História Signed, Robbie - Trust

Não tinha te visto a manhã inteira e imaginei que talvez você tivesse faltado a aula

O campus não estava tão cheio de gente andando para todos os lados como de costume, talvez por causa do horário, já era umas três e quinze da tarde e a maioria dos alunos do turno da tarde estavam nas salas de aula

Passei por um grupo de meninas que estavam no estacionamento e todas elas me encararam de cara feia e cochicharam algo entre elas, mas eu nem dei importância.

Eu estava abrindo a porta do carro quando sinto uma mão subindo pela minha nuca e entrando em meus cabelos.

Virei quase em um pulo e vi você

-Meu Deus! Seu bastardo de merda! Qual é o seu problema? - exclamei me recuperando do susto

Você ria parecendo até o diabo no inferno

-Não tem graça nenhuma! - disse e te empurrei

Você praticamente se jogou pra cima de mim me imprensando no carro e me beijou, não pensei duas vezes em retribuir o beijo

Enquanto nos beijávamos, eu conseguia sentir o olhar daquelas meninas sobre nós, mas eu não dava a mínima para elas

Nossos lábios finalmente se separaram você me entregou uma sacolinha dourada sem falar absolutamente nada

-O que é isso? - perguntei te encarando

-É só um presentinho, mas depois você abre isso- você respondeu me puxando pela cintura me beijando novamente

Alguns segundos depois eu interrompi o beijo e disse:

-Desculpa, eu não posso, prometi ajudar minha mãe hoje

-É, eu me lembro - você disse dando de ombros

-Eu tenho que ir mesmo

Você revirou os olhos, assentiu e se afastou um pouco de mim

Te puxei e te dei mais um beijo

-Tchau - disse baixinho e logo entrei no carro

Eu achava que depois daquele dia você começaria a perder o interesse em mim por achar que eu estava te evitando, mas eu não estava, Kyle.

Eu estava com um pouco de medo de fazer sexo com você, não por ser a minha primeira vez, mas porque eu achava que você talvez fosse me deixar de lado depois disso

Eu estava com medo de ser mais uma na sua lista de "Já iludi esse ano"

No outro dia, no estacionamento, eu estava nos meus segundos de coragem insana, era como se eu estivesse possuída por algo naquela noite, eu queria aquilo, mas se não fosse pela minha mãe ligando bem naquela maldita hora, eu já não seria mais virgem.

Eu tentei não pensar na probabilidade de você me deixar no caminho, mas era impossível, eu parecia uma adolescente psicótica, pensando em milhares e milhares de situações diferentes para aquela situação até que finalmente estacionei na frente da casa da minha mãe e ela logo abriu a porta

Ela tinha um sorriso largo e contagiante

-Sentiu meu cheiro, foi? - perguntei indo em sua direção

-Eu sou sua mãe, reconheço até o barulho do seu carro

Ri e a abracei

Entramos e fômos logo para a sala

Tinha caixas com o nome da Sophie por todos os lados e alguns convites sobre a mesinha de centro

-Ela deve estar bem ansiosa, não é? - perguntei me sentando no sofá

-Você não tem ideia! Disse que quase não dorme direito, mas é normal, só se faz dessesseis uma vez na vida, ela tem que aproveitar mesmo

Sophie era minha prima mais próxima.

Ela era um amor de pessoa e ia fazer dessesseis daqui a menos de um mês, nós estávamos preparando algumas coisas para ela.

-Pelo jeito os pais dela estão gastando uma fortuna com tudo isso - eu disse olhando em volta

-Nem fala, mas eles dizem que é por uma boa causa.

Assenti e comecei a preparar os convites

Ficamos horas ali e quando me dei conta já passava das dez da noite e estava caindo uma puta chuva lá fora

-Merda! Já tá tarde! - exclamei me levantando e olhando a janela

-Eu não posso deixar você sair à essa hora e ainda mais nessa chuva.

-Mãe, eu não posso ficar aqui

-Claro que pode, aqui é a sua casa e eu não vou te deixar sair nessa chuva, é perigoso demais

Revirei os olhos e concordei:

-Ta bom, me deixa só pegar algumas coisas dentro do carro

Saí com um guarda chuva qualquer e peguei minha bolsa e a sacolinha dourada que você havia me dado mais cedo e entrei novamente.

