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História Sinônimos - Sinônimos


Escrita por: Liaakun

Notas do Autor


Enjoy!

Capítulo 1 - Sinônimos


Fanfic / Fanfiction Sinônimos - Sinônimos

“Quem tem amor na vida
Tem sorte
Quem na fraqueza sabe
Ser bem mais forte
Ninguém sabe dizer
Onde a felicidade está...”

 

 — Escutando minhas músicas Temari?

Ergui meus olhos para a figura parada uns metros a minha frente, escorada no batente do corredor descabelada e com a cara amassada.

Sorri minimamente com a visão.

 — Bom dia pra você também Tenten.

Pausei a música baixa e desliguei o dvd.

 — Bom dia? – falou indignada – São três horas da manhã, bom dia pros italianos.

Arrastou-se preguiçosa até o sofá e se jogou suspirando ao meu lado.

Olhei-a de canto analisando suas feições.

As olheiras que tanto insistiram em ficar já não estavam mais presentes. Suas feições antes de profunda tristeza agora eram suaves. Mas o olhar... Já não era o mesmo. Não tinha o mesmo brilho de antes, e nem a mesma felicidade.

 — Qual o motivo de me encarar tanto? – indagou olhando a tv desligada.

— Te admiro muito minha amiga, você é a pessoa mais forte que eu conheço... – encontrei sua mão no sofá e a apertei – e te agradeço principalmente por ser forte por mim e por meu filho quando mais precisei.

Tenten apenas retribuiu meu aperto, sorrindo, e dessa vez sem derramar uma lágrima.

Quem na fraqueza sabe ser bem mais forte... – sussurrou fechando os olhos.

 

///

 

Eu estava a ponto de enlouquecer.

O sonho de todo ser humano é trabalhar numa empresa grande e renomada, que tenha um ótimo salário, não desconte um terço de suas férias por pura implicância/ganancia e o mais importante: não te escravize!

Porém as coisas mudam quando você é a líder de um setor eletrônico e tem oito horas por dia pessoas chiando no seu ouvido, seja para reclamar, pedir opinião, precisar de ajuda ou simplesmente fofocar sobre o colega ao lado.

E eles são bons nisso!

E para completar com a cereja do bolo, pois eu não posso simplesmente ter um azar, eu tenho que SER o azar, o destino resolveu que me odiava e atualmente eu trabalhava para o meu ex namorado.

O CEO, dono de tudo e mais um pouco, e infelizmente, pai do meu filho.

 — Temari, o chefe quer que você vá na sala dele, - revirei os olhos e continuei parada – agora!

Bati o salto contra o piso irritada enquanto Choji se afastava.

Apesar de Shikamaru e eu não estarmos mais juntos há anos, e de eu já ter declarado com todas as letras o quanto o repudiava e que só mantinha o mínimo de respeito por ele ser meu superior, ainda assim insistia em me atormentar e se intrometer na minha vida.

Como por exemplo, em me chamar em sua sala umas trinta vezes por semana, sem motivo suficiente algum.

Suspiro e mal me dou conta já estou em frente sua sala, sei que não é necessário bater a porta. Bom, pelo menos eu não!

 

“Quanto o tempo o coração
Leva pra saber...

 

Entrei em sua sala e rapidamente o encontrei.

Shikamaru estava sentado atrás de sua mesa executiva, escura e enorme. Usava óculos de grau fino na metade do nariz enquanto apoiava uma mão na boca e a outra escrevia rapidamente, sem me notar.

Pigarreei para chamar sua atenção.

Notei uma rápida vibração em seu corpo pelo susto e logo seus olhos pousaram em mim, negros e intensos, como sempre.

­ — Pois não?

— Te chamei aqui porque fui informado que os tablets não estão conseguindo segurar bateria.

Franzi o cenho confusa.

Não havia nenhum problema com os tablets, estavam todos em perfeita ordem, apenas faltando alguns detalhes de designer, o que já não fazia parte da minha área.

— Mas não tem problema nenhum!

Um ar de duvida passou em seus olhos e ele continuou me olhando como se esperasse algo mais. Pois bem, não tinha mais nada para falar.

— Ino veio até minha sala relatar esse erro, e disse ainda que procurou você para informar e não obteve atenção.

Inclinei a cabeça para trás sorrindo desacreditada e encarei o teto.

 Ino, minha adorável ex cunhada, linda e sem escrúpulos algum. Fazia parte do pequeno grupo seleto de pessoas que não aceitavam o fim do meu relacionamento e tentavam a todo custo se intrometer de alguma maneira.

— Peço perdão pelo inconveniente, mas lhe garanto que não tem nenhum problema, acredito que Ino cometeu um equívoco e não vai se repetir.

 — Não, sem problemas. – colocou seus óculos sobre a mesa - Apenas fiquei preocupado, erros assim costumam custar bem caro.

Concordei com a cabeça e permaneci em silencio. Como ele não se pronunciou, dei minha presença por encerrada e caminhei para a porta.

—  Temari?

Suspirei impaciente, eu já sabia o que viria.

— Shikamaru, apenas não.

 — Por que não me da uma chance para me redimir?

Estendi a palma na mão com um sinal de pare quando ele se levantou e fez menção em se aproximar.

Mas esse ‘ pare’ significava muito mais.

 

...que o sinônimo de amar
É sofrer”

 

Pare de me atormentar, pare de me confundir, pare de brincar com meus sentimentos e me fazer sofrer, pare de continuar insistindo, e principalmente, pare de me fazer te amar...

— É sério isso?

Segurei o choro com a vida, não podia ser fraca. Não depois de tanto tempo sendo forte.

 — Eu sei que errei-

 — Sabe, com certeza sabe!

— Mas nunca tive a oportunidade de me desculpar.

