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História Side to Side (EM PAUSA) - Three


Escrita por: poetyeeun

Notas do Autor


Hallo!
Peço perdão pela imensa demora, mas cá está mais um capítulo.
Espero que gostem. Boa leitura. MWAH!

*Capítulo ainda não revisado, perdoem-me se tiver erros*

Capítulo 3 - Three


Fanfic / Fanfiction Side to Side (EM PAUSA) - Three

Eu sabia que não era certo fazer o que eu estava fazendo. Afinal, esse garoto exalava o cheiro inebriante de um erro fatal. Sabia também que se eu fosse pega tentando fugir do reformatório acabaria indo para o júri e passaria por maus bocados. Mas eu não sabia o motivo de estar permitindo que o meu corpo e a parte insana da minha mente tomem controle da situação e me guiem para ele. E não é da forma literal da coisa.

— Como vamos sair? - pergunto em um sussurro, enquanto observava ao redor, temendo que um dos seguranças aparecesse e nos pegasse em flagrante.

Justin não me responde. Ele passa por mais duas grandes árvores e ficamos de frente para a enorme cerca que rodeava os arredores da C.C.Y.

— Justin, isso provavelmente tem cerca elétrica e a voltagem pode nos matar. - replico um pouco mais alto e ele torna a me ignorar.

— Você fala demais. - ele resmunga e passa a mão por sua cabeça.

Ele anda até a grade com espaços mínimos e trançados e puxa um lenço vermelho de dentro do bolso de sua de sua calça, fazendo com que cubra boa parte de sua mão. Em um rápido movimento, ele puxa para trás a parte da grande e a mesma se abre, revelando uma abertura mediana que, com certeza, serviria como uma rota de fuga para jovens que não se importam com as regras.

— Aqui está. - ele diz e me olha por cima dos ombros.

— Me diga que não foi você quem fez isso.

— Prefere ficar conformada com a mentira ou ciente da verdade?

Desvio o meu olhar dele para a abertura algumas vezes e penso se realmente devo fazer o que uma parte da minha mente me grita para fazer. Era simples, eu tinha duas escolhas. De fato, eu sabia qual eu deveria seguir, mas eu não sabia ao certo se eu a queria nesse momento.

— Eu vou me arrepender por isso. - digo enquanto endireito o meu corpo e ando até Justin.

— Provavelmente. - murmura quando eu passo por ele e coloco o meu corpo para o lado de fora.

Olho para os lados e não vejo sinal dos guardas noturnos e seguranças altamente armados. Justin gira o seu corpo e passa para o lado de fora também, trazendo com ele a parte da grade e a fechando novamente.

— Venha logo. - Justin diz e começa a me puxar junto a ele, segurando o meu cotovelo direito.

Atravessamos a rua e Justin solta o meu braço, indo em direção a um arbusto cheio. Ele retira de trás das folhas uma grande Harley preta. Olho para a moto e em seguida para ele, que agia normalmente, como se fosse completamente comum para ele fazer aquilo.

— Isso é sério? - pergunto e ele sorri de canto e dá de ombros.

Ele desce a moto e sobe em cima dela. O observo pela pouca iluminação da noite e das luzes que iluminavam a rua pouco vazia.

— Não vai subir? - ele pergunta e endireita os retrovisores.

— Eu realmente não sei se essa é uma boa ideia.

— E eu realmente não acho que você seja uma boa garota, Rylee. - ele devolve e umedece seus lábios. — Se não for subir, basta voltar pelo lugar de onde veio.

— Porque está me levando para um passeio? Está desejando que eu seja pega e punida? - irrito-me por ele manter a mesma expressão despreocupada

— Se eu quisesse isso pensaria em algo melhor. Afinal, estaremos juntos. Se você for pega, eu também vou ser.

— Você não parece se importar em ser pego. - digo e ele solta uma risada fraca.

— E não me importo. - ele ergue as sobrancelhas. — E então? Você tem dez segundos para decidir o que deseja fazer.

Olho para ele e para o reformatório do outro lado da rua. Nós não devíamos estar fazendo isso. Deacon leu para mim, no mínimo dez vezes, cada uma das regras especificas do reformatório e também deixou claro as punições que poderiam ser tomadas. Eu corria o risco de ser presa quando completasse idade suficiente para isso, mas poderia apenas prestar serviço comunitário, tudo iria depender do que aquele homem dissesse no tribunal no dia do julgamento final. E eu sei que ele não irá se importar com a vida que irei perder, caso seja presa.

