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História SHIELD's Most Wanted - Just One Yesterday


Escrita por: AsgardianSoul

Notas do Autor


Eu sei que a maioria de vocês quer me bater e o restante quer minha cabeça por demorar novamente, mas compensarei com um grande capítulo. E com uma participação bastante especial, que trará outra pessoa ainda mais especial nos próximos capítulos. É, meus migs, a coisa tá crescendo. **escorre uma lágrima no canto do olho**
O capítulo de hoje é inspirado na música dessa bandinha que marcou muitas adolescências por aí que eu sei: Fall Out Boy. Save Rock And Roll é puro gold!
Bora ver como a Dorothy vai se virar? Já adianto que ela vai embarcar em altas aventuras! :P
Boa leitura!

Capítulo 10 - Just One Yesterday


Fanfic / Fanfiction SHIELD's Most Wanted - Just One Yesterday

As roupas balançavam no varal, secando ao calor do sol. Para sorte de Dorothy, alguns moradores do interior de Providence mantiveram o hábito da secagem natural. Ela continuou escondida atrás do poleiro das galinhas, espiando através da tela se não havia ninguém em casa. Uma ave bicou seu dedo e ela praguejou entre os dentes. Vou lembrar de você da próxima vez que comer nuggets. Uma mulher baixinha saiu na janela, olhou ao redor, depois desapareceu novamente. Era sua chance de vestir roupas limpas. Ainda usava as mesmas desde que saiu do Canadá, e isso foi há mais de três dias. Não podia voltar para a residência dos Turner, pois àquela hora a polícia já teria sido alertada dos tiros e achado os corpos. Também não podia comprar, porque o dinheiro ficou no bolso da jaqueta que deixou na floresta, junto com o celular e documentos falsos. E Coulson não estava brincando. A cidade foi cercada por agentes federais nas últimas horas.

Pé ante pé, ela chegou até o varal. Agarrou uma saia longa, uma blusa de mangas compridas e roupas íntimas. Em seguida, retornou para detrás do poleiro aos pulos. As galinhas cacarejaram, desconfiadas. As roupas íntimas ficaram confortáveis em Dorothy; teve que arrebentar alguns pontos da saia para que subisse; e a blusa ficou folgada demais. Soprou ao ver-se metida num figurino hippie. Enrolou os cabelos úmidos acima da cabeça, na tentativa de que ficassem longe do tecido. O sol da tarde ajudaria a seca-los. Espiou novamente a casa. Precisava de mais coisas. Vozes exaltadas vieram de seu interior. Estavam discutindo, algo sobre a demora de levar o cachorro no veterinário. Uma confirmação forçada se seguiu e alguém saiu de carro minutos depois.

O estômago dela roncou. Era humanamente impossível ficar mais tempo sem comer. A mulher precisava sair de casa, ficar fora por um longo tempo. Dorothy teria que criar uma distração, das grandes. Reparou no quintal simples. Apenas um tanque de lavar roupa, brinquedos espalhados pela terra, uma horta e o poleiro cheio de galinhas. As galinhas!, sua mente gritou. Sorriu largamente e esfregou as mãos. Correu para a frente do poleiro, lutando contra a barra da saia que se enroscava em suas botas, escancarou a porta e voltou para sua posição. Nenhuma delas saiu. Massageou as têmporas. Medidas drásticas teriam que ser tomadas. Respirou fundo e reuniu toda força que restou para bater na tela. O poleiro estremeceu. Uma galinha se assustou e pulou do ninho. Em instantes a cacofonia insuportável de dezenas delas em fuga ecoou.

Pareceu funcionar. A mulher saiu da casa, desesperada, largando o avental e começando a correr atrás de uma galinha ou outra. Deitada entre o capim, Dorothy observou que não tinha mais ninguém lá dentro, caso contrário, também teria saído para ver a confusão. Então, pôs-se de pé e correu para a casa. Um cheiro de assado vinha do forno. Sem pensar duas vezes, alcançou a primeira tigela que viu a sua frente, abriu o forno e a encheu com pedaços de carne. Também pegou uma cesta de pães na dispensa. Enfiou maçãs dentro do sutiã e bananas no elástico da saia. Passos ecoaram próximo da janela. A mulher estava voltando. Correu para o corredor e chegou na sala. Antes de cruzar a porta da frente, pegou o celular deixado no sofá. Por hora, estava salva.

