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História SHIELD's Most Wanted - Crossfire


Escrita por: AsgardianSoul

Notas do Autor


Olá, aqui quem fala é a corujona da madrugada. Mentira, sou só eu com olhos avermelhados de sono, depois de uma longa prova de Fonética.
A música deste capítulo é Crossfire, do Stephen. Esta música foi um grande achado que me inspirou muito para escrever.
Antes de iniciar a leitura, gostaria de agradecer a recepção positiva e o carinho dos leitores. Vocês são muito amor, gente! <3

Capítulo 6 - Crossfire


Fanfic / Fanfiction SHIELD's Most Wanted - Crossfire

A primeira sensação que Dorothy teve ao despertar foram pontadas na região do abdômen. Tentou olhar para baixo, mas sua cabeça estava imobilizada. Respirou fundo, tentando recobrar totalmente a consciência e se localizar. Uma densa neblina enevoava seus sentidos, a fazendo desviar da realidade e tropeçar em flashbacks dos quais não se recordava de ter vivido. Um homem a carregando nos braços; uma sombra de jaleco branco lhe espetando com seringas; capangas a colocando de pé. Reabriu os olhos, tentando focar em algo. Estava em uma sala de azulejos brancos, mobiliada com uma mesa de metal e uma TV acoplada à parede, pelo que conseguia enxergar. Os capangas continuavam a rondá-la, como corvos num festim.

— Água — balbuciou ela.

Foi ignorada. Tentou se mexer, porém estava presa a um suporte que a mantinha rigidamente de pé, com os braços levantados, numa posição que fazia os ferimentos latejarem. Retornando lentamente, foi se lembrando do que aconteceu. Quando chegou à porta, fugindo de Ward, um homem de terno disparou duas vezes em seu tórax. Depois disso, as lembranças que tinha não passavam de imagens borradas e alucinações.

— Fique quieta, senão vai doer ainda mais — ralhou um dos homens, ao vê-la tentando se movimentar.

— O que estão fazendo comigo? Onde está Ward?

Eles não responderam. Ele levou suas mãos grandes ao rosto da mulher, arregalou o olho esquerdo, puxou dois fios de aço do suporte que prendia a cabeça dela e fixou próximo das pálpebras, dessa forma, mantendo o olho arregalado. Repetiu o processo no olho direito. A sensação foi agoniante. Primeiro, a necessidade compulsiva de piscar, em seguida a ardência. A sensação de perigo iminente injetou adrenalina em seu corpo, o que a fez entrar em estado de alerta. Tentou girar o pescoço, só que estava firmemente presa ao suporte.

Os homens de preto deixaram a sala. Não tardou e dois outros chegaram, desta vez eram diferentes. Eles usavam ternos e mantinham posturas alinhadas. Reconheceu o que estava teclando em um tablet, Bakshi. A imagem do outro demorou um pouco para ser assimilada. Ele mantinha a expressão impassível e usava óculos de lentes arredondadas. O terno de linho claro atiçou sua memória.

— Foi você quem atirou em mim — afirmou, comprimindo os lábios de raiva.

— Você se revelou uma falha, então tive que fazer o necessário — retrucou, tranquilo. Deu um leve sorriso. — Desculpe pelo transtorno.

Dorothy sentiu uma fúria crescente tomar conta de si. Forçou as amarras que prendiam seus membros, dando solavancos fortes no suporte metálico. Não adiantava. Parecia que seu corpo estava petrificado. À sua frente a TV foi ligada. Em poucos segundos a tela foi preenchida por imagens psicodélicas em loop. O contraste intenso das cores atingiu os olhos da ex-agente como a luz intensa de um relâmpago. O barulho também incomodava, era como o chiado do mal contato de um cabo de som, só que mais intenso e constante.

— O que você vai fazer comigo? — inquiriu, cerrando os dentes. Sua respiração estava descompassada e o coração palpitante.

— Não se preocupe com isso, senhorita Turner. O método já foi testado e é 100% seguro — assegurou Whitehall. — Não sei se notou, mas tem duas agulhas injetando soro fisiológico e sangue em sua corrente sanguínea para que não corra nenhum risco desnecessário. E as balas foram retiradas do seu tórax. Nada demais, eu sabia onde estava atirando.