Ficamos na sala mais algumas horas conversando e assistindo filme até finalmente irmos dormir

Entrei no meu quarto e eles ainda estava do mesmo jeito que eu deixei

Abri as gavetas da minha antiga cômoda e encontrei algumas roupas que eu havia deixado lá. Tomei um banho e as vesti

Voltei para o quarto e me deitei na cama

-Oi! - disse minha mãe baixinho abrindo a porta devagar

-Oi! Essa cama era mais confortável do que eu me lembrava, não sei nem porque não a levei comigo - respondi sorrindo

Minha mãe riu e disse ainda sorrindo:

-Se ficar com medo dos raios pode vir dormir comigo

-Eu não tenho mais cinco anos de idade, mãe

-Pois é, meu anjo, eu sei. - ela disse - Boa noite, amo você

-Boa noite, também amo você - respondi enquanto ela saia e apagava a luz

Fiquei encarando a tela do celular por alguns segundos quando me lembrei do presente que você tinha me dado

Levantei da cama em um pulo e fui pegar a sacolinha que estava sobre a escrivaninha.

-Filho da mãe! - exclamei baixinho para mim mesma quando abri a sacolinha

Dentro estava a blusa que eu havia deixado dentro do carro

Ri e balancei a cabeça.

Joguei a sacolinha para o lado e me deitei. Era possível ainda sentir seu cheiro na blusa

Encarei o celular mais uma vez com a esperança de que talvez tivesse alguma mensagem sua, mas não tinha.

Apaguei a luz do abajur, me virei e logo caí no sono

(...)

Acordei assustada no meio da noite com o barulho de um trovão.

Ainda chovia lá fora e parecia ter ficado ainda mais forte

Me sentei na cama me recuperando do susto.

Era duas e vinte da manhã e eu tinha perdido o sono

Peguei meu celular e abri o chat de mensagens com você e dizia que você havia entrado por último há três minutos atrás e durante os meus doze segundos de coragem insana eu te enviei uma mensagem:

Robbie: onde vc está?

Não demorou muito até que você visualizasse a mensagem e começasse a digitar

Kyle: tô com uns amigos bebendo

Robbie: amigos?

Kyle: sim, tem alguns amigos meus e amigos dos meus amigos

Kyle: e algumas meninas também, mas nada de mais

Meu estômago se retorceu assim que eu li aquela mensagem

Eu estava com ciúmes de você

Porra, Kyle, você me fez sentir ciúmes de você!

Eu nunca sentia ciúme

Kyle: pq? algum problema?

Robbie: não, nenhum

Robbie: divirta-se bastante com os seus amigos aí

Kyle: tá com ciúme?

Robbie: pq eu estaria?

Kyle: não sei, me diz vc

Kyle: mudou completamente depois q eu disse q tinham algumas meninas aqui com a gente

Robbie: vc tá falando merda, Kyle

Kyle: tem certeza?

Robbie: claro

Robbie: eu não tô nem um pouco com ciúme de vc, pq eu nao tenho nada com vc

Robbie: vc é livre pra ficar com qualquer menina q quiser, já q eu não quis, tem quem quer, não é mesmo?

Robbie: então, vai em frente, fique com quantas você quiser

Robbie: eu tô pouco me fodendo pra isso

Kyle: ta bom

Depois disso você ficou offline, não entrou novamente e nem mandou mais nenhuma mensagem durante a noite toda

Só eu sei como eu fiquei por causa desse maldito "tá bom".

Duas horas, Kyle.

Eu fiquei duas malditas horas com isso na cabeça, martelando até eu finalmente voltar a dormir

Eu tinha certeza de que você ficaria com alguma daquelas tais meninas naquela maldita madrugada e eu não teria o mínimo direito de reclamar

Acordei no outro dia de manhã e a primeira coisa que fiz foi encher meu pescoço de maquiagem para que minha mãe não visse os malditos chupões que você tinha deixado em mim, logo depois que fiz isso, saí eu fui para cozinha

-Espero que você não tenha perdido nada de muito importante na aula de hoje - disse minha mãe enquanto colocava os pratos na mesa

-Eu também, mas eu faço um esforço e fica tudo bem

-Garanto que arquitetura é mais fácil que direito e filosofia - colocando ovos e bacon em meu prato

-Com certeza! - concordei e dei a primeira garfada

Minha mãe foi pra faculdade muito nova e acabou escolhendo o que cursar sem pensar muito bem, então acabou escolhendo Filosofia porque achava mais fácil, mas não durou nem seis meses e logo desistiu e mudou para Direito, o que, com toda certeza, era a vocação dela

Minha mãe era uma advogada incrível e ela ama o que faz e diz não gosta nem de pensar em se aposentar.

Tomamos café juntas e depois terminamos os últimos convites da festa da Sophie

-Quando foi a última vez que seu pai falou com você? - perguntou minha mãe de repente

-Acho que tem uma semana, quase duas

Ela apenas assentiu e disse

-Ele perguntou de você na última ligação. - ela disse - Perguntou se você já tinha me apresentado algum namorado ou algo do tipo, ciumento, como sempre

Eu ri e concordei

Meu pai vivia viajando por causa do trabalho.

