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História Sinfonias Dolorosas - Águas inseparáveis


Escrita por: Thatavisk

Capítulo 9 - Águas inseparáveis


— Ainda acho péssima ideia — disse olhando a água formar pequenos leitos nas beiradas do asfalto.

— Vai ser divertido. — Desci a página do site do aquário. Era muito bonito, podíamos mergulhar com tartarugas e o restaurante ficava perto de um aquário de águas-vivas com iluminação colorida, ou seja, lindo.

— Com ele por perto?. — Sentou-se no degrau, ao meu lado. — É um restaurante de frutos do mar.

— Que horror! — Sorri franzindo o cenho. Parecia uma piada de mau gosto, mas que dava certo.

— Faz sentido com a temática e é gostoso. — Cruzou os braços, apoiando-os nos joelhos e para além da rua. — Tem um restaurante de frutos do mar perto daqui, quer dar um pulo lá? — convidou tentando mudar nossa rota.

— Acho que eu prefiro ver os bichinhos vivos.

Ele suspirou fundo.

Estava chovendo forte desde que o dia amanheceu, mas Jimin não quis cancelar, disse que não sabia quando teria tempo livre novamente e estava ansioso para ir. Taehyung havia se oferecido para me levar, mas Jimin insistiu que fossemos em seu carro pois tinha uma surpresa, mesmo após eu dizer que tinha convidado Taehyung para ir junto.

Jimin não reclamou, na verdade, foi como se ele não tivesse ouvido. Apenas disse que chegaria logo, no mesmo tom alegre com o qual atendeu minha ligação.

— É nessa segunda, não é? — indagou olhando as poças de água ao pé da escada tremularem conforme recebiam mais gotas.

— O tribunal simulado?

Ele assentiu.

— Sim. Parece que estão todos animados ‘pra saber como tudo vai correr — comentei travando a tela do celular.

— Você não parece muito animada. — Esticou pouco as pernas, colocando os pés um degrau mais baixo.

— É que eu vou ficar meio cortada da experiência, sabe? Já que recebi a papelada completa do caso e assim perde a graça. Nem vou poder participar de fato da simulação, só vou ficar dizendo o que eles precisam saber.

No começo tinha muito o que fazer, o caso era longo, havia se arrastado por meses e isso me deu arquivos enormes para ler, mas agora, sabendo de quase tudo, sentia que iria para lá apenas para sentar numa cadeira e rebater acusações que já haviam sido derrotadas. Era como fazer um favor para o qual não me ofereci, me prestar ao papel de apresentar uma atividade que eu fazia parte passivamente.

— Talvez seja divertido, se só você sabe de tudo — disse bocejando em seguida, atraindo minha atenção para si. — Eles só saberão o que você disser, vai ditar o rumo das coisas. Você pode simplesmente ocultar e negar tudo e depois se fazer de vítima. — Deu de ombros.

— Não vou sabotar meus colegas — retruquei vendo um carro preto se aproximar da fachada do prédio e parar.

— Não é sabotagem, é como aconteceu de verdade — disse se levantando ao ver Jimin abrir a porta do carro com um guarda-chuva de ponta em mãos.

Jimin me cumprimentou primeiro, encurtando-se a apertar a mão de Taehyung enquanto falava comigo sobre o aquário. Ele carregava consigo um folheto impresso das atrações que provavelmente tinha desde a última visita. Jimin era organizado e metódico, chegando a beirar o exagero. Ele se desculpou por não ter tido tempo de ligar para o aquário para checar se muita coisa mudou, como se fosse uma responsabilidade sua garantir que eu soubesse exatamente o que faríamos feito um guia turístico ansioso.

Jimin começou a falar como seria nossa trajetória para tentar aproveitar ao máximo o dia, ele falava do passeio como se houvesse planejado por semanas, passo a passo, de maneira entusiasmada, mas Taehyung o interrompeu para perguntar se ele sabia que eles haviam recebido novas espécies de arráia. Jimin primeiro sorriu, depois suspirou.

— Claro, é meu animal favorito — respondeu fazendo menção de que o seguíssemos para o carro após, me abrigando abaixo do guarda-chuva até a porta.

Apesar de Jimin ter me oferecido o banco de carona, preferi me sentar atrás com Taehyung, não queria que ele se sentisse isolado, mas foi inevitável que ele ficasse de fora quando Jimin puxou assuntos sobre a  faculdade, conversa da qual Taehyung não poderia participar muito.

