A vários metros da van, um trio de pessoas desconhecidas acabara de aparecer. A primeira mulher era branca e tinha cabelos castanhos, curtos; suas roupas estavam bastante amarfanhadas, e o suéter cor de vinho havia se rasgado em vários pontos. A segunda era um pouco mais baixa, negra, com cabelos escuros e semblante preocupado; portava uma arma grande e caminhava olhando para baixo. O terceiro membro do grupo era um homem de cabelos muito curtos com a pele no tom de chocolate que carregava uma mochila de aparência pesada nas costas enquanto falava com as outras duas; Daisy via seus lábios se moverem, mas não conseguia decifrar as palavras.
Nenhum dos três parecia ter percebido a van parada em frente aos trilhos, mas olharam para a frente quando Rosita arquejou.
— Ah, meu Deus, é ela! — exclamou, arregalando os olhos. — É a garota da foto, a esposa de Glenn!
Aquilo fez com que os três estranhos os notassem. Eles encararam a van e assumiram posturas defensivas, parecendo esperar algum ataque. Abraham trocou um olhar com Espinosa antes de encará-los novamente.
— Vamos sair — anunciou. — Rosita, venha comigo. Eugene, você fica aqui com Ginger. O sargento sacou sua arma e abriu a porta, sendo seguido de perto pela hispânica, e os dois se encaminharam até estarem mais ou menos a um metro de distância dos estranhos. Daisy pegou seu taco e passou para o banco onde Abraham estivera deitado, observando curiosamente a cena se desenrolar pela porta que o homem deixara aberta.
A russa percebeu que Ford e Espinosa estavam conversando com os desconhecidos. Eles apontaram para o carro, parecendo apresentar os membros restantes do grupo, e Moore viu a mulher de cabelos castanhos levar as duas mãos à boca quando Rosita se pronunciou. A menina assumiu que aquela fosse Maggie pelo modo como ela olhou para o túnel atrás de si, então virou-se para a frente novamente e disse algo com urgência. Todos pareceram extremamente alarmados e começaram a se encaminhar para a van apressadamente.
Rosita tomou a direção enquanto Abraham esperou até que os estranhos estivessem dentro do veículo para entrar. Ele começou a remexer numa das bolsas sem se incomodar a apresentar o trio a Eugene e Daisy, e de lá tirou armas, que pôs-se a distribuir entre os outros.
— Ginger — chamou, estendendo-lhe algo que parecia ser um rifle automático, mas ela não saberia dizer.
— O que está acontecendo? — perguntou Moore, sem pegar a arma. — Vamos voltar?
Ford assentiu positivamente.
— Nosso amigo asiático está com problemas lá dentro — o homem indicou com a cabeça o túnel do qual se aproximavam com rapidez.
— Então vocês são Maggie, Sasha e Bob? — indagou Eugene do banco do carona.
— Viu o que escrevemos no muro? — perguntou o homem, Bob. Ele tinha um sotaque diferente de qualquer um que Daisy já havia escutado.
— Difícil seria não ver — respondeu Porter.
— Aqui, garota — chamou Abraham. — Está carregada. Puxe a alavanca de armar e as balas vão subir; aperte o gatilho para tiro rápido; não dispare se não tiver certeza de que não há seres humanos em sua linha de tiro. Entendeu?
A menina assentiu para confirmar, pegando a arma e tentando achar o gatilho e a alavanca mencionados. A luz do dia sumia à medida que adentravam mais fundo no túnel, dificultando sua tarefa.
— Estamos longe? — perguntou Rosita, tensa.
— Falta pouco — informou a mulher de cabelos negros, que Daisy imaginou ser Sasha.
Mal ela havia terminado de falar, todos tornaram a ouvir o barulho de mordedores, agora misturado a sussurros, e Daisy pôde ver uma luz fraca adiante. A menina soube que se tratava da lanterna que Abraham dera a Glenn e Tara, e teve mais certeza ainda de que estavam perto da dupla quando ouviram gritos:
— Vá embora daqui! — era a voz de Chambler. — Vai!
