História Shinigami - O Início e o Fim

Cada célula do meu corpo protestava. Eu conseguia sentir meus ossos quebrados. Conseguia sentir todos os cortes. Podia sentir o sangue na minha boca, forçando saída pela minha garganta por causa da hemorragia interna, escorrendo dos cortes feitos pelos meus próprios dentes.  Meu corpo estava em colapso. A dor era lancinante, insuportável.

Uma multidão se acumulara ao meu redor. A ambulância já estava a postos quando abri meus olhos e percebi que estava vivo. Eu sorri para eles enquanto eles me acomodavam com cuidado na maca, suprimindo os gemidos para que não se sentissem tão culpados.

- Você pode me ver. – eu disse para um paramédico.

- Senhor, por favor, tente não falar. – ele me instruiu em resposta.

Uma risada fraca escapou dos meus lábios e eu tossi sangue e todo meu corpo protestou.

- Eu estou vivo. – constatei.

- É um milagre que esteja vivo. – disseram.

Eles me colocaram no carro e me fizeram respirar num inalador. Eu conseguia sentir o cheiro do anestésico. Era muita gentileza da parte deles.

Vi Itachi no canto do carro, de pé atrás do paramédico, com uma expressão de pesar estampada no rosto enquanto meus olhos reviravam nas orbitas, cedendo ao medicamento. “Não se preocupe” eu queria dizer para ele “Não se preocupe, porque eu estou feliz”.

Quando eu abri os olhos novamente, eu estava num quarto branco muito familiar. Pisquei varias vezes até que minha visão se regularizasse e meus sentidos voltassem.

Ouvi o bipe dos aparelhos, o canto de um pássaro do lado de fora, o som de passos no corredor. Senti o gosto ruim e a textura grossa de minha própria saliva e senti todo meu corpo latejando, a agulha enfiada no meu braço direito, o respirador no meu nariz.

- Você está acordado? – uma voz familiar perguntou e eu senti um aperto quente na minha mão.

Inspirei e expirei, tentando encontrar algo para dizer, mas o respirador me incomodava muito, então, ergui a mão esquerda e o arranquei.

Ela se levantou para me ajudar, os cabelos negro-azulados escorregando por seus ombros, os olhos de pérola hipnotizantes. Ela sorriu para mim e passou os dedos pelos meus cabelos.

- Como se sente? – quis saber.

Fechei os olhos por um instante.

- Como se tivesse quebrado todos os ossos do corpo. – reclamei com a voz grogue.

- Bem, você quebrou a maioria deles. – ela achou graça – Por que fez isso, Sasuke? – perguntou com o sorriso morrendo.

- O que eu fiz? – retruquei.

- Se jogou daquele viaduto.

- Me joguei daquele viaduto. – repeti, unindo as sobrancelhas.

- Itachi me disse para cuidar bem de você. – ela disse.

- Itachi... – repeti.

Ela franziu o cenho, preocupada.

- Sasuke?

- Itachi... – o nome soava extremamente familiar, mas eu não conseguia me lembrar.

Eu observei enquanto os olhos muito abertos dela se enchiam de reconhecimento e tristeza.

- Oh. – ela deixou escapar – Você não se lembra?

- Me lembrar... – repeti para mim mesmo e busquei pistas em minha memória, mas não havia nada lá – Me lembrar do quê?

Ela sorriu com compaixão, se inclinou e beijou minha testa e eu senti todo meu corpo se aquecer. Ela se afastou, passando os dedos pelo meu rosto.

- Eu me chamo Hyuuga Hinata. – disse – Eu vou cuidar de você, está bem?

- Hinata. – eu disse e seu nome me encheu de urgência.

Ela assentiu.

- Se lembra do seu nome completo?

- Uchiha. – eu disse sem pensar – Clã Uchiha.

- Uchiha Sasuke. – o nome era musica nos lábios dela – Está com sede?

Assenti e ela alcançou um copo na mesinha ao lado sem deixar de segurar minha mão e me ajudou a me sentar e beber um gole e outro e outro até amenizar o gosto ruim em minha boca e umedecer a garganta e os lábios rachados.

- Há quanto tempo está aqui comigo? – perguntei apenas para ouvir sua voz mais uma vez.

Ela corou.

- Não sai do seu lado desde que chegou. – disse – Apenas para ir ao banheiro, é claro. – confessou.

Senti o canto de meu lábio se erguer num sorriso torto.

- Obrigado, Hinata.

Ela olhou para mim e seus olhos se prenderam nos meus.

- Nã-não há de quê. – ela desviou os olhos – Você está com fome? Está com dor? Eu devo...

Eu apertei sua mão quando ela tentou se afastar.

- Por favor. – implorei e ela parou, olhando para mim – Fique comigo.

Ela corou ainda mais, mas se aproximou e segurou minha mão nas suas.

- É claro, Sasuke. – sorriu – Vou estar aqui pra você para sempre. – ela beijou meus dedos.

- Eu vou proteger você. – prometi – Vou fazer você feliz.

Ela tocou meu rosto e se inclinou sobre mim, aproximando nossos rostos.

- Você já fez muito por mim. – sussurrou contra os meus lábios – Você desistiu de tudo por mim. – inspirou profundamente – Eu amo você, Sasuke. – disse e me beijou.