POV-Delphine
Definitivamente, beber não foi uma boa ideia.
“Você tem merda na cabeça, Delphine?” A voz de Felix soou tão horrível quanto o balanço do carro. Ele dirigia apressado para chegar ao aeroporto, e eu só queria Cosima de volta.
“Foi só um whiskynho, Fe!” Minha cabeça virava.
“Foda-se, sua louca! Você tá grávida, não era para beber porra nenhuma.” Gritou impaciente.
“Não bebo porra, isso é com você!” Retruquei sem pudor.
Seus olhos negros expandiram-se em resposta à minha infeliz piada. Meu humor não é tão cru assim, entretanto, mal percebi as palavras saindo de minha boca.
“Essa foi boa. Pesada, mas foi boa.” Sorriu indignado.
Ao estacionarmos o carro, caminhamos em passos rápidos até a entrada.
Uma de minhas coisas preferidas sobre viajar na primeira classe é ficar embriagada no lounge VIP, porém, graças ao meu atraso, tive que passar esta parte. Fiz o check-in e despachei minha bagagem.
De longe avistei Scott, quem estava apreensivo e exageradamente ansioso. Paul lhe fazia companhia.
Sou capaz de matar meu ex, quer dizer, em um contexto sóbrio, talvez o mataria, mas estou muito alterada para tal feito doloso.
“Delphine! Onde você estava? Temos que embarcar agora!” Scott tinha um timbre extremamente irritante, eu seria capaz de mata-lo também.
“Longe dele...”Apontei meu indicador na direção do homem que um dia amei, “Paul, o que faz aqui? Vá embora, você já fez muito estrago por hoje.”
Todos olharam-me surpresos por minha falta de classe.
“O que está acontecendo?” O Nerd perguntou confuso.
“Nada, Scotty, vem aqui.” Felix puxou o amigo pelo braço, retirando-o do espetáculo que seria minha legendária briga com o pai de meu filho.
“Você tá bêbada?” Odeio o som que sua voz tem.
“Vá à merda, Paul! O que você está fazendo aqui? O que você estava fazendo no meu hotel?” Eram tantas perguntas repletas de curiosidade e raiva, pude sentir os pelos de minha nuca arrepiarem.
“Conversaremos sobre isso quando chegarmos em Toronto.” Respondeu.
“O que? Você pensa que vai comigo para o Canadá?” Gargalhei sarcasticamente, “Não ouse me desafiar, Paul.”
“Não acredito no quão irresponsável você está sendo. O filho também é meu, você não tem o direito de encher a cara na gestação.” Afirmou ao aproximar-se.
“E você não tem o direito de intrometer-se na minha vida. O que estava fazendo no hotel, Paul? Me responda antes que eu acabe com você aqui mesmo!” Ameacei antes de ser interrompida por Felix.
“Pessoal, vocês tem que entrar agora.” Informou irritado.
“Onde está Cosima?” Questionei furiosa.
“Ela não atende o celular, talvez já esteja lá dentro.” Scott disse ao sacar seu passaporte.
“Não irei sem ela.” Prontifiquei minha ira descontrolada.
“Ela já deve estar lá, Delphine.” Felix apontou.
“Tá bom, tá bom!” Rendi-me, miseravelmente.
Fe despediu-se dos rapazes e andou em minha direção.
“Você conseguiu falar com ela?” Sussurrei em seu ouvido.
“Delphine, calma! Vá embora, depois você resolve isso.” Respondeu enquanto acolhia-me em seus braços definidos e pálidos.
“Até logo, Piranhas!” Acenou com um sorriso desesperado no rosto.
A primeira classe tem uma área exclusiva na frente do avião. Meu assento era bem no final do corredor, então passei por todos os outros passageiros, Cosima não estava lá. Paul sentou-se ao meu lado, e evitei contato visual por alguns instantes. Scott aconchegou-se um pouco atrás de nós, em outra fileira, próxima ao banheiro.
Encontrei-me observando o ambiente, esperando que Dra. Niehaus aparecesse logo. Ela estava me matando com suas atitudes impulsivas.
“Delphine, coloque o cinto e pare de ficar olhando para trás.” Paul ficava cada vez mais irritante.