Não podia ver, todavia, ao tentar movimentar o pescoço, sentia uma pontada em dois locais, bem onde se localizavam as artérias. Imaginar as agulhas dentro de seu corpo só fez aumentar seu desespero. Odiava agulhas. Além das dores físicas, ainda tinha de lidar com a dor psicológica de ter falhado quando não podia. Logo se lembrou da cena no laboratório, minutos antes da morte de Davis, em como foi tão vulnerável às carícias de Ward. Lágrimas de humilhação rolaram por seu rosto, mais tarde dando lugar à mágoa.

— Onde está Ward? — quis saber, com a voz embargada.

Whitehall notou a emoção na mulher e se aproximou. Fingiu pena. Levantou um dos dedos e parou uma das lágrimas que descia próximo à boca. Seus lábios emitiram um chiado de cínica compaixão.

— Não fique assim, Ward estava aqui o tempo todo — revelou. Aproximou-se ainda mais e cochichou: — E ele não parece muito feliz com suas atitudes.

As últimas palavras de Whitehall ecoaram pelo ambiente caótico e serviram como sua despedida. Bakshi saiu em seguida, não escondendo a expressão de contentamento sádico. O campo de visão de Dorothy estava limitado à TV, e mesmo se conseguisse girar a cabeça, havia duas placas de aço fixadas em cada lado do suporte que bloqueavam sua visão panorâmica. No entanto, ela enxergava com seu instinto. Podia senti-lo agora, mais perto. Jurou até poder ouvir a respiração pesada dele sobre o som enlouquecedor da TV.

Em poucos segundos a figura sombria do ex-agente se materializou em frente aos seus olhos. Ward mantinha a expressão séria e realmente parecia irritado. Porém, não foi o que ele sentia que a chocou, mas o que não. Ele não demonstrava incômodo algum em vê-la naquela situação desumana, ferida e aprisionada feito um animal.

— Não me olhe assim, você procurou por isso — falou compassadamente. — Pensou que eu deixaria você me manipular tão fácil?

— Agora eu consigo enxergar o monstro que você é — afirmou, furiosa, mais ainda consigo mesma. — Nem Oscar Wilde poderia criar um Dorian Gray tão perfeito e podre ao mesmo tempo.

— Não me julgue tão cedo. Nós estamos te salvando.

— Oh, salvando? Salvando?! — berrou, apesar da dor no abdômen. — Me desculpe se não percebi isso antes, Einstein. Acho que eu estava ocupada demais sofrendo por uma coronhada e dois tiros a queima roupa, para depois acordar no remake de Laranja Mecânica!

Ward comprimiu os lábios e maneou a cabeça, em sinal de descontentamento.

— Viu? É por isso que precisa passar por isso. Você saiu da SHIELD, mas a SHIELD não saiu de você. Sua visão ainda está muito limitada.

— Não força, Ward — pediu, com a voz prejudicada pela explosão anterior. — Cara, como eu te odeio. Há algumas horas eu não queria deixar você ir, agora quero socar esse seu rosto perfeito.

Ele riu, o que a deixou ainda mais chocada. Em outros tempos ela teria achado aquele sorriso a imagem mais reconfortante do mundo.

— Só você mesma para descrever tão bem nossa relação. — Aproximou-se e afastou uma mecha de cabelo azul do rosto dela. — Nos vemos na volta, Purple.

Depois do toque, Ward afastou-se para ir embora, porém, Dorothy interveio:

— Espera, Ward, você tem noção do que vão fazer comigo? — perguntou, em súplica. Estava pondo em jogo sua última carta. — Quando eu voltar, não vou ser a mesma. Será que não consegue enxergar? Serei uma marionete da Hidra. Essa Dorothy que você conhece morrerá.

O olhar impassível de Ward a atingiu como um soco no estômago. Ele não precisou dizer mais nada para demonstrar que não se importava. Assim como chegou, partiu, como um fantasma. E ela estava sozinha, tendo que lidar com os primeiros sintomas da lavagem cerebral. Sua mente começava a divagar e os olhos falhavam em não se render aos tentadores nuances psicodélicos. Tentava se concentrar em algo, só que o barulho enlouquecedor frustrava qualquer tentativa. Mesmo assim, não podia desistir. Teria que se apegar a algo bastante profundo para não se deixar levar. Algo que fosse forte o suficiente para se agarrar em meio à mais forte das tempestades.