Esse lugar é, talvez, a minha última chance. E eu não acho que devo desperdiçá-la por causa de um garoto misterioso e que bagunçou boa parte do meu sistema.

— Eu não vou. - digo decidida. Mas ao mesmo tempo, bem lá no fundo, estava incerta.

Justin me olha por alguns segundos e abaixa sua cabeça. Ele a maneia e o seu rosto parece escurecer. Penso que irei ouvir palavras ofensivas ou provocações de sua parte, mas ele apenas levanta o seu rosto e esboça um sorriso pretensioso e contido. Ele bate um de seus calcanhares no pedal e liga sua moto, mas antes de partir, ele olha para mim.

— Tenha uma boa noite, Rylee.

Isso é tudo o que ouço antes de sentir apenas o vento feito por sua velocidade se misturar a brisa que se choca contra o meu corpo. Vejo-o desaparecer na estrada, tão veloz quanto o próprio vento.

Se ele ficou magoado com a minha resposta, ele não demonstrou. Mas porque haveria e estar chateado? Nunca tivemos nada. Nosso primeiro contato visual durou apenas alguns segundos insignificantes. E esse nosso, quase, momento de loucura durou apenas um tempo maior, mas ainda assim, nada significou ou mudou.

Não nos conhecemos. E eu não acho que tenhamos algo em comum. Quero dizer, estamos presos no mesmo lugar, mas, provavelmente, estamos aqui por motivos diferentes que continua nos tornando completos opostos.

Não posso dizer que algo nele não chame minha atenção e me faça desejar desenvolver o poder de ler mentes e descobrir tudo o que ele parece esconder por trás de sua casca, mas ainda assim, seria imprudente e insano de minha parte arriscar tudo por causa de alguém que não conheço. Eu já fiz isso uma vez. Eu confiei. Eu me entreguei. E eu descobri que dói muito. Não estou disposta a sentir tudo novamente. Muito menos por alguém com uma escuridão tão assombrosa.

Solto um suspiro e corro para o outro lado. Só quando sinto o couro pesado envolto em meus ombros, percebo que fiquei com sua jaqueta e nem me dei conta disso. De qualquer forma, não teria como devolvê-la agora. Repito o mesmo movimento de Justin e com ajuda da sua jaqueta não encosto diretamente na grade. Passo pelo mesmo local e a encosto como ele deixara. Olho para aquela parte cortada e me pergunto como ele havia feito aquilo sem se machucar ou ser pego.

Parece que tudo o que se trata dele acaba se tornando um mistério.

Tropeçando nos galhos caídos no chão, corro por entre as árvores, tentando me lembrar o exato caminho traçado por nós. Respiro fundo quando avisto o local, apenas um pouco mais distante, de onde eu e Justin havíamos nos encontrado. Eu ainda gostaria de ficar observando o céu, mas opto por correr para a área interna e subo para os dormitórios.

Um banho frio e uma boa noite de sono teria que acalmar o meu coração que batia freneticamente contra o meu peito.

(...)

Acordo cedo e com o som da cantoria de Living pelo quarto. Ela parecia saltitar pelo assoalho, enquanto cantava um refrão de uma música animada ou algum canto de igreja, eu realmente não saberia diferenciar. Sua voz era doce demais e isso fazia com que eu apenas pressionasse ainda mais o travesseiro no meu rosto.

— Hora de se levantar, Rylee. - ela dita cantarolando e puxa o meu travesseiro do meu rosto.

Abro meus olhos e vejo sua figura completamente cor de rosa. Eu não saberia dizer se eu estava mais incomodada pela claridade que se fazia no quarto ou pelo misto de tons cor de rosa e estampas florais que estavam em volta dela. Seu sorriso, como de costume, era tão largo que suas bochechas deviam doer ao fim do dia.

— Só mais dez minutos. - resmungo e me viro de costas para ela, voltando a fechar os meus olhos.

— Temos que tomar café. E você tem uma consulta com a senhorita Melina. - ela diz e sinto o peso se formando ao meu lado na cama.

— O que acontecesse se eu faltar?

— Isso irá para o sistema e você será chamada, advertida e poderá perder privilégios por se recusar a cumprir o que lhe é imposto. - ela diz baixo, como se pensasse antes de proferir suas palavras.

— Merda! - praguejo e me viro na cama, me sentando e olhando para a serena garota ao meu lado, olhando-me com curiosidade. — O que foi?

Abaixo a cabeça e deixo os fios do meu cabelo cobrirem o que conseguissem.