“Sério, por que você está aqui? Eu não te quero aqui, ou lá! Não te quero em lugar algum.” Confessei ao penetra-lo com meu olhar mais aterrorizante.
“Você não está em condições para ter uma conversa séria, então resolveremos nossa situação quando chegarmos.” Falhou em sua tentativa de não fazer-me odiá-lo em maior proporção.
O piloto informou à todos que estávamos prestes a decolar.
Mais uma vez, procurei por Cosima, “Para com isso, Del!” Entretanto, fui interrompida pelo repulsivo homem ao meu lado.
“Não me toque!” Exigi ao distanciar-me.
Quando o avião tomou altitude, a comissária nos entregou o menu para o jantar. Escolhi uma salada grega e sopa, sem sobremesa para adocicar minha amargura. Pedi suco de uva, já que não posso tomar vinho.
Esforcei-me para não conversar com Paul e para não ficar procurando por Cosima, então mergulhei em tédio ao decidir qual filme assistir.
O jantar foi servido enquanto meus olhos fixavam-se na tela. A lista de clássicos Franceses estava escassa, por sorte encontrei um dos meus terrores favoritos: “Haute Tension”, o que foi a salvação de meu intensamente estressado espirito. Necessitava de muito sangue e cenas fortes para abstrair minha fúria profunda.
Após pouco mais de uma hora, consegui relaxar. As luzes já estavam baixas. A maioria dos passageiros estavam dormindo em seus confortáveis assentos, os quais ajustavam-se para melhor confortar-nos. Tornavam-se praticamente em uma cama, havia travesseiro e edredom, além da função massagem.
Primeira classe é a única classe.
Durante certo tempo, evitei olhar para trás. Tive certeza de que não encontraria alguém ao lado de Scott, entretanto, para minha súbita surpresa, eu estava enganada.
COSIMA!
Filha da mãe! Vou matá-la!
Céus! Quantos pensamentos assassinos ainda terei hoje?
Soltei-me do cinto e caminhei em direção à ela.
Senti algum ser insignificante segurando-me pelo braço.
Ah, não!
“A senhora precisa sentar. Logo passaremos por uma leve turbulência.” Não sei o nome da mulherzinha, mas eu já a odiava.
“Não tenho medo, com licença.” Removi seus dedos de minha pele e continuei meu caminho até a poltrona de minha amada. Sabia que a comissária seguia-me, porém, não me importei.
“Dra. Niehaus!” Seus olhos gigantes estavam ainda maiores, “Precisamos conversar!”
Ela é tão linda, tão doce, todavia, se encostasse nela, não sei o que faria. Queria dar-lhe umas boas palmadas para aprender a nunca mais abandonar-me.
“Dra. Cormier, a Senhora deveria sentar. Não vê o aviso do piloto?” Ah! Cosima, não provoque-me, pois não aguentará as consequências.
“Senhora, por favor, sente-se.” Não sei quem era mais insuportavelmente irritante, a hippie que amo ou a comissária insistente.
“Não sou SENHORA!” Gritei acordando alguns passageiros.
Sim, exagerei na dose de raiva.
“Delphine, venha se sentar.” Para melhoria de meu descompensado estado, Paul apareceu de repente.
Notei a expressão vazia no rosto de Cosima. Eles estão escondendo algo, e tal fato me faz querer coçar meu corpo inteiro.
“Estou indo! Não encoste em mim!” Disparei um último olhar em Dra. Niehaus, e comportei-me por mais alguns minutos.
Quando meu ex-namorado dormiu e o aviso de turbulência foi desligado, virei-me para encarar o escárnio de minha vida. E para minha sorte e azar dela, Cos não estava em sua poltrona. Procurei pelo sinal do banheiro, estava ocupado.
Agora você não foge!
Discretamente, andei até a porta, e esperei ansiosamente para que abrisse sem muita delonga.
Uma fresta de luz tomou conta do pequeno ambiente. Um olhar assustado sucumbiu ao meu querer. Empurrei meu Karma para dentro, e tapei sua suculenta boca com uma de minhas mãos.