A empresa sempre o mandava para outro país por quase dois meses. Ele quase não parava em casa e sempre perguntava da minha vida amorosa e eu sempre repondia a mesma coisa: completamente e absolutamente inativa

E eu não tinha comentado absolutamente nada sobre você com nenhum familiar

-Robbie, você já... Você sabe... - disse minha mãe meio sem graça

-Não!- exclamei quase gritando -Não, mãe, eu não fiz nada disso, eu nem tenho saído com ninguém ultimamente

-Entendi. Eu não preciso ter a conversa com você de novo, né? - perguntou ela

-Claro que não! Eu não sou estúpida

-Certo - ela disse e saiu do cômodo

Meu coração quase parou só de ela me perguntar aquilo. E eu não podia falar sobre você porque, como eu te disse, você e eu não tínhamos nada e eu não podia falar: "Ah, não, mas foi quase dentro do carro de um cara no estacionamento de uma pizzaria, mas você atrapalhou tudo com a sua última ligação", não era algo que eu podia contar pra minha mãe, então eu apenas fingi que você não existia.

Fui embora depois do almoço.

Tinha muita coisa pra fazer na faculdade e em casa também. Ao sair da casa da minha mãe fui direto para a faculdade procurar alguma alma viva para perguntar o que foi dado na aula de hoje e encontrei Jess sentada no Campus com algumas amigas.

Jess era uma menina da minha classe, muito talentosa e simpática, parecia até uma princesinha de tão fofa que ela era.

Me aproximei e fiquei conversando com elas por um tempo quando uma delas disse:

-Lá vem o gostoso

Olhei para a mesma direção que elas olhavam e vi você andando com outros dois amigos

-Qual deles? - perguntou Jess sorrindo

-Todos, mas principalmente do meio - respondeu Emily se referindo a você

Você estava parado conversando com algumas pessoas nem notou a minha presença ali e eu agradeci por isso.

-Ele é um Deus! - disse outra menina que estava lá também

Revirei os olhos

Eu simplesmente não conseguia entender como que elas conseguiam inflar seu ego falando de você como se você fosse realmente um Deus.

-O que foi, Robbie? Vai me dizer que ele não é lindo? - perguntou Jess me encarando

-Sim ele é, mas é um babaca - respondi dando de ombros

-Isso todo mundo sabe, mas a gente pode relevar isso - disse Emily mordendo o lábio inferior

Todas riram, mas eu me despedi e fui embora com a desculpa de que tinha trabalho para fazer.

Passei pelo seu grupinho de amigos só que do outro lado do lugar, mas você me viu e começou a me seguir

-Você é sempre tão mal educada, não é? - você perguntou sarcásticamente

Fingi que não tinha te escutado

-Vai fingir que não está me escutando

-Eu tenho a esperança de que você talvez vá embora

-Sério? E isso já funcionou alguma vez?

-Infelizmente, não - respondi finalmente olhando para você

Você sorriu e eu desviei o olhar do seu

-Espero que tenha se divertido ontem - as palavras saltaram da minha boca sem que eu quisesse

-Me diverti. Muito até - você respondeu e um sentimento de raiva tomou conta de mim

Assenti rezando para chegar no meu carro antes que eu falasse mais alguma coisa

-A melhor parte foi você com ciúmes - você disse

Eu ri

-Eu não estava com ciúmes de você, seu idiota - eu disse tentando convencer mais a mim mesmo do que a você

Você apenas assentiu e não disse nada

-Acha que eu fiquei com alguma delas? - você perguntou do nada

-Eu não me importo - respondi fingindo realmente não me importar

-Você acha que eu tenho motivos pra isso?

-Não sei, Kyle, me diz você! Você nunca precisou antes, não é?

-Você acha que eu sou algum tipo de idiota?

-Sim, Kyle, eu acho! - respondi parando de andar e te encarando

-Por que caralhos eu ficaria com alguma outra menina depois de finalmente ter conseguido você? - você perguntou e parecia sincero

Eu não disse nada, fiquei apenas te encarando

-Me responde - você pediu com a voz firme depois de alguns segundos de silêncio e se aproximou

-Porra, Kyle! Eu não sei! - respondi finalmente já irritada

-É, mas eu sei e você pode confiar em mim - você retrucou

Assenti, você me lançou aquele sorriso irresistível que sempre fazia eu me render e me beijou

"Você pode confiar em mim"

Eu lembrei dessa frase em milhares de situações futuras e me lembro dela até hoje sempre que penso no fracasso que foi o nosso relacionamento.

Eu me lembro de você pedindo para que eu confiasse em você sempre que me lembro das lágrimas que derramei e das feridas que você causou em mim.

Eu confiei em você, Kyle.

Isso é algo que você não tem o direito de reclamar.

Eu confiei tudo o que eu tinha a você, porque no fundo eu tinha fé de que esse desastre que nós chamamos de relacionamento, talvez, fosse dar certo, mas só causou dor para nós dois.