— Porque não gosta que olhem para você?

— Eu só não gosto de contato visual. - eu não minto por completo.

— Você é bonita, Rylee. As pessoas sempre irão olhar para você. - ela diz e eu não precisava olhá-la para saber que sorria.

Ela se levanta e volta a se arrumar. Levo meus dedos ao meu rosto e toco a cicatriz que havia em minha bochecha direita. Com o tempo eu havia conseguido me livrar das marcas deixadas pelas queimaduras propositais, mas nunca consegui me livrar da marca que fora deixada algum tempo depois.

Eu não gostava que as pessoas me olhassem e a vissem ali, pois isso gera curiosidade e curiosidade gera a perguntas. Eu odeio perguntas. Não gosto de ter pessoas me observando, mas sei que comentam sobre mim. Os murmúrios pelos corredores da C.C.Y não são discretos e não sei se as pessoas querem que sejam, pois, por mais confuso que seja, não é difícil entender o que dizem. Aqui, todos querem saber o que trouxe um novo integrante para a nova denominação do inferno.

Afasto as cobertas e me levanto da cama, esticando meus braços e pernas antes de andar pelo quarto. Apanho as minhas poucas roupas jogadas em cima da cadeira e percebo que todas estavam sujas. Eu estava usando-as todos os dias e o cheiro presente nelas não estava sendo agradável de sentir.

— Eu realmente posso lhe emprestar uma roupa. - ouço a voz de Living soar na porta do banheiro.

— Eu não preciso. - digo séria.

— Ao menos por hoje. Eu lhe empresto, você usa e lava as suas. Amanhã poderá usá-las novamente.

Penso em sua proposta. Mesmo desejando negar, eu sabia que aquilo era o certo a se fazer. Observo também a jaqueta do garoto loiro, por baixo das minhas peças. Eu a escondi como pude, apenas para evitar as perguntas desconfortantes de Living.

— Tudo bem. - olho-a de canto. — Você tem algo que não seja cor de rosa ou não pareça um jardim?

— Uh... - ela parece pensar. — Deixe-me ver.

Ela corre até seu lado no roupeiro e começa a revirar suas roupas. Ela puxa de lá uma calça azul marinho e um suéter amarelo. Faço careta pelas cores alegres da roupa, mas não estou em condições para reclamar da sua maneira de se vestir.

Ando até o banheiro e troco-me. Prendo o meu cabelo para trás em um rabo de cavalo enquanto faço minha higiene e o solto quando termino. Deixo-o sobre o meu rosto e saio do banheiro. Encontro Living folheando um livro qualquer.

— Amarelo fica bem em você. - ela diz e sorri ao ver-me vestida em suas roupas. Controlo a vontade de revirar os olhos e saio do quarto.

Ouço seus passos atrás de mim e logo a vejo em meu lado. Seguimos até o refeitório. Muitas pessoas já estavam sentadas em suas mesas e em seus grupos diários. Outros se excluíam do outro lado, nos cantos mais escondidos e que pareciam ser refúgios para eles. Eu os entendia por desejarem não serem notados, mas é como se quanto mais alguém tentasse se esconder, mais atenção ele consegue chamar. Seja de quem for e como for.

Tomo meu café com Living e ouço-a tagarelar sobre sua noite super animada e sobre sua programação do dia de hoje. Quando termino de beliscar a comida, descarto os restos no lixo e deixo a bandeja sobre o balcão especifico para isso. Living me grita e acena para mim, se despedindo quando me vê a pouco de passar pela porta. Limito-me em acenar de volta e saio o mais rápido que consigo.

Faço o mesmo caminho do dia anterior e entro no corredor da sala de espera para a consulta com a psicóloga simpática  e irritante que eu precisaria lidar todos os dias até que me dispusesse a lhe contar sobre a minha vida. Sento-me em uma das cadeiras da sala de espera e vejo uma garota de cabelos longos sentada em duas cadeiras de distância a que eu estava sentada. Olho-a de canto e não consigo deixar de perceber as cicatrizes causadas por queimaduras em seu braço esquerdo descoberto pela manga de sua blusa cinza escuro. Eu conseguia sentir o calor causado pelo fogo que lhe causou aquelas marcas. Eu conseguia entender. Eu conseguia perceber porque ela tentava esconder com roupas cumpridas.

— O que está olhando, porra? - ouço uma voz estridente me tirar do transe e causar tremores em meu corpo.

— Eu não...