— O que é isso? — perguntou Maggie, que mais parecia um pilha de nervos. Ela inclinou-se no último banco, tentando ter alguma visão de seu marido para além do trecho de trilhos que os faróis do carro iluminavam.
— Tem alguma coisa errada — comentou Daisy, preocupada.
Suas palavras foram confirmadas pelo estrondo que se seguiu: um tiro. Moore contou mais de cinco antes que a van finalmente começasse a desacelerar. Abraham abriu a porta e saltou antes mesmo que houvessem parado, e Daisy seguiu logo atrás dele, tentando se lembrar das instruções do sargento sobre a arma.
A cena a sua frente estava confusa e barulhenta. Haviam escombros no chão, e olhando para cima, Moore viu que um pedaço do teto havia se desprendido e desabado, prendendo diversos mordedores ali. Glenn e Tara estavam à esquerda, ambos prestes a serem cercados quando Ford berrou:
— Abaixem-se!
Os dois se sobressaltaram, tentando enxergar através da luz dos faróis em seus olhos, mas o asiático obedeceu, indo em direção a Chambler e ficando de costas para o grupo.
Daisy, por sua vez, ficou de pé ao lado de Abraham e puxou a alavanca para depois apertar o gatilho uma vez, cuidadosamente, e apontando a arma para um andarilho no lado contrário ao da dupla. O recuo foi forte e prejudicou sua mira, mas ela se manteve firme ao ver o peito do cadáver se despedaçar, continuando a atirar até acertar sua cabeça. Logo, todos os mortos estavam no chão, e Moore abaixou sua arma, sentindo certa animação.
Com os ouvidos zunindo por causa do barulhos das balas disparadas no túnel e o ombro esquerdo doendo, a russa observou Glenn erguer a cabeça, virando-se para olhar seus salvadores, enquanto Maggie ia em sua direção. A mulher o abraçou com urgência, rindo alto, e Daisy desviou os olhos quando se beijaram, sentindo-se uma intrusa na felicidade do casal.
— Tudo bem quando termina bem — comentou Abraham, apoiando a arma no próprio ombro.
● ● ●
Algumas horas depois, o lugar estava mais ou menos em ordem. Haviam decidido que passariam aquela noite ali, e, enquanto Maggie e Glenn colocavam os cadáveres ao lado do trilho, Tara e Rosita faziam uma ronda para ter certeza de que o resto do túnel estava seguro; Abraham manobrou a van com a ajuda de Bob e Sasha, que o orientaram no escuro, e sobrou para Daisy e Eugene fazerem um fogueira e começarem a racionar os suprimentos que tinham.
Moore estava sentada na barra de ferro dos trilhos com a mochila e o taco apoiados a seu lado, cutucando as chamas com uma barra de ferro torta que encontraram nos escombros quando Ford e os companheiros de Maggie retornaram. O sargento sentou-se numa pedra grande próxima ao fogo, enquanto o casal – Daisy estava bastante certa de que eram isso – se acomodou perto dele. Os olhares da garota e de Bob se cruzaram, e o homem sorriu.
— Não fomos oficialmente apresentados — disse, estendendo-lhe uma lata de ensopado que acabara de tirar da mochila. — Eu sou Bob Stookey, e esta é Sasha Williams.
A ruiva aceitou a lata, sorrindo também; ela estava se sentindo particularmente feliz naquela noite, principalmente agora que tinha certeza que todos formariam um só grupo agora, mas mesmo assim hesitou antes de se apresentar.
— Sou Ginger — disse por fim. Não queria revelar seu nome verdadeiro ainda, e Ginger lhe fazia soar mais forte que Daisy. — Este é Eugene, e vocês conheceram Abraham.
Os dois assentiram para o ruivo, que devolveu o gesto, muito sério, porém sem encará-los, com o olhar fixo em sua arma.