Mesmo se eu fizesse ligações entre nossas qualificações, apontando como julgamentos são também performances e jogos de palavras, Jimin simplesmente parecia arrumar um jeito de afastar os temas. Começava a citar casos famosos, leis controversas, qualquer coisa que fizesse Taehyung escapulir do assunto.

Taehyung apenas se incluiu na conversa quando começamos a falar sobre o tribunal simulado. E Jimin estranhou ele saber mais que si. Quando Taehyung quase revelou qual seria o caso, ele próprio se tocou e engasgou sem querer ao cortar a frase. Ficamos apenas nos olhando por alguns segundos antes de começarmos a rir. Jimin apenas nos olhou pelo retrovisor e mirou de volta a rua.

 

A cidade, que já não possuía muitas cores além de algumas fachadas de anúncios, na chuva parecia ainda mais cinza. Em dado momento o assunto morreu e alguns minutos de silêncio entre nós foi feito. Jimin não parecia incomodado, focando na estrada enquanto o limpador do para-brisas jogava a água para os lados, e Taehyung checava algumas mensagens no celular.

Acabei fazendo o mesmo, enviando algumas mensagens para minha mãe e respondendo algumas coisas no grupo da faculdade.

Taehyung recebeu uma ligação e pediu licença para atender, apesar de já não estarmos mais no meio de uma conversa e apenas assentimos.

Em um momento peguei o fone de ouvido na bolsa de ombro, estavam enviando muitos áudios longos e parecia estar havendo uma discussão no grupo.

Todos estavam falando do caso, que provavelmente seria um homicídio, já que Yoongi havia sido advogado criminalista e notório em casos envolvendo mortes violentas. Mas outros acreditavam que seria algo voltado a vara familiar, já que Yoongi em começo de carreira havia se especializado em casos desse ramo e chegou a ter certa fama em casos de disputa de guarda entre celebridades divorciadas.

O caso deste seminário não era exatamente um dos mais violentos de toda a sua performance como advogado, mas havia sido um homicídio em condições misteriosas e com uma suspeita que, de alguma forma, sem testemunhas, sem álibi concreto e mesmo com todas as motivações presentes, saiu dessa inocentada e de forma muito rápida desapareceu da mídia.

A vida dela provavelmente nunca mais foi a mesma, teve de mudar de nome, país e até mesmo visual por um tempo. Mas ela estava livre, contra quaisquer condições que aquele caso proporcionou, ela estava livre e completamente anônima mesmo depois de uma repercusão surpreendente de seu caso na mídia nacional.

Por um momento me bateu um leve desconforto. Liberdade não significa necessariamente inocência. Havia muitas informações pendentes do caso na internet, removidas provavelmente para proteger a integridade da acusada após o fim do julgamento e o veredito ser fincado naquela pilha bagunçada de provas que foram desmentidas de alguma forma em um julgamento apressado e confuso. Ao pesquisar o caso, os topos da pesquisa mostravam manchetes sobre sua surpreendente inocência.

Uma das primeiras coisas a se aceitar quando se estuda sobre leis, sobre justiça e sobre direitos, é que a constituição é uma malha tecida por fios dos mais variados calibres e qualidades, o que a torna maleável, colorida, diversificada e, feliz ou infelizmente, frouxa.

Yoongi era famoso por casos notórios, difíceis e improváveis, esse era um deles.

Por impulso, fechei o aplicativo de conversa e abri imediatamente o de busca, posicionando os polegares para iniciar uma pesquisa que ainda não havia de fato pensado em como fazer, mas me dei conta de que o silêncio havia parado.

O timbre grave de Taehyung me tirou o foco das questões que estava prestes a buscar, era mais grave ainda quando falava baixo. Ele estava levemente curvado para frente e Jimin, com a voz mansa e melódica, respondia de volta em um misto de desinteresse e incômodo.

Ele já não estava mais na chamada e agora conversava quase em sussurros com Jimin, tão baixo que demorei a perceber. Estavam falando sobre o aquário, dentro de uma memória em comum com mais alguém que não estava ali. Taehyung estava comentando algo quando Jimin o cortou com um "eu lembro".

Permaneci olhando o celular, fingindo não ouvir e, realmente, eles estavam falando bem baixo e o barulho da chuva pesada batendo no teto do carro parado ao sinal vermelho não ajudava.

— Nenhum de nós poderia esquecer. — Taehyung esticou o braço, apertando por um segundo o ombro de Jimin, que não reagiu ao toque. — A não ser ele, ele nunca ligou para esse tipo de coisa, não é a toa que ele trouxe um desses casos asquerosos para lecionar.

