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História Six Feet Under - Cold as ice


Escrita por: kayalapapaya

Notas do Autor


80
Fucking
Favoritos
GENTE????? SIX FEET UNDER TEM 80 FAVORITOS!!!!!! Meu Deus, eu nem acredito! Sério, muito obrigada a cada um de vocês por isso, a cada dia tenho mais e mais certeza de que os meus são os melhores leitores do mundo!
Enfim, como recompensa, esse capítulo aqui tá mergulhado na treta. Ele me deu muuuuuuito trabalho, então eu realmente espero que vocês gostem!
Boa leitura!

Capítulo 9 - Cold as ice


Ela massageou as mãos, procurando regularizar sua circulação. Havia vários minutos desde que Daisy parara de sentir algo nas pontas dos dedos além da sensação de queimação, e podia ver que a carne naquela região ficava mais pálida à medida que o tempo avançava. A preocupação formou um nó em sua garganta ressecada e a ruiva apertou os punhos contra o peito, soprando-os, trêmula. Se pudesse apostar, diria que Gareth havia pedido para diminuírem a temperatura do freezer no qual ela se encontrava.

Moore sabia o que iria acontecer consigo; fora alertada sobre aquilo durante a infância por morar numa das regiões mais frias do mundo. Caso tivesse sorte, o máximo com que teria de lidar seria um pé ou uma mão inchados e que ficariam inutilizados por alguns dias, talvez semanas; se não, a garota tinha certeza de que perderia alguns membros. Já vira fotos de partes do corpo humano necrosadas, com cristais de gelo formados na carne completamente negra. Não era bonito. Também era provável que acabasse com uma hipotermia, o que já tivera após cair dentro de um lago congelado no inverno de Volgogrado. Ela não desejava repetir a dose – principalmente porque tinha certeza de que dessa vez não escaparia.

O que lhe remetia à pergunta principal: será que conseguiria sair de seu confinamento? Se abandonara os outros, seria muito mais provável que eles a abandonassem também ao invés de vir buscá-la, caso conseguissem escapar, principalmente porque ninguém sabia onde estava. Aquele pensamento levou um calor incômodo aos olhos da garota ruiva, que abaixou a cabeça, encostando a testa nos joelhos.

Daisy estava cansada, faminta e fraca. Não foram poucas as vezes que encostara a nuca na parede atrás de si e deixara escorrerem algumas lágrimas, mentalmente implorando para que aquilo acabasse logo; queria estar com sua família, em casa. Além de tudo, ela imaginava como estaria o resto de seu grupo... se é que ainda poderia chamá-los assim. A menina duvidava. Estava sobre o chão, mas, ao contrário do que Gareth afirmara anteriormente, não era uma vitória. Era tortura.

A russa respirou fundo mais uma vez, tentando engolir em seco, porém sem sucesso. Tentou manter os fios cor de cobre de seu cabelo longe da face sardenta e umedeceu os lábios ressecados, com plena certeza de que estariam roxos. Logo, logo, suas articulações estariam tão completamente fodidas que ela só deixaria aquela sala caso fosse carregada, e isso se chegasse a tanto. Não era boba o suficiente para manter falsas esperanças.


 

❄ ❄ ❄


 

Está caminhando sozinha e à sua frente se estendem quilômetros e mais quilômetros de floresta congelada, as copas das árvores cobertas de neve. Daisy se move devagar, talvez enfraquecida pelo frio, talvez por querer aproveitar a paisagem. Ela sabe que é perigoso andar por ali sozinha, mas também sabe que há algo para si no final do bosque. Um tesouro, um presente, uma recompensa.

A lua brilha acima de sua cabeça, grande e radiante, porém não amarela ou branca; naquele momento, o astro possui uma cor azul forte para a qual a menina não consegue parar de olhar. Ela cantarola uma música desconhecida, porém com uma letra completamente familiar que a faz sentir segura. Está mais e mais perto, pode sentir em cada fibra de seu ser, e nunca esteve tão feliz, embora não desconfie da natureza da dádiva.

