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História Silente Devoção - Ágape


Escrita por: Hamal_ e Rosenrot9

Notas do Autor


Bom mais um cap

Esse me deu muito trabalho pois eu queria que saísse exatamente como estava na minha mente. E eu gostei do resultado.

Não está betado, pois eu quero que minhas amigas Ivi e Juliana leiam a fic como leitoras, que tenham prazer em acompanhar uma fic sem precisar, escrevê-la ou beta-la.
(mas aceito correções nos comentários e chat viu? se for algo muito bizarro eu corrijo e upo de novo hahaha)

Digo os mesmo aos demais leitores, criticas construtivas são sempre bem vindas.

No mais, vamos ao capítulo.

Capítulo 4 - Ágape


Fanfic / Fanfiction Silente Devoção - Ágape

Era alta madrugada, e mais uma vez Mu não conseguia dormir, remexia-se sobre as cobertas, incomodado. A tristeza estava ali, assim como as dúvidas e todos os outros sentimentos conflitantes que o perseguiam, mas estranhamente não havia lagrimas. Nas ultimas noites seus olhos pareciam ter secado, enquanto seu quarto parecia claustrofóbico.

Estirado na cama, Áries respirava com dificuldade o ar denso, com os olhos cravados no teto. Já havia desistido de dormir a muito tempo, e esperar pelo amanhecer seria impossível, pois precisava sair dali ou enlouqueceria.

Decidido a pôr fim em sua angustia, Mu levantou-se do colchão agitado, limpando o suor do rosto com uma das mãos enquanto com a outra apanhava uma das cobertas. Ainda descalço e de pijamas teleportou-se para fora da torre diretamente para a parte de traz do pagode sagrado.

Enrolando-se no grosso cobertor de peles e lã, para tentar combater o gélido vento da madrugada que o atingiu em cheio, Mu, caminhou cuidadosamente até o fim do terreno. A Lua iluminava seus passos enquanto avançava sem pressa, pé ante pé em direção ao nada. Seus pés descalços reclamavam o contato com o chão frio e irregular, mas ele não se deteve até que chegasse ao limite, e a sua frente existisse apenas o abismo que estava sob Jamiel.

Era estranho, mas Mu não tinha medo. Estar ali, à beira de um precipício que parecia querer engoli-lo, açoitado por ventos frios e fortes que cortavam as montanhas, além da escuridão da noite o rodeando, sentia paz. Seus sentimentos iam embora, seus pensamentos sumiam, e tudo o que existia naquele momento era ele e a imponente montanha.

Sem perceber havia fechado os olhos entregando-se ao momento com um longo suspiro enquanto sentia os longos cabelos ricochetearem seu rosto gelado. O vapor de seu hálito saia lentamente a cada inspiração e expiração, o frio lhe golpeava fazendo-o abraçar-se ainda mais ao cobertor, ao passo que sua mente desconectava da realidade, do espaço e do tempo, vagueando livre como o vento que o atingia.

Porem ao sentir uma presença forte e familiar, sua mente retornou imediatamente. Encarando novamente a realidade, Mu abriu os olhos sem pressa e manteve-se como estava.

— “ A quanto tempo está me observando? ” — Disse diretamente a mente de Shaka, que estava em pé, atrás de si.

— “ Depende! Acabei de chegar...” — Virgem fez uma pausa para tocar o ombro de Mu com cautela e vira-lo para si. Shaka usava o casaco tibetano e as botas que o lemuriano havia emprestado, os cabelos soltos incomodavam um pouco por isso os ajeitou antes de completar em voz alta — Mas a três semanas que eu o observo sofrer em segredo, amargurado pelas lembranças de uma traição e sofrendo miseravelmente em busca de respostas e justificativas, que sozinho dificilmente encontrará.

A franqueza das palavras de Shaka, assim como a forma terna como ele havia as havia dito atingiram Mu em cheio, fazendo com que arregalasse os olhos. Realmente, não que acreditasse que pudesse enganar Shaka com seu teatro diário de superação, mas não imaginou que seus sentimentos estivessem tão claros ao amigo, a ponto de ele saber exatamente o que lhe atormentava.