Milhares de lembranças afloraram na mente da mulher. Com uma rapidez desesperadora, filtrava-as enquanto ainda tinha raciocínio para isso. Logo uma memória se sobressaiu às demais. Dorothy, aos doze anos, no recital de poesia da escola elementar.¹ Aquele não foi o primeiro recital que participou, nem o último. O que fazia dele especial foi a presença dos pais na plateia. Como eram muito ocupados, os Turner quase nunca compareciam nas apresentações da filha. Mais tarde ela entendeu que era por causa da dedicação deles à SHIELD. Naquele dia ela recitou um poema de sua própria escolha: Annabel Lee, da autoria de Edgar Allan Poe. Depois disso, o poema, de tom triste, passou a ser sinônimo de alegria para ela.

Respirou fundo, ignorou o cansaço e as dores e obrigou-se a emitir qualquer som, por mais gutural que fosse. Agarrou-se à Annabel Lee e nas memórias que ela despertava como única forma de se manter sã.

It was many and many a year ago,

In a kingdom by the sea,

That a maiden there lived whom you may know

By the name of Annabel Lee;

And this maiden she lived with no other thought

Than to love and be loved by me.

* * *

Uma rajada de vento gélido sacudiu os cabelos negros de Bucky. Desde que Dorothy havia lhe passado a lista com o nome das principais cabeças da Hidra sua vida havia adquirido um tom frenético. Depois de muito tempo tinha encontrado um motivo para continuar lutando. O objetivo de transformar em cinzas o que restou da organização responsável por acabar com sua vida o fez sair de seu refúgio e não ter mais medo de se expor. James Barnes, o soldado dado como morto durante a Segunda Guerra Mundial, estava de volta e nada o impediria de chegar aonde queria.

O jatinho havia pousado sem nenhum contratempo. Ao seu lado o banqueiro Vagner Gerstner olhou nervosamente em sua direção antes de descer as escadas. Com exceção do piloto, eles viajaram sós na cabine luxuosa. O banqueiro era um dos nomes presentes na lista. Como confirmado por Bucky mais tarde, ele era responsável por grandes partes das finanças da Hidra e estava ligado a outro nome de peso: Daniel Whitehall, um cientista com uma origem bastante curiosa, cuja só acreditou porque ele próprio era uma prova viva de que coisas assim podiam ser reais.

— Desça e aja naturalmente, como se eu fosse apenas seu guarda pessoal — orientou Bucky, fuzilando-o com o olhar.

Gerstner parecia paralisado e não conseguia tomar a dianteira, obrigando Bucky a empurra-lo para dar o primeiro passo. O homem quase foi ao chão pela força empregada na “ajudinha”.

— Whitehall não é nenhum idiota. Ele vai perceber a farsa — avisou Gerstner, já em solo.

— É melhor ele não perceber, Gerstner. — Encarou-o com seus olhos cristalinos faiscantes de ódio. — Continue andando e não olhe para mim.

O frio não incomodava nem um pouco Bucky. A Sibéria era muito pior. Vislumbrou a desoladora paisagem canadense. Logo adiante encontrava-se o laboratório onde estaria Whitehall. Usar uma cabeça para encontrar a outra não foi sua ideia inicial, porém se mostrou muito eficaz. Além do que, pelo que contou Gerstner, o cientista não era só mais um nome, mas talvez um dos mais importantes.

Homens de preto aguardavam na entrada da instalação. Os dois pararam. Bucky manteve-se um passo atrás, cumprindo seu papel de guarda pessoal, enquanto Gerstner se mantinha ocupado em agir naturalmente.

— Tenho um encontro com Whitehall — começou. — Não deu para conversarmos em Nova York porque tive um contratempo. Nós temos assuntos urgentes para resolver.

Os seguranças se encararam, depois encararam o homem de olhar neutro atrás do banqueiro.

— Esse é meu guarda pessoal. Não vou a lugar nenhum sem ele — informou, sem olhar para trás.

— Nos acompanhe — ordenou um deles.

O grupo adentrou pela garagem da instalação, onde haviam vários caminhões vazios e patrolas usadas para abrir caminho pela neve. O antigo soldado espiou uma última vez o exterior antes de ser tragado pelo ambiente climatizado do interior. Em pouco tempo estavam caminhando nos corredores do laboratório superequipado onde Whitehall efetuava suas pesquisas genéticas bizarras. Vários sons chegavam aos ouvidos atentos de Bucky, como objetos metálicos sendo remexidos, lasers cortando materiais dos quais não sabia, caixas sendo abertas, outras lacradas, o leque de sons variava conforme avançavam.

