se mantém por leitores daqui do site mesmo, que vão descobrindo e indicando. Então, obrigada!!

Capítulo 19 - A importância da verdade


Fanfic / Fanfiction Sherlock por Ela - A importância da verdade

James Moriarty tinha invejado Sherlock Holmes desde sempre. Seus caminhos se cruzaram ainda na adolescência, nos anos finais da escola. O rapaz insosso e de baixa estatura nunca conseguiu nada mais do que professores que esqueciam seu nome, colegas que não percebiam se ele faltava à escola e média sete nas notas das provas ao fim de cada ano. Podia-se, sabendo disso, pensar nele com certa piedade. Mas a arrogância de Moriarty não permitia que se tivesse tal sentimento por ele. Tentara a força levar a garota mais bonita da sala de aula para um lugar retirado nos fundos do colégio e por pouco não fora acusado de estupro. Pregava peças em todos os seres mais ingênuos que estudavam com ele e arranjava-os apelidos maldosos, salientando sempre algum defeito ou ponto fraco de cada colega.

Quando Sherlock Holmes decidiu parar os estudos após se formar na escola básica, Moriarty sentiu o alívio de não correr mais o risco de dividir o espaço, em alguma universidade, com aquele cara boa pinta e inteligente. James ingressou no curso de jornalismo e passou pela vida acadêmica, de novo, sem chamar muita atenção; e portanto nunca conseguiu seu lugar como repórter investigativo, trabalho que era seu sonho desenvolver. Cansado de procurar por oportunidades, continuava achando que tinha “o dom para a coisa”, e resolveu então atuar como detetive. Daqueles que investigam infidelidade, e que se anunciam nos jornais garantindo sigilo absoluto.

   Qual não foi sua surpresa quando, através da imprensa, passou a testemunhar o sucesso de Sherlock Holmes. Ele, James, que se intitulava àquela altura de sua vida “Professor Moriarty”, por dar aulas em um curso extra-oficial para detetives, sentiu o estômago revirar e tinha a sensação de que suas entranhas eram desagradavelmente corroídas por alguma substância ácida. Sherlock, por sua vez, não se dava conta nem da existência do outro, e jamais imaginou que alguém da estirpe dele poderia começar a torrar seu saco. Sim, pois as investidas de Moriarty contra ele não passavam disso, uma torração de saco; uma acusação de má conduta aqui, um texto para algum jornal de quinta categoria o criticando ali, essas coisas.

   Em 2010, quando Sherlock desbancou um milionário do ramo de commodities, em virtude de suas inegáveis e significativas ações ilícitas, incluindo cumplicidade em um assassinato, Moriarty acusou-o publicamente de ter dormido com a mulher do réu. Esta, por sua vez, num provável plano criado pelos dois (quanta mediocridade!), declarou ao jornalista, numa “entrevista”, que esperava um filho do detetive consultor mais famoso de Londres. Foi bem na época em que Sherlock Holmes começava a chamar muita atenção pelos seus sucessivos bem sucedidos trabalhos de investigação, principalmente casos de homicídios, mas também fraudes, sabotagens, golpes, entre outros. O que Sherlock não entendia era como alguém poderia fazer tal tipo de alvoroço em plena época de acesso fácil a exames de DNA. Mas na verdade, no fundo, ele sabia que Moriarty só tentava desestabilizá-lo, fazê-lo perder credibilidade. Era também uma época de notícias que se espalhavam como fogo em palha seca, em que as pessoas se comoviam, comentavam sobre aquilo, e no dia seguinte nem mesmo se davam o trabalho de saber se o fato tinha se comprovado, a não ser que a informação caísse em cima de seus narizes.  Por isso Sherlock Holmes recusou-se a fazer qualquer exame e mais; declarou publicamente que nunca teve nada com a mulher, dando o caso por encerrado.

   Eu sei de tudo isso agora. Mas quando saiu a nota no jornal, falando do “segundo” filho de Sherlock, eu não sabia da existência do “Professor” Moriarty.

   ─ Pare com isso! – Sherlock enfim gritou enquanto eu, chorando, atirava o terceiro objeto na direção dele depois que ele entrou pela porta do apartamento, naquele dia – sua louca!

   ─ Eu não sou uma louca, mas ainda vou ficar! – e era verdade, eu não era dada àquele tipo de reação, e é bastante provável que houvesse muitos outros sentimentos envolvidos no meu comportamento. – Qual é a graça, me diz, de me ver fazendo papel de boba?! Sério! Mata a minha curiosidade! Como é que você não me contou isso? – Então joguei o jornal nele.

   Sherlock Holmes pegou o jornal no ar com a mão e deixou-a cair no chão, sem olhar. Ele sabia do que se tratava. Sua expressão era de mágoa profunda. “Ótimo ator” pensei, sentindo minha indignação crescer. Na minha cabeça, de um jeito ou de outro, aquilo era verdade. Porque, embora obviamente esse tipo de publicação mentisse, não mentiriam sobre isso, sob pena de serem achatados por um processo. Eu processaria todas as encarnações de um indivíduo que dissesse por aí que tenho um filho se isso fosse mentira. Então era verdade. E ele não tinha me dito nada.

