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História Silhouette - Capitulo Único


Escrita por: Asukahime-sama

Notas do Autor


Boa leitura!

Obs: Songfics são feitas para lerem com a música, porém você sempre pode ser rebelde e não escutar apenas ler.

Nome da musica: Silhouette - Aquilo

Capítulo 1 - Capitulo Único


Fanfic / Fanfiction Silhouette - Capitulo Único

 

Ficou em frente ao carvão

De pé com as costas para o sol

Não me lembro de ser nada a não ser corajoso e jovem

 

Sentindo o gosto da areia em sua boca Lucy se esforçou para erguer o rosto do chão sujo de carvão e sangue, ainda estava tonta devido ao impacto da sua cabeça contra o chão, assim que seu corpo foi jogado naquela cela, a magia protetora do local pulsava em seus ouvidos e embriagava o lugar com um cheiro doce e enjoativo para reforçar o efeito sedativo.  Seu corpo tremia pela falta de força, e mesmo dando seu máximo a única coisa patética que conseguiu fazer foi uma leve flexão do pescoço, com isso conseguiu fitar a pequena janela quadrada aonde passava alguns raios solares de cor alaranjada.

O por do sol chegara anunciando mais uma noite sem luar, logo, aquele lugar se tornaria um completo breu*.

Respirou fundo e fechou os olhos tentando fazer com que as lágrimas não caíssem, precisava se concentrar em outra coisa que não fosse o frio que sentia ou as lembranças do porque dela estar ali trancafiada naquele lugar nojento, ela precisava ser forte, ela precisava sair dali, ela precisava salvá-lo...

Mas precisar fazer algo, não significava que ela conseguiria fazê-lo. 

Sem sucesso, sentiu quando as lagrimas desceram sobre a sua bochecha trazendo um gosto salgado aos lábios, as lembranças que insistiam em retornar a mente voltaram.

O rosto de Natsu inexpressivo enquanto de pé segurava o livro de Zeref nas mãos, sendo encarando por um Gray furioso que descobrira que o amigo era E.N.D, assim como todos do time, que assistiam perplexo a revelação de Natsu para o grupo.

Se lembrava também das palavras ditas por Gray, após suas mãos se fecharem em punhos e a marcar do poder do Devil Slayer se formar em seu braço, o "Desculpe-me Natsu…" foi quase inaudível, ela não teria escutado ou visto a única lágrima derramada pelo moreno se não tivesse perto demais. Depois dali, muitas partes do que tinha acontecido acabavam se misturando em suas lembranças devido ao pavor gerado pela própria situação, cenas rápidas demais para alguém que tentava parar aquela briga entre choros e gritos dolorosos.

Recordava-se de Erza tentando se intrometer e se colocando na frente de Natsu para convencer a Gray mudar de ideia, também de Wendy com lágrimas nós olhos chorando pelos dois amigos e a situação que se encontravam, ao se concentrar jurava ser capaz de conseguia ainda sentir a patinha de Happy sobre sua canela, o pavor em seus olhos negros tentando decidir o que fazer naquela situação.

Erza não conseguiu conter Gray aquele dia, na verdade, a ruiva desprevenida não esperava que o moreno a atacasse e a arremessasse a metros de distancia para não atrapalhar a briga, Wendy correu até Erza junto de Charles, e somente Lucy e Happy ficaram para testemunhar o que se prosseguiu.

Ela e Happy.

Parados.

Impotentes.

Fracos.

Surpresos demais para usar força ou palavras. 

No começo Natsu só desviava dos ataques de Gray tentando explicar que ele não se tornaria E.N.D que ele ainda era o Natsu, mas a loira podia ver que Gray já não era mais o Gray que conhecia, o moreno que lutava contra Natsu era aquele garoto de anos atrás, que perdera o pai e a mãe e Ur para um dos demônios de Zeref.

 O mesmo que se mantinha-se preso a última promessa com seu pai, de eliminar E.N.D, não importava como, não importava - nessa situação - quem.

Quando a surpresa passou e o desespero bateu por tudo que estava acontecendo, por tudo que poderia acontecer e tudo que estava prestes a perder, lembrou-se a si mesma quem era, que tinha forças e que os amava e invocara a armadura de Loke para seu próprio corpo. Lucy e Happy avançaram tentando impedir Gray, mas antes que pudessem fazer algo de fato, viu o livro escapar da mão de Natsu por um golpe certeiro, e ele caiu aberto no chão.

Então tudo aconteceu rápido demais...

Tudo o que ela amava se partiu rápido demais...

 A luz escura emanando do livro que lançou Gray e Happy a metros de distancia, era uma magia tão forte, tão poderosa que árvores próximas foram arrancadas de suas raízes e voarão em companhia do gato e o moreno. Lucy quase fora com as árvores, mas usou em um lapso de reflexo a armadura de Aries e colou-se ao chão com a lã fofinha.

E quando olhou na direção de Natsu viu que o rosado estava curvado em dor, as veias de todo seu corpo saltadas pareciam estar repletas de magia e brilhavam em um intenso vermelho, escamas de dragão começaram salpicar o seu lado esquerdo do rosto e depois marcas parecidas com as de Gray quando usava o poder do Devil Slayer, mas da cor vermelha, se espalharam pelo seus dois braços e abdômen.

 Lucy naquele momento vendo a transformação e a magia negra que o envolvia gritou por ele o mais alto que sua voz permitira, o rosado ainda em agonia a fitou, os olhos em total desespero oscilavam nas cores das íris negras para douradas, ele abriu a boca para responde-la e tudo que Lucy pode fazer foi ler de seus lábios um "Eu sinto muito Luce, eu…", mas antes que concluísse seus olhos deixaram de oscilar e ganharam um tom dourado, um sorriso no canto dos lábios surgiu no rosto do rosado e o livro voltou a se fechar.

Essas lembrança voltavam, de novo e de novo, perseguindo-a no escuro e durante o dia enquanto tentava respirar, sufocando-a junto ao espaço pequeno e podre daquela prisão.

- Acorde loirinha! – o grito fez com que Lucy saísse do seu transe – Parece que o mestre quer brincar com você.

Lucy escutou a cela sendo aberta e forçou-se a olhar para quem viera tirá-la dali, o demônio feito por E.N.D – que tinha a mesma habilidade de Zeref – era uma mulher que parecia se mesclar com um tigre, tinha listras pretas em seu corpo e o nariz era igual o do animal assim como as belas presas saltadas.

- Vamos levante! – ordenou ela, e seu cabelo laranja curto balançaram enquanto caminhava em sua direção, parando, sorriu e pisou sobre o rosto de Lucy – Oh! Como pude esquecer, não é? Essa cela tem meu ritual que neutraliza qualquer força e magia e lhe deixa assim, a inútil que realmente é!- a demônio riu e desfez a magia, Lucy sentiu as suas forças voltando e se ergueu com dificuldade só para ser socada pelo demônio no estomago, caindo desacordada no chão, consumida pelo escuro até o looping** de lembranças a alcança-la novamente.