A última dita com desdém. Não pude deixar de olhar de relance para Taehyung, sentindo uma pontada fria partida dos ombros ao Jimin virar o rosto para mim no mesmo momento que Taehyung. Uma buzina voltou o olhar de Jimin para frente e Taehyung, que pôs as costas de volta no banco, começou a falar sobre a memória, dessa vez em tom comum.

— Tinha um tubarão que era meio torto, lembra? Você não parava de zoar o Jungkook, falando que a escoliose dele ia deixar ele daquele jeito — falou soando como se quisesse rir, mas não da maneira de quem acha graça. — Será que ele ainda 'tá vivo? Talvez esteja mais torto ainda, faz uns anos, não é?

— Talvez tenha morrido. — Jimin se encurtou.

— Talvez — repetiu. — Provavelmente seja até bom, era um animal que devia sofrer um bocado sem conseguir fazer coisas normais.

Era como se estivessem discutindo sem discutir, depositando um nível de passivo-agressividade estranha em cada palavra. Tirei os fones de ouvido e os coloquei na bolsa e, apesar de já estarem cientes de que eu ouvia, o ato pareceu fazê-los se calar.

— Eles resgatam animais debilitados? — perguntei sentando-me um pouco de lado, para ver Jimin melhor.

Senti que precisava ver os dois, ter os dois ao mesmo tempo no alcance da visão. Não era medo, nem ansiedade, mas o sentimento de que eu devia assisti-los.

— Só quando convém. — Jimin respondeu, não parecendo uma crítica ao aquário, nem uma reclamação. — Depende da chance de sobrevivência, resgatar muitos animais que morreriam logo faria algum estrago na imagem do aquário. Tem doença que não vale a pena tratar.

Taehyung pareceu se exaltar, endireitando a postura e chegando a abrir a boca, mas o toque do celular de Jimin foi reproduzido no painel do carro e, quase no mesmo instante que aceitou a ligação, uma voz familiar perguntou: — "E aí, viu lá no grupo?"

Era um colega de classe.

— Não, 'tô dirigindo, o que houve? — Jimin perguntou e Taehyung se voltou para a janela.

— Vazaram o sorteio dos grupos, ficamos com acusação. — O rapaz ao outro lado da linha respondeu. — Os outros acabaram na defesa, nosso grupo não tá ruim, mas poderia ser melhor. Também vazou que o caso é do próprio senhor Min, foi um dos casos dele com ré feminina, mas os nomes estão todos riscados — Ele comentou, como quem avalia um time de futebol.

— Depois dou uma olhada, cria um grupo com as pessoas da acusação. 

— Já criei e te incluí, mais tarde fala algo lá, bola uns planos fodas aí 'pra a gente. O grupo da facul 'tá só o caos agora, acho que vão discutir o dia todo. Falou, cara.  — O rapaz desligou, parecia animado com a simulação, quase uma competição para ele.

Voltei minha atenção novamente ao celular e, realmente, havia mais 136 mensagens novas no grupo durante o intervalo de pouco menos de cinco minutos que durou aquela interação estranha entre Taehyung e Jimin. Se não estavam discutindo, já estavam brigando.

As pessoas estavam se dividindo entre as que estavam começando a criar estratégias, as que tentavam adivinhar o caso e as que estavam putas que estavam estragando um dos elementos surpresa da atividade e isso era uma atitude infantil incabível para o ambiente de uma universidade.

Uma de minhas colegas me enviou uma mensagem, ela havia ficado com defesa e perguntou em qual grupo eu havia ficado. Faltavam alguns nomes na lista, além do meu, que provavelmente nem chegaria a fazer parte do sorteio, e diversas pessoas estavam confusas sobre se a atividade aconteceria ainda ou não.

Uma discussão sobre a ética e legalidade da exposição de informações pessoais e de sigilo começou no grupo e eu deixei o celular de lado. Às vezes as discussões dentro de um grupo de estudantes de direito tomavam proporsões fora da realidade ao ponto de serem ridículas.

— Você ficou de qual lado? — Jimin perguntou olhando-me por um segundo.

— Não sei ainda — respondi enrolado o fone no celular e os enfiando na bolsa. — O professor deve refazer o sorteio, era para ser surpresa e faltou muita gente na lista — falei voltando minha atenção para a rua, a chuva agora estava mais fina e o céu começava a ficar mais claro.

— Provavelmente não, senhor Min é do tipo que faz retaliação, amanhã ele deve burlar nossos planos ou já deve até estar mudando qual caso será — disse voltando-se para mim ao parar novamente em um sinal vermelho. — Ele vai estar de mau humor, vou sentar lá atrás contigo de novo, ele gosta de selecionar alvos próximos ‘pra fazer perguntas impossíveis — comentou com um leve sorriso.