   ─ Eu posso explicar, Claudia, mas que droga! – a voz dele soava dura.

   ─ Pois eu queria que você quisesse explicar, e não simplesmente pudesse, agora, para apagar incêndio! – eu não conseguia suavizar, aliviar para ele. Lá no fundo de mim uma vozinha fraca tentava dizer coisas do tipo “tenha calma, dê uma chance a ele, ele é pai da sua filha”, bla, bla, bla. Mas o fato é que a tal vozinha me irritava mais ainda. Eu estava cansada. De várias maneiras.

   ─ Você nunca vai confiar em mim, não é mesmo? – ele baixou o tom.

   ─ É claro que não. – Sustentei o olhar e mantive a respiração sob controle. Vi ele caminhar até o quarto de Annabel e parar ao lado do berço. Ela continuava dormindo. Pensei em gritar para avisá-lo que se ele acordasse o bebê seria um homem morto, mas consegui me controlar. Ouvi seus passos até o quarto, uma mala sendo jogada na cama, algumas roupas indo para dentro dela, depois a mala batendo contra porta do banheiro, e lá outras coisas sendo recolhidas. Ele ainda deu uma parada dramática e me olhou, como se quisesse ter certeza de que eu não iria protestar. Não protestei. Parecia até que me aliviava a ideia de vê-lo partir.

                                                                   ∞∞∞

   Sentei no chão e minhas costas doíam. Minha cabeça latejava. E não havia nenhuma lágrima. Aos poucos meus músculos foram relaxando e acabei deitada sobre o carpet macio. Seria mesmo alívio o que eu sentia?!

   Fiquei assim até que minha pequena filha chorou. Alimentei-a e segui o dia como se ligada a um piloto automático.

                                                                  ∞∞∞

   Minha primeira racionalização sobre a coisa toda foi pensar que não se perde o que não se tem de fato, e mesmo que precisasse me reinventar agora como mãe, eu aproveitaria para me refazer depois de Sherlock Holmes também.

   Quase um mês passou sem que eu tivesse notícias dele. Mas eu não sentia nada. Apenas a necessidade de cuidar de Annabel, que ia se revelando uma criança muito calma, e de coisas básicas como comer e dormir; um pouco.

   Eu não pensava muito nele. Sabia que ele procuraria pela filha. Mas às vezes eu tinha medo de que ele não fizesse isso.

                                                                  ∞∞∞

   Num domingo excepcional, sem nuvens, enrolei Annabel num cobertor de fibra sintética, coloquei-a no carrinho e andei até o parque mais próximo, com um romance policial na bolsa. O local estava relativamente povoado, e sentei exposta ao sol, deixando o carrinho com o teto flexível abaixado para proteger a bebê.

   ─ Esse livro é muito bom, muito, muito bom – ouvi a voz masculina quebrando minha concentração. A princípio eu pensei se tratar de alguém conhecido, mas não conseguia associar  a fisionomia a um nome. Demorei a responder qualquer coisa. Eu definitivamente não estava a fim de conversa.

   ─ É, estou gostando bastante – me limitei a responder, na esperança de que o intruso desse meia volta e me deixasse continuar a leitura, já que era tão bom assim.

   ─ E o que é que temos aqui?! Uma garotinha? – O olhar e o sorriso que haviam se formado no rosto do indivíduo acenderam umas dez luzes de alerta na minha cabeça. Era uma expressão sombria, e maliciosa ao mesmo tempo, tentando encaixar um sorriso no meio. Era bizarro. Como se não bastasse, a mão dele ia levantando o teto do carrinho de Anna, quando ouvi o grito.

                                                          ∞∞∞

   O grito mais parecia um grunhido, e vinha se deslocando na nossa direção, como uma ventania. Saía do fundo da garganta de, certamente, um homem, e um homem muito contrariado.

   ─ AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAh, seu maldito, tire as mãos imundas e ridículas do carrinho da minha filha, seu imbecil, seu, seu... – era tarde demais para o baixinho. Ele já estava no chão tapado de poeira e folhas secas antes que Sherlock desferisse o primeiro soco na cara dele.

   ─ Eu vou te processar, cretino – o nocauteado ainda teve a audácia de ameaçar.

   ─ ME processar?! Você só pode estar brincando! Publica mentiras sobre a minha vida no seu jornalzinho de quinta e tem coragem de falar em processo, mas é um imbecil completo! – Sherlock praticamente atirou o peito dele contra o chão, soltando a gola da sua camisa e começando a se levantar. Várias pessoas olhavam em nossa direção, enquanto outras já tinham perdido o interesse, com o final da briga.

   ─ Você sabe quem é ele, não é mesmo, Claudia? – agora Sherlock se dirigia a mim, é claro. Ele parecia mais velho, cansado, e ainda muito zangado ─ Diz pra mim que você investigou a vidinha dele?

    Eu? Se eu o investiguei? Por que eu faria isso?

   ─ Esse é James Moriarty, garota! – de novo Sherlock levantava a voz, enquanto Moriarty erguia-se, ficando apoiado num joelho só, sorrindo seu sorriso de palhaço louco outra vez. O nome me pareceu vagamente familiar naquela hora. Até que um insight me veio, como o clarão dos farois de um trem veloz.

   



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