"- Finalmente…" sussurrou Natsu dominado por E.N.D se espreguiçando "Pensei que ele ficaria lutando por mais tempo, quase fiquei convencido que ele conseguiria vencer e ficar com o próprio corpo"

"-Natsu...?" Lucy levantou-se, chamando atenção para si, aquele que tinha o corpo de Natsu, mas já não era o mesmo, a olhou de cima a baixo "Não… Não… Volte Natsu…"

Em questão de segundos, E.N.D a alcançou segurando seu pescoço a fitando detalhadamente, Lucy tentou fazer com que ele a soltasse, mas era inútil, após o demônio de Zeref tomar seu corpo ele estava muito forte, e não a poupou de demonstrações, segurando-a a ponto de não conseguir puxar o ar para os pulmões enquanto seus ossos queimavam em dor protestando contra a pressão feita, os braços lutavam para que ele a soltasse, mas nada parecia ser suficiente ou fazer efeito, o corpo de Natsu parecia concreto puro, permitiu-se fitar o rosto tão conhecido, mas agora pertencente a algo tão diferente, daquele que ela só desejava salvar.

Os olhos amendoados encontraram os dourados e por um segundo ela jurou ter visto o olho esquerdo de E.N.D oscilar para preto, e nesse segundo o aperto em seu pescoço se afrouxou, e ela foi solta, caindo no chão.

"Interessante… Vou ficar com você", e aquelas foram às últimas palavras que ouviu antes de ser jogada naquela cela.

 

Nos tornamos ecos, mas ecos que desaparecem

Caímos no escuro enquanto mergulhamos no caminho

 

Gray abriu o mapa sobre a mesa assim que terminou sua última explicação para os membros da guilda que estavam a sua frente, todos permaneciam com o semblante sério enquanto absorviam as informações do moreno, aguardou pacientemente por opiniões sobre o plano que elaborara para resgatar Lucy de END, já faziam semanas que todos tentavam pensar em uma forma eficiente para resgatá-la, o tempo estava contra ao seu favor e naquele momento todos temiam que o pior já podia ter acontecido a ela.

Desde da luta entre Natsu e ele o clima da guilda havia mudado, a alegria aos poucos fora se esvaziando enquanto todos começaram a aceitar que realmente o amigo havia partido e um demônio agora estava no seu lugar.  As noticias que "Natsu" se tornara um foragido pelo conselho de Fiore estavam por todos os cantos da cidade e cada dia que se passava a vida de inocentes eram tiradas por END, a guilda se tornara agitada, e se dividia sobre opiniões de que Natsu podia voltar e que ele havia partido para sempre, as recompensas pela cabeça do rosado aumentava, a incerteza sobre onde ele se encontrava também. 

Então Gray que parecia o único focado no real problema, e entendia que Natsu nunca mais voltaria, tomara a liderança do resgate de Lucy. Passara quase três semanas para descobrir a localização de END e mais duas para entender como funcionava a magia e o padrão do deslocamento do local. Muito tempo desperdiçado que poderia ter custado a vida de sua amiga, assim como já havia custado a vida de vários inocentes e chegada de novos demônios para enfrentar. 

- Não vejo um plano melhor… - confessou Gajeel em suspiro tirando a mão do queixo – Concordo com Gray. – finalizou olhando para Levy, agora sua namorada, que assentiu para ele.

- Sabe o que penso sobre a última parte do plano que envolve você e Natsu - disse Makarov em cima da mesa com os braços cruzados - Não concordo. 

- Não há outro jeito mestre – Gray fitou o homem – E você sabe que aquele não é mais o nosso Natsu.

Uma tensão se formou sobre a guilda, a tristeza e ansiedade inundava o local.

- Não acho que seja necessário que você e Natsu lutem até a morte – Erza deu um passo à frente – Natsu é nosso nakama, mesmo que aquele não seja ele, o corpo ainda pertence a ele, devíamos recuperar Lucy e depois criar um plano para recuperar Natsu.

- Aye! Concordo com Erza! – Happy disse cheio de esperanças nós olhos e todos em volta começaram a ficar agitados com a possibilidade de não só recuperar Lucy, mas Natsu também.

Os murmurinhos de opiniões divergentes começaram a retornar e Gray trincou os dentes batendo o punho sobre a mesa fazendo com que o silêncio retornasse. 

- Não existe mais Natsu, Erza! – afirmou.

- Como pode ter tanta certeza?! - Erza rebateu os olhos castanhas vermelhos e inchados pelas horas de choro que escondia de todos encarando-o. 

- Ele se foi! Aquele que está dentro dele é E.N.D – Gray saiu de trás da mesa caminhado em sua direção – E o único jeito de recuperar Lucy! Também temos que impedir que mais pessoas inocentes morram! E só eu tenho o poder para isso! 

- Lu-chan não iria querer isso… - Levy sussurrou, os olhos marejados enquanto fitava o chão. 

- Natsu também não gostaria que o corpo dele fosse usado para matar inocentes - afirmou. 

Todos permaneceram em silêncio. Lisanna abraçava Mira e Elfman enquanto o grupo de Laxus fitavam tudo com a cara desgostosa. O mestre tinha o rosto perdido em pensamentos, Juvia fungava perto de Wendy e Charles, Romeo não concordara com o plano e saíra dali e os outros apenas observavam, uns com os punhos cerrados, outros com lagrimas descendo ao rosto. 

- Não importa o que Lucy iria querer, porque ela não está aqui para decidir… - sussurrou Gray com a voz rouca, fechando as mãos em punhos - Eu vou resgatá-la e END morrera, vocês podem escolher entre lutar comigo e fazer isso dar certo ou me deixar morrer tentando…

Então dando as costas para todos saiu em passos firmes em direção a porta para se preparar para a partida que seria à uma hora.

Ele não era um completo insensível, no fundo, Gray desejava mais do que todos que Natsu pudessem voltar. Ele não queria carregar o fardo de ter matado o amigo, mas não existia outra solução, pelo menos não uma tão rápido a ponto de impedir que outra escola cheia de crianças fosse explodida. Ele tinha que agir, ninguém sabia como trazer - ou se era possível - trazer Natsu de volta, então precisava resgatar Lucy, pois não sabia que tipo de crueldade o demônio estava fazendo com ela, ele devia isso a Natsu.

Parte da última cena que passou com Lucy vieram em sua mente, assim que atravessou a porta principal da guilda.