Daisy para de caminhar ao chegar à borda de uma clareira. Embora seja noite, tudo o que pode ver está ilumidado pelo tom índigo que vem do céu, de modo que a menina pode enxergar todos os detalhes da campina congelada. E bem onde seu maravilhoso presente deveria estar...

...há o mais absoluto nada.

Antes que ela possa processar a visão do campo completamente vazio, ouve tiros ecoarem atrás de si. Passos audíveis, rápidos, acuados vêm em sua direção e ela se vira, subitamente assustada.

Ao ver cerca de quatro figuras se aproximando nas sombras, menina tenta correr, mas não pode. Ao olhar para baixo, vê que suas pernas congelaram e ela está presa ao chão agora, não pode sair. À sua frente, alguém para, uma arma apontada diretamente para seu peito. Enquanto todo o resto é visível, a figura não tem rosto e parece ser constituída de escuridão, apenas. Ela puxa o gatilho e o sangue de Daisy se espalha na neve.


 

❄ ❄ ❄


 

O berro feriu sua garganta e assustou até mesmo a si própria. A menina se sobressaltou, procurando a origem do som com urgência antes de perceber que se partira dela mesma. Moore suspirou, sentindo vontade de rir e chorar ao mesmo tempo e abraçou os joelhos, encarando os próprios sapatos, cansada.

Ela então respirou pelo nariz novamente e ergueu os braços de leve, reparando em algo estranho. Era possível que estivesse errada, mas a temperatura do ambiente parecia ter aumentado... Daisy se animou antes de perceber que talvez fosse parte da tática; talvez tornassem a sala mais quente para então resfriá-la novamente.

Antes que pudesse refletir mais sobre aquilo, ouviu o som que penetrara em seu sonho novamente: tiros sendo disparados dentro do terminal. Era possível que os terminianos estivessem sendo atacados? Era possível que Glenn, Abraham e os outros houvessem conseguido escapar? O som sumiu quase instantâneamente, porém foi o suficiente para inserir alguma determinação na menina russa.

Daisy respirou com força, fazendo mais uma lufada de ar branco surgir em sua frente. Ela não merecia, sabia que não, mas mesmo assim, não faria mal tentar receber alguma ajuda. Trincou os dentes, tentando tomar coragem para fazer o que precisava. Não obteria visão alguma do que estava acontecendo do lado de fora somente espiando pela janela da porta que dava para o corredor; precisava de um campo de vista maior.

Moore apoiou as mãos no chão e conseguiu ficar de quatro. Muito lentamente, ela engatinhou pelo piso manchado de sangue, ainda sem forças para ficar de pé, movendo-se em direção à mesa prateada perto de si e se posicionou atrás da mesma. Tocou a superfície fria com as palmas das duas mãos, respirando fundo pelo esforço e sentindo arrepios sacudirem seu corpo com violência. Soltando um ganido alto, Daisy começou a empurrar o móvel na direção da parede na qual se encostara anteriormente. Ela ignorou o comichão em seus dedos que se misturava à dor nas articulações em todo o corpo enquanto prosseguia com a tarefa até completá-la.

Respirando fundo de cansaço e alívio, a menina esfregou as mãos na calça jeans, colocando-as por alguns instantes na parte de trás dos joelhos para esquentá-las antes de agarrar o tampo da mesa. Com muito esforço e muita agonia, Daisy ficou em pé vacilante, porém contente consigo mesma pelo feito. A menina passou o joelho por cima da superfície de metal, ficando de pé novamente em cima dela e se aproximando da janela para tocar o vidro, na expectativa de ver algum conhecido lá fora.

No entanto, para o desânimo de Moore, as quatro pessoas que corriam por suas vidas não lhe eram familiares: um homem com uma arma grotesca em mãos, outro com um revólver, uma mulher negra de dreads portando uma katana e um garoto talvez alguns anos mais velho que a própria Daisy, que trazia um chapéu de cowboy – ou seria de xerife? – na cabeça.

Este último foi o único a esquadrinhar o pátio em que se encontravam e seus olhos se cruzaram com os da garota que os espiava. Ela fechou a mão num punho e socou o vidro três vezes, esperando fazer algum barulho.

— Socorro! — berrou, alto o suficiente, esperava, para que fosse ouvida do lado de fora.

