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História SimplePlan.com - 4. Ordinary Life


Escrita por: Slendon6336

Notas do Autor


~Boa Leitura o/

Capítulo 5 - 4. Ordinary Life


Eu mordi meus lábios olhando pela janela do carro. Não sabia como reagir sabendo que Konami estava logo ali do meu lado, levando-me para um lugarzinho surpresa. Ele estava quieto, e eu podia ver do reflexo do vidro algumas caretas que fazia sozinho, como quem discutia internamente consigo mesmo. Eu não suportava a ideia de que eu havia deixado alguém preocupado. Talvez só não estivesse acostumado com pessoas que se importavam comigo.

Eu nunca fui o tipo de pessoa que fingia estar bem. Nunca pude, pois... Pois eu sou fraco. Esconder as emoções era algo definitivamente impossível para mim, não importava quanto eu tentasse mudar, isso em mim continuaria para sempre.

— Vamos fazer um trato, okay? — Konami disse de repente. — Quando chegarmos onde quero lhe levar, não faço questão de que você me diga absolutamente tudo, porém se achar que poderei te ajudar em algo... Bem, meu trabalho é escutar.

Assenti.

Mas que droga de aperto era aquele?

.

Ainda chovia do lado de fora. O céu estava tão cinzento que parecia que o temporal nunca passaria, e nem era possível ver as nuvens se arrastando pelo vento forte de fora.

Dr. Konami parou o carro na beirada da estrada, virando-o para a cidade. A vista era linda ali de cima, e todo aquele clima colaborava para tornar aquela cena uma verdadeira paisagem artística. A nebulosidade impedia de enxergar claramente as construções, porém era possível reconhecer as silhuetas dos prédios se destacando. Era como ter tudo aquilo na palma da mão.

— Já tinha vindo até aqui? — Konami me perguntara. Eu meneei a cabeça, negando.

— É tão lindo que dá vontade de chorar... — Comentei totalmente deslumbrado.

— Acho que chega de chorar por ora. — Uma pausa — Quando você estiver preparado.

A princípio demorei a perceber à que ele estava se referindo, até que a ficha caísse...

Eu estava saindo do colégio na quinta-feira, ansioso e querendo que desse tempo de passar despercebido, mas não... Lucian tinha uma visão de águia e me identificou no meio dos outros alunos agitados, puxando-me pelos cabelos até o banheiro masculino, trancando a porta logo em seguida.

— Por favor, por favor — Eu implorava, tentando manter distância, até que minhas costas batessem na parede — Não quero sentir dor... Dói. Por favor.

Os olhos de Lucian eram tão selvagens quanto à de um felino, e aquelas lentes contribuíam para tal. Ele se aproximava em passos lentos, como se quisesse que o tempo me torturasse. Naquele ponto eu já estava chorando e suando frio. Não sentia minhas pernas. Sabia o que viria a seguir e não adiantaria nada implorar por misericórdia.

Lucian bateu as mãos na parede atrás de mim, de modo que minha cabeça ficasse entre seus punhos.

— Grite e eu te mostro o que é sentir dor de verdade — Ameaçara.

Eu achava que ia desmaiar ali, e de fato preferiria isso ao ter de suportá-lo. Infelizmente eu estava muito bem consciente quando recebi os primeiros socos e chutes, como se eu fosse um saco de areia.

Lucian só parara quando me viu caído sobre seus pés, totalmente impotente.

Minhas roupas... Amarrotadas e algumas rasgadas do outro lado do banheiro. Era tanta humilhação para um garoto só que pensei que estivesse pagando por todos os meus pecados.

— Chega... Pare — Tentei mais uma vez, sem sucesso — Eu faço qualquer coisa, mas pare...