Seu corpo estava pesado e espasmos de dor disparavam de todas as direções possíveis após se chocar contra o chão, a magia negra do livro ainda pairava pelo ar, uma massa densa formada por areia poeira e folha pairava dificultava a sua visão, levantando-se com dificuldade, enquanto tossia, caminhou desorientado tentando firmar as pernas, sua cabeça latejava, alguns cortes em seu corpo sangravam, mas buscando por Natsu, viu, a alguns metros em sua frente END segurando Lucy pelo pescoço e a jogando contra o chão, ele nem parecia mais com Natsu, em sua cabeça crescia chifres e o corpo do rosado agora mesclava-se com o de um dragão.

Tinha acontecido.

Natsu se fora.

Ali ele teve a certeza que perdera o amigo para sempre, então avançou para salvar Lucy, para matá-lo, no impulso para salvar a loira e acabar com aquilo, não percebera que sua cabeça estava sangrando e avançou contra END sem planejar direito o que fazia, o rosado encarando-o puxou um sorriso de lado erguendo uma mão em sua direção, magia da cor preta se acumulava em volta dos dedos, e antes do disparo seguir em sua direção, Lucy pulara sobre End empurrando-o no chão, o que fez com que a magia não o acertasse.

O fogo negro que END lançara passou raspando sobre ele e corroeu metros sem fim em linha reta atrás de sí deixando nada além de uma fuligem que nevoava o local que passara. A magia era forte e devastadora, transformando tudo em pó negro. Gray paralisou, ele já havia visto aquele tipo de poder corrosivo no próprio Zeref.

"Veja que atrevida!" riu END erguendo-se e puxando Lucy pelo braço "Eu vou ficar com você, e pelo ato imprudente, porém corajoso, vou até deixar que ele viva." Então END o fitou e sorriu "Afinal eu quero que ele sinta-se responsável por todas as coisas que farei com você, já que ele me fez ficar irritado"

Então END, que agora completo ganhara um par de assas negras e vermelhas, partira em voou carregando Lucy para longe.

Gray olhou para o molho de chaves em sua mão e apertou o objeto entre os dedos como se aquele ato pudesse lhe dar forças. A loira, que no ar, jogou as chaves em sua direção por temer que END fizesse algo com seus signos, agora estava sozinha e desprotegida, confiara seu bem mais precioso a Gray, além de salvar sua vida, o moreno não a desapontaria. 

Gray mataria END e a salvaria para poder agradecê-la e devolver suas chaves.

 

Eu ouvi você dizer

O demônio está em seu ombro

Estranhos em sua cabeça

Como se você não lembrasse

Como se pudesse esquecer

 

Lucy era carregada entre os corredores escuros do castelo pelo demônio de END, um longo caminho fora percorrido, até ela acordar do golpe no estomago, e assim que desperta, fora jogada ao chão para que prosseguisse a pé. A maga celestial agora sentia suas forçar voltarem a cada passo que dava para longe do calabouço coberto de magia, mas ainda estava fraca demais para lutar e não podia invocar nenhum espírito, por ter deixado suas chaves para trás.

Chegando a frente de uma porta - que por já ter passado um grande tempo naquele lugar reconhecia como sua "espécie" de quarto - foi colocada com um chute em suas costas para dentro do recinto, o que fez com que cambaleasse e caísse de cara no chão, já que suas mãos estavam algemadas em suas costas.

- Não sei por que o mestre gosta de brincar com você - confessou a demônio em tom de ironia enquanto libertava Lucy das algemas – Tem um rosto tão sem graça e ,seu corpo, ele não é grande coisa.

Soltando as algemas e saindo de cima de Lucy a mulher foi rebolando até a porta, no andar, sugerindo o quanto ela tinha a mais para oferecer para o grande END.

- Tome um banho e tente se tornar apresentável para o mestre… - finalizou antes de trancafiar a porta.

Acariciando os pulsos feridos, Lucy se ergueu e sentou-se no chão, aquele lugar era seu segundo calabouço, ali tinha de tudo o que um quarto de uma garota precisava, roupas, uma bacia grande com água quente, uma cama confortável, acessórios para higiene, para beleza, um pouco de tudo.

No começo, END. a tranca-la ali, mas quando a mesma tentara fugir ele a transferiu para o calabouço, mandava-a para lá quando queria "brincar" de humano.

Lucy não se sentia melhor em nenhum dos dois lugares, por mais que fossem diferentes, todos a faziam infeliz.

Levantou-se e começou a retirar o trapo de roupa que vestia, o último vestido que ele mandara a usar quando se encontraram, e isso já fazia quatro dias, andando até a banheira mergulhou nela e começou a se esfregar para se livrar daquela sensação imunda, tentando não pensar o quanto era desconfortável ver o rosto de END.

Os olhos, as sobrancelhas, o sorriso, tudo aquilo tão familiar, e nada igual, nada de Natsu.

Só percebeu que chorava quando terminara de lavar seu rosto, trincou o maxilar e sentiu o aperto em seu peito. 

Aquela sensação surgia toda vez que o olhava, era como uma faca encravada rasgando sua pele músculos e ossos até alcançar seu coração e irradiando uma dor excruciante até a garganta dificultando sua fala, sua respiração, fazendo-a encarar a única verdade que tentava evitar.

Natsu não voltaria mais.

END nunca a tocara nada além do que o necessário e não sabia bem o porque dele gostar de ter aqueles encontros com ela, ele nunca a fizera mal diretamente, entretanto a tortura que era estar com ele fitando o rosto de Natsu tocando a mão de Natsu e ouvindo sua voz sabendo que aquele não era ele, comparado, era muito pior do que passar frio e fome no calabouço e ter que aguentar os seus demônios.

Mesmo que algumas características tivessem mudado o corpo ainda era da pessoa que amava. Amava, ela amava Natsu.

Era tão fácil compreender o que sentia agora, entender que sempre soube disso bem no fundo. Tão fácil admitir quando havia o perdido. Lucy sempre negou o sentimento, criara um bloqueio para lidar com todas as sensações anormais que ele despertara nela, por infantilidade, insegurança.

Por medo. 

Era mais fácil se fossem só amigos, não importava se o sorriso dele disparasse seu coração, que seu estomago ficava estranho quando ele vestia algo que o deixasse atraente. Tudo isso conseguia ser justificado, bloqueado, deixado para depois, muito mais fácil ignorar do quer ter que encarar possível rejeição. 

Se fosse rejeitada seria estranho e tudo podia acabar, se continuassem apenas amigos, podia ignorar aqueles sentimentos, até eles sumirem. 

Em sua ignorância acreditou que tinha tempo para resolver, que podia deixar seus próprios sentimentos para depois, e agora aquilo doía, doía de uma forma horrível, entender que o tempo tinha acabado e suas desculpas impediram até de escutar um não da sua possível confissão, preferia um não a nunca saber uma resposta, mentia para si mesmo por tempo demais, e agora olhar para END era como fitar repetidas vezes todo o futuro que não teria com a pessoa que amava, por ser tarde demais.