Ele pareceu hesitante em ajudá-la, Daisy entendia perfeitamente; haviam snipers nos telhados atirando em seus pés e nos demais integrantes do grupo, era uma atitude natural. No entanto, quando o garoto decidiu fazer alguma coisa, esta foi apontar a arma em direção ao rosto da menina e disparar uma vez.

Ela recuou com o susto, caindo no chão em cima do cotovelo bom com um grito de dor, e ouviu a bala rachar o vidro. Mais outras duas a sucederam antes que a superfície finalmente cedesse, resultando um buraco do tamanho de um limão com várias rachaduras adjacentes. Moore gritou mais uma vez, agora de júbilo, agradecendo mentalmente ao menino.

A garota passou alguns minutos esperando ouvir mais tiros ou alguma voz, mas não houve nada. Ela então pôs-se a tentar formular uma estratégia, o coração acelerado. Não escaparia pela janela, pois definitivamente não saria ilesa do tombo que com certeza levaria. Entretanto, aquele buraco, caso fosse um pouco maior, poderia ajudar para que o ar circulasse dentro da sala. A perspectiva de diminuir o frio animou a garota ruiva, que imediatamente começou a esquadrinhar a sala em busca de algo que pudesse usar para terminar o serviço na vidraça.

Demorou muito tempo até que ela achasse a ferramenta adequada. Não podia simplesmente jogar uma peça de carne contra a janela esperando que se estilhaçasse, primeiro porque chamaria atenção indesejada, e depois porque Moore nunca teria força suficiente para erguer uma. Decidiu então usar a estante de ferro a seu favor. Podia empurrá-la e a mesa faria com que esta se inclinasse o suficiente para romper o vidro.

Foi somente depois que a menina havia terminado de jogar no chão todas as peças de carne e arrastar a estante para a posição desejada – o que levou muito mais tempo e mais esforço que a mesa – que uma luz pareceu se acender na cabeça de Daisy: aquela seria a distração perfeita. Ela só precisava esperar até ouvir passos no corredor para concretizar seu plano. Enquanto isso não acontecia, a menina faria o possível para se manter aquecida e não ceder à exaustão novamente – e já sabia exatamente como.

Foram aproximadamente duas horas revezando entre fazer abdominais, flexões de braço e corridas curtas de um lado para o outro da sala. Por incrível que pareça, o exercício deu resultado. Logo, os dedos da menina começaram a formigar, anunciando que sua circulação voltava ao normal, e seu corpo ficava cada vez mais quente; e pensar que Daisy detestava tais exercícios quando começou a fazer parte da liga júnior de baseball.

De tempos em tempo, Moore parava a atividade para checar as extremidades do corpo e a situação de seu ferimento no cotovelo, que estava agora coberto por uma camada de sangue seco. Ela esperava que não precisasse dar pontos, pois nunca fora boa em tal tarefa e nem sabia se teria condições para realizá-la. Daisy também passou a interromper-se sempre que pensava ouvir algo no corredor, colocando-se em posição perto da janela à menor indicação de que deveria agir. Entretanto, quando tal aviso chegou, foi de maneira inesperada.

Em um momento, Moore estava correndo para a parede da porta, sentindo que as articulações melhoravam mais e mais a cada passo. No momento seguinte, a menina estava estatelada no chão com os ouvidos zumbindo por causa de um estrondo repentino que pareceu sacudir tudo nas imediações.

Daisy piscou com força ao bater o queixo no piso frio e passou alguns segundos tentando se orientar. Moore tentou se levantar, encontrando dificuldade pela tontura repentina que a atingiu. Ela olhou em volta, sentindo o frio da sala voltar à tona, e seus olhos foram se arregalando gradualmente à medida que seus ouvidos paravam de zumbir para registrar os gritos agudos se aproximando.

Daisy caminhou para a porta sentindo o pânico na boca do estômago, apenas para constatar, ao olhar pela janela, que o corredor continuava mortalmente vazio. A menina voltou até a mesa de ferro, onde subiu ainda com dificuldade, e ficou na frente do buraco que os tiros do garoto de chapéu fizeram. Ela olhou para tentar entender o que acontecia do lado de fora, arquejando alto ao ver dezenas de mordedores se espalhando pelo terminal, muitos deles em chamas.