— Eugene é um cientista — informou, recebendo olhares surpresos de Stookey e Williams, e Daisy soube exatamente onde Ford pretendia chegar com isso quando o sargento ergueu os olhos das próprias mãos. — Ele sabe o que causou o surto. Mais importante: sabe como curar a infecção. Rosita, Ginger e eu estamos tentando levá-lo a Washington D.C., mas para isso precisamos de pessoas, e vocês se mostraram competentes; o que acham?
Porém, ao invés de responderem, Sasha e Bob permaneceram em silêncio, ambos parecendo chocados. Daisy desviou os olhos dos dois, desconfortável, ocupando-se em abrir a lata com alguma dificuldade e então entortando a tampa para que pudesse servir de colher.
Quando os quatro membros restantes do grupo se juntaram a eles, Rosita e Tara andando lado a lado e Glenn e Maggie de mãos dadas, Williams pôs-se de pé, recebendo um olhar desconfiado do asiático.
— O que foi? — perguntou ele. A mulher apontou para Abraham.
— Ele acabou de dizer — e então seu dedo tornou-se para Eugene — que ele sabe o que causou o surto.
Glenn e Maggie se entreolharam, a mulher parecendo incrédula, e o rapaz assentiu, soltando a mão de sua esposa.
— É — confirmou. — Ele sabe. Deixe-me adivinhar, Abraham pediu para irem até Washington também?
— Estou muito feliz que os dois se reencontraram — pronunciou-se Ford. — Deveriam passar o resto da noite festejando. Porque amanhã não absolutamente motivo algum para que nós não nos espremamos naquela van e sigamos em direção à capital.
— Ele está certo — concordou Tara, olhando para Glenn. — Eu vou também.
Daisy sorriu para Chambler, contente. A viagem certamente lhe pesaria menos com Tara a seu lado.
— Não, ele está errado — contrariou Eugene, para a supresa de Moore. — Estamos a 55% do caminho de Houston até Washington. Até agora, tivemos um veículo militar como transporte e perdemos oito pessoas.
— Aquilo não foi nossa... — começou Rosita, sendo interrompida por Abraham.
— Eles estão mortos — disse. — Continue.
— Não imagino que teremos mais sorte com aquela perua que pegamos — obedeceu Porter. — Terminus fica a um dia de caminhada, quem sabe o que eles podem ter lá.
— Olhe Abraham, mal não pode fazer — disse Rosita. Daisy assentiu, concordando com a hispânica. — Podemos conseguir mais suprimentos.
— Eles podem até nos ceder um carro decente e combustível — ponderou Moore, sustentando o raciocínio da hispânica e pondo-se de pé. — Talvez possamos ficar por alguns dias para refazer nossa trilha e descansar, assim voltaremos prontos para chegar a Washington.
— E podemos recrutar alguns deles para virem conosco — completou Espinosa.
— Eu vou com vocês até lá — prometeu Sasha em sua voz grossa. — Mas depois, preciso ver o Terminus. Meu irmão pode ter sobrevivido... eu preciso saber.
— Eu também — disse Bob. — As duas coisas.
Abraham assentiu, pondo-se de pé e olhando para Eugene.
— Se ele me diz que estou errado, eu escuto — garantiu. — Amanhã, iremos até o fim da linha; depois, Washington.
Todos assentiram, concordando com o plano, e houve um momento de silêncio antes que Abraham se pusesse de pé e rumasse até a van, deitando-se no mesmo banco no qual dormira durante a tarde; ele pegaria o penúltimo turno, junto de Sasha. Eugene deitou-se em cima de uma das mochilas, encarando o teto, enquanto os outros se aconchegaram perto do fogo. Glenn e Maggie pegaram o lugar onde Ford estivera, e Tara e Rosita ficaram ao lado de Daisy.
Por vários minutos, eles apenas comeram em silêncio. O ensopado estava frio e tinha um gosto ligeiramente metálico, mas Moore o dividiu com Chambler mesmo assim, e as duas o atacaram sem dó. Após algum tempo, porém, Daisy quebrou o silêncio.
— Eu posso pegar um turno, se alguém quiser descansar mais — ofereceu-se; embora estivesse realmente cansada, era a mais nova ali, e portanto se recuperaria com mais rapidez que os outros.