 — Será porque eu não quero?

Falei como se fosse óbvio e Shikamaru maneou a cabeça derrotado, se sentando em seguida e fazendo um sinal de que eu poderia me retirar.

Agradeci saindo da sala e me escorando na porta.

Soltei o ar pesadamente, com uma sensação de leveza que eu não encontrava mais em sua presença.

Endireitei o corpo pronta para ir embora quando Ino parou a minha frente, me olhando frustrada. Apenas a ignoro e dou a volta indo para o elevador, chega por hoje.

 

///

 

 — Cheguei.

Abro a porta do apartamento e o barulho de risadas indica que tem pessoas na cozinha.

Calmamente deixo minha bolsa em cima da mesa de centro, tiro meus saltos e desfaço o rabo de cavalo o prendendo novamente em um desleixado coque. Certifico-me de que não tenho nenhuma mensagem da empresa e jogo o celular no sofá.

Adíos!

Caminho em direção à cozinha e me preparo para a melhor parte do meu dia.

 — Oi mãe!

Olho meu pequeno homem sentado à mesa enquanto joga no seu mini videogame, tão concentrado que nem me nota direito. Tenten estava de costas mexendo algo no fogão e apenas murmura um comprimento. 

Estranho um pouco seu tom de voz, mas não faço muito alarde. Depois do fatídico ocorrido ela tinha umas recaídas depressivas, e nesses momentos eu tinha que revezar entre dar espaço e saber cuidar.

Dou a volta na mesa e agarro Shikadai de surpresa, fazendo que ele largue o videogame e preste atenção em mim.

 — Ah mãe, eu estava quase fechando a fase. – reclama emburrado enquanto permanece igual uma estátua nos meus braços.

Meu filho era muito, muito preguiçoso. Até para levantar os braços à criança parecia que estava morrendo. Porém se tinha uma coisa que me deixava muito orgulhosa, era que ele tinha um nível de inteligência extraordinária. Com apenas cinco anos já sabia ler, escrever e fazer contas simples. Era um verdadeiro prodígio.

Bom, todas essas características foi herdada do pai. Apesar deu espernear pra Deus e o mundo que ele puxou para mim, o mundo e Deus de volta jogavam na minha cara não, e não poderia discordar.

E além do fator personalidade, Shikadai era a cara esculpida do pai, não tinha o que tirar e nem por, apenas os olhos verdes eram meus, o que super acrescentou em seu charme natural.

Não é por ser meu filho, mas ele era a criança mais linda que eu já vi.

— Mãe, pode me soltar.

 — Não te solto enquanto você não retribuir meu abraço e me der um beijo.

Shika suspirou disfarçadamente e me deu um abraço forte com um beijo estalado na bochecha. No fim ele nunca resistia.

 — Te amo mamãe.

Sorri e apertei ainda mais – Também te amo meu amor.

Soltei meu filho e me virei pra Tenten que me lançava várias olhadas rápidas de canto, claramente incomodada com algo.

 —Já fez o dever de casa filho?

 — Sim.

 — Tomou banho?

 — Não...

— Vai tomar banho porquinho. – dei um leve tapa em sua cabeça e ele saiu resmungando.

Me virei pra Tenten e ela me encarava meio cansada, talvez até frustrada.

Desligou as bocas do fogão que estavam acesas e secou as mãos em um pano de prato, o colocando sobre a mesa e suspirando.

— Temari, sei que certas coisas não devemos interferir na vida dos outros, mas eu sinto que preciso fazer isso com você.

Concordei e dei permissão para ela continuar.

— Ino me ligou...

— Ok, parou por aí!

— Temari, eu preci-

— Não, nem pensar, eu já disse um milhão de vezes, - comecei a me exaltar – Shikamaru errou, e errou feio. Você sabe o que eu passei Tenten. – enxuguei uma lágrima repentina – É muito fácil pra ele vim pedir perdão agora né, quando foi ele que fugiu da responsabilidade como um covarde. – gritei a ultima parte.

 — Temari...

— Eu sofri tanto, mas tanto. Foi tão cruel ser expulsa de casa por estar grávida, ter que ir atrás dele pra pedir ajuda e ele simplesmente dar as costas e ir pro outro lado do globo sabendo que ia ter um filho.

Desabei na cadeira, dessa vez me sentindo cansada, fisicamente e emocionalmente. Devastada!

Esse assunto sempre acabava comigo. Ele marcava a pior época da minha vida, a em que eu era abandonada por meu pai, sendo obrigada a ficar longe dos meus irmãos, não saber se teria onde dormir... Foi uma sequencia de acontecimentos desastrosos, um pior que o outro.

E a maré só baixou quando Shikadai nasceu. Com ele eu vi que tinha forças pra lutar, ele que me ensinou o que era o amor verdadeiro, aquele que não te machuca e não te abandona. Ele é o meu motivo pra vida, é por ele que eu decidi me reerguer e voltar a correr atrás dos estudos pra poder dar tudo de melhor que merecia.

E é exatamente por isso que não acho justo ter que passar por um reajuste emocional novamente.

— Não tem perdão. – surpirei.

Tenten continuava a me olhar, mas dessa vez mais suave. Ela melhor que ninguém sabe do que passei, foi ela que me estendeu a mão e me acolheu, a mim e ao meu filho.

— É verdade Tema, ele errou feio... – concordei – mas você também errou.

Encarei Tenten com estranhamento, do que ela estava falando?

— Quando ele voltou a te encontrar, e perguntou pelo filho, você lembra o que você disse?

Fiquei desconfortável, eu sabia muito bem o que tinha falado, e o peso que foi essa mentira.

— Você disse assim; “eu escolhi não o ter”. – fechei os olhos – Temari, você entende o peso dessas palavras? – Tenten tremia levemente – Por a caso você imagina sua vida sem o Shikadai?