“Você vai me ouvir e depois vai explicar o que aconteceu!” Ordenei apoiando-a contra a parede. Ela estava eletrizada por minha energia. Eu a movia tão facilmente, chegava a parecer gozação.
“O que houve? O que Paul te disse?” Perguntei, gradualmente removendo minha mão.
“Delphine! Você é louca!” Gritou.
“Resposta errada, Dra. Niehaus!” Tapei seus lábios novamente, “O que houve com você? Por que foi embora?” Insisti novamente, repetindo o movimento.
“Ele apenas abriu meus olhos, Delphine!” Diminuiu o grosseiro tom em sua voz.
“Como assim?” Indaguei ainda pressionando-a contra o corpo meu.
“Não quero estar com você!” Mentiu descaradamente.
“Não?” Ri de sua pobre performance, “Então você não me deseja mais?” Beijei seu pescoço suavemente, sentindo seus poros abrirem.
“Hum!” Sussurrou.
“Não almeja meu toque?” Invadi a privacidade de seus seios.
“Não te excito mais?” Lambi a pálida pele de seu torso.
“Delphine.” Gemeu por mim.
“Oi, Cos! Estou aqui.” Meus dedos desceram até o zíper de sua longa saia, e encontraram, sem o menor esforço, a entrada para o prazer de minha amada.
Ensopada.
O cheiro de sua epiderme ainda remetia-me o aroma acerejado do mais doce vinho.
“Pare de mentir, Cos!” Pedi enquanto massageei seu liso clitóris.
“Chega!” Empurrou-me com força.
Que merda foi essa?
“Pare de ser infantil, Cosima! Volte pra mim!” Demandei.
“Não, Delphine! Eu não quero.” Ela era uma péssima atriz.
“Eu sei que isso não é verdade.” Lancei-me em seus braços, e como uma ladra na madrugada, roubei de sua boca, um beijo saboroso.
“Você bebeu?” Segurou-me brutalmente.
“Só um pouquinho!” Esclareci.
“Um pouquinho, meu cu! Delphine, você não pode beber!” Soltou-me raivosamente.
“E você não pode me abandonar! Além do mais, senti o gosto de cerveja em sua língua!” Retruquei sem deixar de ter razão.
“Mas eu não estou grávida.” Ok! Ela tinha razão nesse aspecto.
“Por que foi embora?” Perguntei já exausta de não obter explicações.
“AH!” Suspirou apreensiva.
“Você me ama! Pare de fingir que não, pois isso é simplesmente patético.” Aproximei-me lentamente.
“Eu te amo, Delphine! Caralho, eu te amo pra porra! Mas não quero ficar com você” Suas palavras não faziam o menor sentindo.
“Por quê?” Distanciou-se de mim, e ali já pude prever que nossa conversa estava prestes a acabar.
“Porque não quero ser mãe de um filho que não é meu.” Partiu.
Sumiu.
Evaporou.
Partiu não apenas em presença, mas em meu coração também.
Por mais que suas palavras fossem desonestas e tão cheias de aversão, feriram-me feito espada afiada em carne afilada.
Fechei meus olhos por alguns breves segundos. Respirei fundo. Lavei meu rosto, olhei para o espelho. A mulher que encarava-me estava em uma completa bagunça interna, cuja a qual expelia em sua aparência não tão agradável.
Onde errei?
Ela realmente acredita que será melhor sem mim?
Merda!
Inventei coragem fictícia e voltei à minha poltrona. Paul dormia de boca largamente aberta.
Que repugnante!
Logo sonhos mesquinhos privaram-me do sofrer.
Não entendo o porquê é tão difícil ser feliz. Às vezes até penso que a felicidade seja apenas um mito, uma lenda urbana, um antigo folclore mal explicado.
O voo de Rhode Island até Toronto não leva muito tempo. Geralmente demora duas horas, entretanto, por fatores climáticos, a viagem durou pouco mais de três.
O relógio marcava 21:00 quando aterrissamos.
Ao sairmos da área de desembargue, fomos recepcionados por dois motoristas do Instituto. Cosima e Scott seguiram com um deles, Paul e eu, com o outro.