A garota russa sentiu suas entranhas revirarem e as pernas fraquejarem, ao ver os corpos em decomposição investirem numa garota de cabelos claros ali perto; ela tinha uma arma em mãos, e no entanto eles, em maior quantidade, a subjugaram facilmente. Era chegada a hora. Daisy precisava sair dali – ou morrer tentando.

Mal ela havia terminado de formular tal pensamento, ouviu o som que a salvaria: passos correndo à distância no corredor. Moore saltou da mesa de pronto, sentindo os membros formigarem, e ficou agachada junto ao chão. A garota esperou até que a figura ultrapassasse a porta para, num esforço descomunal, empurrar a estante na direção da janela.

O barulho que o objeto fez ao romper a barreira de vidro feriu seus ouvidos, enquanto diversos caquinhos que caíram sobre seu corpo, um deles chegando a perfurar superficialmente a pele abaixo de seu olho. No entanto, ela sabia que não havia tempo para medir os danos causados; sua vida dependia da rapidez de suas ações.

Daisy correu para a parede, mantendo as costas grudadas à parede ao lado da porta, e esperou para que os passos voltassem, atraídos pelo som da janela se partindo. A garota ouviu a porta se abrir por fora e respirou fundo, os dentes cerrados.

Nem bem a terminiana – uma jovem morena de cabelos na altura dos ombros – havia adentrado no cômodo, encarando a janela quebrada boquiaberta, Moore caiu sobre ela, indo as duas ao chão.

A desconhecida gritou em choque ao ceder sob o peso da menina, e soltou um disparo acidental de sua arma. O coração de Daisy acelerou com a possibilidade do som ter sido ouvido por outras pessoas e agarrou o pulso da mulher, batendo-o repetidas vezes até que o aperto de seus dedos sobre a arma findasse. A russa colocou seu joelho em cima do ombro direito da estranha, mas ela ainda não havia desistido e lhe socou as costelas com força, arrancando uma boa parcela do ar de seus pulmões.

A garota soltou um som sufocado, meio arquejo, meio grito, e perdeu o fôlego por alguns instantes. No entanto, logo agarrou a mão da mulher e a mordeu com força até sentir o gosto metálico de sangue descer por seus lábios e entrar em sua boca. Ela gritou a plenos pulmões, mas Daisy prendeu seu ombro esquerdo ao chão sob o joelho e a segurou pelos cabelos escuros, batendo sua cabeça repetidamente no piso ladrilhado.

Foram necessários mais de cinco golpes e toda a força da menina antes que os esforços da terminiana para se libertar cessassem. Por um segundo apavorante, Moore realmente pensou que a houvesse matado; entretanto, após checar o pulso na jugular, ela constatou que seu coração ainda batia.

A garota tentou ignorar o sentimento de culpa que a atingiu ao ver a quantidade de sangue que escapava pela mordida na mão da morena, resultando numa mancha escarlate no piso, a garganta apertando. Ela seguiu procurando algo que pudesse ajudá-la, até perceber que aquela mulher usava um traje à prova de balas como o de Glenn, se não o mesmo.

Moore umedeceu os lábios, o coração palpitando contra as costelas como as asas de um pássaro, e começou a desatar os nós que prendiam a armadura à estranha. Poucos minutos depois, todas as peças antes usadas pela terminiana estavam amarradas à garota, assim como seu suéter preto, que ela vestira em busca de conservar algum calor no corpo.

Daisy roubou também uma faca e sua bainha, além de mais dois cartuchos de munição para a Glock antes de finalmente deixar sua cela particular – mas não sem antes trancar a mulher ali.

Ela saiu, caminhando rápida e cuidadosamente, na ponta dos pés, alerta a qualquer sinal de que poderia esbarrar com mais sobreviventes do terminal ou mesmo que estivesse sendo seguida. A menina sentia como se todos os músculos de seu corpo estivessem derretendo simultaneamente, tentando controlar a respiração ofegante e, ao mesmo tempo, mantê-la baixa.