Por ter sido covarde.

Deixou-se afundar um pouco mais na banheira fazendo com que ela transbordasse.

"Será que se eu tivesse me declarado Natsu teria retribuído meu sentimento?" pensou com lágrimas nos olhos.

Bem, aquilo não importava mais, pois Natsu estava em um lugar no qual seus sentimentos não poderiam o alcança-lo.

 

Foi apenas um momento

Foi apenas uma vida

Mas está noite você é um estranho

Uma silhueta

 

Lucy sentou-se na cama pronta, usando o presente que veio na caixa dourada. Dessa vez fora um vestido vermelho longo com uma fenda ate metade de sua coxa direita, seus cabelos longos até a cintura desciam em cascatas sobre as costas com apenas um laço delicado prendendo sua franja para trás, usava também brincos dourados e passara um batom cor de boca, para disfarças as rachaduras dos lábios, seu rosto também estava com maquiagem para disfarçar as olheiras e os hematomas causados, se não pelo calabouço, pelos demônios que quando não tinham nada para fazer resolviam a torturar.

- Está pronta loirinha? – a mesma demônio que a trouxe abriu a porta dando uma boa olhada para ela e fazendo uma careta de desgosto – O mestre a espera. – declarou esperando que Lucy passasse em sua frente.

As duas seguiram o corredor até o topo da escada, no final END a estaria a esperando, e por isso, a demônio deu as costas para que ela continuasse o caminho sozinha.

Lucy respirou fundo. Cada passo seu que fazia um som sobre o mármore escuro da escada anunciava que ela estava chegando, e apesar de já ter feito aquele caminho algumas vezes, vê-lo e não encontrar Natsu, era a pior parte. END que tinha as costas viradas para a garota, deu meia volta, os olhos dourados percorreram o corpo da loira e um sorriso lupino se formou em seus lábios. 

As mudanças do corpo de Natsu em END se resumia nos chifres de dragão e as asas que ele podia fazer aparecer ou sumir na hora que quisesse, algumas escamas salpicavam o lado direito do rosto, mas aquilo não o tornava diferente de quando ele usava a magia Slayer, sua aparência era semelhante. E ela odiava isso. Quanto mais semelhante maior a dor ao vê-lo. 

Lucy, preferia que nada o lembra-se a Natsu. Assim, ela não se deixaria enganar. Sentia vergonha de si mesma quando deixava isso acontecer, porém, ás vezes, permitia-se acreditar que aquele era o seu Natsu, que estava usando uma de suas fantasias idiotas, brincando igual fez em Endolas, que logo eles voltariam para guilda, que ela podia esconder o que sentia ainda, pois tinham tempo.

Dissociando, permitiu acontecer o que ela tanto odiava, acabou deixando seu coração disparar ao toque de END, que quando ela se aproximou, fez questão de cumprimentá-la com um beijo no dorso da mão, como um cavaleiro faria, como Natsu faria se estivesse fantasiado de cavaleiro, uma risada fraca saiu de sua garganta, e quando estava prestes a dizer para que Natsu parasse com aquilo, END ergueu-se abrindo os olhos agora dourados trazendo-a de volta para a realidade.

O corpo dele era o de Natsu, mas aquele que vivia nele não era mais o mesmo, tudo o que sobrara do amigo e da pessoa que amava não era nada mais do que uma silhueta.

 

Vamos sair em chamas

Blasfemar para que todos saibam quem somos

Porque os muros dessa cidade nunca souberam

Que nós chegaríamos tão longe

.

Os membros da guilda que partiriam no resgate estavam todos na porta de entrada preparados. Alguns ainda não estavam de acordo com a execução de END e, como a tentativa de justiça, Gray prometera mudar o plano se eles encontrassem uma solução antes do resgate, despedindo-se daqueles que ficariam  e a caminho da estação foram surpreendidos, por um homem usando um sobretudo perto e com e olhar perdido em direção aos trilhos. 

Zeref estava ali, e ao seu lado, Mavis apareceu. 

- Porque ele está aqui primeira? – perguntou Makarov fitando o magro negro – Não deixarei que toque em um fio de cabelo das minhas crianças, mesmo que seja contra o plano de Gray!

- Ele está aqui para ajudar – disse Mavis, Zeref continuou em silêncio contemplando o ir e vir das pessoas em sua volta.

- E porque ele faria isso? – Erza perguntou.

- Porque temos o mesmo objetivo - completou Mavis. 

Todos olharam em direção de Zeref, esperando que o mago explicasse, apenas as palavras da primeira não era o bastante para eles. Não depois do que o mago negro tinha feito e ainda representava na vida de todos. 

- Eu também quero a morte de END. – explicou Zeref, sua voz calma mais firme – Mavis me procurou para descobrir se havia algum jeito de trazer Natsu de volta, mas não existe, a partir do momento que o livro é aberto, END toma o controle por completo! Essa foi a condição para tê-lo de volta, apesar de nunca ter pensado em ativar o livro, meu objetivo inicial no entanto, era destruí-lo antes disso.

Aqueles que ainda tinham esperança de trazer o rosado de volta, como Happy, deixou que algumas lágrimas caíssem sobre o rosto, Gray que já sabia disso apenas assentiu com a cabeça para Zeref.

- Apesar do mesmo objetivo, não confiamos em você - Gray disse por todos, que confirmaram com a cabeça.

- Eu não preciso que confiem em mim - Zeref disse, seu olhar oco - Eu preciso que vocês me levem até ele e eu vou destruí-lo. 

 

Nós tornamos ecos

Mas ecos desapareceriam

Então vamos dançar como duas sombras

Queimar no dia de glória

 

END sorrio para a prisioneira que tinha em suas mãos, um turbilhão de emoções atingiam seu corpo ao olhá-la, emoções que não pertenciam a ele, a sensação de disputa pelo seu próprio corpo o instigava a querer tocá-la, mais e mais. Gostava daquilo. Gostava de saber que quando ele estava com ela, a primeira alma, daquele corpo que, era seu por direito, se revirava, surgia, se rebelava. 

END nascera para dominar, para ser o mais forte e fazer do mundo seu reino! E o primeiro passo para fazer isso como estava escrito no livro do qual ele se originou era destruindo o seu criador Zeref.

Como um demônio de Zeref era sua obrigação seguir as ordens do livro e ele não conseguia dominar aquele desejo de querer - mas do que tudo - Zeref morto. Entretanto, END amava desafios, e ignorava essa ordem dando a si um tempo para criar seus próprios demônios e fazer o que ele quisesse, afinal se ele era o demônio mais forte porque tinha que ter pressa a obedecer alguém? Ele faria o que queria, e no momento estava animado por passar a noite com aquela humana inútil, mas que ao mesmo tempo o fazia jogar uma doce disputa consigo mesmo.