Eu sabia exatamente onde encontrar Dra. Niehaus, porém estava completamente indisposta para uma visita.
Ao chegarmos em nosso antigo apartamento, senti-me tão vazia quanto a atmosfera daquele lugar.
John nos ajudou com a bagagem e antes de partir, combinamos o horário para o dia seguinte.
“Está feliz por estar de volta?” Paul insistia em uma conversa amistosa.
“Não estou nem ao menos um pouco feliz, Paul.” Desabafei emocionada, “Olha, você sabe o que está acontecendo aqui, certo? Não quero te magoar ainda mais, vá embora, Paul.”
“Delphine, não faça isso. Você é tudo o que tenho.” Implorou ao aproximar-se de minha fragilizada estrutura.
“Eu não te amo, Paul.” Sussurrei.
“Não diga isso! Você me ama, sim!” Ajoelhou-se em devoção à um desfalecido amor.
“Vá embora, por favor.” Acompanhei seu desespero.
“Como te perdi?” Questionou com lágrimas clareando seus olhos cor de mar.
“Não sei, Paul. Realmente não sei.” Auxiliei em sua recomposição, “Hoje você dorme aqui, mas por favor, vá embora amanhã.”
“Depois a gente pode conversar?” Teimou em desistir.
“Sim, pode ser.” E eu, como sempre, senti-me culpada por sua decadência.
O apartamento continuava o mesmo. Os quadros ainda estavam pendurados nas paredes, a cozinha ainda tinha aquela sensação saborosa, a sala permanecia aconchegante, e meu quarto...Bom, meu quarto era a única coisa que havia mudado. Não digo pelos móveis, pois eles ainda eram os mesmos, mas alguma coisa não pareceu boa, ou se quer certa. Talvez eu tivesse mudado tanto no último ano que o lugar onde passei tantos momentos aprazíveis, agora é um ambiente de gravidade desprezível.
Desfiz minha mala, tomei um banho, vesti um pijama confortável, deitei em minha cama e liguei para Leekie.
Conversamos durante longos minutos. O sono já invadia-me sem piedade, e ao terminar a ligação, fui em busca por um copo de água. Paul dormia no sofá, ainda estava com o rosto inchado de tanto chorar. Era impossível não sentir dó, mas sentir dó era inadmissível.
Uma antítese atrás de outra.
Pela manhã, despertei sem a ajuda de meu alarme. Estava mais do que preparada para trabalhar e distrair-me na ciência, a única coisa que tenho certeza em minha vida.
Vesti um terno cinza, desenhei um rosto mais belo com minha maquiagem, borrifei meu perfume, e ensaiei meu melhor sorriso.
Quando cheguei à sala, Paul não estava mais lá.
Senti-me aliviada demais para arrepender-me de expulsá-lo.
Fiz um café na máquina, e senti todas minhas células voltarem à vida.
Sei que a cafeína não é aliada da gestação, entretanto, eu necessitava de um expresso.
John chegou na hora e dirigiu-me até o Instituto.
Fui recepcionada por Gracie, a assistente de Aldous.
“Querida! Como vai?” Abracei-a sem hesitar.
“Dra. Cormier, muito bom vê-la novamente.” Disse ao ajustar minha credencial.
“Quanta formalidade, Gracie!” Sorri fazendo-a rir.
“Venha! Dr. Leekie te espera.” Guiou-me em um caminho que eu já conhecia.
Tudo aparentava ser o mesmo, como se o tempo não tivesse passado. Os funcionários eram familiares, a segurança, a atmosfera, até mesmo a sensação de poder.
“Delphine!” A voz ainda era rouca e elegante.
“Aldous!” Envolvi-me em um abraço carinhoso, “Você aparenta estar tão bem, sua cor está melhor, até mesmo sua voz.” Apontei enquanto o analisava.
“Sim, os bernes estão fazendo efeito.” Afirmou sorridente.
“Gracie, por favor, quero dar uma olhada nos relatórios dele.” Demandei com autoridade.
“Já começou com tudo, né?” Brincou com minha dominação.
“Vocês ainda não viram nada.” Retruquei enaltecendo todo meu engenho.