— Não...

— Pois é, eu também não! Shikadai me salvou de me afundar em depressão quando Neji morreu. Eu o amo tanto Temari, e querendo ou não, é por ele que procuro não me deixar cair, porque eu ainda me sinto muito fraca, mas meu afilhado é minha vida. E se ele estiver vivo eu também estou. – Tenten chorava baixo - E daí você fala do seu próprio filho como se ele não existisse e você não se importasse.

— Ten-

— Eu sei que você o ama Temari, só estou querendo dizer que você também errou, e não pode agir como a rainha da perfeição.

Nessa hora eu não tinha mais nada a dizer, apenas aceitar.

Abaixei a cabeça sentindo o peso da verdade. Eu jamais me imaginava sem o meu filho, e mentir falando que o tinha abortado me causava náuseas. Foi de uma extrema frieza e falta de empatia da minha parte. Eu poderia ter escolhido ser adulta, mas não, escolhi ser egoísta.

— Eu tenho inveja de você Temari.

 

“Quem revelará o mistério
Que tem a fé
E quantos segredos traz
O coração de uma mulher...”

 

Levantei a cabeça para prestar atenção.

Tenten estava escorada no balcão, com as duas mãos apoiadas na borda e tinha o olhar perdido a sua frente.

— Eu faria de tudo para ter Neji comigo hoje, pra poder olhar seu rosto, tocar sua pele, seus longos cabelos, - falava com nostalgia – poder escutar que ele me amava, poder ver ele tratar Shikadai como um filho.

Tenten me olhou, emocionada. – Eu o amava e o amo tanto, mas meu amor me deixou e talvez eu não tenha aproveitado o tanto que gostaria.

Ela caminhou até mim e se ajoelhou a minha frente, juntando nossas mãos e me olhando com suplica. Eu sabia que seria capaz de fazer qualquer coisa que me pedisse agora.

— Não deixe seu orgulho falar mais alto que seu coração quando ele não tem razão Tema, agarre o amor e segure com sua vida. O amor não é feito só de tristeza como você pensa, o amor é lindo. Ele não te completa, ele te transborda, te leva para um plano nunca antes imaginado. Resgate aquela paixão de quando vocês namoravam e seja feliz minha amiga. Neji também iria querer isso.

Me inclinei para frente e beijei nossas mãos unidas. Eu estava disposta a tentar lutar por mim, por nós e pela nossa felicidade. Eu devia isso a ela, devia o ato de tentar.

— Tenten está te pedindo em casamento mamãe?

Olhamos para o lado e Shikadai nos olhava confuso e com um belo ponto de interrogação no rosto.

Rimos alto do meu filho, ele tinha uma ótima imaginação.

 

“...Como é triste a tristeza
Mendigando um sorriso
Um cego procurando a luz
Na imensidão do paraíso”

 

///

 

— Onde estamos mamãe?

Andava calmamente pelos corredores da empresa, com minha bolsa no ombro e segurando Shikadai pela mão que olhava com fascínio o ambiente, ele amava tecnologia e queria tocar tudo.

Nunca havia trago ele na Nara Inc. por razões óbvias. E confesso que estava me divertindo com a cara de total de espanto de todos que nos olhavam, não só por ele ser meu filho – os olhos não enganavam – mas sim por claramente ser a cara de certa pessoa.

O elevador chegou no último andar e minha pose de confiança já estava dando suas osciladas, era bem mais difícil do que tinha imaginado. Apesar de saber que Shikamaru tinha conhecimento de Shikadai, porque ele não era burro e eu também não, ainda assim era complicado levar meu filho ali sem precisar estar sendo arrastada.

Quando me aproximei de Ino que estava como secretária temporária de Shikamaru por causa da gravidez avançada e não podia mais ficar andando muito, a loira ficou branca, mais do que já era.

— Mentira! – falou boquiaberta.

— Pois é, ele está aí?

— Não, espera aí. Ontem mesmo tu quase me matou pelo o que eu fiz e agora aparece aqui toda plena com Shikadai, aliás, oi amorzinho.

— Oi tia.

— A vida tem dessas coisas. – suspirei.

— Tomou um chá de cadeira da Tenten né. – sorriu compreensiva.

— Tomei.

Endireitei a postura quando escutei o elevador se abrir e Shikamaru sair meio distraído.

Toda confiança que eu tinha se foi por terra, quando se trata dos filhos nada é muito certo. Olhei Shikadai que estava sentado nas poltronas de espera concentrado em seu jogo e nem notou a pessoa próxima a si.

Movi o olhar até Shikamaru que encarava meu filho, paralisado e perplexo, com um brilho de compreensão tomando seu rosto.

Shikadai por instinto olhou para ele, mas diferente de todos nós ali não ficou encarando embasbacado, apenas estreitou um pouco os olhos e falou;

— Você é meu pai.

E não foi uma pergunta, foi uma afirmação.

Shikamaru passou a mão no rosto e olhou para os lados sorrindo bobo, voltando a encarar Shikadai com os olhos marejados. Aquela adoração que os pais sentem pelos filhos já estava o tomando conta.

Shikadai gentilmente estendeu a mão para cumprimentar o pai e o mesmo o puxou para o colo, o abraçando firme. E a melhor parte foi ver meu filho retribuindo o abraço, sem precisar pedir.

Ino me cutucou e a olhei, estava emocionada e tinha um sorriso enorme no rosto.

— Parabéns amiga. – sussurrou.

Funguei e olhei pela janela, Tokyo estava linda, soprando ao nosso favor.

Olhei para o céu e sorrindo, banhada em lágrimas e sem som, agradeci: Obrigada Neji!

 

///

 

Quatro meses mais tarde...

Aos poucos tudo estava se endireitando.