— Não precisa — disse Glenn. Ela balançou a cabeça.
— Eu quero — insistiu, embora não quisesse; procurava somente ser útil. Maggie deu uma risadinha e Moore franziu a testa para ela. — O quê? — perguntou.
— Nada — garantiu a mulher. — É só que... você me lembra de alguém que conheci. Daisy inclinou a cabeça, interessada.
— E quem é essa pessoa extremamente esperta e atraente? — brincou.
A esposa de Glenn riu de verdade dessa vez, e foi acompanhada pelos outros; até mesmo Rosita deu um pequeno sorriso.
— Verdade, quem é? — indagou o asiático, olhando a companheira com curiosidade.
— Carl — explicou Maggie. — Querendo ajudar a todo custo, você sabe. Daisy assentiu, franzindo as sobrancelhas e fingindo ponderar.
— E esse Carl é legal assim como eu?
— É — prometeu Glenn, depois de mais algumas risadas. — Mas acho que você é mais engraçada.
A garota piscou para ele, e acabou rindo um pouco também.
Passados alguns minutos, Rosita, que pegaria o primeiro turno, saiu para se sentar perto da van com a arma em mãos, parecendo atenta a qualquer som. Pouco depois, Tara foi se juntar a ela, mancando por causa do ferimento em seu pé, que estivera preso sob uma pedra nos escombros, enquanto Glenn e Maggie se recolheram num canto, deitados juntos.
Daisy lançou um pequeno sorriso a Sasha e Bob antes de seguir para o lado oposto do casal, abrindo a bolsa para tirar seu toldo de plástico que fora dobrado diversas vezes e estendê-lo no chão. Ela se deitou, usando a mochila como travesseiro, e cobriu toda a parte de cima do corpo com o casaco, virando-se de costas para a fogueira e mantendo o taco a seu lado. O cascalho no chão incomodou um pouco, mas aquilo não importou mais depois de alguns minutos, quando a garota adormeceu.
Parecia que haviam se passado apenas instantes quando Sasha sacudiu o ombro de Moore delicadamente. A russa, que dormira abraçada a seu bastão, afastou o casaco pesado do rosto e encarou a mulher à sua frente, os olhos apertados de sono.
— O último turno — explicou Williams.
Daisy assentiu, compreendendo, e se sentou com dificuldade para amarrar o casaco na cintura. Enquanto Sasha ia se deitar perto de Bob, a garota esfregou os olhos algumas vezes e se levantou, tornando a dobrar o toldo e guardando-o em sua mochila. Ela seguiu em direção à van, já colocando seus pertences dentro e sentou-se no primeiro banco, mantendo a porta de correr aberta. A ruiva abriu a bolsa, pescando algumas das folhas de menta que achara no tempo em que estiveram seguindo os trilhos, e pôs-se a mascar uma enquanto observava seus companheiros.
Perto da fogueira, cujos únicos sinais de que já existira eram alguns tocos de madeira carbonizados, Williams já parecia estar apagada junto a Stookey; Abraham havia se deitado em cima de sua mochila, roncando de braços cruzados, e Eugene se estirara ali perto, onde respirava pesadamente com a cara grudada no cascalho. Tara dormia no último banco da perua, portanto tudo que Daisy podia ver eram suas pernas, e Rosita ressonava despreocupadamente no banco do carona reclinado; Glenn e Maggie estavam deitados lado a lado, mas o asiático era o único de olhos fechados.
A mulher notou que Moore os olhava e lhe lançou um sorriso caloroso. Ela se sentou cuidadosamente para não sobressaltar o marido, e então pôs-se de pé, saindo de onde estava e seguindo em direção à van, onde Daisy lhe abriu um espaço no banco.
— Oi — cumprimentou.
— Oi — respondeu a menina. Ambas ficaram em silêncio por mais vários minutos até que a russa percebeu que o olhar de Maggie seguia até Glenn. Ela não parecia se cansar de admirá-lo, e Moore sorriu levemente para a morena. — Fico feliz que se encontraram — disse com sinceridade.