* * *

A massa do pão descia com dificuldade pela garganta de Dorothy, mas não se importava. Comeu todo o assado e estava saboreando o último pão da cesta. Nunca comeu tanto na vida, ao mesmo tempo em que nunca sentiu tanta fome. Não muitas frutas restaram do desespero da fuga. As maçãs foram mais resistentes, diferente das bananas, muito maduras, que se esmagaram no elástico da saia. O cheiro de banana madura impregnou em sua pele, por mais vezes que tenha se lavado no rio. Esfregou o último pedaço de pão na tigela do assado e enfiou na boca cheia. Deus, sei que pequei ao roubar o pão alheio, mas o Senhor precisa compreender minha situação, pensou, olhando para cima. Coloque metade desse pecado na conta do Coulson.

Quando abaixou o olhar, uma mulher gorda estava sentada relaxadamente a frente dela, com as costas apoiadas no tronco de uma árvore. Uma espiral de fumaça saia de sua boca e encobria parte do rosto sardento. Dorothy engoliu sem terminar de mastigar, achando a situação engraçada, pois sempre imaginou Deus daquela forma, além de carente de netos.

— Quem é você mesmo? Ah, aquela garota que foi na igreja duas ou três vezes, para flertar com o coroinha — falou a velha, de olhos semicerrados para ela.

— Deus, você tem uma memória ótima! — elogiou. A outra revirou os olhos. — Aquele garoto foi difícil. Ele queria ser padre. — Queria.

— Você é uma filha rebelde, não devia ter lhe dado uma segunda chance em Praga. — Maneou a cabeça severamente. — Ou em Nova York ou Canadá, ou mesmo aqui. Filha, você é cilada.

— Sempre te imaginei com essa aparência rabugenta, com dor nas costas, tendo que deixar seus filhos nas mãos de estagiários... E a paz mundial? Está explicado!

— Querida, eu não sou matéria. Estou aqui dessa forma simplesmente porque incorporei a imagem que você tem de mim. — Apagou o cigarro na terra. — E mais respeito. Eu cuido muito bem dos meus filhos!

— Estava cuidando bem quando me deu pais falsos? — acusou, amarga.

— Fury, aquele outro rebelde... — resmungou. — Isso eu não pude consertar, então cuidei para que você tivesse uma boa criação. — Dorothy foi obrigada a concordar. — Viu? Disso você não pode reclamar. O resto você que causou exercendo seu livre arbítrio. Ai, eu sabia que essa ideia não daria certo no momento em que a criei...

— Quem são meus pais verdadeiros?

— Não está na hora de você dormir, garota? — lembrou, voltando a ser rabugenta.

— Eu nunca falei isso para ninguém, mas acho que para o senhor posso falar. Se bem que, o senhor já deve saber... — A outra a encarou com outro olhar severo. — Ok, eu tenho problemas para dormir. Muitos podem dizer “ah, mas você parece tão feliz, é tão extrovertida”, sim, eu ajo como se tivesse um parafuso a menos, mesmo, só que isso é como se fosse um escudo. Quando ninguém está olhando, os fantasmas ressurgem e os pesadelos perseguem minhas poucas horas de sono.

— Sei de todos eles. Sei o peso dos seus pecados.

Dorothy levou as mãos ao rosto, aos prantos. Se chorar desabafa, hoje ela iria dar vazão a um monte de coisa.

— Eu não queria que tudo isso acontecesse — confessou ela, sincera. — Deus, eu não queria machucar todas essas pessoas. Eu não quis explodir meus colegas em Praga, eu não quis magoar Aidan, eu não quis causar a morte das pessoas que me criaram...