— Qual o problema? - ela ruge alto e me faz ficar de pé. Recuo dois passos para trás e penso na possibilidade de correr ou tentar acalmá-la. — Está sentindo pena? Está desejando saber que merda me aconteceu?

— Não, eu só...

Seus olhos esverdeados ficam escuros e seus cabelos loiros e encaracolados balançam conforme ela se movimenta e se coloca de pé. Seu rosto estava vermelho e vendo-o de frente, eu consegui ver quantas marcas ela tinha em seu rosto. Um lado era completamente cheio de cicatrizes grossas e que fizeram meu estômago revirar.

Ela solta uma risada alta e me olha com desdém.

— Você é a novata. - ela diz alto, afirmando. — Não deve saber sobre isso, não é?

Eu não consigo lhe responder, apenas engulo em seco e cruzo meus braços.

— Sugiro que você não saiba e nem procure saber sobre isso. - ela grita e eu ouço movimentos de passos no corredor. — E nunca mais dirija o seu olhar para mim. Ou eu juro que farei questão de acabar com o seu rosto bonito.

Ela faz menção de avançar sobre mim, mas dois corpos altos e masculinos entram em sua frente. Tudo acontece rápido. Os dois homens a seguram e seus gritos ecoam por todo o corredor, causando alvoroço nos minutos seguintes. Uma mulher de estatura mediana surge em uma porta e corre na direção da garota que se debatia, gritava e chorava, tudo ao mesmo tempo. Ela injeta algo dentro de uma seringa nas veias de seu pescoço avermelhado. O corpo da garota estremece e ela começa a ceder aos apertos dos homens.

Abraço com ainda mais força o meu corpo e encosto-me na pilastra atrás de mim. Vejo a garota ser erguida do chão e levada pelos homens. Um homem vestido como um médico os segue, e a mulher olha em minha direção. Eu não sabia o que tinha acontecido, mas eu estava assustada e impossibilitada de correr para longe.

— Ela te machucou? - a mulher pergunta.

Nego fracamente com a cabeça. Ela se aproxima e toca em um de meus ombros.

— Hilary costuma se agitar com pessoas novas a olhando.

— Eu não fiz por mal. - digo baixo.

— Eu sei, querida. - ela me leva até as cadeiras e me senta em uma delas. Eu ainda estava em choque. — A doutora Melina logo irá recebê-la.

— O que ela tem? - pergunto, me referindo a tal Hilary.

A mulher suspira e passa a mão por seu penteado impecável.

— Hilary sofreu um grande trauma há alguns anos atrás. Ela já foi enviada para uma clinica, mas os médicos acharam que ela se adaptaria melhor aqui, por mais que esse ainda fosse o local onde tudo aconteceu.

Franzo o cenho.

— O que aconteceu?

— Um acidente. - ela limpa sua garganta. — Um incêndio.

— Ela foi queimada nesse incêndio?

A mulher assente e olha para os lados, como se temesse ser ouvida por outras pessoas.  

— Como isso aconteceu?

— Olha... - ela se aproxima e se inclina um pouco para frente. — Não temos permissão para falara sobre isso. Esse assunto é um dos proibidos a ser comentado nos corredores desse lugar. Você é nova aqui. Sorte a sua. Então não revire o passado, ele é doloroso.

— Mas...

— Irei ver como ela está. Em breve será chamada. - a mulher diz e se apressa em desaparecer pelo corredor.

Minha cabeça torna-se uma bagunça conflituosa.

Eu queria saber mais sobre o assunto, mas o meu nome foi chamado pela médica sorridente. Entro em sua sala e ouço-a fazer as mesmas perguntas e ela ouve minhas respostas vagas e dispersas. Eu não conseguiria prestar atenção em uma sessão quando milhões de perguntas perturbam a minha mente.

Olhei impaciente, a todo tempo, para a ampulheta sobre sua mesa. Quando a areia terminou de cair, eu saí correndo de sua sala e procurei por Living em todos os lugares. Encontrei-a com outras pessoas tão tranquilas quanto ela, cuidando do enorme jardim.

— Preciso falar com você. - digo e ela me olha confusa e sorri. Ela me estende uma pá. — O que é isso?

— Vamos conversar e plantar essas sementes. - ela ergue um saco felpudo e retira algumas sementes de dentro dele. Reviro os olhos e apanho a pá.

Abaixo-me ao seu lado e começo a cavar, da mesma maneira que algumas das outras pessoas ao redor.

— O que você sabe sobre um incêndio que ocorreu aqui? - pergunto de uma vez.