Foi então que Mu finalmente se rendeu.

— E você tem as repostas? — Mu perguntou em um sussurro, enquanto encarava os olhos fechados de Shaka suplicante.

Aquele olhar de Mu, aquelas palavras sussurradas, era tudo que Shaka aguardava a semanas, uma brecha para que pudesse ajuda-lo. Por isso não pensou duas vezes e puxou o lemuriano para junto de si, o acolhendo em seus braços, como se pudesse protege-lo de tudo.

— Não Mu, eu não possuo todas as respostas — disse Shaka enquanto afagava carinhosamente os cabelos lavanda do lemuriano, e ajeitava a coberta sobre seus ombros — Mas sei como ajuda-lo a encontra-las, se me permitir.

Mu por sua vez não titubeou e deixou-se levar, estava cansado de ser forte, cansado de encarar tudo de frente. Era um guerreiro honrado e orgulhoso, mas aquilo não era uma guerra, ali diante de Shaka, era apenas Mu, um homem magoado tentando recuperar as feridas que a traição do esposo havia causado em seu coração.

Por isso ao sentir Shaka abraça-lo, o lemuriano agarrou-se de volta com força sem pensar duas vezes, deixando as poucas lágrimas que lhe restaram, retornassem a seus olhos e escapassem mudas, molhando o tecido do casaco, abaixo de si. Só agora dava-se conta do quanto precisava daquilo, de sentir-se confortado, amparado, e se Shaka estava ali lhe oferecendo literalmente o ombro amigo, não iria rejeitar.

Virgem por sua vez mal respirava. Ter um homem tão forte e poderoso como Mu, frágil daquela maneira em seus braços lhe causavam sentimentos conflitantes. Primeiro vinha o amor, a vontade absurda de pega-lo no colo e cuidar dele com todo o zelo que possuía, depois a tristeza a se lembrar que era por outro homem que ele sofria, e por último a revolta e raiva, ao se lembrar do que Touro havia feito para deixa-lo naquele estado.

— Obrigado Shaka — Mu respondeu afastando-se lentamente do loiro, após terem ficado um bom tempo abraçados, enxugando discretamente o rosto — Acho que estou pronto para falar sobre o assunto. Mas ...Preciso de um chá.

Mu disse apontando com os olhos para os pés descalços que estavam congelando. Entendendo o desejo do amigo, Shaka acenou positivamente e no instante seguinte ambos haviam se teleportado para a torre.

♈ *** ♍

Já sentado na rústica cadeira de madeira no aconchego de sua cozinha iluminada apenas pela chama de um lampião a querosene, Áries esperava o amigo lhe preparar chai.

Agora era sua vez de observa-lo.

Virgem movia-se com total liberdade e intimidade pelo cômodo, procurando os ingredientes da típica bebida indiana. O lemuriano não se lembrava qual dos dois havia comprado a canela, o gengibre, o cardamomo e o cravo, mas era engraçado como esses quatro ingredientes surgiram em sua dispensa, para completar o que faltava na receita milenar da bebida.

Enquanto observava o loiro mexer o bule fumegante e o aroma impregnar o ar, Mu constatava como o Chai era quase uma constatação culinária da presença de Shaka de Virgem em sua vida. Presença essa tão marcante, quanto a bebida. Lembrava-se nitidamente de quando provara a primeira xicara ainda na tenra infância. Na época fizera uma careta e engolira a bebida na marra para não fazer desfeita ao amiguinho, o que era engraçado e curioso, pois hoje Chai havia se tornado uma de suas bebidas favoritas.

Fora tirado de suas reflexões quando Shaka lhe serviu uma xicara quente e se sentou ao seu lado com outra em mãos.

— Parecia distante. — disse o loiro

— Bobagens sem importância.

— Nem todas as bobagens são sem importância Mu. — Shaka bebeu um gole e o silêncio se fez entre eles novamente.

Ficaram ambos assim por um tempo, enquanto bebiam Chai, até que a voz baixa do lemuriano quebrou a quietude do local.