Muitos dos sons eram familiares a ele, afinal, passou muito tempo confinado em laboratórios. A conhecida sonoridade não lhe despertava coisas boas, só que um em especial pareceu ir além de seus ouvidos e querer invadir seu cérebro. Como que em estado de choque, estancou no meio do corredor, próximo à fonte do som que mais parecia um ruído de mal contato ou o som de uma corrente elétrica passando por um circuito exposto. Para sua sorte, nenhum dos outros reparou que ficou para trás. Bucky aproximou o ouvido da porta e seus punhos se cerraram como nunca. Ele conhecia muito bem aquele som. Com uma explosão de fúria que não conseguiu controlar, socou a maçaneta com seu braço metálico e a escancarou. Dentro da sala, o único segurança presente foi pego de surpresa. Bucky se aproveitou e antes que ele usasse sua arma, o desarmou e o jogou contra a parede.

O eco do som era enlouquecedor dentro da sala. Bucky fechou o semblante e cerrou os dentes, forçando-se a continuar firme. Avançou a passos largos para a TV e a destruiu, em seguida socou o sistema de som até que ficasse em pedaços. Um súbito alívio percorreu seus nervos quando o som parou, então pôde respirar. A sonoridade conhecida continuava do lado de fora, menos a mais agonizante: o som da lavagem cerebral. Cego pela ira, ele não reparou de início o suporte no meio da sala. Enquanto recobrava seu estado normal, uma voz fraca quase não se fazia ouvir atrás dele.

And the stars never rise, but I feel the bright eyes

Of the beautiful Annabel Lee

Bucky virou-se agilmente para dar de cara com uma mulher de cabelos em tons de azul imobilizada. Sua primeira reação foi de choque por se lembrar que um dia já se encontrou naquele estado, em seguida, veio o reconhecimento. A mulher se tratava de Dorothy. Ele permaneceu um tempo com os lábios entreabertos, analisando a situação. Ela estava suada, com um corte na testa e marcas de sangue na região do abdômen. No mesmo instante quis arrancá-la daquela prisão, mas teria que ser delicado para não piorar o estado dela. Começou retirando as hastes que mantinham os olhos dela arregalados, depois as agulhas no pescoço e enfim a soltou das amarras. O corpo debilitado despencou em seus braços fortes e ele a sentou no chão.

— Turner, sou seu, Bucky — falou, afastando os longos fios azuis do rosto dela. — Diga alguma coisa.

— Bu-cky — repetiu cada sílaba com dificuldade, como uma criança tragada pelo sono. Em segundos que pareceram uma eternidade os olhos dela brilharam em reconhecimento. — Barnes, o que faz aqui? Você também veio assistir minha apresentação?

— O que fizeram com você? — balbuciou mais para si mesmo do que a ela. — Vamos, preciso te levar para um local seguro.

— Não, eu vou ficar bem — insistiu ela, o impedindo de levantá-la. — Meus pais estão aqui. Vá cuidar das suas coisas, polir seu braço metálico, sei lá...

O ferimento de Dorothy sangrava muito. Bucky levantou a blusa dela para verificar e os curativos estavam encharcados. Ele pousou a mão sobre a testa dela e sentiu a pele quente e a umidade do suor. Além do que, ela estava alucinando, efeito do processo de lavagem cerebral e trauma. Ela piscou os olhos vagarosamente, quase se entregando ao sono.

— Não durma! — exclamou ele. — Eu vou te tirar daqui, mas precisa ficar acordada, Turner.

— Senhor, eu não posso fazer isso — resmungou, contorcendo o rosto numa expressão de agonia. — As bombas vão explodir.

O som longínquo de helicópteros chegou aos ouvidos de Bucky. Imediatamente portas foram arrebentadas em um local afastado e homens tomaram o corredor gritando: — É a SHIELD! Ataquem com tudo!


Notas Finais


¹ Nos Estados Unidos, uma escola primária (primary school) ou escola elementar (elementary school) é um estabelecimento escolar onde é ministrada a educação a crianças entre os cinco e os 12 anos de idade. A maioria das escolas deste tipo são designadas "escolas elementares", poucas delas incluindo o termo "escola primária" no seu nome.
SHIELD IS COMING! E agora? O que será dos nossos amorecos? Bucky vai ter que pensar mais rápido do que nunca. Ou a SHIELD será mais rápida?


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