Foi quando ele me pegou pelos cabelos com brutalidade e minha boca se encheu de água. Gritei submerso na nojenta água da privada, tendo a voz abafada. Lucian só me tirou dali quando minha visão começara a ficar turva e pontos brancos invadirem minha cabeça. Mas ele fez de novo, antes mesmo que eu parasse de tossir e recuperar o fôlego. Mais uma vez afundou minha cara naquela maldita privada mal cheirosa.

Então meu corpo fora jogado contra uma cabine, o impacto apenas contribuindo com a crise de tosses.

Lucian desafivelara o cinto.

Eu não aguentava mais.

Ele me penetrara tão fortemente que parecia que eu seria rasgado no meio. Doía tanto. E a mão dele abafava meus gritos, fazendo-me afogar cada vez mais com toda aquela tortura.

Eu gritei no carro quando relembrei de tudo aquilo. Gritei alto.

Não quero mais. Não quero mais. Não quero mais.

Medo.

Dor.

Medo.

Dor...

— Adriel! — Dr. Konami me pegara pelos ombros, tentando me acordar.

— Fica longe de mim! — Berrei cerrando os olhos. Cada toque era uma fincada de faca. Não quero estar aqui. Não quero aguentar tudo de novo. — SAI!

Eu me debatia tanto, e mal tinha consciência do que fazia.

Konami soltou seu cinto de segurança e me abraçou com força. No começo resisti, tentando empurrá-lo e me contorcendo, tudo isso enquanto berrava histericamente. Contudo aos poucos fui me acalmando, e os gritos deram espaço ao choro.

Por que tinha de ser justo comigo? De certo ninguém mereceria tal tormento todos os dias, porém... Ainda sim... Já não aguentava mais aquele garoto na minha cola.

A morte parecia uma saída tão boa... Por que ninguém me deixava morrer? Por que diabos me impediam disso? Era tão egoísta, tão egoísta forçar uma pessoa a ficar num lugar que não pertence a ela...

—_________,,_________

No almoço, paramos em uma lanchonete estilo anos sessenta, toda tematizada com personagens que marcaram aquela década. Tais como cantores de rock, desenhos animados, atores, etc. O lugar era iluminado fracamente por lâmpadas amareladas e o chão era de ladrilhos pretos e brancos, lembrando um xadrez. Havia até mesmo um toca discos velho ligado, fazendo soar um calmo rock clássico.

Segui Dr. Konami até uma mesa quadrada num dos cantos da lanchonete e encarei a foto gigante do Elvis Presley na parede em escala de cinza. Ele parecia me encarar de volta... A sensação era esquisita.

— Olha, pode pedir o que quiser — Meu psicólogo maluco informou. Maluco porque naquele momento eu deveria estar no colégio, e duvido muito que alguém ficaria feliz em saber que um funcionário sequestrou um aluno de Rosseau.

Puxei o cardápio de cima da mesa com uma mão, ainda um pouco abalado por causa do meu ataque de pânico há algumas horas. Analisei o nome de cada hambúrguer... Tinham nomes de cantores de rock, todos tocando guitarra no céu àquela altura.

— Se quer uma dica — Konami começou assim que a música mudou — milk-shake de baunilha e esse hambúrguer que chamam de Bowie. Gosta de batatas-fritas, Adriel?

— Eu... — Me enrolei nas palavras — Não tenho comido muito ultimamente.

— Te garanto que depois da primeira mordida você não vai parar até que sobre a última migalha.

Ele chamou a garçonete e começou a fazer o pedido.

Aquilo foi definitivamente uma quebra na minha rotina. Konami conseguira me tirar daquela maldita programação de sempre e de certa forma aquilo me fazia feliz. Ele estava ajudando, por incrível que pareça. Algo que nunca sonhei que fosse realmente acontecer desde a primeira consulta.

— Por que está fazendo isso? — Indaguei em voz baixa quando a garçonete já havia voltado para a cozinha, levando nossos pedidos.

— Perdão?

— Por que... Está fazendo tudo isso por mim? — Indaguei mais uma vez, um pouco mais alto.

