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História Síndrome de Estocolmo. - One


Escrita por: Bolengo

Capítulo 1 - One


Fanfic / Fanfiction Síndrome de Estocolmo. - One

              

 

Esmagou entre os dedos algo que era belo e inocente, apenas por ser belo e inocente, drenou toda a vida até que não fosse mais nem uma coisa ou outra.  Permaneceu parado com os olhos esbugalhados e mão suja de sangue, e teve que conviver com a culpa de não sentir culpa alguma. [plagiei de algum lugar]

 

 

 

 Sakura se contorceu no chão em meio aos estilhaços de vidros, lá se fora a ultima peça de seu aparelho de jantar, o presente de casamento que ganhou de sua tia.  Através de sua visão periférica observava os pés dele se afastando, Sasuke ia em direção à porta de entrada, indiferente não olhou para trás nem uma mísera vez, nem para se certificar que ela ainda respirava.

Abafou o soluço ao ouvir o baque seco da fechadura trancando, já podia levantar-se e respirar aliviada, já podia recolher os cacos e o que sobrou de sua dignidade e  depois se arrastar até o  banheiro, já poderia chorar embaixo do chuveiro e sentir pena de si mesma.

 Sentia sua face queimar, teve seu rosto golpeado algumas vezes, deveria colocar gelo antes que inchasse.  Encostou seu corpo dolorido ao lado fogão, desolada pegou os restos mortais da tigela de arroz  que estava quebrada em milhares de pedaços,  uma lasca de vidro perfurou a palma de sua mão, um pequeno filete vermelho escorreu do ferimento manchando o chão da cozinha.

         Quando isso começou?

      Há muito tempo, talvez logo após o casamento, Já não faz mais diferença, quando como ou o por quê?

Era sexta-feira, e na vida de Sakura Haruno todas as sextas feiras são treze, amaldiçoadas, carregadas de tensão, não por motivos supersticiosos, ou folclóricos. Sasuke gosta de socializar com os amigos, um hábito saudável na vida de pessoas adultas, um hábito que não a incluía, toda sexta-feira a noite ele sumia e retornava apenas no outro dia de ressaca e cheirando a perfume barato. 

Na primeira vez que isso aconteceu ela se desesperou, achou que seu amado tivesse sido vitima da violência urbana, um assalto, sequestro, um acidente de transito, passou a noite toda ligando para um celular desligado, percorreu  hospitais, delegacias, tranquilizou-se apenas na manhã seguinte, quando ele apareceu cambaleante, com hálito de cachaça e sem um centavo no bolso.

Ficou feliz por não ser a mais nova viúva da cidade, mas se decepcionou ao perceber que era uma otária.  Com seu orgulho ferido, gritou, chorou, ameaçou abandona-lo. Ele se desculpou, colocou a culpa em seus colegas de trabalho, inventou uma estória mirabolante que incluía pneus furados e o atropelamento de um cachorro.

    Ela o perdoou. Fizeram as pazes, fizeram sexo, fizeram juras de amor.

Mas as juras de amor dele tinham prazo de validade, seu personagem de bom moço atuava de segunda a quinta, nos finais de semana ele abandonava o roteiro politicamente correto e voltava a ser um homem solteiro. Sasuke continuou a sair, então, Sakura chorou mais algumas vezes, se lamentou outras tantas, porém não cumpriu a promessa de abandona-lo, fazendo jus ao ditado de que cachorro que late não morde. Depois de algum tempo ela nem o questionava mais, fingia assistir TV enquanto ele se perfumava para sair. Talvez ele tenha outra, uma amante. ‘Ela pensava’.  Era um pensamento indigesto, mas que ela insistia em abandoná-lo rapidamente. Não. imagina que absurdo, ele jamais faria isso. Ele é um pouco descontrolado, grosso, mas ele jamais me trairia, ele me ama. 'Ela acreditava'

 Depois de limpar o chão da cozinha, e chorar em baixo do chuveiro, decidiu que o abandonaria, estava farta, colocaria um ponto final nessa situação.  Decidida começou a fazer as malas, colocava as peças de roupas amontoadas uma sobre as outras, já não chorava mais, não havia motivos. Olhou-se no espelho da penteadeira, o corte no lábio inferior já não latejava mais, nem inchou tanto, não teria que cobrir o hematoma com uma tonelada de corretivo.

Pegou um moletom branco no fundo da gaveta, sorriu ao ver aquela peça de roupa, foi o primeiro presente que ganhou dele, bom não foi um presente intencional, daqueles que você fica semanas planejando ou procurando. Eles estavam no Shopping quando Sakura derrubou suco de uva em sua blusa, então Sasuke comprou-lhe esse moletom na loja que ficava ao lado do banheiro feminino.

Nós éramos felizes. ‘Ela lembrava’.

Sempre se perguntava o que aconteceu com o homem gentil e atencioso que conheceu, esse Sasuke que ela vivia no presente, não se parecia em nada com o Sasuke  que ela namorou no passado. Na adolescência conversavam sobre os mistérios do universo, física quântica e vidas passadas, falavam sobre as viagens que fariam.  Agora os diálogos permeavam  os resmungos de algumas contas a pagar.

Sou melodramática. 'Ela pensava’.

Pegou o batom vermelho esquecido há tempos dentro da bolsa, justamente aquele que ele odiava. Coisa de piranha, de mulher que não presta ‘ele dizia’.