— Eu... — a voz falhou, não era fácil para um homem tão recluso se abrir, mesmo para um amigo querido — Eu não sei porque o que ele fez me abala tanto. Já sofri traições piores no passado, perdi eu mestre em uma delas... — mais uma pausa sofrida enquanto tentava organizar seus pensamentos — Acho que é porque eu jamais esperei isso dele. Aldebaran... um homem justo, acima de qualquer suspeita. Só queria entender porque ele mentiu para mim, se nós tínhamos algum problema conjugal porque ele não me procurou para conversar? Me sinto tolo, incapaz e iludido Shaka, pois se ele me traiu é porque tinha algum problema entre nós, problema esse que eu não faço ideia de qual seja. Eu acreditava piamente que tinha um casamento feliz e saudável... — Mu abria seu coração ao amigo com o olhar fixo no chão — Não é o ato que me fere Shaka, é a mentira, o engano! Ele mentiu para mim. Acima de tudo sempre fomos sinceros um com o outro, jamais esperava que ele pudesse me enganar a tal ponto. Se eu não bastava para ele... Se ele queria mais alguém...

— Você aceitaria? — Shaka interrompeu a linha de raciocínio do lemuriano.

Mu levantou os olhos do chão e encarou Shaka, mudo diante da pergunta.

Era doloroso para o loiro ouvir Mu falar de Aldebaran, mas precisava mostrar ao lemuriano a realidade que ele ainda não havia percebido, a verdade sobre seu relacionamento com Touro, por isso insistiu.

— Você aceitaria se Touro chegasse e lhe dissesse que além de você, ele desejava deitar-se com mais alguém Mu?

—Eu... eu verdadeiramente não sei. — Áries respondeu um tanto quanto surpreso, perturbado e confuso — Nunca fui ciumento, e acima do relacionamento sempre presei pela amizade e companheirismo que tinha com ele, Shaka!  Talvez eu não gostasse da proposta no começo, mas se ele sentia falta de uma mulher... —tentava chegar a alguma conclusão enquanto sentia o peito angustiado novamente — Olha, já me peguei pensando nisso, que ele fez o que fez por eu ser homem. Mas por todos os deuses, não pode ter sido algo banal como isso, foi ele quem me procurou... — Mu sentiu nesse momento os olhos marejarem — Você sabe disso, você se lembra, eu te contei. Eu nem sequer pensava em um relacionamento quando Aldebaran me procurou... Se ele não é gay, se esse é o problema porque ele tomaria tal atitude comigo? Porque se declararia apaixonado como fez? Não pode ser isso...

O lemuriano enxugava uma lagrima solitária enquanto Shaka bebericava o chai e procurava se acalmar para poder dizer algo sábio, mas as lembranças de Virgem o atrapalhavam naquele momento.

É lógico que o indiano se lembrava do dia em que Mu lhe contara sobre o namoro, afinal, como poderia se esquecer do dia em que seu coração foi dilacerado? Lembrava-se em detalhes daquela tarde de outono, quando após ter finalmente reunido coragem para descer até o templo de Áries e confessar a seu guardião, todo o amor que trazia no peito, fora recebido por um Mu sorridente afoito por contar ao melhor amigo uma grande novidade: Aldebaran o havia pedido em namoro, e ele, Mu, aceitado.

Shaka havia perdido o chão naquele instante, o mundo ao seu redor rodou, o fazendo sentir náusea enquanto o ar faltava devido a dor intensa que lhe correu o peito. Alheio ao que ocorria consigo, Mu lhe contava animado como fora pego de surpresa com o pedido, afinal não imaginava que alguém ali no santuário pudesse ter algum interesse romântico em si e que havia aceitado, pois, Aldebaran era um bom homem e um bom amigo, deveria ser também um bom parceiro, além disso não havia nada a perder, afinal estava solteiro a anos, seria bom ter alguém para lhe aplacar a solidão.

