História Silent Smile - 1 - My Fault

Eu soltava um resmungo baixo, enquanto pegava minha mochila e me dirigia ao refeitório com minhas mãos enfiadas com força dentro dos bolsos da minha jaqueta fina de lã e couro. Afagava meus cabelos castanhos, já completamente escuros, enquanto observava todos os "estranhos" que passavam e me encaravam com simples olhares de nojo.

Você deve estar se perguntando:

Que tipo de louca é você?

O que diabos você está fazendo em um hospício?

Sério, eu realmente não queria estar aqui, mas...
Após todos os acontecimentos que houveram na minha vida de garota inútil e irresponsável, acabei por me deixar levar pela loucura e matei algumas pessoas que acabaram por merecer esse belo e trágico destino.

No que isso resultou? Você se pergunta.
Na minha punição temporária ficando dez anos nessa maldita prisão.
Eu não fui presa, isso mesmo. Meu "amigo Alex" me deu uma ajudinha e me fez parar em um destino "menos pior", se posso assim dizer.

Rafaela, Rafaela, como você foi parar em um destino desses...?

Heh, isso não importa.

Eu... Apenas... Quero sair desse lugar.

Suspiro, ao chegar naquele refeitório imundo, logo encarando a senhorita Flora, que servia todos os dias nossa comida. Na verdade, não sei se aquilo poderia ser considerado comida, era só um molho estragado com restos de carne crua que davam para os cães que nos vigiavam todos os dias.

Já falei que esse é o lugar mais nojento e escroto que já vivi?

-Senhorita Flora, por favor... Um misto de abóbora com dedo de bruxa. - Ouvi o murmuro do Roman, um dos garotos desse hospício, que estava mais para um orfanato, de tanta criança doida que vive aqui.

-Calado, Robert! Só pegue sua comida, seu moleque desgraçado. - A velha murmurou, enquanto coçava seu nariz sujo e passava o dedo no molho, dando um sorriso por achar que aquela gororoba estava ótima.

-Hmm, senhorita Flora... Pode me dar o de sempre, por favor? - Rosnei, ironizando uma voz fofa enquanto apenas recebia um olhar frio daquele moleque metido.

-Claro, senhorita Gonçalves.  - Recebi um sorriso largo daquela velha, que provavelmente não havia percebido o quão irônica fui naquele momento.

Suspirei, ignorando todos que me olhavam de modo estranho e começando a andar até a mesa mais afastada de tudo e todos.

-Blá blá blá, por favor, senhorita Flora~ Poderia me dar uma xícara de café?~ - Parei de andar no momento que ouvi aquela voz irritante soltar essa simples frase, virando minha cabeça lentamente na direção daquele moleque. - Hahah, essa loira idiota realmente acha que poderia ganhar algo a mais com esse comportamento? Sério, nós tiraríamos tudo de você, não importa o que você fizesse. - Ouvi sua risada irônica e sádica, até demais para um moleque de 14 anos. Apenas lancei um olhar frio para o mesmo, recebendo um do mesmo nível em troca. - Tch, loira idiota.

-Eu não sou loira faz um bom tempo, não acha, Roman? - Murmurei, desviando meu olhar frio para um grupo de garotas que me encaravam com nojo, rindo da minha provável trouxisse.

-Meu nome não é Roman, sua... - O garoto foi interrompido, sendo segurado por seus dois amigos, Endrik e Jess.

Suspirei, dando as costas e logo me sentando naquela bendita mesa, começando a comer meu "jantar".

Mal me apresentei, não é mesmo?
Sou Rafaela Gonçalves, uma simples garota de 19 anos, brasileira, que reside em Nova York, tendo uma ficha completamente suja por causa de seus atos.
O que você já fez? Deves perguntar a si mesmo.
Diversas coisas, como o homicídio da minha própria família, assassinato de dois garotos de 14 e 15 anos respectivamente, e também descontrole psicopata que acabou me fazendo esquartejar uma professora.
Isso tudo acabou por me fazer cair nesse maldito lugar, que me rendeu diversos castigos por minhas ações e  reações.
Tenho cabelos castanhos completamente escuros, como a raiz de uma velha árvore, olhos azuis acinzentados, como um céu nublado, que espalha a tristeza por toda a cidade que cobre. Tenho cerca de 1,70m, pesando 52 quilos. Isso realmente é algo necessário? Tch.
Em toda a minha vida, tive sérios problemas sociais que acabaram por influenciar tanto em minhas ações quanto na minha personalidade.
Enfim, isso é tudo que precisam saber de mim no momento, sério, nada mais lhes interessa.

Passo alguns fios de cabelo por trás da minha orelha, fechando meus olhos com força e dando uma mordida naquela carne "suculenta" e fria que estava molhada a aquele molho estranho que parece mais cocô de pombo misturado com caldo de feijão.

-Senhorita Silent, posso sentar do seu lado? - Dei um pulo ao ouvir uma voz masculina atrás de mim, rosnando logo em seguida.

-Não preciso de ninguém aqui, pode sentar com Roman e os outros. - Sorri cinicamente, logo mudando para uma expressão séria quando percebi que o garoto me empurrara para o lado e sentara perto de mim. - Tch, quem é você? - Murmurei, entediada.

-Jack, apenas Jack. - Encarei de modo desconfiado o garoto que me observava por trás de uma máscara azul escura com algumas manchas negras escorrendo daqueles grandes buracos negros que poderia chamar de olhos.

-Qual seu motivo para estar aqui, enchendo meu saco? - Resmunguei, desviando meu olhar envergonhado no momento que senti seu sorriso largo por trás daquela máscara estranha.

-Nenhum, apenas... Senti que deveria vir aqui conversar um pouco. - O moreno desviou seu "olhar", abaixando sua cabeça e se debruçando sobre a mesa.

-Conversar? Sério? Isso é algo desnecessário, não há nada em mim que deva lhe interessar. - Murmurei, com uma voz baixa, percebendo que o garoto me observava pelo canto de seus "olhos".

-Cala a boca, garota... Não haja como se eu realmente me interessasse em você. - Arregalei os olhos, lembrando dele no momento que Jack sussurrou essa frase. Levantei em um instante, batendo com força meus punhos naquela madeira suja e velha da mesa que estava sentada. - Ahn...? - Ouvi seu murmuro confuso, abaixando minha cabeça com minha longa franja azulada cobrindo meus olhos frios e sem alma.

-Tenho que ir para o meu quarto, foi um prazer te conhecer. - Resmunguei, começando a andar, acelerando mais e mais enquanto percebia diversos olhares sobre mim e barulhos de passos correndo atrás de mim.

Comecei a correr mais e mais, desviando e batendo em algumas pessoas que encontrava no caminho, ignorando seus xingamentos e reclamações.

Eu apenas quero ficar sozinha, me deixem em paz.

Me tranco rapidamente no meu quarto, esperando que ninguém estivesse naquele lugar naquele momento.
Suspiro, olhando em volta, e percebendo a solidão que aquele  lugar estava.

Heh, bem melhor.

Sua idiota, não deveria ter deixado ele lá, depois você reclama por ficar sozinha. Tch.

Cala a boca e me deixa em paz por pelo menos um segundo.

Me jogo na minha cama, com raiva, sentindo meus olhos começarem a lacrimejar rapidamente.

Boa noite.