Konami deu uma risadinha, como se eu fosse uma criança perguntando para o pai se era possível tocar uma nuvem.

— Eu só quero te ajudar.

— Duvido que faça essas mesmas coisas para seus outros pacientes — Desafiei.

— Tem razão — Ele voltou seu sorriso amigável em minha direção. Duas covinhas se formaram em suas bochechas quando ele o fez. — Você é especial.

Ergui as sobrancelhas de espanto e logo senti o sangue subir por conta da vergonha.

— Como pode dizer uma coisa dessas? — Questionei visivelmente corado.

— Ora, acho que depois de hoje, somos mais que apenas psicólogo e paciente.

Aquilo não ajudou com relação ao desconforto que eu estava sentindo. Maldito asiático...

— Aqui está — A garçonete havia voltado pouco tempo depois, trazendo duas bandejas e distribuindo-as para a gente.

Analisei o lanche a minha frente antes de decidir o próximo passo. Konami estava apenas como espectador. Esperei que ele começasse a comer o seu pedido primeiro, contudo percebi que isso não aconteceria.

Hesitante, peguei o hambúrguer (julgo Bowie) entre os dedos e observei bem antes de dar a primeira mordida. A carne era tão grossa e tinha um odor tão delicioso... Finalmente mordi.

— Isto é... Bom — Revelei sentindo minhas pupilas se dilatarem quando Konami riu. Desta vez sua risada fora diferente das outras. Pareceu verdadeira. Não pude deixar de rir de volta, dando mais outra mordida no hambúrguer, depois outra e mais outra.

— Eu disse que ia gostar — Lembrou ele, puxando o seu próprio do papel.

E assim como também tinha dito, só me satisfiz ao terminar tudo. Fazia tempos que eu não comia daquele modo.

Voltamos para o carro correndo, para não nos molharmos com a chuva. Dr. Konami ligou o rádio em FOSTER THE PEOPLE e engatou a primeira saindo dali parecendo decidido.

— Vamos voltar para o colégio? — Indaguei preocupado. Não queria estragar aquele dia tendo de enfrentar Lucian.

— Considere que hoje somos livres — Respondeu-me.

Nesse instante começara a tocar uma batida familiar para mim. Embora aquele não fosse o estilo musical a qual eu estava acostumado a ouvir, um sorriso animado brotou nos meus lábios.

— Eu conheço essa música! — Me agitei.

Konami passou a balançar a cabeça enquanto dirigia, se contagiando com a minha exaltação. E comecei a cantar juntamente com os vocais.

Robert's got a quick hand

He'll look around the room, he won't tell you his plan

He's got a rolled cigarette

Hanging out his mouth he's a cowboy kid

Yeah he found a six shooter gun

In his dad's closet hidden in a box of fun things

E quando fui ver, meu psicólogo também estava cantando comigo.

A chuva lá fora, que normalmente me deixaria ainda mais depressivo, agora já não parecia um detalhe tão triste. Pelo contrário, estava combinando tanto. A chuva nunca foi um fator tão aconchegante como estava sendo naquele instante. Continuava linda.

All the other kids with the pumped up kicks

You'd better run, better run, outrun my gun

All the other kids with the pumped up kicks

You'd better run, better run, faster than my bullet

Aquele estava sendo o melhor dia da minha vida desde meus doze anos de idade.

—_________,,_______

Já estava escurecendo quando a chuva se tornara apenas uma garoada e o carro de Konami parara na frente de uma casa num bairro classe média da cidade. Dava para ver que lá dentro estava havendo uma festa ou algo do tipo.

Na entrada tinha uma comprida faixa escrito: “soMENTE de Loucos” e no gramado ao lado da porta da frente, uma rodinha de pessoas fumando narguilé, ignorando completamente as faísquinhas de água que precipitavam do céu. O mais curioso era que eram pessoas todas de estilos diferentes.