— Como se ele fosse te deixar passar — Taehyung murmurou. 

O semáforo brilhou verde novamente. Jimin voltou a dirigir e, parecendo não ter ouvido o que Taehyung disse, começou a contar de uma coisa que ouviu uma vez, que Yoongi reprovou mais da metade de uma turma depois de vazarem uma prova.

 

Ao chegarmos ao aquário, havia uma breve fila de carros na entrada do prédio retangular revestido em pedra preta. Mesmo estando chuvoso, ainda era final de semana e as pessoas pareciam animadas, principalmente as crianças. Muitas famílias desciam para entregar as chaves ao manobrista, todas sorrindo ao subir os degraus do prédio enorme que estava à nossa frente. Não era a maior arte arquitetônica do lado de fora, uma vista negra retangular com o leve brilho de um mármore escuro intercalava com pilares gregos dourados e a fachada igualmente em dourado com os dizeres “Aquário Marinho de Seul”.

Jimin entregou a chave ao rapaz que o cumprimentou como um amigo que te vê depois de muito tempo. Descemos do carro enquanto eles tinham uma breve conversa corrida antes do rapaz acenar e fechar a porta do carro, seguindo para a entrada da garagem subterrânea, na lateral do prédio. Ele também cumprimentou Taehyung de longe.

Subimos os degraus, Taehyung, já habituado ao local, sem muito interesse, mas eu, pela primeira vez ali, vislumbrada com os pontos cintilantes que surgiam das paredes apesar do pouco sol. As porta duplas de vidro filmado estavam abertas, revelando um salão com luz fraca azulada, onde móveis de madeira escura compunham uma recepção curta antes das catracas de entrada. Os lustres pendurados no teto alto possuíam pequenas figuras em vidro, ou cristal, de águas-vivas, tartarugas e conchas. Jimin mostrou um cartão de sócio à recepcionista que liberou nossa entrada rapidamente, desejando uma boa experiência.

Jimin fez menção de que eu passasse primeiro, seguindo para ao meu lado, enquanto Taehyung se manteve um passo atrás, pegando seu celular para checar rapidamente algo antes de guardá-lo novamente.

Após as catracas, um túnel escuro se afunilava, semelhante à entradas de cinema, com placas fluorescentes avisando sobre o uso de celulares e flash dentro do aquário. Um som ambiente baixo simulava ondas quebrando na praia com um fundo musical místico, criando a atmosfera de adentrar um ambiente desconhecido, o que parecia ter mais efeito ainda nas crianças que agora não falavam sequer um "a".

Algumas pessoas cochichavam, como se o ambiente solicita-se o silêncio.

Ao me atentar as placas fluorescentes nas paredes, percebi que, aparentemente, tirar fotos com flashs perturbava os peixes e poderia causar acidentes, pela grande quantidade placas avisando para que todos desligassem os flashs.

Ao fim do túnel, uma cortina de filetes de tecido felpudo se estendia até o chão, deixando escapar brechas de uma luz fraca conforme as pessoas passavam por ela. Ao me aproximar, estiquei primeiro a mão, afastando uma fina abertura entre o preto e revelando uma explosão de cores se abrindo ao atravessarmos toda aquela escuridão.

O ambiente do primeiro aquário era levemente iluminado por intercalações de azul e branco postas ao teto. Luzes ultravioleta faziam com que os corais próximos às paredes de vidro brilhassem, criando um limite rente ao chão preto, pareciam algo que se espera ao ver em vídeos sobre simulação de vida alienígena. Tentáculos curtos se movendo devagar, conforme ou contra o fluxo de água, com pequenos pontos mais luminescentes que outros.

Por um momento esqueci estar acompanhada e vaguei para fora do túnel que agora se expandia em um vasto corredor repleto de pessoas voltadas aos vidros gigantescos nos separando de toneladas de água salgada repleta de vida por todos os lados.

Cardumes de peixes nadavam exibindo pequenos reflexos luminosos conforme moviam os corpos em uma sintonia instintiva ao se movimentar entre os outros habitantes do aquário. Arráias de peito branco e costas cinzas pareciam planar por cima de nossas cabeças ao atravessar de um lado para o outro e, em um lapso de medo ao imaginar aquele vidro quebrando sob nossas cabeça, procurei pelos dois rostos conhecidos que deixei para trás.

Jimin estava atrás de mim, mas não encontrei Taehyung.