— Você não é culpada disso, filha. Às vezes tem que doer para curar. Mas eu sempre estarei aqui para amparar meus filhos, mesmo eles sendo uns cabeças duras — afirmou, longe do tom rabugento. — Além do que, tudo tem um propósito.

— Uma missão, não é? — A outra balançou a cabeça positivamente. — Bucky deveria estar aqui, ele entende melhor de missões. Ele foi um soldado da Segunda Guerra e tem um braço de metal, é uma coisa muito louca, você tem que ver...

— Eu sei, eu sei, filha — interrompeu-a, rindo. — Aquele também é outro que me dá trabalho. Vive se martirizando. Se ele fizesse ideia do coração que tem...

Um breve silêncio se formou. Os sons noturnos da floresta se aquietaram e o frio se intensificou. Dorothy cruzou os braços sobre o peito e bocejou longamente.

— Deite-se. Não vai querer dormir sentada, certo? — Ela obedeceu, se encolhendo em posição fetal. O sono logo veio. Sabia que quando acordasse, Deus não estaria mais ali.

— Deus, eu realmente esperava que você fosse aparecer como o Morgan Freeman — sussurrou, antes de se entregar de vez.

Picadas. Algo redondo entre os braços. Um espirro. Dorothy acordou sobressaltada, depois de dormir feito uma pedra. Demorou alguns segundos para tomar conhecimento de sua situação. Pela sombra das árvores, já estava próximo do meio-dia. Mais picadas, então se deu conta que formigas circulavam por baixo de sua roupa, atraídas pelas bananas amassadas. Levantou-se às pressas e um pão escapou de seus braços. Eu dormi abraçada... com um pão? Arrancou todas as roupas, o corpo ardendo em chamas, e mergulhou no rio. A água gelada anestesiou a dor e despertou de vez seus sentidos. Mais insetos foram atraídos pelos restos de comida deixados por ela.

As lembranças de antes de acordar foram retornando aos poucos. Lembrou-se de ter comido até a barriga doer. Não conseguiu comer tudo que pegou, então deixou os restos na tigela. Encostou-se num tronco de árvore e pegou no sono. Depois se recordou do sonho mais estranho da sua vida. Voltou para o local, sacudiu as roupas e as vestiu novamente. Era nojento, admitiu, mas não havia jeito. Na confusão, o celular acabou caindo no chão. Segurou-o entre as mãos, pedindo a todos os deuses para não ter se danificado. Felizmente, estava funcional, porém com pouca bateria e fora de área. Teria que se apressar para chegar à cidade rapidamente, caso quisesse executar o primeiro passo de seu plano. Seria um risco necessário.

As botas da ex-agente valeram cada centavo. Apesar de tudo que sofreram, os solados ainda não descolaram e mantinham seus pés aquecidos. Caminhava devagar, tentando demonstrar naturalidade. Sentou-se em um dos bancos da pracinha em frente ao hospital. Uma viatura passou em frente. Ela abaixou a cabeça, mexendo no celular. O único motivo provável do aparelho ainda funcionar era que a dona deveria estar pensando que o perdeu pela casa. A bateria apontava perigosos 20%. Discou, incerta sobre os últimos dígitos e se ele ainda mantinha o mesmo número, depois de tanto tempo. Estava chamando. Limpou a garganta e entoou o tom mais aproximado que pôde de preocupação. Identificou-se como uma enfermeira.

— Como é? — questionou ele, aturdido.

— Desculpe mesmo ligar, mas ela me fez prometer que avisaria ao senhor — explicou ela, abalada.

— Olha, eu estou em Nova Jersey no momento. Não pode avisar um familiar?

— Ela se recusa a falar com outra pessoa. — Fez uma pausa dramática. — O estado dela é grave.

— Qual é o endereço? — pediu, por fim.

— Hospital Municipal de Providence, Rhode Island. — Ouviu um suspiro exasperado.

— Ok, diga a ela que estou indo para aí — informou ele e desligou.