Konami desceu do carro e eu o segui até dentro da casa, passando pelos fumantes. Aquela fumaça que subia de suas bocas não tinha aquele cheiro horrível de cigarros a qual eu estava acostumado a sentir, o que me deixou curioso. O asiático cumprimentou amigavelmente todos eles com um aceno, sendo retribuído.

— O que estamos fazendo aqui? — Perguntei — Não acha que se um policial me pegar aqui estaremos terrivelmente ferrados?

— Calma. Não é como se estivéssemos num centro de recuperação para loucos viciados em drogas. Na verdade é proibido usar qualquer tipo de droga aqui dentro...

Dentro da casa havia pessoas. Muito delas. Não ao ponto de lotar, contudo o suficiente para se souber que algum evento social estava ocorrendo ali.

Algumas tinham copos nas mãos, e todas conversavam. Não era barulhento como festas normais de adolescentes, e eu podia observar todas as idades ali: desde adolescentes à velhos de sessenta anos, o que eram mais raros, mas não inexistentes.

— Maninho! — Alguma voz berrou de algum lugar, me assustando.

No meio da movimentação avistei duas figuras que se aproximavam da gente. Um era a cara do Dr. Konami. Talvez uns cinco anos mais novo e de olhos ainda mais puxados, porém ainda sim era possível perceber um parentesco entre ambos. Este segurava um copo vermelho descartável numa das mãos, enquanto a outra acenava.

A outra figura era uma mulher de dreads e pele negra. Era linda e tinha um andar confiante. Lembrava-me aquelas negras divertidas e legais dos seriados norte-americanos. Usava uma camiseta branca com os dizeres: “Escolha Esquerda”.

— Hiro, eu trouxe um convidado — Konami apresentou-me — Adriel, este é meu irmão Hiro.

O outro asiático estendeu-me a mão, todo sorridente.

— Bem-vindo ao soMENTE de Loucos.

— Tou vendo que está perdidinho, garoto — A mulher comentou.

— Eu nunca... Ia saber da existência de um lugar assim — Admiti.

— Amanda — Se apresentou, com as mãos na cintura e um sorriso de canto. — Sinta-se em casa. Konami, da onde diabos você comprou esse moleque?

— Ele é um paciente meu. Estamos de passagem.

— Me lembra Hawk... — Comentou o irmão.

— Hawk? Ele também frequenta aqui? — Indaguei, me recordando do garoto que me ajudara no dia passado. Não poderia ser o mesmo garoto, poderia?

— Oh, sim. Temos muitos problemas com ele, na verdade. Por conta do cigarro — Amanda informou.

— Vou levá-lo ao telhado — Konami mudou de assunto.

E assim o fez, me guiando pela casa até o segundo andar e então finalmente para o telhado.

Tudo aquilo estava bem longe do meu universo. Afinal, eu era um emo no meio de um... clube ou seja lá o que aquilo fosse, com uma diversidade enorme de pessoas.

— Eu não acho que seja uma boa ideia eu ficar aqui — Falei — Meu cabelo...

— Estamos no fim da noite. Não vai haver problema estragar o penteado.

Sentamos ali e o silêncio pairou entre nós, muito embora ainda pudesse ouvir as conversas nos andares inferiores.

Eu estava cansado, mas ao mesmo tempo muito agradecido à Konami por tudo que houvera feito. Era como se os problemas deixassem de existir por um dia. Claro, houvera o surto no carro, mas... Aquilo não contava. Eu estava ocupado demais visitando outro mundo. Um mundo diferente do meu, cinzento.

Passamos horas ali, conversando e se molhando aos poucos. Só descemos novamente quando o frio pareceu ganhar.

Dr. Konami me levou para casa, enquanto eu observava a serena noite pela janela. Foi difícil lutar contra o sono.

Adormeci.


Notas Finais


Conhecer novos estilos sempre é interessante... Vocês tem amigos de estilos diferentes dos seus?


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