Sim, Shaka se recordava do dia em que seus lábios sorriram e felicitaram Mu, enquanto era tragado pelo buraco negro da tristeza. Lembrava-se de como se despediu às pressas com uma desculpa qualquer, e praticamente corrido até seu templo, se atirado aos pés de buda amaldiçoando seu karma. Para que ser trazido de volta a vida, se quando finalmente entendera e aceitara o amor que nutrira em sua alma por anos, chegara tarde demais?

Naquele dia aos pés de Buda Shaka chorou como nunca havia chorado, como ninguém jamais imaginaria. Fora tragado por uma tristeza profunda como jamais havia sentido. Mas foi em meio a dor que o tomava, que Buda lhe ensinou sua lição mais valiosa e seu único conforto:

“O amor verdadeiro não é egoísta”.

Mu na época estava feliz, e ele, Shaka, não tinha o direito de intervir em sua felicidade ou se entristecer com ela. Se amava Mu de verdade, se seu amor era puro e real, deveria ficar feliz por ele. Continuaria amando-o infinitamente, mas agora de maneira altruísta, pois “Sua felicidade será a minha felicidade” se tornara o novo mantra a reger sua vida.

Percebendo que havia se perdido em seus pensamentos e que Mu aguardava alguma resposta de sua parte, Shaka respirou fundo, expulsando aquela lembrança dolorosa para se focar no presente.

— E não creio que a orientação sexual de Touro seja o problema Mu.

— Então porque me perguntou se eu aceitaria? O problema então fui eu?   — Mu voltava a se angustiar — Mesmo que fosse, mesmo que eu deixasse a desejar em algum ponto, em nome da longa amizade que eu e ele tínhamos antes de nos relacionarmos, ele não faria aquilo.

— Mu, nada justifica ele fazer o que ele fez, não é sua culpa a traição dele. — Shaka disse com calma, terminou de beber seu chai e colocou a xicara sobre a mesa —Você diz o tempo todo o quão amigos eram, da confiança e cumplicidade. Me perdoe a indiscrição, mas preciso lhe perguntar algo e quero que antes de responder pense bem, e pergunte a si mesmo.

O lemuriano ficou sério por um instante e então acenou positivamente para que Shaka prosseguisse.

— Você era apaixonado por Aldebaran?

A pergunta veio tão certeira e direta que o lemuriano até arregalou os olhos de surpresa. Enquanto Shaka o encarava sério, com os olhos azuis bem abertos cravados em si, Mu sentia-se acuado como nunca se sentiu na vida. Que tipo de pergunta descabida era aquela?

Áries abriu e fechou a boca, mas sem emitir som. Apertava a xícara em suas mãos confuso.

— Eu... Ora Shaka, eu me casei com ele! — respondeu com uma ponta de indignação.

Virgem, o observava com cautela e percebeu que finalmente atingira o ponto certo, por isso prosseguiu mesmo diante a reação do amigo.

— Sim se casou. Mas alguma vez sentiu seus joelhos tremerem apenas pelo toque suave da mão de Touro? Ou se pegou admirando o rosto dele enquanto dormia? Velando seu sono até sorrir sozinho, feliz, apenas por ter a presença dele ao seu lado?

—Eu... Não... — Mu respondia atordoado sem entender o propósito de tudo aquilo — Mas o que isso tem haver com...

— Já sentiu tanta saudade que cada hora, cada dia longe dele, era como morrer aos poucos? — Shaka prosseguiu sem se importar com a confusão estampada no rosto de Mu. Olhava diretamente nos olhos do ariano, usando seus próprios sentimentos por ele como inspiração. Estava determinado a arrancar do lemuriano a verdade, da qual nem Mu se dera conta — Alguma vez, só de pensar na possibilidade de vê-lo triste, sentiu o coração se apertar? Ou então, percebeu que preferiria a morte do que uma eternidade sem a presença dele? — um tanto assustado, Shaka notou que a emoção o fazia perder o foco e revelar mais do que gostaria, então achou melhor voltar ao foco da questão, antes que Mu percebesse que falava de si mesmo — ... Vou repetir a pergunta. Você era apaixonado por Aldebaran, Mu?