Dorothy quase deu pulinhos. Nem mesmo seu cabelo frisado ameaçou sua alegria. Descartou o celular no caminhão de lixo parado na esquina. Ele estava em Nova Jersey, não muito longe. Seria questão de tempo até chegar. Do jeito que ficou abalado, pegaria o primeiro voo, o que levaria no mínimo quatro horas.

A ex-agente era mestre em ocupar seu tempo livre. Repassou mentalmente todas as séries atrasadas e montou uma lista das coisas que iria fazer depois que provasse sua inocência. Cheiro de baunilha a desconcentrou. Praguejou mentalmente. Não podia sair dali para roubar outra coisa, pois ele chegaria mais cedo ou mais tarde. Tinha de estar pronta para uma abordagem discreta e eficiente. Seu estômago roncava tão alto que ficou com medo das pessoas repararem de dentro do hospital.

O fim da tarde trouxe a visão que ela tanto desejava. Ele chegou, andando a passos largos em direção ao hospital. Ela observou por um momento como ele não mudou quase nada através dos anos. As roupas informais que combinavam casualmente ainda caíam bem nele. Uma jaqueta preta e óculos escuros completavam o visual. Conforme ela se aproximava, reparou que ele ganhou músculos, e era maior visto de perto do que voando pelos céus de Washington D.C.

— Sam — chamou ela. Ele parou, virou-se devagar e tirou os óculos, incrédulo.

— Dorothy, o que faz aqui? Você é uma mulher procurada — exclamou. Ela levou o indicador aos lábios. — E não pense que vai usar a Courtney para se esconder.

— A Courtney está no Canadá e passa muito bem. Eu inventei toda essa história para te atrair até aqui — confessou. Prendeu a respiração.

As linhas de expressão de Sam se tornaram aparentes. Aparentes demais. Ela tirou uma mecha do cabelo de trás da orelha para tentar cobrir o rosto, prevendo a cena.

— Pois perdeu seu tempo — afirmou, entre dentes. — Não vou me envolver nos seus esquemas.

Ele deu o primeiro passo para ir embora, só que ela interrompeu a passagem.

— Dorothy, por favor, não me obrigue a ser rude.

— Me ouça, pelo menos.

— Não! Da última vez que estivemos juntos em alguma coisa, fui parar na delegacia.

— Sam, por favor — implorou, segurando-o pelos ombros. — Você é minha única esperança, e nem estou dando uma de Princesa Leia. Eu não agiria dessa forma se não precisasse realmente de ajuda.

O semblante de Sam se suavizou um pouco. Ele respirou fundo, indeciso. Dorothy sentiu que ele estava cedendo.

— Ouça, Dorothy, eu estou um pouco ocupado no momento. Não quero me meter em encrenca — argumentou. Ela apertou-o ainda mais, demonstrando que não desistiria tão fácil. — Tudo bem, tudo bem. Eu vou te ouvir, o que não garante que vou te ajudar.

— Sam, você não vai se arrepender! — Abraçou-o com força, logo sendo rejeitada.

— Nossa, que cheiro é esse? — Fez uma careta. — Cheiro de... de... Banana?

— Sou eu. — Ele levantou uma sobrancelha. — Longa história. Vamos para um motel que eu te conto tudo.

Ele recolocou os óculos e a seguiu para o motel mais barato da cidade, não longe dali. Quanto mais relento, menor segurança. Eles nunca exigiriam identificação. Dorothy dobrou a saia até a altura das coxas, enfiou a blusa de lã debaixo do sutiã, deixando boa parte do corpo à mostra. Jogou a maior parte do cabelo para a frente do rosto e enrolou uma mecha no dedo indicador. Sam se aproximou da portaria e alugou um quarto. O recepcionista de pele oleosa exigiu pagamento adiantado. Sam deixou algumas notas no balcão e recebeu as chaves, sem sequer receber um olhar. Os dois passaram pela portaria e cruzaram o pátio de cimento precário.