Faltava um mês para o natal e suas festas. A cidade estava lindamente coberta de neve e o frio de doer os ossos, como sempre.

Shikadai iria completar seis anos daqui a dois meses e isso partia meu coração, por ver meu menino crescer cada vez mais independente... e lindo! Ele era muito lindo e já estava arrancando suspiros por onde passava.

A relação com seu pai não precisou de esforço algum para se firmar, eles tinham uma sintonia incrível, o que me causava um pouco de ciúmes por Shikadai às vezes ficar grudado demais com ele e me jogar pra escanteio. Mas o sentimento de egoísmo foi deixado de lado, meu filho merecia isso.

Shikamaru contrariando todas minhas expectativas era um pai incrível! Ensinava, educava, mimava e quando preciso repreendia. Era totalmente presente e estava com Shikadai todos os dias ao buscar e levar ele a escola, aos finais de semana os dois saia juntos, coisas de homens segundo minha criança.

Ino teve seu filho, Inojin, branco feito papel igualzinho o pai. Se eu não soubesse que era Ino que tinha parido ia pensar que Sai tinha pulado a cerca.

Tenten estava muito bem, minhas atitudes deram um “up” na vida dela e a mesma realmente ficou mais feliz, mais leve. Resolveu retomar sua carreia como policial, e sabia manusear armas como ninguém, era a melhor atiradora que Tokyo tinha, e não é por ser minha amiga, mas ela é a melhor mesmo, colocava muito marmanjo no chão. Meu orgulho.

A única coisa que não se encaixava, era Shikamaru e eu.

—Hoje vai ter aquele jogo de vôlei que te falei, Japão e Brasil pela semifinal do GP.

Tenten e eu caminhávamos pelas ruas nem tão movimentadas de Tokyo, era sábado e estava muito frio, as pessoas não viam muitos motivos para sair de casa.

Puxei meu cachecol mais para cima de modo que cobrisse minha boca e nariz. Tentava me equilibrar naquele mundo branco com minhas botas longas e sem salto.

Tenten estava graciosa e nem parecia ser atingida pelo frio. O que denunciava era seu nariz vermelho. Ajeitou sua touca sobre as orelhas e escondeu as mãos no sobretudo.

— Feminino ou masculino?

— Feminino.

— Legal.

Entramos num pequeno café e finalmente pude respirar aliviada com o ar quente do local. Fomos até o balcão e fizemos nossos pedidos. Escolhemos uma mesa do lado da parede de vidro e fiquei observando a rua branquinha.

— Vou levar Shikadai comigo.

Franzi o cenho em duvida.

— Mas hoje é dia dele ir pra casa do Shikamaru.

— Pro inferno o Shikamaru, - arregalei os olhos – ele usurpou totalmente meu afilhado de mim, se eu soubesse que seria sim teria fugido com o Shikadai antes. – bufou.

Apenas ri da minha amiga. Ela e Shikamaru retomaram a pequena amizade do colégio, e um dos passatempos dela era implicar com ele, bom, nada mudou. Isso ajudava bastante porque eu não conseguia falar com ele direito, apenas profissionalmente. E se tratando de Shikadai ela fazia o papel de mãe divorciada por mim.

— Tudo bem, pode levar, faz tempo que vocês não saem. Mas tem que avisar o Shikamaru.

Fiquei brincando distraída com meu cachecol e quando não escutei resposta olhei para Tenten. Estava com um sorriso quase imperceptível e me olhava meio travessa.   

Estreitei os olhos e a mesma se ajeitou, arrumando os cabelos.

— Eu aviso...

 

///

 

Acordei meio desorientada com batidas na porta.

Olhei pela janela e já estava tudo escuro. Tateei a mão pelo sofá pegando meu celular e o ligando. Oito horas da noite, o tal jogo deveria estar começando.

Já estava quase virando para o lado quando novas batidas soaram na porta e fui obrigada a levantar. Acendi a luz e peguei a chave, estranhando o porteiro não ter avisado que queriam subir.

Abri a porta e meu sono foi embora rapidinho, Shikamaru estava parado olhando para o relógio em seu pulso e quando me viu pareceu ter ficado meio desconcertado.

— Oi, vim pegar o Shikadai. – falou apressado.

Ergui as sobrancelhas. – Tenten não te ligou?

— Ligou, e falou para mim vir buscar ele as oito.

E como em um estalo, eis que a compreensão recai sobre mim e eu entendo perfeitamente o que estava acontecendo. E que a cara travessa de Tenten não era atoa.

— Pilantra... – sussurro pra mim mesma.

— Como?

Ergo a cabeça e Shikamaru está me olhando, sério, provavelmente achando que foi pra ele.

Dou um sorriso amarelo, não posso perder o emprego.

— Não foi pra você, desculpa. O Shikadai foi em um jogo de vôlei com a Tenten e vão chegar tarde, eu acho...

Shikamaru sorriu compreensível e apenas por um minuto, eu esqueci de tudo que já havíamos passado de ruim, e recordei dos anos que namorávamos e de todos sorrisos dirigidos a mim.

De todas as vezes que ele me esperava na porta da sala para irmos embora da escola juntos, das tardes de domingo apenas fazendo companhia um para o outro. Nas festas do começo da faculdade que curtíamos juntos e de como dizia que amava o meu jeito bravo de ser.

E de como tudo isso se acabou.

 

“No aroma de amores
Pode haver espinhos...”

 

— Temari?

Sai dos meus devaneios e olhei pra ele novamente, que me olhava com preocupação.

Resisti fortemente à vontade de fechar a porta na cara dele e decidi agir como a adulta que eu era, e realmente tentar.

— Perdão, estava distraída. – passei a mão na testa – Você quer entrar? Eu já estava indo fazer o jantar.

