História Silenciada. - Capítulo Único

Os gritos saíam incessantes por sua garganta. Eram agudos, e infantis como a dona deles. Gritava até não possuir mais força alguma para tal, até que parecer sangrar por dentro de tanta dor. Sentia rasgar a garganta. Mas seu pavor era muito maior.

Voltou a gritar, pois sua vida dependia disso. Gritou porque estava a obrigando a ficar quieta, estava fazendo com ela algo que a mesma não queria - ou tinha maturidade para saber o que era. Gritou porque não gostou quando aquele homem que convivia quase todos os dias colocou a mão em suas coxas e tampou-lhe a boca.

Mas não seria uma mão que iria impedi-la de tentar se salvar.

Só parou quando não havia mais nada a fazer. Quando suas veias pareciam carregar ácido para seu coração, seus olhos liberavam cachoeiras e os espasmos causados por soluços eram os únicos movimentos que conseguia fazer. Só parou quando a face ardia pelos tapas e toda violação havia começado. Parou quando percebeu que, pelo resto de sua vida, estaria morta.

Costumava a aprender sobre verbos. Verbos, substantivos, biomas, somas. Costumava a ser a aluna exemplar, a melhor da sala. Costumava a adorar os professores, e eles também a adoravam. Costumava a ser uma garotinha linda e bem educada, que esperava os pais chegarem no portão da escola.

Até aquele dia.

Depois se trancou no quarto, no banheiro, dentro de si mesma. Como se fugir das pessoas pudesse a fazer esquecer as memórias. Achou refúgio nos cortes e nas galáxias. Como se dor fosse o único remédio para distrai-la dos traumas.

Achava que negar seus medos era solução para deixar de te-los.

Quebrou e tampou todos os espelhos, fechou os olhos como pôde e calou a alma.

Virou nada.

Sem paixões, sem amor - próprio ou de terceiros. Possuía apenas o pulso, mas coração perdera quando o professor a arrancou a inocência.

Sua vida foi acabada. E por isso, aos quinze, acabou com ela.