- Eu preparei uma refeição para nós com boa música – END caminhou pelos corredores, até o grande salão de festa uma mesa posta para os dois se encontrava no canto do salão.

O salão estava decorado, como se fosse haver um grande baile, um baile macabro, em decoração de vermelho e preto. END arrastou a cadeira para que ela sentasse e sentou-se no outro lado da mesa erguendo a taça e começando o jantar. Ele trocava breves palavras com a humana e ela mesma evitava uma conversa, mas isso não importava, afinal o que dava prazer a ele não era uma conversa, era olha-la e imaginar fazendo alguma maldade a garota.

Quando pensamentos assim surgiam ele podia sentir um calor estranho de fúria vindo dentro de si, sobre seu peito, com algo dentro dele quisesse o rasgá-lo ao meio, e isso o deixa em êxtase, adorava esmagar essa chama que tentava domina-lo, ela reaparecia e ele esmagava, e assim ficavam, sua vitória se repetindo, todas as vezes sobre aquela chama, a dança inebriante com a alma que ainda era tola ao ponto de lutar por aquele corpo. 

- Vamos dançar! – declarou END levantando-se, Lucy sem dizer nada largou a refeição pela metade e foi para o meio do salão o seguindo.

Ela pousou uma das mãos sobre o seu ombro enquanto ele enlaçou sua cintura unindo depois as mãos que sobraram, a música clássica tinha um ritmo lento mais envolvente, então os dois dançavam com delicadeza e graciosidade sobre o salão.

A loira evitava olhar em direção ao seu rosto, os olhos amendoados brincavam sobre o salão, uma gota de amargura surgia sempre que por um descuido caiam sobre END, aquilo o incomodava, a insistência tola que a mulher tinha de ignorá-lo, de achar que tinha o direito de não ficar desconfortável com sua presença, sendo que era isso que ele desejava dela. End, pois ele bufou insatisfeito.

- Prefiro quando olha para mim – sussurrou em seu ouvido deixando que os lábios roçassem sua orelha – Mas, se prefere assim, posso fazer as coisas ficarem mais interessantes para você - os lábios do demônio tocaram o pescoço alvo da loira, o contato causa um arrepio e surpreendida e quando sentiu a língua que começara a deslizar deu um passo para trás quebrando o contato de ambos.

END deixou o sorriso lupino preencher seus lábios, e novamente, sem o permitir da loira, envolveu sua cintura e retomou a dança, como se ela não tivesse o fitado com olhos amedrontados, como se não tivesse notado que ela mostrou, finalmente, medo, sobre o que ele podia querer com ela aquela noite. 

- Parece mais conveniente para eu revelar o porquê gosto tanto de passar um tempo com você. Afinal acho que já deve ter se perguntado algo como "Porque ele não me matou ainda?" ou "Porque fica tendo esses encontros comigo se nem me toca?", não é mesmo?

Lucy estremeceu e sem dizer nada afirmou com a cabeça.

- Você provavelmente conheceu esse meu corpo sendo controlado por outra pessoa sem ser a mim não é? – indagou.

- Não é seu corpo. 

- Isso responde minha pergunta, apesar de você estar enganada sobre esse não ser meu corpo – o ritmo da musica mudava para algo mais rápido, feroz  – Existe algo em você, pequena mulher, que consegue agitar o tolo dentro de mim que acredita ser o dono desse corpo.

- Dentro de você... Natsu está dentro de você? – surpresa, os pés da loira parou, a musica ficou distante, encarou surpresa o demônio.

- Essa é a primeira vez que fala algo com tanto entusiasmo, parece que esta interessada pela primeira vez em minha conversa? - End ergueu uma das sobrancelhas - Qual seu nome garota?

- Heartfilia… Lucy Heartfilia… - respondeu automaticamente.

Na verdade Lucy preferia que End não falasse o nome dela, não com a voz de Natsu, não com o corpo de Natsu.

- Eu o deixei ficar, querida Lucy, poderia tê-lo expulsado assim que dominei o meu corpo e fazer com que sua existência sumisse, mas gosto da sensação que deixá-lo me causa – End sorriu – Gosto de imaginá-lo se torturando vendo tudo pelos meus olhos e não poder fazer nada para impedir-me, porém a sensação que eu mais gosto e quando ele tenta voltar assim que a toco… - End acariciou o rosto da loira que contraiu – O desejo dele de recuperar o corpo fica maior, quase insuportável de aguentar, como uma chama incontrolável cheia de fúria - ele deu um passo para trás - E a sensação de apagar essa chama diversas vezes é adorável!

Lucy conteve o soluço assustado dos seu lábios. Saber que Natsu ainda existia fez com que seu coração saltasse sobre o peito, porém descobrir ao mesmo tempo que ele era forçado a assistir todas as maldades que END fazia lhe trouxe uma angustia tão grande que quase desejou que Natsu não estivesse ali. Ele estava sendo constantemente torturado, assim como ela.

 

O demônio está em seu ombro

Estranhos em sua cabeça

Como se você não se lembrasse

Como se pudesse esquecer

Foi apenas um momento

Foi apenas uma vida

Mas está noite você é um estranho apenas uma silhueta

 

- Não se afaste de mim assim – choramingou fingido dando um passo em sua direção – Fugir de mim só faz com que ele fique ainda mais agitado, se descobrir que te perseguir e machucá-la poder causar a mim uma nova diversão, seria uma pena, para vocês, é claro.

Lucy abaixou a cabeça e permaneceu parada, se ela corresse agora e END a matasse só para se divertir com Natsu nunca teria a oportunidade de fazer o rosado voltar e agora essa era uma esperança da qual não queria perder. Não queria também que ele testemunhasse sua morte, ela pensara que o rosado se fora, e a dor era excruciante, não queria que ele sentisse o mesmo. 

- Fique parada. Quero testar aonde posso chegar com você essa noite, garanto que não vai se arrepender - End se aproximou - Ou, vai, sinceramente, eu não me importo. 

A mão do demônio deslizou sobre o rosto de Lucy, a garota fechou os olhos, ao mesmo tempo que sentia repulsa por ser END quem a tocava, também sentia uma sensação estranha por aquelas serem as mãos cálidas de Natsu, ficava imaginando que se um dia ele a tocasse com tamanha delicadeza seria essa a sensação de tê-lo por perto.

- Hm… Interessante…

END deslizou a mão sobre a cintura de Lucy e a puxou para perto, fazendo que loira colasse o corpo contra o dele, o corpo delgado ficou encaixado ao seu de uma forma sensual, e ela pode sentir como a temperatura do corpo do demônio começava a aumentar.