A assistente partiu em busca dos relatórios enquanto Leekie mostrava-me o novo laboratório.
“Estou sem palavras, quanta evolução!” Expressei maravilhada com tanta tecnologia.
“Nem ao menos um centavo foi poupado, esse provavelmente será nosso último projeto juntos.” Senti uma imensa vontade de estapeia-lo, porém, mantive a calma.
“Você é tão desnecessário às vezes.” Pronunciei com tom de desaprovação.
“E como você está? Como vai Paul?” Perguntou esperançoso.
“Estou bem, vivendo minha vida como posso. Paul e eu não estamos mais juntos, mas...” Pausei, dramaticamente, “Estamos esperando um filho.”
“DELPHINE!” Sorriu largamente e veio ao conchego de meus braços, “Parabéns!”
“Obrigada.” Senti as lágrimas prontas para invadir-me.
“Por que vocês não estão mais juntos?” Questionou com olhos não tão animados desta vez.
“É complicado.” Respondi abaixando minha cabeça.
“Eu te conheço! Tem alguém novo, certo?” Interrogou em semblante afirmativo.
“Sim.” Não contive o riso.
“Bom, se você está feliz, estou feliz também. Mas fiquei sabendo que ele veio com você.” Aldous era curioso demais para um homem tão sábio.
“Contra minha vontade.” Declarei.
“Uma pena! Vou pedir para revogarem o convite feito para o coquetel de hoje à noite.” Buscou por seu celular.
“Não será necessário. Sei que você o adora, não tem problema ele vir.” Inocência deveria ser um pecado capital.
“Tudo bem então. Os cientistas já estão chegando. Quero conhecer seus brilhantes alunos, eles já devem ter conhecido o resto da equipe.” Informou animado.
Levou pelo menos dez minutos para que o grupo chegasse ao laboratório. Reconheci os colegas que trabalhavam comigo, entre eles estavam Dr. Silva, Dr. Nealon. Dra. Coady e nossa fiel estagiária, Mud, quem conversava entusiasmadamente com Dra. Niehaus.
Por um breve momento, meu sangue ferveu.
Odeio ser tão facilmente afetada por essa perdição em forma humana.
“Olá Doutores!” Aldous tomou a fala, “Espero que não tenham assustado Dra. Niehaus e Dr. Smith. Temos muito trabalho pela frente e aspiro por feitos grandiosos. Por favor, vocês dois venham aqui.”
Scott foi o primeiro à movimentar-se, ele tinha o dom da esquisitice, era adoravelmente desajeitado.
“Por favor, apresente-se.” Leekie conduziu o rapaz ao êxtase.
“Olá pessoal! Me chamo Scott, fui aluno de Dra. Cormier.” Olhou em minha direção orgulhosamente, “Gosto de Game of Thrones, Star Wars e felinos.”
Ele é uma negação social.
“Obrigada Scott! Agora você, mocinha.” Era gracioso ver Cosima calculando seu espaço para omitir o quão desastrada é.
Eu sorria sem intenção.
“Hey! Sou Cosima e também fui aluna de Del...” Tossiu embaraçada, “Dra. Cormier, também fui aluna de Dra. Cormier.”
Ó céus! Como amo este desastre errante.
“Dr. Smith e Dra. Niehaus são formados pela Universidade Brown. Ambos atingiram notas extraordinárias, e formaram-se com honras pela universidade. Também foram os criadores do melhor projeto relacionado com o que estamos prestes a trabalhar.” Acrescentei consumida pelo orgulho de meus alunos.
“Gostaria de lembra-los que nosso trabalho será árduo. Estamos focados no experimento por pelo menos seis anos, já é hora de conclui-lo.” Dr. Leekie declarou agitado, “Silva, por favor leve-os para conhecer o resto do Instituto.”
“Eu posso fazer isso, Doutor.” Mud prontificou-se sem a menor hesitação.
A Cretina só pode estar brincando comigo.
Fique longe de Cosima em nome de seu bem estar.
“Tudo bem, minha querida.” Logo os estagiários partiram em busca por mais conhecimento.
“Bom, pessoal, vamos até minha sala para assinarmos os termos e combinarmos nossa agenda.”