O silêncio que dominou o ambiente logo após a indagação do Santo de Virgem era quase palpável.

Mu encarava os olhos azuis de Shaka, sem nem conseguir respirar direito. Inúmeros pensamentos invadiram sua mente a uma velocidade que o deixavam tonto. Sem ser capaz de sustentar o olhar intenso do virginiano, Áries voltou o rosto para a xícara de chai frio em seu colo.

— Não. — respondeu enfim, com voz baixa, mas em seguida ergueu o rosto pronto para se defender — Não era apaixonado por Aldebaran, Shaka! Nunca senti essa euforia dos romances literários. — disse com firmeza — Mas um relacionamento, e principalmente um casamento, se constrói com bem mais que apenas suspiros e beijos apaixonados. Está bem, nunca senti as tais borboletas no estômago, nem por ele, nem por ninguém. Mas isso não quer dizer que eu não o amava de verdade.

— Eu não disse que você não o amava, Mu!

— Então porque me fez essa pergunta?

Shaka então respirou fundo, percebendo a irritação na voz do ariano. Fechou novamente suas pálpebras ao se levantar e caminhar até próximo a uma das pequenas janelas do cômodo de pedra. Parado diante dela, com as mãos para traz, admirou por alguns segundos o céu escuro e estrelado. Precisava pensar bem em suas palavras, ser sábio, e não deixar que seus sentimentos o atrapalhassem novamente, ou poderia estragar sua chance de ajudar o amigo.

Atrás dele, Áries se acalmava enquanto aguardava paciente a resposta de Virgem. No fundo estava ansioso para que ele lhe ajudasse.

— Se lembra das nossas aulas de grego antigo Mu? — a voz poderosa, porem serena, do indiano soou nostálgica.

— Sim. Como esqueceria? Era meu mestre Shion quem nos ensinava pessoalmente.

— Existem quatro palavras em grego antigo para a palavra “amor”.

Eros, fileo, storge e ágape — Mu deixou escapar em um sussurro.

—Exato. Cada uma com um significado e importância única. Eros: o amor sensual, sexual, carnal, a paixão. Fileo: o amor social, fraternal, amizade, companheirismo, que torna amigos mais chegados que irmãos. Storge: amor familiar, dos pais pelos filhos, humilde, sacrifical, doméstico, aquele que faz uma mãe dar a vida pelo seu rebento. E finalmente o Ágape, o amor maior, incondicional, eterno e infalível. Está na natureza do homem sentir os três primeiros e na divina sentir o último. 

Shaka fez uma pausa, sentindo os efeitos do que ele mesmo dizia. Havia demorado anos para aceitar que como homem, também sentia os três primeiros, aceitar que seu desejo por Mu não era fileo e muito menos storge. Era eros! Mais difícil ainda, foi transformar todo esse amor em ágape! Amar Mu sem esperar nada em troca.

Mu por sua vez também refletia nas palavras do virginiano. Sabia perfeitamente o que cada palavra significava, então porque Shaka o estava lembrando de seus significados? Estava obvio que queria lhe transmitir algo através delas.

— A essa altura já deve ser capaz de entender. — Virgem disse ao se virar de frente para o amigo. Então caminhou de volta para a mesa, puxou uma cadeira e se sentou ao lado dele. Delicadamente Shaka tirou a xicara que ainda estava imóvel e fria entre mãos do lemuriano, colocou-a na mesa e segurou gentilmente em seus dedos. Foi com extrema gentileza e carinho na voz, que recomeçou a falar — Você sempre foi repleto de amor fileo, Mu. Por onde passa cativa a todos a sua volta, por transbordar de si esse amor fraternal tão puro e verdadeiro. Você de fato amou, e acredito piamente que ainda ame Aldebaran, mas não com eros, Mu. — enquanto Virgem falava, ele acariciava gentilmente os dedos trêmulos de Áries, pois o lemuriano recomeçara a chorar.