- Chega ser prazeroso a sensação de esmaga-lo, assim como a de tê-la em meus braços…

Lucy o fitou com a boca entreaberta, tentando dar um passo para trás. Aquele não era seu Natsu tinha que se lembrar disso.

- Não se afaste... Não antes de eu testar isso!

Em um movimento rápido END a puxara para perto de si colando os lábios sobre os seus. Lucy surpresa quase deixou-se entregar, não para EDN, mas para o corpo que a fazia lembrar-se de quem realmente amava, porém percebendo a situação usou toda a sua força para empurrar o demônio para longe dela, para separar aqueles lábios que, agora, não pertenciam a quem um dia amara.

END de repente a soltou, deu alguns passos para trás desnorteado então ainda confuso voltou em sua direção e segurou o braço da garota encarando-a, Lucy tentava força-lo a soltá-la, tirando a vez que tentou escapar do quarto, aquela era a primeira vez que lutava contra ele, socos, chutes, nada parecia fazer efeito, sem poder usar sua magia, não existia técnica corpo a corpo que a ajudasse naquilo, ele era feito ferro.

END a atirou no chão, e Lucy o encarou, algo estranho estava acontecendo, o corpo do demônio começou a tremer, e os olhos começaram a oscilar entre dourado e negro como daquela vez que Lucy fitou Natsu antes dele ir embora.

- Natsu? – sussurrou, então levantando-se em um pulo segurou o rosto do rosado – Natsu eu estou aqui! Não desista esse corpo é seu você está quase ganhando! Volte para mim Natsu, por favor!

Ao dar o último grito em desespero e com lágrimas nos olhos, Lucy fitou duas íris negras ao invés de douradas.

 

Apenas me segure

Apenas me segure

Apenas me segure

 

- S-sou e-eu Luce… - Natsu sussurra, os dois caiem de joelhos sobre o salão – Eu consegui… Eu consegui voltar!

A loira sem conseguir encontrar as palavras certas apenas o abraçou começando um choro compulsivo sobre seu peitoral. Aquele era seu Natsu, ele tinha voltado para ela, para aquele mundo, para todos que o amavam, ela poderia refazer as coisas e dizer tudo aquilo que achava que tinha perdido a chance de dizer, ela poderia ser feliz.

- Calma Luce… - ele acariciou os cabelos loiros – Você é estranha, não pediu para eu voltar porque está chorando agora?

- Eu estou feliz idiota! – exclamou a loira – Muito feliz! Estou chorando de felicidade eu não sou estranha eu pensei que…

Uma risada vinda de Natsu fez com que Lucy parasse de falar, seu corpo estremeceu ficou com medo de fita-lo, e com razão, pois quando o viu, Natsu não estava mais com os olhos negros e sim com os dourados outra vez.

- Isso não é incrível? – indagou END levantando-se - O que será que ele viu em você?

- Não.… Não… Não… - voltando a chorar Lucy nem percebeu quando End segurou seu rosto erguendo-a.

- O que ele sente por você é tão forte que o inútil conseguiu voltar por alguns segundos – cuspiu as palavras raivoso – Sentimentos humanos são no mínimo admiráveis, o problema é que o que ele sente faz de você uma coisinha preciosa que eu não posso deixar escapar.

Empurrando-a no chão, END estrala os dedos e em segundos um dos seus demônios aparece.

- Levem-na de volta, cansei de brincar por hoje.

O demônio a algemou novamente jogando-a sobre seu ombro como um saco de batatas, entre choros e soluços, a loira se debateu, tentando escapar de seus braços, mas era inútil, cansada, permitiu ser carregada dali, porém antes de saírem do grande salão foi capaz de escutar uma última conversa entre END e seus lacaios. 

- Mestre fomos localizados! Estão nos atacando na área leste e oeste do castelo!

- Finalmente uma boa noticia! Deixe que venham, estou sedento por sangue agora!

 

O demônio está em seu ombro

Estranhos em sua cabeça

Como se você não lembrasse como se pudesse esquecer

 

Gray analisou a luta na entrada do castelo.

Gajeel, Lily e Levy haviam acabado com um dos demônios e saiam para dar reforço a outros times que se encontravam em dificuldade, já havia recebido o sinal de que os demônios do lado oeste onde Mirajane e Erza ficaram responsáveis foram eliminados, percebendo que a situação se encontrava estável, olhou para Zeref que estava do seu lado aguardando ordens.

- Vamos até ele! – afirmou.

Os dois seguiram por corredores e portas, até que uma delas os levou para um grande salão, onde END estava sentado em um trono com os dedos cruzados sobre o rosto, ele os encarou fingindo surpresa e puxou um sorriso torto em seguida, descruzando os dedos.

- Zeref, você aqui? Liderando uma tropa de fadas para me matar? – indagou irônico – Pensei que após eliminar seu inimigo Acnologia iríamos virar amigos, pelo menos, até quando eu achasse ser a hora de cumprir a única regra que impôs ao me criar, claro.

- Ele não está liderando nada! – rebateu Gray – Quem veio lhe derrotar sou eu!

- Você? – apontando para Gray END abriu um sorriso debochado – O fedelho Devil Slayer, você entende que se eu morrer o seu amiguinho que se achava dono desse corpo também morrera não é?

- Eu sei, mas Natsu não se importaria se isso fizesse trazer Lucy de volta para a guilda!

Sem mais conversa Gray atacou END começando assim uma luta sangrenta entre o demônio mais forte o mago imortal e o caçador de demônio do gelo.

 

Foi apenas um momento

Foi apenas uma vida

Mas essa noite somos estranhos

Uma silhueta

 

Erza coberta de sangue e seguida por Juvia que trazia um demônio de END em uma bolha de água descia as escadas correndo para chegar até o calabouço e libertar Lucy, a ruiva e a azulada já haviam derrotado seus inimigos e agora tentavam correr contra o tempo enquanto Gray e Zeref enfrentava END.

Abrindo uma porta pesada de madeira com varias trancas com um só chute Erza finalmente chegou onde ficava o calabouço do castelo, ela e Juvia percorreram ainda alguns metros antes de encontrar a amiga no chão, estava bem vestida, porém tinha vários cortes recentes que sangravam ainda.

- A solte e retire essa magia! – ordenou Juvia a demônio que estava em sua bolha de água – Depressa! Faça antes que Juvia perca a paciência!

Com os dentes trincando de raiva e contra a vontade, a demônio de END jogou as chaves nos pés de Erza e sussurrando o ritual desfez a magia que tirava e sugava as forças de Lucy enquanto ela estivesse no calabouço.

Abrindo a cela e correndo para dentro, Erza tentou erguer a amiga, Lucy ainda tonta pelos golpes que os demônios de END deram nela assim que a trouxeram novamente para ali, olhou para Erza sem entender muito bem o que estava acontecendo.