Ao chegar em determinado ponto ainda no mesmo corredor, Daisy ouviu vozes exaltadas saírem de uma porta, onde, aparentemente, duas pessoas discutiam acalouradas.

— Você não vai sair daqui, temos que esperar o sinal de Albert! — exclamou a primeira pessoa, uma mulher.

— Você não pode estar falando sério! — berrou a segunda, outra mulher, talvez um pouco mais jovem. — Você não ouviu esse tiro? Veio daqui de dentro! Se bem conheço Albert, ele já foi devorado e deixou os bichos entrarem!

A menina se aproximou enquanto as duas continuavam a gritar uma com a outra, e então parou em frente ao portal, reparando no cômodo por um mísero instante. Havia uma mesa com diversas armas separando as duas terminianas que brigavam e uma lâmpada de luz amarela pendendo do teto. A primeira a notá-la foi a mulher de frente para si, que tinha cabelos loiros. Seus lábios desenharam um “oh” silencioso antes que Daisy atirasse em suas costelas.

Os gritos de dor da mulher que agora caía ao chão foram ofuscados quando a outra sobrevivente a encarou, os olhos cor de mel cheios de fúria, e mirou a Taurus diretamente em sua cabeça. Moore teve apenas tempo de se agachar antes que a parede atrás de si fosse atingida por uma única bala. Foi um estrondo imenso naquele espaço minúsculo, e a menina aproveitou a confusão momentânea da desconhecida para atirar logo acima de seu joelho.

Ela perdeu o equilíbrio, soltando um lamento de dor que ecoou nos ouvidos de Daisy, e a menina apontou a Glock diretamente para sua cabeça.

— Larga a arma! — exigiu Moore numa voz que não parecia a sua. — Agora!

— Você não vai atirar em mim — disse a morena, ofegante.

— Quer apostar?

Ela jogou o revólver ao chão, fazendo-o deslizar até a garota russa, e trincou os dentes, fazendo com que sua expressão parecesse animalesca.

— Nós salvávamos pessoas! — rugiu. — Este lugar era um santuário, até que eles vieram e o tomaram! Não tivemos outra escolha!

— E eu não podia ligar menos — retrucou a menina, com sinceridade. — Você acha que sua vida está difícil? Tente viver a minha.

A terminiana a encarou por um mísero instante antes de tentar sua derradeira manobra: avançar sobre a menina, os dentes arreganhados, tentando agarrar sua Glock. Daisy atirou em seu abdômen antes mesmo de processar o que estava fazendo.

Em uma espécie de transe, Moore avançou para dentro da sala sentindo as entranhas se revirarem, sem querer encarar as mulheres gemendo de dor no chão, e começou a recolher mais armas e munição da mesa. Pegou um revólver extra e um rifle como o que Abraham lhe dera quando foram em busca de Glenn e Tara no túnel, além de uma bolsa, que encheu de cartuchos, sem saber ao certo quais eram os necessários.

Assim, com as armas em duas bainhas diferentes em sua cintura, a bolsa passada pelo pescoço e o rifle em mãos, Daisy deixou a sala correndo para sua direita. Ela se perdeu ao fazer algumas curvas e quase morreu do coração quando um grupo de três pessoas – dois homens e uma mulher – passou correndo perto de si. No entanto, percebeu que eles iam exatamente para o lugar que ela procurava: a saída.

Esperou que o trio houvesse deixado o prédio para segui-los e a confusão que lhe atingiu foi como um soco no rosto. Havia saído num pátio com somente um vagão de trem e uma cerca à distância dominado completamente por mordedores. O cheiro de fumaça a fez engasgar por alguns segundos, e a luz do Sol chocou-se violentamente com sua pele gelada, causando-lhe arrepios.

À sua frente, os três terminianos atiravam em um grupo grande, quase majoritáriamente desarmado, que deixava o único vagão ali e corria entre uma multidão imensa de mortos para pular a cerca. Daisy viu os cabelos ruivos de Abraham e o boné de Rosita entre eles, e puxou a alavanca do rifle antes mesmo de raciocinar direito.