Living, que antes estava sorrindo sem mostrar os dentes enquanto colocava sementes dentro dos buracos já feitos, cessa todos os seus movimentos e me olha séria. Não havia diversão ou plena felicidade em seu semblante, e sim uma seriedade que eu desconhecia em relação a ela.

— Como sabe sobre isso?

— Eu quase fui atacada por uma garota chamada Hilary. A enfermeira me disse sobre o incêndio, mas...

— Não pode falar sobre isso aqui, Rylee.

— Por quê? Porque tratam isso como se fosse uma missão sigilosa?

Living solta o saco com sementes e vira-se de frente para mim. Ela se senta no chão, sobre suas pernas dobradas para trás.

— O incêndio aconteceu há seis anos. A C.C.Y estava na supervisão de Aaron, marido de Suzan. Ela deixou tudo e foi para uma viagem de negócios. O seu marido nunca ficou muito aqui, ele sempre causou medo em todos por sua postura sempre rígida e suas punições tenebrosas. Uma vez, ele colocou um garoto na detenção, ele saiu de lá apenas um mês depois, completamente desnutrido e ferido. Suzan não ficava sabendo dessas coisas, pois ela via o seu marido como um Rei. E a última pessoa que tentou provar o contrário, foi punida por ele. - ela umedece os lábios e se aproxima um pouco mais. — Na noite em que ela viajou, tudo aqui pareceu sair do controle. E foi quando o incêndio aconteceu. Eu não sei os detalhes, mas dizem que foi proposital e apenas três pessoas foram encontradas no local onde tudo aconteceu. O resto conseguiu sair do prédio, e os  que não saíram, ficaram como Hilary, mas vivos. 

— Onde aconteceu? Quem foi encontrado?

— No porão. Tudo já foi reformado, mas dizem que lá embaixo ainda está do mesmo jeito, mas ninguém tem permissão para entrar. - ela suspira. — E as pessoas encontradas foram Aaron, Clarice e Justin.

Essa informação final me faz perder o fôlego.

— O que aconteceu com eles?

— Aaron e Clarice morreram. Justin foi encontrado com... Sujo de sangue e segurando uma faca nas mãos. A mesma faca que, supostamente, matou Aaron. 

Olho-a com espanto. Eu não sabia se queria saber mais, mas a minha curiosidade parecia ser maior.

— Então ele matou...

— Nada foi provado, mas... Sim. - engulo em seco.

Eram coisas demais para eu processar.

— E quem era Clarice?

— Filha de Suzan em um relacionamento do passado. Ela estava internada aqui também. - ela olha para suas próprias mãos sujas pela terra. — Disseram que ela se envolveu com drogas no tempo em que foi morar com o seu pai. Ela foi enviada para cá com a ajuda de sua mãe e seu padrasto, no caso Aaron.

— Suzan é sempre tão...

— Feliz? - Living sorri abertamente. — Acho que todas as pessoas são assim, sabe? Escondem as dores mais profundas atrás de um grande sorriso. Cada um tem sua maneira de lidar com a sua dor. A de Suzan é fingir que não percebe os olhares piedosos e cochichos em sua direção.

Solto a pá que estava em minhas mãos e esfrego o meu rosto, tentando afastar minha expressão impressionada, atordoada e confusa.

— E porque Justin ainda está aqui?

— Na época, ele não tinha idade para ser preso ou acusado sem provas. Suzan preferiu não prolongar a história. Ela ficou ausente por quase um ano e meio, deixando tudo sendo administrado pelo reformatório judiciário de Chicago, onde todos ficaram por todo o tempo em que a C.C.Y levou para ser reformada. - Living aponta por cima do meu ombro com o queixo. — Lá nos fundos, próximo ao lago, é o cemitério feito para eles. Foram enterrados, ao lado do outro. Todos os dias, vinte e cinco do mês, vamos até lá e prestamos nossos sentimentos pela perda.

Fico algum tempo em silêncio, sem saber o que poderia dizer.

— Não fique fazendo perguntas sobre isso. Essa é a principal regra daqui.

Apenas afirmo com a cabeça.

Não consigo continuar mexendo no jardim. Levanto-me e deixo Living se distrair com as plantas e tudo o que havia ao seu redor. Entro depressa na ala dos dormitórios e entro no meu quarto. Trancando a porta e encostando-me a mesma.