— Vocês formam um belo casal.
A esposa do rapaz sorriu.
— Obrigada.
— É uma coisa rara de se achar, não é? — perguntou a menina, agora pensando em seus pais. Era verdade que quem quer que olhasse para Lana Volkina e Jason Moore veria duas pessoas que se amavam plenamente, mas Daisy não podia dizer que já cruzara com muitos casais assim. — Quero dizer, mesmo antes de tudo.
Maggie deu de ombros.
— Suponho que seja uma questão de procurar no lugar certo — ponderou. Moore assentiu.
— Vocês são sortudos — disse.
— Acho que sim — concordou a mulher.
As duas tornaram a se calar, ficando em silêncio por vários minutos, e Daisy começou a remexer em seu revólver, travando-o e destravando-o, para depois desmontá-lo e limpá-lo como sua mãe lhe ensinara. Ela estava encaixando as peças de volta quando Maggie perguntou:
— Onde aprendeu a fazer isso?
E, embora fosse uma pergunta simples, Moore novamente hesitou antes de responder.
— Minha mãe me ensinou.
— Não é Rosita, é? — indagou a mulher.
— Jesus Cristo, não! — negou Daisy, rindo baixo para não acordar Chambler ou Espinosa. — Não, ela morreu.
— Sinto muito — disse Maggie, soando sincera.
— É — concordou a garota, o riso morrendo. — A sua família morreu também?
Maggie baixou os olhos, mas assentiu de leve.
— Não completamente — disse, inclinando um ombro. — Ainda tenho Glenn.
Moore tornou a sorrir, mesmo que curtamente, e então outra coisa lhe ocorreu.
— O que você acha? — perguntou à mulher. — Do Terminus?
A morena hesitou.
— Não sei ainda — disse. — Fico me lembrando do que Sasha disse... pode ser que alguém do nosso antigo grupo esteja lá. E seríamos de grande ajuda, caso nos aceitem, porque nós quatro costumávamos viver numa prisão; tínhamos uma boa base lá, e muitas pessoas.
A menina assentiu. Ela tentou não pensar em sua própria base, a escola nos arredores de Tallulah Falls, onde vivera por quase um ano antes que tudo caísse aos pedaços.
— Eu não vou ficar lá — disse. — No Terminus. Vou com eles até a capital.
— Por quê? — indagou Maggie.
Daisy encolheu os ombros.
— Eu devo isso a eles — explicou. — É minha missão; todos nós temos missões a cumprir.
Aquela não era o único motivo. Daisy tinha medo de viver tudo aquilo de novo, de ver um lugar e tudo que ele simbolizava acabar, como acontecera quando perdera os pais – e diversas outras pessoas que considerava parte de sua família. Maggie a encarou por alguns instantes e a menina teve certeza de que viu alguma melancolia em seu olhar. No entanto, poucos instantes depois, sua expressão mudou e ela tirou algo do bolso.
— Já que estamos falando sobre isso — disse, estendendo à garota o objeto que ela não pôde distinguir no escuro. — Essas pessoas podem querer confiscar nossas armas. Não estou dizendo que estariam erradas caso o fizessem, mas acho que é bom se precaver.
Daisy pegou o pequeno cilindro, franzindo as sobrancelhas em confusão.
— É um canivete — esclareceu Maggie. — Eu suponho que ninguém pensaria em te revistar, porque você deve ter uns oito anos de idade.
Moore encarou a mulher a seu lado, indignada.
— Eu tenho quatorze — protestou. — Ou quase isso.
A esposa de Glenn riu e Daisy experimentou abrir o canivete, obtendo sucesso na segunda tentativa. Ela então o escondeu dentro do sapato de modo que não a incomodasse ao caminhar, e deixou-se descansar no banco, cruzando os braços e encarando o teto do carro. Àquela altura, a garota não sabia o que a esperava para além daquele túnel escuro, mas torcia para que fosse melhor que a escola; melhor do que antes.
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