Chegando no quarto, Sam trancou a porta, retirou os óculos e massageou as têmporas, exibindo cansaço. Ela reajustou as roupas e se sentou na cama redonda. Os olhos dele pairaram sobre ela como um juiz prestes a dar o veredicto, então ela desabafou. Contou desde a missão malsucedida de capturar Bucky até o assassinato dos pais e como está sitiada na cidade. Não omitiu nada, sequer a sobrevivência da SHIELD. Sam ouviu tudo com um silêncio esmagador, às vezes andando de um lado para outro, outras vezes parando para assimilar. Dorothy não sabia o que esperar dele, sinceramente. Só restava cruzar os braços e aguardar.

— Eu estou em choque — revelou ele, por fim. Sentou-se na cama e recostou-se na cabeceira. — Para começar, eu nem sabia que a SHIELD continuou existindo. Digo, eu sabia que Fury iria reconstruí-la de um jeito ou de outro, só não imaginava que... Meu Deus. — Coçou o cavanhaque. — Será que Steve está sabendo disso?

— Duvido muito — afirmou ela, impaciente. — Ouviu o que eu disse, principalmente a parte que estou sitiada? — Ele permaneceu perdido em pensamentos. — Sam!

— Desculpe, só estava tentando entender o que eu tenho a ver com tudo isso — retrucou, exigente. — Não seria mais fácil chamar seu novo amigo, o Soldado Invernal? Ele destruiria aquele cerco com uma mão nas costas.

As farpas das palavras dele a atingiram como se fossem materiais. Ela se perguntou se ele ainda guardava mágoa pelo Soldado Invernal ter arrancado uma das asas de seu traje e o empurrado para uma queda livre fatal. Dorothy sabia do que aconteceu naquele dia por boatos, fitas se segurança e vídeos da internet. Assistiu tudo até decorar cada sequência. No momento, aquilo pareceu ocupar sua mente das frustrações pessoais.

— Bucky está em uma missão importante. Não tenho o direito de atraí-lo para isso.

— Bucky? — Ele repuxou os lábios para cima, insinuativo. Ela revirou os olhos. — Enfim, novamente, por que estou aqui?

— Qual parte do estou sitiada você não entendeu? — Ficou de pé, exasperada. — Preciso de ajuda para voltar a ação. Minha inocência não vai se provar sozinha!

— Então, não seria melhor se entregar e conversar pessoalmente com a SHIELD? Continuar fugindo não está ajudando.

— Eles não vão me ouvir, e Coulson só devolverá minha liberdade se eu entregar Bucky, o que está totalmente fora de cogitação.

— Ele é um assassino — declarou, impassível.

— O Soldado Invernal é, não Bucky — esclareceu, na defensiva.

— Continue com seu ponto de vista. — Levantou-se, indo para a porta. Ela foi até ele, os nervos perto de um colapso.

— Sam, eu respeito sua opinião sobre o Bucky e tudo mais, mas sou eu quem está pedindo sua ajuda. Sei que não posso apelar pelos velhos tempos, você sabe. Então, estou apelando para sua consciência. Se você sair por essa porta, eu estarei condenada.

Sam revirou os olhos, com a sensação de que estaria cometendo um grande erro ao comprar essa briga. Comprimiu os lábios, se sentindo numa encruzilhada. Dorothy não podia usar uma armadilha para arrastá-lo para sua guerra. Por outro lado, era Dorothy, ex-namorada do seu parceiro Riley e velha amiga da Courtney, antes seu parceiro de academia militar. Apesar dos vacilos, ela sempre fez de tudo para ajudar os amigos. Voltou-se, afetado pelo momento, sabendo que viveria o suficiente para se arrepender dessa decisão.

— Do que você precisa?

Ela abafou um grito de exaltação e avançou para abraça-lo, só que parou ao vê-lo fazendo careta e levantando as mãos, sinalizando para manter distância. Oh, isso.

— Bom, primeiro, preciso de um longo banho, daqueles que restauram a dignidade do ser humano — começou. Estendeu a mão. — Me passa seu celular que vou escrever os produtos de higiene pessoal que preciso que compre para mim, além de roupas novas.

