História Signed, Robbie - Box

Abri os olhos lentamente e a primeira coisa que vi foi você

Você tinha os olhos fechados e ainda estava dormindo.

Sorri involuntariamente.

Você era tão bonito que chega a ser inacreditável

Você tinha um dos braços ao redor da minha cintura me segurando fortemente contra seu corpo e o outro estava sob minha cabeça e nossas pernas estavam entrelaçadas.

Era um dia chuvoso como todos os outros, mas era possível notar que estava absurdamente frio, pois o quarto estava mais frio que de costume

Passei o braço pelo seu tronco e encostei minha testa em seu peito.

Fiquei encarando a janela por alguns minutos até que você acordou

- Oi! - você disse baixinho me fazendo levantar o rosto
- Oi! - respondi

Você tirou uma mecha de cabelo que caiu sobre meu rosto e me beijou

Ficamos deitados em silêncio por um tempo, até que você disse que ia fazer café e teve que se levantar, mas eu não queria que você saísse dalí.

Me enrolei mais ainda no edredom para tentar conter o frio absurdo que eu estava sentindo, o que era estranho. Estava frio sim, mas não aquele frio todo que eu estava sentindo.

- Achei que você fosse descer para tomar café também - você disse entrando no quarto
- Agora não, tá muito frio. - disse me encolhendo mais de baixo das cobertas
- Nem tanto
- Nem tanto? Eu tô congelando! - disse

Você veio em minha direção com as sobrancelhas franzidas e pôs a mão em minha testa

- Você está quente. - você disse
- De baixo de três edredons, é claro que eu estaria quente
- Não, você está com febre - você esclareceu
- Não, eu não estou - neguei mais uma vez

Eu odiava ficar doente, então eu tentava fugir de todas as maneiras dessas coisas.

- Para de ser teimosa - você disse e começou a revirar algumas gavetas no guarda roupa
- Jesus, Kyle, que zona! - disse olhando suas roupas completamente reviradas dentro do guarda roupas

Você ignorou meu comentário e veio em minha direção com um termômetro

- Levanta o braço - você disse e colocou o termômetro em baixo do meu braço por alguns minutos
- Você precisa arrumar esse seu guarda roupa
- Esquece meu guarda roupa - você disse tirando o termômetro e o encarando por alguns segundos - É, você está com febre.

Revirei os olhos

Você desceu e alguns minutos depois você voltou com um xarope e algumas cartelas de remédio e me obrigou a tomar.

Eu definitivamente odiava estar doente.

Já havia passado alguns dias e parecia piorar cada vez mais, mas eu me recusava a ir a um hospital, afinal, era só uma gripe forte

- Você tem certeza? Eu posso ficar - você disse vindo em minha direção
- Não, pode ir, tá tudo bem - insisti

Você havia marcado de ir a um jogo com seus amigos há semanas e eu não poderia ir por causa da minha gripe nojenta

- Tem certeza mesmo? - você perguntou novamente
- Vai, Kyle. Eu vou ficar bem - repeti

Você assentiu e me deu um beijo na testa

Horas depois de você ter saído, eu fiquei deitada no sofá assistindo um documentário, até que minha cabeça começou a doer.

Me levantei e fui até a cozinha procurar por algum remédio.

Meu corpo inteiro doía e parecia que eu tinha levado um surra

Estava prestes a engolir o remédio quando meu celular tocou

- Alô? - atendi
- Robbie, tá tudo bem? - você perguntou com a voz grave do outro lado da linha

Minha visão ficou turva e me segurei no balcão a minha frente para me apoiar.

Você dizia algo no celular só que eu não conseguia entender nada

- Kyle... Eu... - tentei formular uma frase mas não deu tempo

Minha vista escureceu completamente e eu acordei algum tempo depois e eu estava no quarto.

Olhei ao redor e não encontrei ninguém de imediato, até que você entrou no cômodo e eu fiquei até mais tranquila

- O que aconteceu? - perguntei confusa me sentando na cama
- Você desmaiou - você disse simplesmente
- Droga! - exclamei baixinho

Você se sentou na cama e parecia estar irritado

- O que foi?
- Eu não deveria ter te deixado sozinha em casa
- Ah! Pelo amor de Deus, Kyle! É só uma gripe e não uma doença terminal - exclamei irritada
- É, Robbie, mas você desmaiou e se eu não tivesse te ligado na hora, eu nem saberia que isso aconteceu e provavelmente você não me contaria, porque isso faria eu te levar a um hospital! - você retrucou também irritado
- É, Kyle, eu não contaria porque isso te preocuparia a toa e não é isso que eu quero.

Você ficou calado e desviou o olhar do meu

Você era um puta cabeça dura e eu sabia que nada que eu tinha acabado de falar havia mudado o que você estava pensando inicialmente

- Que seja! - disse e voltei a me deitar

Fiquei encarando a parade em silêncio por vários minutos até você sair do quarto

Deus, Kyle! Você sabia me irritar!

Fiquei um bom tempo conversando com a minha mãe e com Mike e Megan e dizendo sempre a mesma coisa: Eu estou bem, é só uma gripe forte.

Quando você voltou a entrar no quarto e sem dizer nenhuma palavra se deitou na cama.