Mentirosa...

Shikamaru tentou disfarçar miseravelmente o espanto que tomou. Nem em um milhão de anos esperava um convite assim de mim, e na realidade, nem eu.

Pigarreou e se ajeitou em seu terno. — Aceito sim, obrigada.

 

///

 

— Tenten, por que estamos na nossa vizinha Hiroku?

Shikadai me olhava meio assustado sussurrando enquanto segurava uma xícara de chá que a velha Hiroku nos trouxe gentilmente.

— Ué, não podemos visitar nossos vizinhos? Ainda mais dona Hiroku que vive sozinha há tantos anos.

— Podemos... Mas não era pra estarmos assistindo vôlei? – continuou baixinho me olhando de esguelha.

— Que vôlei pirralho? GP acabou faz dois meses já, e Japão nem se classificou. – sussurrei de volta.

Shikadai me olhou por um tempo até arregalar os olhos e apontar o dedo acusatoriamente.

— Você mentiu!

Quase gritou e apressada tapei a boca dele, dando um sorriso amarelo para dona Hiroku na cozinha que nos olhou e meio míope sorriu de volta, voltando a preparar seus biscoitos.

Soltei Shikadai e o encarei feio.

— Sua mãe não te ensinou que não pode apontar o dedo para os outros?

— E a sua não te ensinou que não pode mentir?

Touché!

— Eu não menti, omiti! – me defendi miseravelmente.

Shikadai continuava a me acusar com os olhos.

— É verdade, Japão e Brasil realmente jogaram aqui, o Japão até venceu, mas não se classificou porque tinha perdido outros jogos antes.

A pestinha cruzou os braços e com o olhar mais entediante soltou:

— Seu jeito de tentar ajudar meus pais é deprimente.

 

///

 

Picava os legumes com mais cuidado que o usual, um descuido e sei que me cortaria.

O clima na cozinha estava extremamente desconfortável, não trocamos muitas palavras desde que entramos, mas eu estava tentando não deixar isso me abalar e continuar com o objetivo de agir como adulta.

— Sempre tive a curiosidade de saber em como você começou a trabalhar na minha empresa. – Shikamaru começou.

Ri levemente lembrando da minha falta de atenção que foi entrar na empresa, e decidi compartilhar. Dei uma rápida olhada pra trás e ele estava sentado na cadeira me observando.

Ruborizei, merda.

Pigarreei desconcertada e comecei a narrativa. — Bom, eu precisava de um estágio então comecei a mandar currículos para as empresas da área tecnológica e esperei. Apenas a sua me deu retorno depois de umas três semanas. Não pensei duas vezes e fui fazer a entrevista com toda cara e coragem, e quem me entrevistou foi Asuma, achei até que era ele o dono por causa do jeitão.

Peguei os legumes e joguei dentro da panela com carne picada em pequenos pedaços e misturei, adicionando um pouco de pimenta calabresa.

— Asuma foi muito simpático comigo e me chamou pra experiência. E mesmo depois de um mês fazendo o estágio não me atentei para o nome da empresa. O que foi engraçado, já que eu não queria saber de nada que se relacionava a você e ignorei o fato de que a empresa tinha seu sobrenome.

Shikamaru riu e se levantou. Tirou o terno, a gravada, puxou a camisa até os cotovelos e abriu um dos botões do colarinho.

O olhei com um misto de estranhamento e agitação, não entendendo o que ele queria fazer.

Ele lavou as mãos e veio até o meu lado no fogão, dando continuidade ao macarrão que eu estava preparando. Tentei não me empolgar com a cena.

— Você não era tão avoada assim, - riu divertido – muito pelo contrário, era observadora até demais. Mas mudou né, deixou passar o nome da empresa que trabalhava, o que te levou a esse estado?

— Ter um filho pra cuidar e morar de favor com sua amiga e o noivo dela.

O silencio que se seguiu ultrapassava o constrangedor. O ambiente descontraído se dissipou totalmente e a tensão voltou. E dessa vez eu não conseguia nem tentar quebrar.

— Temari...

— Vamos mudar de assunto.

Dei as costas e não voltei a lhe dirigir a palavra até terminar de fazer a janta. O clima realmente tinha acabado.

Jantamos em silencio e o yakissoba desceu como areia, não tinha fome, mas me forcei a comer para não ter que falar.

Após jantarmos ele pegou suas coisas e eu o levei até a porta por educação. Antes de sair ele se virou pra mim ainda meio tenso, mas fez um pedido.

— Primeiro eu quero agradecer a comida, estava muito boa.

Murmurei um obrigada.

— E queria te pedir desculpas por ter estragado a noite. Sabe, mesmo depois de anos ainda tenho problemas de como usar as palavras, um pouco contraditório para o cargo que exerço.

Sorri um pouco concordando. 

— Então quero que me de mais uma chance e saia comigo amanhã.

Arregalei levemente os olhos com o pedido. Eu queria sim, mas parecia rápido demais.

Cocei a testa e suspirei. — Olha, eu acho que nã-

— Eu não desisti de você Temari, e só vou desistir quando você por um ponto em definitivo na nossa história. Já perdi muito tempo longe da mulher que amo e do meu filho, e estou mais que disposto a correr atrás.

Mulher que amo..

Não queria me deixar tão abalada, mas era impossível. Eu também o amava, mas o medo desse amor ainda era gritante nos meus ouvidos. E admitir pra mim mesma que eu ainda sentia tudo e mais um pouco por ele era assustador.

Deixei de o encará-lo quando o elevador se abriu e dele saiu Tenten e Shikadai, uma sorrindo e o outro com a cara emburrada, respectivamente. Estranhei.

— Oi gente. – Tenten cumprimentou toda sorridente.