— Estava demorando... — resmungou, entregando o celular. — Também preciso comprar algo para mim, pois deixei minhas coisas em Nova Jersey.

— Relaxa, vou te pagar centavo por centavo quando voltar para Nova Iorque.

A lista de Dorothy acabou saindo maior do que esperava. Considerava gastos consigo mesma como investimento, não despesa. Sam demorou quase uma hora para voltar carregado de sacolas, ensopado de suor e transbordando de resmungos, o maior deles sendo comprar roupas íntimas femininas. Quando Dorothy saiu do banho, ele já estava dormindo na cama. Tinha sido um dia cansativo e a ida às compras contribuiu para seu sono pesado, com direito a roncos. Ela odiava roncos, mas deixou passar dessa vez. Sam estava sendo seu anjo da guarda. Deixou cair a toalha, certa de que o outro não acordaria nem que fosse um meteoro. Vestiu as roupas íntimas novas, que lhe serviram perfeitamente, a camiseta de algodão e a calça de flanela. Bocejou, enquanto desembaraçava os cabelos com a escova. Terminou de penteá-los e logo se deitou do lado oposto. O sono não demorou a chegar.

O barulho do chuveiro serviu de despertador para ela. Virou-se para o outro lado vazio. Os raios de sol vindos da janela terminaram de despertá-la. O chuveiro foi desligado. Minutos depois Sam saiu totalmente vestido, de aparência mais fresca. Lançou um olhar julgador para Dorothy.

— Eu sei que sou linda — brincou ela, a voz um pouco rouca. Passou as mãos pelo cabelo, sentindo-o ressecado. — Inferno.

— Quem bom que a margarida acordou de bom-humor — alfinetou ele. Alcançou o celular, carregou em um site de notícias locais e colocou em frente ao rosto dela.

Polícia fecha cerco à terrorista filiada à Hidra suspeita de assassinar os pais.

A boca dela congelou em forma de o por um bom tempo. A foto abaixo da manchete era do seu antigo visual azul, por sorte. Sam rolou a página, assim sua visão foi capaz de destacar algumas palavras: psicopata, assassinato a sangue frio e monstro. Dorothy deixou seu corpo despencar sobre o colchão e apertou a cabeça entre as mãos. Não podia estar acontecendo.

— Eles estão se esforçando muito, hein — admitiu Sam, coçando a nuca. Ela rosnou alto. — Falando nisso, já bolou o plano de mestre para sair daqui? Vou adiantando que pelo ar não vai ser, porque o aeroporto está em alerta máximo.

— Sequer cogitei isso. Como está sendo feita a fiscalização pelas rodovias?

— Estão exigindo documentação para todos que entram e saem, além de passar o infravermelho em veículos de carga, segundo o caminhoneiro que tomava café na lanchonete, agora pouco. — Ele apontou para um embrulho engordurado e um copo de café sobre o criado mudo.

— Obrigada. — Levantou-se, escovou os dentes às pressas e voltou para comer. Os boatos não a derrubariam. — Mais ou menos eu contava com esses métodos. Coulson deve estar arrumando minha cela com todo o carinho nesse momento. — Cerrou os olhos.

— Não é hora para brincadeiras — retrucou ele, afiado. — Se formos pensar que todos temos uma assinatura de calor...

Dorothy empurrou a comida goela abaixo, subitamente empolgada. Bebeu o resto do café em um único gole, implorando para que ele clareasse sua memória. Ela conhecia cada detalhe do que aconteceu, não podia falhar justo nesse.

— Não — repreendeu Sam, apontando-lhe o dedo indicador. — Você está com aquele olhar de novo! Eu juro que se você tiver pensando em alguma loucura...

— Como era mesmo o nome daquela droga que o Fury usou para fingir a própria morte? — perguntou.

A mente de Sam foi mais rápida do que seu instinto de autopreservação. Tetrodotoxina B. Diminui o pulso para 1 batida por minuto. A voz de Fury soou perfeitamente, como se estivessem lado a lado.