- Erza? – percebeu que Juvia também estava do lado de fora – Juvia…

- Viemos lhe buscar Lucy, está tudo bem, iremos tirá-la daqui – Erza disse firme, dando apoio para a loira se erguer e retirando as algemas da mesma.

- T-todos vieram? – Lucy abriu um grande sorriso e começou acompanhar Erza.

- Sim, todos viemos resgatar Lucy, nunca poderíamos deixar uma amiga para trás – respondeu sorrindo Juvia, que se posicionou ao lado da loira para ajuda-la também, depois de trancar o demônio na cela.

- Alguns ainda estão lutando lá em cima, então precisamos sair rápido daqui – Erza explicou – Não viemos eliminar ninguém, então quando souberem que está salva poderemos seguir em retirada, tenho certeza que todos escolheriam outro plano se você estiver a salvo .

- Exceto Gray… - murmurou Juvia, Lucy agora conseguia andar sozinha ao sentir suas forças voltarem com o cancelamento do ritual.

- Você diz isso como se alguém da Fairy Tail fugisse de uma boa briga - Lucy sorriu, Erza sorriu em concordância – O que tem Gray?

Juvia fitou Lucy e engoliu em seco sem saber o que responder, Erza fez o mesmo tentando encontrar as palavras certas para a loira, todos estavam se sentindo mal pela decisão de Gray, mas nenhuma das duas sabiam como Lucy reagiria a isso, afinal mesmo que ela negasse todos sabiam que Lucy sentia algo mais pelo rosado.

- Gray vai derrotar END com a ajuda de Zeref, estão se enfrentando no salão central do castelo – Erza informou rápida, Lucy a fitou, os olhos se abrindo surpresa ao entender a situação.

- Ele… Ele vai matar Natsu? – perguntou confusa.

- Gray-sama não queria, Juvia tentou convencê-lo, mas agora sabe que não tem outro jeito - Juvia soou triste desviando o olhar da loira.

- Não! Ele… Natsu… Eu preciso… – sem saber como explicar Lucy subiu as escadas correndo tentando chegar à direção ao salão para impedir o que acontecia.

Erza tentou segurar a loira mais por fim deixou que ela corresse em direção do salão, apenas a seguindo de perto, se não tivesse escutado do próprio Zeref que Natsu nunca mais voltaria ela também estaria fazendo como Lucy, para tentar salvar os dois amigos que tanto amava.

Correndo com todas suas forças em desespero, Lucy se esqueceu de que estava descalça, mas nem percebeu que seus pés se feriam com os destroços que as lutas causaram no castelo, seu único pensamento era que precisava interromper aquela luta para poder contar a todos que o seu Natsu ainda estava ali, ele podia voltar para a guilda, para ela, eles só precisavam achar uma solução juntos, aquela não era a única saída.

Empurrou com toda a sua força a porta que dava entrada para o salão o grito sufocado na garganta, tinha que chamar por Gray, tinha que parar aquilo. 

Quando seus olhos percorreram entre Natsu, Gray e Zeref percebeu que chegara tarde demais.  

- NÃO… - conseguiu gritar em desespero fazendo que os três dessem atenção para ela, as lágrimas já transbordavam os olhos, suas pernas fracas.

Gray que estava com uma lança feita de gelo atravessada no peito de END fitou a loira que interrompera a luta, o corpo que um dia pertenceu ao amigo estava de joelhos aos seus pés, do peito jorrava sangue, e Zeref atrás do corpo, também tinha sua magia negra maleável transformada em espada fincada ao corpo do rosado, o demônio, END, que transitava entre a vida e a morte, nós seus últimos minutos fitou a loira, seus olhos dourados se transformando em negros novamente.

- Natsu! – Lucy gritou cambaleando ate ele. 

Gray e Zeref ainda parados com as magias atravessadas no peito de END a fitaram sem saber o que fazer, apenas ficarem em silêncio sem entender, os outros companheiros da guilda que estavam naquela missão também chegaram ao salão naquele mesmo instante, para ver o demônio erguendo o braço em direção de Lucy e a loira fazia o mesmo em total desespero correndo até seus braços.

Os olhos negros se encontravam com os castanhos, um reconhecimentos simultâneo aconteceu, ninguém que assistia de fora entenderia aquela conexão ou o que estava acontecendo entre os dois naquele momento, todos achavam que Lucy não sabia que aquele não era mais o Natsu da guilda, achavam que a loira corria em direção de END, e Natsu entendendo que estava sendo confundido erguia o seu braço em sua direção em busca de ajuda.

 

Foi apenas um momento

Foi apenas uma vida

Mas essa noite somos estranhos

Uma silhueta

 

- Não chegue perto Lucy esse é END…

- Não é mais! Não é mais o END… É o Natsu… - a loira interrompeu Gray pulando em direção ao rosado o abraçando – Ele acabou de voltar… Ele voltou…

Gray e Zeref se afastaram assim que ela disse aquelas palavras desfazendo as magias, Lucy chorando, pousou Natsu sobre seu colo, o rosado cuspia sangue da boca mais puxou um sorriso.

- Não chore Luce… - murmurou.

Assim que todos da guilda reconheceriam que ele havia voltado, lágrimas vieram aos seus olhos, mas ninguém se aproximou de Lucy e Natsu, aquele parecia ser um momento apenas dos dois, onde ninguém podia interromper.

- Não se preocupe… - Zeref sussurrou dando um tapa no ombro de Gray e falando alto para que o resto da guilda pudesse escutar – Ele só foi capaz de voltar porque matamos END, quando eu disse que não tinha outra forma, não estava mentindo.

Zeref caiu no chão assim que terminou de dizer aquelas palavras. Gray o fitou sem entender, mas Mavis se aproximou chorando, pois ela sabia o que iria acontecer, afinal entre aqueles que estavam presentes, Happy e ela eram os únicos que sabiam que a vida de Natsu e a de Zeref estavam conectadas e essa foi uma das razões de Zeref vim ajudar a derrotar END.

- Vai tudo ficar bem Natsu… - Lucy murmurava, algumas de suas lágrimas caiam sobre o rosto do rosado enquanto tentava parar o sangramento de seu peito.

- Eu estava vendo tudo Lucy… - tossindo e cuspindo sangue, Natsu pousou a mão sobre a dela fazendo com que ela o fitasse - Eu vi tudo o que END fazia, as crianças, aquelas pessoas, você, eu sei que… - ele tossiu novamente e mais sangue saiu da boca – Vou morrer...

- Não! Você vai viver… – exclamou olhando para os lados – Alguém ajude… - a voz sumiu quando viu todos da guilda chorando enquanto olhavam a cena, fitando depois o peito de Natsu percebendo que sangue não parava de jorrar, entendeu que apenas ela ainda não havia aceitado que Natsu não podia ser mais salvo.