Lancei um olhar atravessado para a mesma deixando explícitas minha vontade de mata-la, e a mesma fez de conta que não percebeu.

Olhei pra Shikadai no colo do pai e sorri.

— Como foi o jogo querido?

— Maravilhoso.

— E está com essa cara por? Japão perdeu?

Shikadai estava pronto pra responder quando Tenten tomou a frente meio eufórica.

— Perdeu, sim amiga, o Japão perdeu, foi uma derrota humilhante. – abaixou a cabeça triste.

Passei a mão em seu ombro transmitindo conforto, ela amava vôlei e a pátria, junta os dois e ela devia estar bem triste mesmo.

— Pelo menos levei Shikadai para comer chá com biscoitos e ele adorou, quase assaltou o prato alheio né amiguinho.

Dessa vez foi Tenten que lançou um olhar atravessado pra Shikadai que sorriu arteiro.

— Ok, estamos todos cansados, vamos entrar.

— Temari, - Shikamaru chamou – você vai sair comigo amanhã?

Nem a garota do exorcismo de Emily Rose conseguiria virar a cabeça tão rápida do jeito que Tenten e Shikadai viraram para mim, ambos com um semblante de expectativa e empolgação, e claro que Shikamaru sorriu, ele sabia que eu não conseguiria recusar na frente deles, era esperto demais.

— As quatro, é domingo e não posso chegar tarde.

Shikamaru concordou tentando disfarçar o sorriso vencedor e eu apenas dei a volta, deixando todos lá fora e indo pro quarto, eu com certeza precisava de um descanso.

 

///

 

Olhei indecisa para dentro do meu closet, fazia tanto tempo que eu não saía com alguém que nem sabia mais como era.

Puxei uma calça jeans clara e um sobretudo creme. Dei meia volta e peguei uma bota marrom verniz. Fui mais para o fundo e encontrei uma blusa branca com gola crochê bufante, no frio fazia certinho o papel de cachecol.

Após me vestir e pentear os cabelos o deixado com leves ondas, fui para sala procurar minha bolsa e acabei me deparando com Tenten e Shikadai, ambos dormindo no sofá.

Sorri e dei um beijo nos dois, peguei minha bolsa e fui para fora, Shikamaru já estava me esperando.

Sai portão a fora me despedindo do porteiro, e quando olhei para frente foi impossível não ficar desconcertada.

Shikamaru estava parado do outro lado da rua encostado em seu carro negro luxuoso, estava com ambas as mãos no bolso de uma calça escura, vestia uma blusa verde musgo com um sobretudo preto por cima e um coturno, e dando um toque final, um óculos aviador escuro.

Com passos calmos atravessei a rua e acenei em comprimento para o mesmo que logo abriu a porta me fazendo entrar, um pouco hesitante. Respirei fundo enquanto Shikamaru dava a volta e se acomodava ao meu lado, dando partida.

— Onde vamos? – indaguei curiosa.

Shikamaru abriu um pequeno sorriso de lado e negou com a cabeça.

Puff, uma surpresa. Que maravilha!

 

///

 

—Há quanto tempo não vem aqui?

Ainda estava tentando digerir o lugar para onde Shikamaru tinha nos levado. Eu, definitivamente, não pensava mais em voltar aqui. Um lugar de tantas recordações.

— Muito, muito tempo.

 

“No aroma de amores
Pode haver espinhos...”

 

Shika me olhou de canto e suspirou, leve, como se curtisse o momento. Ao contrário de mim, que queria sair correndo.

— Venho sempre que posso aqui, não só por causa do que essa praça representa, mas por ser um lugar tranquilo e de paz. – gesticulou enquanto falava.

Olhei para o lago e respirei com mais calma, absorvente o clima do ambiente.

Estávamos na mesma praça que passávamos os fins de tarde aos domingos e algumas vezes depois da escola. Era uma praça grande e verdinha, tinha um lago ao centro que permitia dar a volta por ele. Havia vários bancos espalhados e muitas pessoas faziam piqueniques, jogavam bola e corriam.

Avistei um pequeno carro e não resisti, indo até o mesmo, me esquecendo de Shikamaru.

— Senhor Onoki?

O velho senhor que vendia sorvetes se virou para mim e o reconhecimento foi imediato, pois desceu do carrinho e com um sorriso me deu um abraço.

— Oh pequena Temari, há quanto tempo.

— Pois é, - enxuguei rapidamente uma lágrima – faz bastante tempo que não venho aqui, não pensei que o senhor ainda vendia sorvetes.

Onoki me deu um peteleco na testa e falou bravo.

— Achou que eu já tivesse batido as botas né mocinha.

Arregalei os olhos constrangida — NÃO! Jamais!

— Estou brincando mocinha. – riu levemente e olhou para meu lado – Olá Shikamaru.

— Olá.

— Que felicidade ver que vocês dois ainda permanecem juntos depois de tanto tempo. É raro um namoro adolescente durar assim.

— Ah não, nós – comecei sem graça porém fui cortada.

— Pois é senhor Onoki, e já temos um filho.

Onoki e eu olhamos assustados para Shikamaru, por razões diferentes é claro.

— Que maravilha! – Onoki juntou as mãos na altura do peito maravilhado – Um filho é uma benção na vida de um casal que se ama.

Nem olhei pra Shikamaru, meu nível de constrangimento era tão grande que só conseguia encarar o pequeno senhor na minha frente com um sorriso congelado.

— Traga ele aqui para tomar meu sorvete, o costume tem que ser repassado. – Onoki se virou e pegou duas casquinhas de creme – E esses dois são por conta da casa por terem vindo me visitar e trazer boas notícias.

Agradeci ainda meio sem jeito e dei a volta, me sentando no primeiro banco que vi com Shikamaru no encalço.