Coloquei o celular debaixo do travesseiro e te encarei. Você tinha o braço sobre a testa e o outro repousado sobre seu abdômen

- Eu exagerei, foi mal - você disse de repente
- Eu sei que exagerou - respondi ironicamente

Você me olhou pelo canto dos olhos por alguns segundos e sorriu. Não pude evitar de sorrir também.

Eu posso parecer uma adolescente patéticamente apaixonada, mas era incrível te ver sorrir. Era contagiante. Independente do sorriso que você me lançava, eu me derretia completamente e acabava sorrindo junto.

Você passou os braços em volta da minha cintura me puxando para perto e ali mesmo eu dormi, com a perna sobre sua barriga e o rosto enterrando em seu pescoço sentindo a droga do seu cheiro maravilhoso que até hoje não sai da minha mente.

(...)

Já havia se passando algumas semanas e eu já estava muito melhor, então achei uma boa ideia dar uma faxina na casa

Eu já tinha arrumado o andar de baixo e boa parte do andar de cima, só o que faltava era arrumar a zona que você sempre fazia na sua parte do guarda roupa.

Você nunca me deixava mexer muito no seu guarda roupa, mas como você não estava em casa, eu poderia arruma-lo sem você estar pedindo pra deixar isso para lá e tentando me destrair.

Eu estava na ultima gaveta e quando puxei uma calça jeans sua, uma caixa grande que estava escondida sob a calça fez um barulho dentro da gaveta.

A peguei e abri e dentro tinha algumas coisas que pareciam ser bem antigas, desde quando você era uma criança.

Logo de cara havia uma blusa feminina de renda com um perfume maravilhoso, a tirei e logo embaixo tinha um caderno de capa preta, o peguei e ele parecia ter quase todas as folhas com algo escrito, parei em uma página específica e gelei ao ler aquilo:

"Ele a machucou mais uma vez mas eu tentei para-lo dessa vez, mas ele me machucou também e depois a machucou mais ainda. Ela chorou a noite toda e eu só escutei.
Eu não aguento mais os gritos e os choros!!!! Ele tem que morrer antes que a mate"

Minhas mãos tremiam enquanto eu folheava o pequeno caderno.

Era tudo muito aleatório, sem datas e sem muitos detalhes, mas parecia ser de quando você era uma criança. Meus olhos bateram em uma página e meu coração acelerou mais ainda:

"Ela se foi, me deixou aqui com esse desgraçado! Ele a matou e agora chora por ela. A vontade de estourar os miolos dele é absurdamente incontrolável.
Foi tudo culpa dele e ele ainda chora!"

Virei a página procurando uma explicação, mas só achei mais um trecho confuso

"Ele me machucou e agora eu estou terminando o servidor. Aquele miserável fodeu comigo e eu só estou prestes a fazer o que ele nao teve coragem, mas eu espero encontrá-lo no inferno, porque sei que Deus não receberá minha alma depois de ter desejado tanto o mal de alguma pessoa."

Meu coração estava acelerado e estava prestes a pular de dentro de mim. Fechei o caderno e meus olhos foram diretamente para uma foto que ainda estava dentro da caixa, a peguei e a encarei por alguns segundos

A foto era simples mas graciosa. Havia um homem usando um terno preto e uma gravata vermelha, uma mulher linda com um vestido azul claro que ficava maravilhosamente bem nela e com um menino de aproximadamente uns três anos de idade nos braços que vestia um terno completamente preto.

- Kyle... - disse baixinho assim que bati os olhos na criança

Eu te reconheci imediatamente na foto, Kyle. A criança dos olhos negros e olhar marcante era você, não tinha como não notar. Você era uma criança tão linda e se parecia com o homem que estava na foto.

Virei a foto e no verso estava escrito: "Inverno de 1996. Família Belmont-Adams"

A anotação no verso com o ano e o sobrenome esclareceu o que eu já havia percebido ao olhar para a criança.

Era você e os seus pais na foto.

Você tinha pais absurdamente bonitos, assim como você

Vocês pareciam uma família feliz, mas as suas anotações pareciam dizer o contrário.

Ouvi um barulho no andar de baixo. Dei um pulo com o susto

Arrumei a caixa exatamente como estava e a escondi novamente

Meu coração estava prestes a saltar pela minha boca quando você entrou no quarto

- Oi! - você disse se aproximando e me dando um beijo
- Oi! - disse tentando parecer tranquila
- Estava mexendo no meu guarda roupa? - você perguntou quando viu a porta aberta
- Eu estava arrumando, mas não acabei, ainda não arrumei a última gaveta - disse me referindo a gaveta onde estava a caixa
- E nem precisa, eu faço isso depois - você disse dando de ombros e fechando a porta e vindo em minha direção

Você mentiu muito bem ao ocultar a caixa e por algumas horas você me fez esquecer um monte de coisas, inclusive aquela caixa, mas depois, ela não saia da minha mente

Quem havia machucado você?

Quem havia fodido com você? E quem era ela?

Ela era a sua mãe?

Por que Deus não receberia a sua alma? Por que você escreveu aquelas coisas sendo tão novo?

O que havia acontecido no seu passado, Kyle?

Essas perguntas me rondavam e logo tudo teve uma explicação.