De cabeça baixa e olhos fechados, Mu ouvia Shaka, enquanto tentava controlar os pequenos soluços que o tomavam. Não sabia explicar o porquê, mas aquelas palavras o afetavam de uma maneira que jamais imaginou.

— Você o amou sim. Imensamente, como seu companheiro e amigo. Mas foi você mesmo quem me contou, anos atrás, que aceitou namora-lo apenas porque estava cansado de estar sozinho, e que por ele ser um grande amigo, as chances de darem certo eram maiores. Quando aceitou se relacionar com ele, gradativamente seu amor fileo se transformou em amor storge, aquele amor sereno, familiar e conjugal, de um esposo para outro, e tudo parecia bem a seus olhos. — Shaka prosseguia, agora fazendo uma leve caricia em seus cabelos a fim de conforta-lo — Mas Touro não o ama dessa mesma forma, Mu. O que ele sente por você é eros, é paixão, é desejo.

— Isso deveria justificar o que ele fez? — Mu indagou indignado, enquanto erguia o rosto e soltava uma das mãos para enxugar de maneira nervosa as lagrimas que o tomavam. — Está bem, meu amor não era eros, nunca fui enlouquecidamente apaixonado por ele, mas o que eu sentia... O que eu ainda sinto, é real e verdadeiro, Shaka! A mentira e a traição dele, ainda me ferem de tal forma que mal consigo suportar. Então meu amor, seja lá qual seja, não tem valor algum?

— Por Buda, Mu! É claro que tem. Justamente por isso que lhe disse que absolutamente nada justifica o que ele lhe fez. — Shaka tentava acalmar Mu, que irritado tentava enxugar as lágrimas.

 —Eu me entreguei a ele, confiei em suas palavras e sempre fui fiel e sincero. Se o que eu sentia não era uma mentira, e ele era tão apaixonado, porque me enganou e me trocou de maneira tão baixa? — Mu encarou Shaka nos olhos, como se ele tivesse a resposta que aliviaria seu coração partido.

— Não é a mim que deve fazer esse questionamento. Sinto muito, não sei te responder sobre isso.

“Porque se fosse meu, eu jamais o trairia, Mu!” Shaka completou mentalmente, deixando que seus dedos escorregassem sutilmente pela face pálida do lemuriano, numa carícia singela.

Com um suspiro cansado, Virgem então recolheu ambas as mãos, e ajeitou os próprios cabelos, um tanto nervoso. O contato começava a perturba-lo, fazendo surgir em si desejos perigosos que com muito custo suprimia.

Ao perceber a luz dos primeiros raios de sol adentrando pela janela, decidiu pôr fim aquela conversa. Estava sendo muito difícil escutar Mu falando sobre outro homem, e aquela proximidade o enlouquecia. Além disso também percebia o lemuriano esgotado emocionalmente.

— Mu, já lhe dei muito o que pensar, meu amigo. Precisa organizar sua mente e seus sentimentos. Tenho certeza que irá encontrar sozinho a resposta que tanto procura. — Shaka disse ao se levantar — Mas agora precisa de descanso.

Somente nesse momento, Áries se dera conta de que havia passado a noite em claro.  Virgem estava certo, sua mente estava fervendo e não chegaria a lugar algum exausto como estava.

— Suba para seu quarto. — o loiro disse repousando uma mão no ombro do lemuriano de forma gentil — Sei que tem o costume de levantar-se cedo, mas apenas por hoje, deixe comigo os afazeres matinais. Vou pegar a água na nascente para a banheira e preparar o desjejum. Mais tarde eu lhe chamarei para que tome um banho morno e coma alguma coisa. Mas agora, apenas deite-se um pouco e tente descansar.

O lemuriano fez que sim com a cabeça e se levantou.

Por alguns instantes ambos ficaram parados frente a frente muito próximos, Shaka tocando os ombros de Mu, e este olhando para suas pálpebras cerradas.