Meu mentor passou o resto da manhã até o final da tarde falando sobre seus planos, desejos e necessidades. Apresentou as cobaias humanas, os contratos e revisou todo o projeto quando os estagiários voltaram do pequeno tour.
Pude sentir Dra. Niehaus, de tempos em tempos, analisando-me com esfera nostálgica.
Também sinto sua falta, Cos.
Após o termino da reunião, Gracie entregou-me a chave de meu antigo carro. Tanto o automóvel quanto meu apartamento pertenciam ao Instituto, nunca tive uma só preocupação ou problema relacionado à impostos ou burocracias.
Assisti meus ex-alunos irem embora. Logo os reencontraria no coquetel, o que lembrou-me do fato de não ter muito tempo para preparar-me. Sei o quanto Leekie odeia atrasos.
Ao chegar em casa, procurei por algo na geladeira. Gracie havia solicitado que os funcionários abastecem os apartamentos com tudo o que há de melhor. Então selecionei um queijo Camembert e Prosciutto Parma. Saboreei cada mordida com prazer. Busquei pelo suco de Cranberry e engoli cada gota de maneira abusiva.
A gravidez deixa-me faminta.
Não apenas por comida.
Entrei no chuveiro e deixei que a água quente amenizasse minha tensão. Lembrei-me de meu último banho nos Estados Unidos. Cosima lavou-me a pele e a alma. Fui capaz de relembrar cada sensação que ela me faz sentir. A suave agressividade do beijo, a atormentada calmaria de seu toque, a brusca leveza de seu corpo, o doce de sua chegada e o amargo de sua despedida. Ah! A forma com a qual ela desmistifica minha crença e testa minha fé. Como ela embaraça-se em meu laço, cora em minha presença e ensopa-se ao sussurro meu.
Antes que pudesse notar, meus dedos já estavam dançando em meu íntimo.
Meu celular tocava uma música tão agregadora à situação, “Ain’t No Sunshine”, na versão do magnifico John Mayer.
O solo da guitarra trouxe a silhueta de minha amada.
O harmônico baixo e seu grosseiro peso, lembrou-me dos movimentos arrebatadoramente sensuais que os quadris de Cosima têm.
A bateria marcou o compasse da batida de meu coração.
A voz rouca no blues brutal era uma visão surreal do que minha cabeça só imaginava.
Cosima Niehaus rebolava somente para mim.
Seu corpo movia-se no ritmo dado pela melodia. Seus braços e ombros acompanhavam lealmente.
Ela sorria para mim, eu gemia para ela.
As gotas caiam sobre sua anatomia dançante.
“Você é linda!” Falei ao fantasma em minha frente.
Nua e perfeita, minha amada permitia-me um estudo aprofundado sobre os conteúdos de seu corpo. A água escorria por seus redondos seios fartos. Seus glúteos firmes e abusivos não paravam de atentar-me, feito terrorista, Cosima exibia seu dom de instigar uma guerra dentro de mim. Seus músculos definidos, definiam meu apogeu escabrosamente fatal.
“Goza pra mim.” O fantasma reproduzia uma antiga fala de sua vida passada.
Sem intenção ou preparação, em prostração e ostentação, regozijei cada partícula efetiva do afeto indiscreto que o choque ao toque, de ataque certeiro causa-me em efeito curandeiro. E sem ao menos estar presente, deixa meu sangue quente, fervendo e ardendo por algo maior que o tempo desalento, um tanto desatento não é capaz de sarar ou curar.
Após alguns minutos, decidi aprontar-me rapidamente.
Optei por algo mais formal e discreto. Um terno preto com detalhes em branco. Maquiagem suave e perfume forte. Escovei meus cabelos, e entendi o tão comentado brilho da gravidez.
Estou linda, e essa sensação de amor próprio é de alto nível narcisista.
Sou muitíssimo pontual, porém acabei atrasando-me quase trinte minutos. Pude até prever o sermão ditado por Aldous.
O coquetel já havia começado. Os garçons passeavam pela área exterior do Instituto carregando bandejas repletas de canapês, queijos, massas finas, e muito champanhe, vinho e whisky.