Mais uma vez, esfrego o meu rosto e bufo em frustração. Ando até a cadeira e pego minhas roupas. Encontro a jaqueta de Justin no meio delas. Solto as roupas no chão e apanho o couro pesado, levando-o até o meu nariz e sentindo o cheiro forte que exalava dela. O mesmo cheiro que exalava dele.

Solto-a em cima da cama e me afasto. Vou até o banheiro e tiro a roupa de Living. Eu realmente precisava de um banho. Fecho a porta do banheiro e entro no box, ligo o chuveiro e deixo a água quente molhar o meu corpo.

Tantas coisas se passavam por minha cabeça. Todas elas eram teorias sobre o que aconteceu quando eu ainda estava passando por problemas na casa daquele homem. Agora, eu estou aqui. Acabei de saber que Justin pode ser um assassino que continua perambulando por todos os lugares desse lugar.

Será que esse é o seu segredo? Porque ele fez isso? Como tudo aconteceu? O que teria acontecido caso eu tivesse saído com ele? São tantas perguntas e todas elas parecem que nunca terão respostas. Eu não sei se conseguirei encontrá-lo novamente e vê-lo da mesma maneira. Ele, agora, não é mais apenas um mistério ou um erro, ele é também um perigo. Um perigo que eu sei que tenho que manter o mais longe possível de mim.

Termino o banho e me enrolo em uma toalha. Penteio o meu cabelo e o deixo solto. Meus planos serão ficar dentro do quarto até o horário do almoço. E, se possível, fugirei das aulas que terão, segundo o louco cronograma de Living.

Saio do banheiro e solto um grito quando vejo uma silhueta masculina encostado na janela. A pessoa se vira de frente para mim e meu coração não normaliza as batidas, apenas se intensificam mais. Justin sorri de canto e ergue as mãos para cima, em forma de rendição.

— Como entrou aqui? - pergunto e abraço o meu corpo, tentando me acalmar e manter a toalha firme em volta de mim. — Eu tenho certeza que a porta está trancada.

Olho para a porta e vejo a chave da maneira que a deixei.

— Deve estar. Eu não entrei por ela. - diz calmamente. Ele balança em uma das mãos uma chave de fendas. — Isso resolveu o problema.

Ele aponta para a grade caída da janela.

— Você invadiu o meu quarto. - começo a olhar ao redor, procurando por algo que eu possa usar em forma de defesa, caso ele tente me perfurar com aquela ferramenta em suas mãos.

— Não diria que foi uma invasão. Somos quase vizinhos. - diz em tom zombeteiro.

— Saia daqui ou eu vou gritar. - o alerto. Ando para trás e ele se vira de frente para mim, passeando seus olhos pelo meu corpo.

— Não faria isso. - diz em mesmo tom.

— Não pense que eu não faria, Bieber. Saia daqui! - grito a última parte e encosto-me a porta. Destranco-a rapidamente e seguro com força a maçaneta, enquanto uma mão se mantém firme na toalha.

— Tudo bem. Eu vim apenas buscar minha jaqueta. - ele diz e aponta para a jaqueta sobre a cama.

— Não podia ter batido na porta como uma pessoa normal?

— Rapazes não são permitidos nos corredores femininos. Pensei que soubesse, White.

— Invadir o quarto das meninas também deve ser contra as regras. - devolvo e seu sorriso se alarga.

Ele anda até a cama e pega sua jaqueta. Ele a joga por cima de um ombro e a segura com um único dedo, pela gola. Quando vejo seus passos em minha direção, pressiono-me ainda mais contra a porta, sentindo dor em minhas costas pela força que eu estava colocando.

Justin aproxima o seu rosto do meu e sinto calafrios balançarem o meu corpo. Ele coloca uma mexa do meu cabelo para trás da minha orelha e eu fecho os olhos quando sinto sua respiração e seu hálito de menta chocar-se em meu rosto.

— Você não devia esconder o seu rosto. - ele diz e a rouquidão estridente de sua voz faz meus músculos enrijecerem. Abro os olhos e olho para seus lábios entre abertos que logo são pressionados enquanto seu maxilar se trava.

— Saia... - clamo baixinho. Ele se afasta do meu corpo e eu me esforço para ir para o lado, mantendo-me longe dele e da porta.

Ele a abre e passa por ela, mas não por completo antes de me olhar de canto e sorrir de maneira arrogante.

— Você tem belas pernas, White.

— Vá para o inferno, Bieber. - rosno e ouço sua risada.

— A minha vida é o meu próprio inferno. - com isso, ele fecha a porta e eu sinto sensações mistas e preocupantes. 


Notas Finais




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