Tomei meu sorvete em silencio, sem saber como puxar assunto.

— Como Neji morreu? Lembro-me dele na escola, fizemos alguns trabalhos juntos.

Suspirei encarando o restante da minha casquinha. Era um assunto muito doloroso, principalmente para o que Neji representou na minha vida.

— Foi de repente, estávamos na sala assistindo televisão. Eu, ele e Tenten com Shikadai dormindo nos braços. – comecei com meu tique nervoso na perna – Neji começou a reclamar de dor de cabeça e resolveu ir deitar, até então nada de estranho. Mas no meio da noite ele começou a passar muito mal e desmaiou no banheiro, desesperada liguei pra ambulância enquanto Tenten tentava acorda-lo. Eles chegaram em cerca de quinze minutos, foram até rápidos sabe, - o olhei brevemente – mas Neji não tinha tempo, e um pouco depois de chegar no hospital ele veio a óbito, do nada. Tenten ficou em choque, não tinha reação. E eu não sabia o que fazer, tinha deixado Shikadai com nossa vizinha, minha amiga estava em estado de choque, os médicos então só falavam comigo sobre os procedimentos, quase surtei.

Parei subitamente quando percebi que estava ficando sem folego. Eu tinha essa mania de começar a narrar coisas ruins e ir aumentando a velocidade, parecendo um trem desgovernado.

Shikamaru prestava atenção cuidadosamente em mim, preocupado com minhas reações. Respirei fundo e decidi continuar.

— Bom, algumas horas depois saiu o laudo do iml, ele teve dois aneurisma cerebral, não tinha muito o que fazer.

Contei a ele dos tempos difíceis que sucederam a tragédia. Eu tinha acabado de ingressar na empresa, então não estava estabilizada financeiramente. Tenten depois do choque entrou em uma depressão profunda e chorava todas as noites. Me vi obrigada a deixar Shikadai em uma creche por período integral. Era como cuidar de duas crianças, para alimentar, se limpar, acalmar quando começasse a chorar e impedir que se machucassem. Me virei como mãe, dona de casa e empregada por meses até Tenten começar a se tratar e melhorar, foi gradativo essa melhora, e Shikadai foi fundamental, ela passou a trata-lo como um motivo para viver e eu soube que ele estaria seguro.

— Por vezes eu tinha que escolher qual conta deixar de pagar. – passei a língua nos lábios – Mas já passou, o tempo resolve tudo se você estiver disposto a colaborar.

— Você foi muito corajosa Temari, - Shikamaru me olhou sincero – qualquer um no seu lugar teria sucumbido à pressão. Mas olha só agora, vinte e cinco anos, apartamento grande e próprio, tem independência financeira, um filho maravilhoso... É sua recompensa por ter sido forte.

Sorri agradecida e me encostei-me ao banco, observando o céu que começava a ganhar seus tons de fim de tarde.

E de um jeito novo, senti uma paz diferente, estranha para mim. Como se eu tivesse deixado parte de um peso para trás, e começasse a dar novos passos em direção à um futuro desconhecido.

— Sabe Temari, eu queria ter um motivo pra falar do porque te abandonei, mas infelizmente não tenho, foi pura covardia mesmo.

Shikamaru nunca foi uma pessoa de meias palavras, sempre direto e sincero, fazendo jus a frase “doa a quem doer”, então não me surpreendo e nem fico triste com a confissão, não podemos voltar a passado e concerta-lo, apenas seguir em frente.

— E eu te peço perdão por isso, farei qualquer coisa que estiver ao meu alcance. A única coisa que posso te dizer é que estive sorrisinho esse tempo todo, foi só você. Nada nunca se comparou a ter você comigo.

Arrepiei-me.

 

“...É como ter
Mulheres em milhões
E ser sozinho”

 

— Eu já te perdoei... – sussurrei.

— Como?

— Eu já te perdoei. – sorri em paz – Acha mesmo que estaria aqui se não tivesse te perdoado? Claro que não, mas perdoar é diferente de querer estar junto.

— Eu compreendo, mas estamos juntos agora. – deu um sorrisinho maroto.

— Fisicamente!

Pontuei o encarando séria, no fim nós dois rimos e demos o passeio por encerrado.

Fomos para o carro e percorremos o caminho em silencio, diferente das outras vezes, esse foi tranquilo e nenhum pouco incômodo.

Shikamaru estacionou em frente ao meu prédio e agradeci pronta pra descer, quando o mesmo segurou meu braço.

— Tenho mais uma coisa pra falar.

Maneei a cabeça pra continuar.

— Foi eu quem falei pro Asuma te contratar e mais tarde te promover, com a aprovação dos meus pais, é lógico.

Abri a boca indignada para o cretino a minha frente sorrindo nenhum um pouco abalado. Me preparei para estapeá-lo, mas lembrei que estava agindo como adulta e resolvi usar as palavras.

— Escuta aqui querido, eu fui promovida por meus méritos ok, seus pais corretos do jeito que são, jamais aceitariam isso.

Shika ergueu os braços rendido. — Em nenhum momento falei que você não teve méritos.

— Sou uma mulher muito bem resolvida e sei bem do meu potencial.

Um brilho malicioso passou pelos olhos de Shikamaru e ele virou o corpo para mim, de repente empolgado.

— Bem resolvida é? – fiz que sim – Me prova então!

 

///

 

Por que você está me levando pro seu trabalho Tenten?

— Porque você tem pais irresponsáveis Shikadai.

Dirigia tranquilamente a caminho do batalhão com um sorriso nada pequeno no rosto.

Temari não retornou para casa, e como ninguém me ligou pedindo para fazer reconhecimento de corpo, só havia um motivo...

— Eu vou ter um irmãozinho? – Shikadai falou inocentemente.

