A família toda comentava sobre você e as amigas da Sophie também
Eles esperavam tanto para conhecer o tão famoso e comentado "Namorado Fodido da Robbie" e quando finalmente conheceram, pareciam não ter nada melhor para falar
Os olhares eram todos direcionados a nós naquela festa e eu conseguia sentir o olhar de raiva e fúria do meu pai assim que nós chegamos lá
Nos sentamos na mesma mesa que meus pais e algumas tias.
Logo a atenção que nós tínhamos desapareceu rapidamente e nós éramos convidados normais de novo
Nós dois conversávamos com todos da mesa, menos meu pai que se recusava até a olhar para você, e quando olhava era com cara feia, mas você não parecia incomodado com isso
- Fiquei sabendo que você se mudou, Robbie - disse minha tia, mãe de Sophie
- É, me mudei - concordei
- Está morando com o namorado com menos de um ano de namoro, é muita coragem - disse ela em tom de brincadeira tentando deixar aquilo menos absurdo
- É, mas eu sabia o que estava fazendo - disse confiante
Meu pai não aguentava ouvir aquilo, dava pra ver isso nos olhos dele.
Ele mal olhava pra você, Kyle.
Ele queria falar tudo que estava entalado dentro dele, mas algo o impedia e eu agradeci por isso
Foi divertido até. Se tirarmos os olhares de ódio do meu pai para você, foi divertido.
Durante um certo momento da festa uma menina pediu que eu segurasse o bebê dela por um instante porque ela precisava ir ao banheiro e eu o segurei
Eu não conhecia ela e nem fazia ideia do nome dele, mas ele era lindo e muito simpático
-Oi! - disse baixinho dando meu dedo para que ele segurasse
Levantei o rosto por um segundo e vi você me encarando sério, como se me analisasse.
Alguns segundos depois a mãe dele apareceu, o pegou de volta e agradeceu.
Fômos embora algumas horas depois daquilo, assim que a festa acabou
Eu estava exausta e não via a hora de chegar em casa e dormir
Ao entrarmos no carro pude perceber a sua expressão fechada
Eu rezava pra você não começar a falar sobre minha briga com meu pai e iniciar uma discussão desnecessária
Você foi calado o caminho inteiro e ao chegar em casa mal olhou para mim.
Só jogou as chaves sobre a mesa e subiu as escada sem falar nada, como se eu tivesse feito a maior merda do mundo
- O que você tem? - perguntei entrando no quarto
- Nada, ué. - você respondeu secamente mexendo nos lençóis da cama
- Jura? Vai ficar nessa mesmo? - me encostei no batente da porta
- Nessa o que, Robbie? Eu já falei que não é nada - você disse me olhando com o canto dos olhos
- Então conversa comigo, tá agindo como se eu tivesse feito alguma coisa. Se isso for por causa da minha discussão com o meu pai é melhor você nem começar porque nós já falamos tudo que tínhamos que falar
- Não é sobre o seu pai, Robbie - você disse impaciente
- Então diz o que é e facilita as coisas pro meu lado, por favor - pedi andando até você
Você parou de fazer o que estava fazendo e finalmente olhou para mim
- Eu vi você com aquele bebê mais cedo
- Eu sei, mas o que isso tem a ver? - perguntei confusa
- Você quer ser mãe, quer uma família e eu não posso te dar isso e se eu não fosse egoísta demais, eu te deixaria pra que você pudesse encontrar alguém que possa te dar isso, mas isso exigiria muita força de mim. Uma força que eu não tenho.
- Do que você está falando, Kyle? - perguntei com um gelo na barriga quando ouvi a parte que você disse que me deixaria
- Você olha pro futuro e vê filhos e uma família, mas eu não posso te dar isso, Robbie. Não posso
- Você nem sabe do que está falando. Eu não quero ter filhos.
Você não disse nada
- E se eu quisesse, por que você não poderia me dar isso? - perguntei
Você não respondeu e voltou a revirar os lençóis com esperança de se livrar da pergunta, mas você sabia que não conseguiria
- Kyle! Responde a minha pergunta - disse impaciente puxando os lençóis de sua mão e me colocando no pequeno espaço entre você e a cama
Você me olhou com o olhar frio e intimidador, mas eu me mantive firme
- Eu não sou um pai e eu nunca vou ser. Eu não nasci pra ser pai, Robbie - você disse
- Por que não? - insisti
- Porque eu não tive um pai, então eu não tenho ideia de como ser um - você disse
Eu queria fazer algo, dizer algo, mas eu não fiz nada, só te encarei
Você estava angustiado e parecia não gostar de falar e nem de pensar nisso
Você me deu as costas e saiu do quarto
Eu quis ir atrás de você, mas sabia que não seria uma boa ideia, então me arrumei pra dormir
Fiquei deitada encarando a parede por um bom tempo e nada de você entrar
Quando me faltou a paciência eu resolvi descer e ir atrás de você
Assim que entrei na sala consegui ver você sentado no sofá.
Dei alguns passos em sua direção, vi que você estava com um copo de whisky na mão e a garrafa sobre a mesinha de centro e você parecia estar desligado de tudo ao seu redor
- Kyle? - chamei me aproximando
Você virou o rosto para olhar para mim
- Vamos, já tá tarde
Você deu o último gole em seu whisky e passou por mim sem dizer uma única palavra
Eu não estranhei, já era normal pra mim esse tipo de comportamento seu
Você ia do sussurro ao grito em segundos e depois do grito ao sussurro novamente.
Você era instável. Era como o oceano, às vezes calmo, às vezes agitado.
Respirei fundo e subi
Você já estava deitado encarando o teto
Me deitei ao seu lado e logo você passou os braços em volta da minha cintura e me puxou para perto. Como eu disse, do grito ao sussurro.
Você continuava encarando o teto sem dizer uma única palavra
- Eu não quero ser mãe - disse quebrando o silêncio
Você tirou os olhos do teto e finalmente olhou para mim
- Eu não quero formar uma família no futuro porque ela já está formada. Você é a minha família, seu imbecil teimoso - completei e você deu um sorriso sútil
Caí no sono primeiro que você.
Pensei bem no que eu disse antes de dormir e concluí que eu estava certa.
Eu não precisava de filhos correndo para um lado e para o outro pra formar uma família, eu já tinha você já era o suficiente.
Hoje, se tivéssemos filhos, talvez tivéssemos um final diferente, sei lá, talvez essa estrada fosse bipartida e talvez um filho fosse a passagem para o lado menos esburacado e sombrio dessa estrada, mas de qualquer forma seria um filho, uma criança indefesa sob nosso cuidado e proteção e ela mudaria tudo, absolutamente tudo e talvez até complicaria mais esse tal caminho pela estrada
Eu gosto de pensar que a estrada número dois, a que seria aberta para nós com um filho, talvez fosse mais esburacada e sombria que a que nós pegamos sem um filho, foi uma maneira que eu encontrei de me confortar diante da situação
Hoje, eu agradeço por termos pego a número um, mesmo com todos os problemas que tivemos ao longo dela, eu agradeço por termos ido por ela
Talvez você estivesse certo.
Você não nasceu para ser pai.
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