— Tetrodotoxina B — respondeu, afinal. Ela não desistiria mesmo. — Dorothy, isso é sério. Aquela foi uma situação extrema. Nós podemos pensar em outra coisa, ainda temos tempo.

— Até quando? — Encarou-o, de pé. — Até eles revistarem cada casa dessa cidade? Porque isso vai acontecer. Não seja ingênuo a ponto de pensar que eles não vão fechar o cerco. — Sam revirou os olhos, aborrecido. — Preciso de um computador com acesso à internet.

— Você perdeu a cabeça — exclamou. Ela continuou o encarando. — E eu sou ainda mais louco por estar te ajudando.

Sam jogou as mãos para o alto, abandonando o resto da sua sanidade mental, e saiu em busca do computador. Ela massageou as têmporas. Quanto mais pensava, menos tempo restava. Não havia outra saída mais rápida. Pelo menos meu coração vai bater uma vez por minuto. Respirou fundo. Certo? Sacudiu a cabeça para afastar o pessimismo. Não tardou para que Sam retornasse com um laptop em mãos. Dorothy verificou as especificações técnicas da máquina. Seria suficiente. Abriu-o e deu os primeiros passos.

— Não acho que essa droga seja vendida em qualquer farmácia online — argumentou ele, de braços cruzados.

— Eu sei, por isso não estou entrando em qualquer farmácia online. — Ela levantou uma sobrancelha e sorriu de lado.

Deep Web — completou ele. Dorothy confirmou com um aceno.

Os dedos dela teclavam rapidamente. Anúncios de drogas que prometiam o paraíso em segundos e remédios experimentais pipocavam na tela. Tudo tinha um aspecto tão clandestino que Sam não aguentou olhar por muito tempo.

— Cuidado para não ferrar com o computador do garoto da portaria.

— Claro, não quero tirar a única chance de ele obter sexo fácil. — Sam a encarou, daquele jeito incerto e julgador que só ele sabia. — Verifiquei o histórico antes. — Chiou os lábios. — Ninguém precisa saber.

Janelas de bate-papo piscaram na tela. As mensagens trocadas dificilmente seriam rastreadas dentro daquela terra sem lei. Uma conversa permaneceu. Ela mordiscava o lábio inferior, outra hora cerrava o cenho, ou ficava sem esboçar reação por um tempo. A espera estava matando Sam. Ele saiu e voltou minutos depois com duas quentinhas.

— Você tem cinco mil dólares no banco? — Ele confirmou e ela virou a tela para ele. — Faça uma transferência para essa conta.

— Lá se vão minhas férias...

— Não seja estúpido. Como se você não pudesse voar para qualquer lugar quando quiser — contestou ela.

— O que virei agora? Uma águia do Gandalf?

Os dois esboçaram sorrisos. Como nos velhos tempos, lembrou Sam.

— Foi a melhor oferta que consegui, acredite — argumentou, quase ofendida. — Achei um carinha em Massachusetts que faz o serviço. Ele faz Medicina e trabalha no ramo de transporte alternativo de recursos humanos, como ele descreveu. — Ela enrugou os lábios. — Negócios.

— E você simplesmente vai aceitar, assim, sem nenhuma garantia?

— Querido, é a Deep Web — sentenciou, como se explicasse tudo. — E ainda tive que implorar para ele aceitar dinheiro, ao invés de bitcoin, que é como os pagamentos são realizados aqui. Já fez a transferência?

— Estou indo, estou indo — resmungou, mexendo no celular. — Pronto. Transferência concluída com sucesso para... Jewel Mackenzie?

Dorothy ignorou a estranheza do amigo. A conta com certeza estava no nome de algum laranja. Teclou e aguardou. A janela vacilou entre vermelho e preto. O homem do outro lado da tela confirmou a transferência. Com tudo acertado, ela apagou qualquer vestígio no software e fechou o laptop.

— Então? — inquiriu Sam, desinquieto.