Freei o carro bruscamente no sinal que tinha acabado de fechar. Segurando firmemente o volante com as duas mãos olhei para a criatura ao meu lado nenhum um pouco abalada.

 Por Deus, não!

 

///

 

Alguns meses mais tarde...

— Eu te avisei.

— Quieto Shikadai!

Escutei a risadinha infantil enquanto arrumava seus cabelos em um perfeito rabo de cavalo. Dei a volta e parei agachada na frente dele, estava tão lindo crescidinho, como sempre.

— Você é tão lindo. – falei encantada.

— Eu sei.

— E convencido...

Me levantei quando escutei a porta do closet se abrir, e de dentro dela sair uma deslumbrante Temari, em um vestido creme lindíssimo, com alças finas e que ia um pouco acima do joelho. Usava um meia pata nude e carregava uma carteira prata.

— Estou com dó das alças do seu vestido, seus peitos estão ridiculamente enormes.

— Você para ‘ta. – apontou um dedo ameaçadoramente pra mim, já sabia agora da onde o Shikadai aprendeu – Eu não imaginava que fosse ficar tão grande.

Ri divertida. – Você não imaginava que ia ficar grávida.

— Isso também.

Caminhei até a cama e me sentei, junto a Shikadai.

Me recordei de novembro do ano passado, quando cheguei em casa com Shikadai e encontrei uma Temari cantarolando toda feliz pela casa. Lembro exatamente da cara de assustada dela quando nos viu na porta, rindo como se não houvesse amanhã.

Depois daquilo tudo realmente ganhou novas cores. Já não estranhava mais ter Shikamaru em casa para jantar, apenas fiquei meio triste quando passei a ficar os finais de semana só, quando eles saiam em família. Sempre me chamavam para ir junto, mas nunca aceitei, eles mereciam esse tempo só para eles.

Passado mais alguns meses – três exatamente – Temari engravidou, pegando a todos nós de surpresa. É de encher as paciências até hoje de escutar Shikadai falar que ele já sabia!

Shikamaru pediu Temari em casamento, pedido esse que recusou prontamente, ela dizia que algo que envolvia Deus e a justiça não poderia dar certo. Tive que concordar com isso.

Mas ela aceitou em morar junto, o que foi uma grande vitória depois de tanta insistência. Cansei de ter o Shikamaru no meu pé pedindo ajuda porque não aguentava mais viver sem ela. Tenho que confessar que não dei ouvidos a principio, a ideia de morar sozinha não me parecia atraente, mas no fim desisti, eu vi que minha amiga queria e só bastava um empurrãozinho.

— Crianças, estou indo. Se comportem!

Olhei Temari de cima abaixo, a maternidade deixava ela autoritária demais. Shikadai e eu nem nos atrevíamos a responder pra não levar uns tapas.

Escutei a porta bater e olhei para o teto, pensativa. Shikadai ficava comigo aos finais de semana e quando seus pais saiam só a dois, isso foi me ajudando a me acostumar em viver só.

— Sua namorada vai vir?

— Matsuri? Não, hoje não.

Ah, esqueci de contar, estou namorando. Com uma mulher.

Achei que depois de Neji nunca mais iria me interessar por homens, e isso realmente aconteceu, nenhum homem mais me chamou atenção, Neji foi o único na minha vida. E então Matsuri apareceu, recém chegada ao batalhão, toda tímida e perdida.

Eu não imaginava, mas quem pode explicar o amor?

— Estou com fome. – Shikadai reclamou.

Olhei por uns instantes pra ele e tive uma ideia.

— Vamos pra casa da dona Hiroku?

— Vamos!

 

///

 

Estávamos caminhando tranquilamente pela “nossa” praça, de mãos dadas, curtindo o por do sol.

Eu jamais poderia pensar que voltaria nessa praça tão plena e realizada, que tudo estivesse endireitado e que estaria vivendo momentos de muita felicidade.

— Falta um mês para novembro. – falei enquanto lambia minha casquinha.

— E um mês para Yumi chegar.

Ri, ansiosa e nervosa.

Estar grávida novamente era ótimo, agora que eu estava com meu amor e com meu filho crescendo, minha amiga construindo uma nova história, meus irmãos vindo sempre me visitar e alguns amigos que nunca me abandonaram.

Se alguém me dissesse a exatamente um ano atrás que eu voltaria com meu ex, teríamos mais um filho e que eu estaria explodindo de felicidade, eu com certeza mandaria essa pessoa pastar.

Mas como explicar o amor? Como explicar esse sentimento atrevido, que nos invade, fazendo nosso corpo tremer sem ter frio, nosso coração disparar sem motivo, nossas mãos suarem, nossos olhos brilharem, toda vez que a gente vê aquela pessoa à nossa frente? Aquela pessoa! Que poderes tem aquela pessoa, um simples mortal como eu, mas que é mais do que qualquer pessoa? Aquela pessoa é o próprio instrumento do amor, creio. 

 O amor escraviza e... liberta! Te liberta para conhecer o outro lado. Te liberta para ver a beleza de tudo ao redor. Te liberta para ser feliz, daquela felicidade singela e pura, que é a felicidade de ser... simplesmente ser! Te faz sorrir, sonhar, esperar, cantar, e sua força é tanta, que a vontade é extravasar, dividir, gritar aos quatro ventos que ama, como se o amor nos fizesse orgulhosos de amar.

Sorri, era isso, eu tinha orgulho de amar e de ser amada, porque esse sentimento não me completava, porque eu já era completa... Mas ele me transbordava.

— Temari?

— Hum?

— Eu te amo!

 

“O amor é feito de paixões
E quando perde a razão
Não sabe quem vai machucar
Quem ama nunca sente medo
De contar o seu segredo
Sinônimo de amor é amar

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Janete Callahan 2007.


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