Engraçado que quando a conheceu na fila do cinema, ela usava batom de vermelho e minissaia, Sakura  usou carmim nos lábios durante os primeiros meses de namoro, depois  sem que percebesse começaram as pequenas sabotagens. Use um mais clarinho, é mais feminino ‘ele dizia’.

Para agrada-lo trocou o batom vermelho por um rosa. O salto alto por sapatilhas, os cabelos platinados por um castanho escuro, sisudo,  as saias desceram até os joelhos.

Amigas? Não. Você não precisa dela,  suas amigas são todas vadias, falsas, você não é como elas, você é diferente. Não é ciúmes, é cuidado, zelo. ‘ele dizia’.

Trabalhar? Você não precisa trabalhar, querida eu te amo, mas nós sabemos que você é meio burrinha, não sabe fazer nada direito, deixa que eu cuido de tudo. ‘Ele dizia’.

Sem trabalho, sem amigas, sem dinheiro, sem amor próprio.

Olhou as malas sobre a cama, já era tarde da noite, não poderia aparecer na casa de seus familiares desse jeito, seria humilhante, teria que contar toda a verdade, a verdade que esconde há anos, cogitou a hipótese de ir para um hotel, não. Não tinha dinheiro para pagar uma diária. Talvez devesse esperara amanhecer, pela manhã seria mais seguro andar pelas ruas e ir até o ponto de ônibus mais próximo, porém se esperasse até o dia seguinte perderia a coragem.

Andou em círculos pelo quarto, sua determinação se esvaia à medida que os minutos passavam.

Olhou seu apartamento, era um belo imóvel, não poderia abandona-lo no meio da noite e retornar para aquela periferia miserável que tanto odiava. Não poderia deixar seu casamento para trás depois de todo empenho, não poderia desistir por causa de uma briga, um desentendimento, não poderia abandonar seu marido, um homem articulado, workholic, com um futuro promissor, outra mulher tomaria seu lugar.

Foi até o espelho novamente, examinou seu rosto, tocou o ferimento com a ponta dos dedos, pressionou um pouco a pele para testar a sensibilidade.

No fundo ela sabia que não se tratava de um simples desentendimento, uma divergência de casal, Sakura sabia que vivia em um relacionamento doente, e ela era a única pessoa que poderia encontrar a cura.

A culpa foi sua. ‘Ele dizia’. Essa foi a ultima vez, você me obrigou a fazer isso. ‘ Ele dizia’.

Mentia para si mesma dizendo que era apenas uma fase, uma fase que duravam anos, e piorava a cada dia.  Justifica os ataques histéricos dele, dizia que o pobre  estava stressado por causa do trabalho, aquele emprego escravocrata, que lhe tirava o couro, o suor e paciência.  Ele é um bom homem, apenas não sabe demonstrar os sentimentos. ‘Ela pensava’.

Sem perceber Sakura se tornou cumplice de seu algoz, culpava a si mesma pelas surras que levava, acostumou-se com as agressões, e esperava por elas, por que no dia seguinte, ele voltava a ser gentil, era atencioso, até pegava gelo para colocar sobre os hematomas.

AH! Ele a amava.

Jurava que aquela seria a ultima vez. Ela não acreditava mais. Na verdade ela não se importava mais. Sakura também não era mais a mesma da época do namoro, antes era uma garota expansiva, cheia de planos, agora não passava da cópia made in China de um zumbi feminino, sem iniciativa, sem vontade, sem opinião.

Sabe aquela frase até que a morte os separe? Ela fazia sentido, porque só via a morte a sua frente. Ele a mataria, ou ela o mataria, ou se mataria.

Então é isso que é o amor? Será que todas as pessoas casadas são infelizes assim? ‘Ela pergunta’. Talvez exista uma conspiração universal por trás de toda essa cobrança de estar com alguém, onde toda a humanidade tenha que ser infeliz junto. Ela olhava as fotos de suas amigas nas redes sócias com o status de solteira e pensava: Sou infeliz, mas tenho um marido.

Olhou o relógio novamente. Não melhor não, já está tarde, pode ser perigoso sair pelas ruas essa hora. Dormiria, ajustaria o despertador para soar bem cedinho, ai sim, iria embora.

Colocou as malas ao lado da porta, e deitou-se na cama, chorou revendo o álbum de casamento, aquele foi o dia mais feliz de sua vida. Talvez ela não devesse tomar uma decisão precipita, talvez fosse melhor desfazer as malas e pensar depois com mais calma, talvez devesse ser mais paciente e não cobra-lo tanto, deveria aprender alguns truques novos para entretê-lo na cama, afinal todo homem só procura na rua o que não encontra em casa.

Não. O melhor a fazer era desfazer as malas imediatamente, Sasuke poderia voltar  no minuto seguinte, arrependido, ele ficaria muito decepcionado ao descobrir que ela planejava abandona-lo as escondidas, no meio da noite. Sakura correu e começou a guardar suas roupas rapidamente, colocou tudo em seus devidos lugares.

Ah! O batom vermelho, precisava retira-lo e jogar o guardanapo fora, ele se aborreceria se descobrisse que ela ainda possuiu aquele batom de puta.

 Sakura vivia uma mentira, mas habituou-se a ilusão. Quantas vezes são possíveis estilhaçar a esperança até que seja impossível restaura-la? Quantas vezes é possível viver uma mentira desejando que fosse a verdade. Errar é humano, perdoar é divino, dizia a si mesma. Eu preciso perdoa-lo, preciso ajuda-lo a ser um ser humano melhor. Ele precisa de mim, não posso abandona-lo, Irei perdoar só mais uma vez, só mais essa vez.

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