— Acertei todos os detalhes. Ele estará aqui até o anoitecer.

— Tão rápido?

— Como você disse, é um valor muito alto. — Afastou o laptop para longe. — Ele virá preparado com equipamentos de suporte e emergência. Sim, pelo menos isso eu exigi. O esquema do Fixation89 é quente.

Dorothy tirou o resto do dia para se preparar psicologicamente, ou seja, dormir. Para o assombro de Sam, ela dormia como um anjo, mesmo estando prestes a embarcar numa aventura que considerou suicida. Enquanto o contato dela não chegava, ele ficou de pé próximo da janela, espiando os arredores. Não havia nada mais para se distrair, até seu celular ela pegou para ouvir música, pois assim dormiria melhor.

Três batidas na porta fizeram Sam sair da inércia. A noite caía aos poucos lá fora. Cutucou a amiga, que ligeiramente retirou os fones e começou a se ajeitar. Ele atendeu a porta e viu-se de frente para um homem alto, vestido formalmente, com um topete impecável no alto da cabeça e usando minúsculos óculos escuros de lentes em forma de elipse. Sujeito estranho.

Fixation89 — apresentou-se, movendo os lábios volumosos com exatidão.

Bigthug99 — respondeu ela, aparecendo atrás de Sam.

As longas pernas do rapaz cruzaram a entrada, passando por Sam, e indo cumprimentar Dorothy com um aperto de mão. A fragrância do gel que mantinha seus fios negros para cima emanou pelo ambiente.

— Então, você faz Medicina? — começou Sam. Ela suspirou, sabendo que ele iria começar um verdadeiro interrogatório desnecessário que só iriam atrasá-los.

— Sam, acho que está na hora de você ir — aconselhou ela, em tom suave, pondo uma mão sobre o ombro dele.

— Tem certeza? — Foi tudo que conseguiu pronunciar, mesmo cheio de objeções.

Os olhos de Sam diziam o que sua boca não conseguia pronunciar. Ele se importava com ela e isso era suficiente. Abraçou-o por um longo tempo.

— Cuide-se. Não quero perder você também — confessou ele. Estava se referindo a Riley. Ela assentiu, então ele deu meia volta.

— Ah, seu celular. Acho que tem uma mensagem — avisou ela, devolvendo o aparelhou antes de ele sair, depois fechou a porta.

Na saída do motel, Sam ainda não tinha encontrado a mensagem. Buscou no histórico e encontrou uma nota salva recentemente. Quase sorriu ao ler o texto deixado por ela.

Sam, se algo der errado, quero que cuide do meu funeral. Certifique-se de que toque Born To Die na cerimônia, depois My Songs Know What You Did In The Dark, para que a carapuça sirva nos presentes. Coulson estará lá, você logo o reconhecerá. Ele é um quarentão que chegará com as mãos cruzadas na frente do corpo, com cara de quem está segurando um pum, e ficará próximo do caixão o tempo todo para ter certeza de que não estou fingindo. Diga a ele que a culpa disso tudo é dele. Faça-o chorar até deixá-lo no chão. Fury não virá, mas mandará uma coroa de flores. Queime-a. Não deixe Aidan fazer nenhum discurso. Ele é britânico e baba enquanto chora. Bucky provavelmente estará lá, ele dará um jeito de estar. Não implique com ele. Cuide de Courtney e diga que a amo. E quanto a você, obrigada por tudo! <3


Notas Finais


A mulher perdeu o juízo, minha gente! Vocês, no lugar dela, teriam coragem? Viram o que ela fez? Dorothy entrou em uma enrascada para sair de outra maior. O ser humano é muito azarado! XD
OBS:
1- Courtney, para quem não pegou (Canadá e tal), é a Arabella.
2- Vocês não fazem ideia em quem eu me inspirei para criar o Fixation89! Acho que posso contar ele como participação especial também. Conseguem chutar quem? Se não ficou claro pela breve descrição, no próximo ficará mais fácil. (AI Q DMS! kkkk)
Beijinhos invernais!


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