- E-eu ainda estou aqui porque a maldição de Zeref esta me prendendo… Temos que morrer juntos, estranho eu me lembro de muitas coisas agora… – explicou Natsu os olhos aos poucos se tornando opacos, Lucy já não sabia se ele ainda conseguia enxergar algo, ou apenas conseguia senti-la ali perto dele –Eu lembro dele… De quando éramos crianças, antes de voltar a vida mais uma vez... Não chore Lucy…

- Eu não quero que você vá… Fique… Natsu… - chorando a garota o envolveu em seus braços – Eu… Eu gosto… Por favor, fique temos tantas aventuras para viver juntos eu gosto… Eu... Eu te amo... Não morra...

As mãos tremulas dele pela falta de força acariciaram os cabelos loiros, Lucy se afastou e percebeu que Natsu também derramava algumas lágrimas, mas dava aquele sorriso sincero.

- Eu também amo você Lucy – disse sorrindo – Desculpe por não conseguir cumprir minha última promessa…

Sem pensar direito, a loira colou os lábios sobre os dele, foi um beijo casto, de despedida e doloroso, mas como qualquer beijo trocado entre duas pessoas que se amavam, aqueceu de uma forma acolhedora o coração dos dois causando um leve arrepio e felicidade, que não teriam em um momento como aquele se não se amassem de verdade.

Quando os lábios se separaram ela abraçou Natsu novamente e começou a chorar, o rosado apenas acompanhou seu choro sem nada dizer.

- Natsu… - Happy se aproximou do amigo pousando a mãozinha azul dele no rostinho do amigo.

O gato era o único com coragem de atrapalhar os dois naquele momento.

- Aye Happy… - direcionando os olhos para Happy, fazendo Lucy desfazer o abraço– Você poderia cuidar da guilda para mim? Mas principalmente de Lucy... Você sabe… Ela é estranha…

- Aye sir… - o gatinho tentou manter a voz firme e contente, mas estava se desfazendo em lágrimas – Lucy é a pessoa que você sente a coisa estranha… Por isso ela é a estranha… Vou cuidar dela! Aye!

- Isso mesmo…

Natsu não conseguiu dizer muitas coisas depois daquilo, o grito de Mavis em agonia surgiu no salão em seguida, quando Zeref que estava com a primeira se desfez em pó, mostrando que estava livre de sua maldição e livre da vida sem fim, todos surpresos olharam em direção da fumaça alta negra que subia e sumia no meio do salão, e não notarão que Natsu naquele mesmo instante também dava seu último suspiro com Lucy selando seus lábios pela segunda e última vez.

 

Mas está noites somos estranhos

Uma Silhueta

 

Um ano depois 

Os céus de Magnolia chorava durante o funeral.

Nenhuma fada naquele dia parecia brilhar ou comemorar sua vitória

Todas elas tinham perdido uma criatura mágica muito importante, o dragão do fogo, ele foi um dos únicos naquele mundo encantado que se preocupou em defender as fadas do exercito do demônio negro, e foi a primeira criatura que as fadas conseguiram fazer amizade, pois ele diferente de todos, não as tratavam como seres inferiores e sim como sua verdadeira família.

Ele que tinha o poder de aquecer o coração de cada um com a sua chama de esperança havia partido, mas mesmo machucadas e desoladas, todas as fadas ainda se preocupavam com a fada que conquistou o coração do dragão.

A fada das estrelas que parecia ter perdido uma parte de si assim que o dragão partira, estava caída de joelhos, seus olhos apagados, como uma noite escura, onde nem a lua ousava aparecer.

Seus olhos que sempre refletiam o céu estralado, se tornaram pura solidão, deixando todos em alerta e na dúvida, se sua alma não morrera junto com o dragão.

Anos se passaram sem a fada brilhar novamente. Ela até acreditou que não merecia ser mais uma fada.

Porém aos poucos, ela reaprendeu a voar, usar magia, sonhar e ter esperança, pois descobriu que dentro dela sempre permaneceria uma chama deixada pelo dragão do fogo e essa chama sempre daria forças para ela se erguer todas as vezes e renascer brilhando como ele.

Fim

 

- Lucy você nunca vai terminar de escrever esse livro? – perguntou Happy, assim que a garota escrevia a palavra "Fim" no final da pagina.

- Terminei Happy… - afirmou Lucy orgulhosa, juntando as folhas do rascunho e guardando-as na gaveta.

A loira levantou-se da escrivaninha e se se espreguiçou, aquele livro era uma versão de sua própria história e a de Natsu em um mundo alternativo, ela havia se dedicado inteiramente a ele, após escutar o conselho de Mavis na guilda, quando ela, ainda de luto não tinha vontade de fazer nada.

"- Não chore mais Lucy - ela pousou a mão no ombro da loira com um sorriso fraco no rosto – Você precisa seguir em frente. A magia mais poderosa do mundo que todos podem usar, mas nem todos conseguem é o amor. E ele fez com que essa magia despertasse em você, ele te deu a magia mais poderosa do mundo, guarde-a em seu coração com carinho e enquanto viver você sempre encontrara forças para seguir, não importa a dificuldade."

- Lucy você vai ficar pensando feito uma estatua até quando? – o gato perguntou irritado.

- Ah! Desculpa Happy! Vamos! Vamos para mais uma aventura!

- Aye sir!

O gato azul voou saindo pela janela de seu apartamento sobre o céu sorrindo seguindo em direção à estação, ele ficara esperando a loira por uma hora finalizar seu livro, enquanto ele acabava com todos os alimentos dentro da geladeira da mesma.

Lucy pegou as chaves e sua mochila para sair do apartamento, quando ao segurar a maçaneta se lembrou de outra coisa que agora guardava como seu maior tesouro, dobrado sobre sua cama pegou o cachecol velho, porém inteiro de Natsu e enrolou no seu próprio pescoço sorrindo.

- Continue me protegendo, Natsu - a loira sussurrou trancando a porta – Um dia estarei ai com você, mamãe e papai para vivermos novas aventuras.

Então saiu atrás do gato azul para cumprir mais uma missão carregando a chama do dragão do fogo em seu peito.


Notas Finais


*Sim, breu é usado no Brasil também, com o sentido de "escuridão total" ou "escuridão extrema". Em seu sentido original, breu é uma resina negra viscosa conhecida também como "piche" ou "betume". (e pelo menos onde eu moro, algumas pessoas, incluindo eu, usamos)
** ação de fazer loops, acrobacias em plano vertical nas quais um avião descreve trajetórias que lembram laçadas.

Espero que tenham gostado da fic, deixe um comentário e façam um autora feliz *--*


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