A arma feriu o ombro da menina e fez um barulho descomunal ao fuzilar as três pessoas quase que de uma vez. Desorientada pelo som, Daisy percebeu que os disparos haviam atraído a atenção tanto dos errantes ali presentes quanto dos que tentavam fugir.

— Ginger?! — berrou a voz de Tara no meio da confusão. Pelo menos Moore supôs que fosse a mulher, uma vez que os disparos de seu rifle a haviam deixado parcialmente surda.

— AQUI! — gritou a própria Daisy, agora atirando a esmo na direção dos andarilhos. — VENHAM ME PEGAR!

— GINGER! — era a voz de Glenn.

Ela não parou para ouvir o que ele diria a seguir. Voltou a atirar na direção dos errantes, o som ecoando mais alto que qualquer outro, correndo ao longo da lateral do prédio e gritando impropérios ao vento, tentando atrair o máximo de atenção que pudesse. Daisy tinha plena consciência de que aquilo não mudaria nada do que fizera antes, mas se fosse morrer ali, pelo menos morreria sabendo que havia se redimido.

Moore correu como nunca havia feito na vida. O rifle pesava em suas mãos e exigia recarga quase constante, seus pés mal pareciam tocar no chão e o vento em seus ouvidos a ensurdecia mais ainda que os próprios tiros em si. Houveram cerca de duas vezes nas quais ela achara que realmente estava perdida, quando os andarilhos tentaram lhe morder os braços em ocasiões diferentes. Entretanto, o traje fez um ótimo trabalho em protegê-la dos dentes dos mortos, e logo a menina estava diante do limite da cerca que circundava o terminal.

Daisy soltou um grito de esforço ao livrar-se de mais um mordedor que tentava arrancar um pedaço de sua carne e preparou-se para pular. Seus pulmões e coração doíam quase tanto quanto as pernas, e a respiração passou de regular para entrecortada em segundos. Diante da cerca, a menina livou-se do rifle, jogando-o por cima da divisória e então escalando-a em desespero ao ouvir os gemidos aproximarem-se de si por trás. A armadura lhe protegeu de cortar-se no arame farpado, porém pouco fez a respeito da queda, e Moore foi ao chão, esmagando o braço esquerdo e batendo a cabeça em algo duro no processo.

Daisy não se levantou. Ela não notara andarilhos daquele lado da cerca, mas se houvesse algum, ele teve a cortesia de ignorar a figura moribunda de cabelos cor de fogo no chão. Seu rosto estava colado à terra e o calor repentino do Sol somado ao jorro de adrenalina que se apoderava de seu corpo a fez tremer, quase numa convulsão.

A menina não tinha ideia de como continuava consciente. Seus músculos e articulações pareciam ter sido reduzidos a pó, e sua respiração era arfante, desesperada, quase soluçante. Sua cabeça latejava no ritmo de seu coração, e todas as dores antes ignoradas agora voltavam à tona. O ferimento em seu cotovelo, que sangrava novamente; o soco que a mulher morena lhe dera nas costelas; todos os arranhões hematomas e cortes.

Ela sentiu o sangue quente e grudento espalhar-se por sua testa e empapar seus cabelos já vermelhos enquanto encarava o rifle jogado ali perto, fraca demais para sequer pensar em estender o braço e pegá-lo. Tudo que queria era que aquilo acabasse logo, que pudesse partir para o mesmo destino que sua família, revê-los, voltar à sua terra natal.

Quando uma sombra se esticou sobre si, Daisy estava convicta de que se tratava da Morte. Sorriu, pensando que finalmente teria algum descanso e que tudo estaria acabado logo quando a figura se abaixou perto de sua cabeça. Entretanto, ao invés de ceifar sua alma, ela aproximou-se de seu ouvido e sussurrou na voz de uma mulher:

Venha comigo.


Notas Finais


E então??? Esse capítulo foi o que teve mais ação na fic até aqui, acho que por isso que foi tão difícil de terminar. Mais uma vez temos a Daisy sendo encontrada por um desconhecido... quem vocês acham que é? Comentem, quero ler seus palpites!
Enfim, eu espero que tenham gostado do capítulo. Beijinhos e até o próximo!


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