Por um errático e egoísta instante, odiei estar grávida.
Havia uma banda tocando covers em Jazz e Blues. Pessoas dançavam em resposta à mistura de álcool com uma boa música.
Investiguei o local, avistei Leekie com o restante dos cientistas, quer dizer, nem todos estavam lá. Mud e Cosima faziam de tudo para levar-me à loucura.
Feito uma maníaca, estudei os arredores sem que ninguém percebesse minha presença. E bem ao meio da pista de dança, lá estava elas. Segui caminho em direção às sorridentes garotas.
“Dra. Niehaus, posso falar com você um instante?” Solicitei sua atenção.
“Dra. Cormier, é algo relacionado ao trabalho?” Ela sabia exatamente o que eu queria.
“Sim, porém é algo confidencial.” Observei as curvas perfeitas de seu corpo naquele lindo vestido vermelho, “Venha agora!”
Seguiu-me feito uma boa garota. Paramos em frente ao banheiro.
“Entre!” Ordenei.
“Não, Delphine, eu sei o que você quer.” Cruzou os braços feito uma criança.
“Cosima, não desafie meu desiquilíbrio.” Avisei antes de começar com o caos.
“Okay, okay.” Adentrou o perfumando toalete.
Lacrei a porta sem a mínima preocupação de evidenciar o crime que estava prestes a cometer.
“Não adianta você fugir, não vou desistir de você! Fale o que houve!” Virei-me para encara-la.
“Cara, você é insuportável, sabia?” Declarou rudemente, “Eu apenas não quero mais você.”
“E já está indo pra outra? Mud? Jura?” Questionei e assisti a expressão de contentamento no seu rosto que corava em resposta ao ciúme meu.
“Ria de minha desgraça, Dra. Niehaus.” Aproximei-me gradualmente.
“Fique longe de mim!” Protegeu-se com as palmas de suas mãos.
“Tem medo do que, Cosima?” Perguntei em tom rouco.
“Não de você.” Revelou força em suas palavras, mas fraqueza em suas expressões.
Acurralei-a entre a parede e a pia. Levei uma mão à estrutura e a outra à sua cintura saliente.
“Fale, Cosima. O que te fez ir embora?” Pressionei-a com mais agressividade.
“Paul vai te pedir em casamento.” A resposta não surpreendeu-me.
“E o que te leva a pensar que aceitarei?” Questionei degustando sua pele.
A música ao lado de fora era alta, reconheci a melodia e a letra, “Come Undone”, por Isobel Campbell e Mark Lanegan.
“Ele me pediu para dar uma chance à vocês dois.” Tão pateticamente insegura.
“Não faça mais isso!” Suguei seu sabor, ela gemeu, “Entendeu?”
“Si-Sim!” Ergui seu vestido.
“Então peça desculpas pelas mentiras contadas ontem e hoje.” Ordenei enquanto minha língua espalhava saliva por sua epiderme aromática.
“Desculpe por falar que não te queria, que não queria nosso filho.” Adoro quando ela me obedece.
“Peça desculpas pela desnecessária aproximação à Mud.” Desci parcialmente em seu corpo, ela perdia o controle tão facilmente.
“Ela é só uma possível amiga.” Explicou.
“Nah! Nah!” Torci sua lingerie, “Nada de amigas, Dra. Niehaus.”
“Deixa de ser doida, Delphine. Ela nem é afim de mulheres.” Tentou convencer-me, mas falhou.
“Cosima, não discuta comigo.” Ameacei olhando em seus olhos cor de Júpiter.
“Cala boca e me beija logo!” Com sua mão, puxou-me pelo pescoço e saboreou do beijo meu.
Nossos dedos e braços aventuravam-se em nosso território particular.
O beijo entre nós é feito compasso e harmonia. É o gin e a tônica, é o saxofone com o piano, o baixo com a bateria. É como a adrenalina do perigo maliciosamente mafioso, que explora e valora cada segmento, fração e pedaço de tantos sentimentos indescritíveis, até mesmo para poetas marinheiros navegando em um vasto oceano de palavras desconhecidas, significando as mais selvagens e silvestres sensações de um amor domesticado.
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