— Ele precisou sair, não pode atender o celular aqui dentro. — Jimin disse ao notar eu olhar ao nosso redor. — A última vez que vim, não tinha isso. — Apontou os refletores UV que apontavam estrategicamente para corais enfileirados na beirada do vidro.

Uma sombra grande se projetou nos corais, um tubarão-baleia filtrava a água enquanto peixes finos e compridos nadavam abaixo de suas nadadeiras.

Memórias afetivas de infância começaram a retornar brevemente à atenção da minha mente, as noites assistindo documentário enquanto esperava meus pais chegarem. Algo sobre a relação de simbiose entre predadores e peixes que possivelmente seriam presas, mas que por trazerem benefícios ao predador, eram ignoradas em troca de "um dia de spa", como chamou o programa. "Um dia de spa", pude ouvir a voz do narrador como se estivesse passando na antiga TV de tudo a poucos metros do sofá de dois lugares de minha antiga casa, onde eu sentava normalmente sozinha.

— Essas luzes sempre me deram um pouco de sono. — Jimin comentou, fazendo-me perceber que provavelmente eu não estava reagindo da forma que ele esperava, na realidade estava divagando para fora dali.

Estava fascinada com o local, sim, mas tinha uma estranha sensação nostálgica e ao mesmo tempo ansiosa de me sentir minúscula e atenta ao meu redor, sozinha sem necessariamente haver ausência das pessoas. Como se eu fosse de novo uma criança vendo peixes por uma tela angular enquanto se perguntava porque ninguém chegava logo e se assustava com barulhos na rua.

— É um tubarão-baleia. — Apontei o peixe que estava lá meio distante, abrindo e fechando a boca conforme capturava algo para engolir.

Ao seu redor, estruturas de pedra e corais abriam um horizonte aparentemente maior do que o fundo coberto por painéis de um degradê azul que começava escuro na base até ir se tornando mais claro conforme atingia o topo, passando vídeo simulações sobrepostas de uma superfície marinha.

— Alabote. — Jimin apontou o solo arenoso, fazendo-me baixar o rosto e ver os olhos tortos e curvos de um peixe achatado de cor de terra se sacudindo para entrar na areia. Ao conseguir apenas os olhos, um para cada lado e uma boquinha curvada ficaram de fora da areia clara.

Comprimi um leve riso, era um peixe bem feio.

— Ele frito é mais bonitinho — falou fazendo menção de seguir adiante pelo corredor.

— Os peixes do restaurante são… — Apontei o pobre Alabote escondido.

— Não, são peixes de peixaria normal… Ao menos eu acho — disse andando devagar ao meu lado. — São quatro aquário até o final, nesse tem espécies do Atlântico, Índico e acho que alguns do Pacífico, tem alguns painéis explicando isso por aqui — falou olhando ao redor, procurando as telas que estava a alguns metros à frente, tapadas por pessoas já olhando as informações sobre o aquário passar em intervalos de alguns segundos. — Podemos ir olhando e descobrindo — sorriu estendendo-me a mão e meu olhar recaiu nos dedos esticando, notando agora o brilho de um anel prateado em seu indicador, Taehyung também estava usando um anel prata.

— Taehyung ‘tá demorando — comentei sentindo falta da terceira presença.

Jimin suspirou impaciente, forçando um sorriso constrangido ao se aproximar mais.

— Ele nos encontra no caminho — disse, curvando-se um pouco para pegar minha mão em um movimento cuidadoso, como se aguardasse minha reação.

Olhei por um segundo para a entrada do túnel, vendo alguns rosto abrirem caminho entre o veludo e terem a mesma reação fascinada aos tons do aquário que eu tive. Queria continuar o passeio. Taehyung parecia já conhecer o local, então poderia nos encontrar mais tarde quando acabasse a ligação.

Fechei minha mão na de Jimin e pude notar seus olhos se estreitarem em um sorriso ao ele se voltar para frente novamente. Continuamos andando lentamente pelo corredor, em direção à entrada do próximo túnel, coberta por cortinas de veludo como a anterior. Jimin falava brevemente conforme se lembrava de curiosidades marítimas enquanto o aperto suave de seus dedos em minha mão se transformava lentamente em carícias com o polegar.

A voz calma de Jimin, os fatos completamente aleatórios e o toque meigo de sua mão na minha, me tomaram a atenção de checar o celular que, conforme pediam os avisos, estava posto no silencioso dentro da bolsa, onde uma pequena luz piscante no topo da tela indicava uma notificação esquecida.



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