Uma sensação estranha se apoderou do lemuriano naquele momento, um nervosismo desconhecido, uma ansiedade crescente, junto de um constrangimento estranho que não sabia como lidar. Desejava acabar com aquilo, talvez dizer algo a Shaka, mas faltavam-lhe palavras. Da mesma forma, Virgem sentia a mão com a qual tocava o lemuriano queimar, pois o calor da pele de Mu irradiava pelo tecido leve do pijama e o acertava em cheio, o desnorteando e dificultando sua respiração.

— Shaka ... Eu... — Mu tentou quebrar aquele silencio, que pela primeira vez o incomodava. Mas as palavras desapareciam antes que as pronunciasse, o deixando ainda mais ansioso.

— Shhhh! — fez Virgem, silenciando a tentativa do amigo com um pequeno sorriso de entendimento — Não precisa. Apenas vá!

Mu retribuiu o sorriso, e tocou a mão do loiro em seu ombro, a apertando, como agradecimento, sumindo em seguida, pois havia se teleportado para seu quarto.

Assim que se viu só, com o braço ainda estendido no ar, Shaka abriu a boca e puxou o ar com força, se amparando na mesa ao lado. Respirava com dificuldade, tentando acalmar seu corpo, seu espirito e seu coração.

Aquela conversa com Mu, e mais precisamente aqueles angustiantes momentos finais, haviam minado todas as suas forças. Se não tivesse calado Mu e o mandado sair imediatamente, temia que não teria sido capaz de resistir, e sucumbindo ao seu próprio desejo pelo ariano.

Ainda trêmulo e ofegante, o virginiano se sentou desajeitadamente na cadeira antes ocupada por Mu. Apoiou os cotovelos na mesa, enquanto enfiava os dedos longos nos cabelos, arranhando o couro cabeludo e apertando os fios dourados com força.

 “Ágape... A quem eu tento enganar? ... Buda, me ajude! Quero ama-lo sem esperar nada em troca, de forma incondicional, acima das paixões mundanas ... Mas meu coração está tomado por eros... Buda! Estávamos tão próximos... quase pude sentir o gosto suave de deus lábios... A macies de sua pele ao meu alcance... ele não me negaria estando frágil como se encontrava... Quase um convite... NÃO! ... POR BUDA! NÃO! ... Por favor, me ajude nessa provação, ele não me ama com eros, Buda! ... Então arranque de mim esse desejo mundano por Mu! ”

Clamava mentalmente por ajuda a seu guia espiritual, enquanto era atormentado por pensamentos e desejos nada castos pelo amigo.

 


Notas Finais


Grupo do face com extras das fics ;) "Fics trio ternura"
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AMOR “EROS”: Termo grego para o amor sensual. Daí a palavra “erótico”. Esse é o amor físico, da carícia, da relação sexual. Quando um rapaz diz para a namorada: “Estou apaixonado por você!”, ele quer expressar o amor “eros”. Por isso tal amor é também conhecido como paixão. Apesar de tudo isso, esse amor é passageiro.

AMOR “FILEO”: É o amor-amizade, fraternal, social. Desse vocábulo grego (“fileo”) temos algumas palavras derivadas, como Filadélfia (“fileo”, amor-amizade, e “adelfos”, irmãos) que significa “amor entre irmãos” ou “amizade fraternal; Teófilo (“Teos”, Deus, e “fileo”, amizade ou amigo) que quer dizer “amigo de Deus”; Filantropia (“fileo”, amizade, e “antropos”, homem) significa “amor humano”. Em suma, se você possui boas amizades, logo o que está em evidência é o amor “fileo”.

AMOR “STORGE”: É o amor conjugal, familiar, doméstico. Longe de ser interesseiro, esse amor é humilde, objetivo e sacrificial. É o amor que une o marido à sua mulher bem como os pais aos filhos. Logo, em um lar onde reina a harmonia, está em ação o amor “storge”.


AMOR “ÁGAPE”: Dos quatro, este é o amor maior, pois tem origem no próprio Deus que é a revelação clara desse amor. Esse amor é incondicional. Ou seja, não espera nada em troca. Não preciso esperar que alguém me ame para amá-lo. Aliás, com esse amor é possível amarmos até os nossos inimigos . Ele também é infalível e eterno.


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