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História Sk8ter Boi - Firecracker


Escrita por: knshm

Capítulo 2 - Firecracker


A galeria cultural sempre foi um espaço simpático de trabalhar. O ambiente é bom, os funcionários daqui são gentis, o chefe é só um pouco mais velho que eu e cem por cento gente boa também. Eu nunca me saí bem em muita coisa além do skate, então não esperava que fosse dar certo no meio de um comércio — foi Namjoon quem arranjou esse emprego pra mim, já que costumava ter uns casos bem peculiares com o tal patrão atual, Yoongi —, só que a rotina de vender camisetas, piercings, brincos, CDs e LPs antigos virou algo que eu gostava mesmo de fazer. 

Mas se tinha uma coisa que eu odiava com todas as forças nesse lugar, era quando algum freguês entrava, rondava a loja inteira, avaliava os produtos. Me cutucava e pedia: 

— Com licença, cara. Pode pegar aquele disco? — Apontando para a última prateleira.

Sim, aquela lá no alto.

Isso acontecia com tanta frequência que de uns tempos pra cá eu comecei a confirmar que as pessoas faziam de propósito.

Eu passo longe de ser alguém que ostenta altura, fui zoado por isso durante todo o período na escola. Quando o colégio termina as pessoas baixinhas pensam que a galera ao redor vai amadurecer, as piadinhas vão acabar, mas na verdade o tanto de zoeiras infelizes só aumenta. Toda vez que os clientes pediam aquilo — especificamente pra mim, o menor funcionário — eu forçava o sorriso mais compreensivo do mundo, me retirava, ia até o depósito e voltava com uma escada de poucos degraus na mão, o suficiente pra conseguir alcançar o que a pessoa queria.

Aquilo tava rolando outra vez e eu já xingava o infeliz de todos os nomes na minha cabeça, enquanto percorria os corredores até portinha dos fundos onde ficavam nossas tralhas. Estou prestes a entrar lá quando esbarro em alguma coisa.

— Caralho — Solto sem pensar duas vezes, já que a pancada acertou em cheio o machucado que eu tinha feito outro dia. A ferida tinha sido causada por um longboard e a dor que voltava foi causada pelo dono do mesmo item. — Jeon Jeongguk, essa é a segunda vez que você destrói minha fuça em três dias!

Levo as mãos até minha cicatriz — a maldita não abriu de novo e nem encharcou minha mão com sangue, mas começou a latejar como o inferno.

Bati as minhas mãos no peito de Jeongguk, num empurrão. Por um momento esqueci do quanto esse imbecil é forte, então ele revidou segurando meus braços e dando risada. Jeongguk era o único que conseguia ficar bonito de verdade com o uniforme da galeria — uma blusa preta de gola alta, com o logotipo de uma máscara de gás no canto do peito. Não que o conjunto fosse feio, mas o corpo dele fazia com que a roupa parecesse casual, algo pra usar no dia-a-dia.

Ah, claro, ele também usava as bandanas escuras que nunca saíam do seu braço.

— Que estresse é esse, hyung?  — Usou o honorífico num tom de provocação. Sério, Jeon Jeongguk só me chamava de hyung quando queria algo ou quando tava afim de me provocar. Fiquei quieto, ainda puto com a ironia do mundo em guiar aquele cliente exatamente pra mim. Tratei de ir pro depósito logo, antes que Jeongguk resolvesse se juntar à brincadeira, mas não escapei a tempo. — Ih, não pode ser. Fizeram aquilo de novo... — Começou a gargalhar, só não fazendo escândalo porque, ainda que Yoongi fosse um patrão compreensivo com a gente, não hesitava em dar broncas ou até descontar do salário.

Deixei ele rindo sozinho e avancei na direção da porta.

Jeongguk me impediu de novo, me puxando pelo pulso e me guiando de volta até achar o cliente que acabou com o meu dia, sem me deixar pegar a escada e sofrer a humilhação.

— Qual o LP, senhor? — Perguntou pro homem que ficou esperando ser atendido esse tempo todo. Ele respondeu "Gorillaz, Demon Days". Jeongguk só se esticou um pouquinho do chão pra conseguir pegar o disco, livre de grandes esforços como os que eu teria que fazer. Assisti ele entregar o álbum de braços cruzados, desprezando sua boa ação. — Prontinho!

O cliente sumiu no corredor e foi pro caixa.

— Não sei se eu te agradeço ou digo que eu te odeio.

— Acho que esse é o seu dilema desde que me conheceu. — Jeongguk achava muita graça da minha indignação. Balancei a cabeça, me segurando para não socar ele outra vez. Então ele me deu um abraço grudento por trás. — Que pena que eu já sei que você me ama, Jiminnie. 

— Me larga — Digo grosso para ver se ele entende o recado, mas são raros os segundos onde esse pirralho leva algo a sério. Jeongguk me apertou nos seus braços e começou a rir na minha nuca. — Me larga, idiota! — Perdi a postura quando os arfares dele me deixaram com cócegas. A cena era bizarra, eu ria e me debatia ao mesmo tempo. — Jeongguk!

Consegui me virar, mas ele continuava me apertando. Fiquei com as mãos em torno do pescoço dele, distribuindo arranhões e socos para revidar, e seus dedos só se moviam mais e mais no meu abdômen e na minha cintura. Era quase impossível controlar minha risada, ainda assim eu tentava fazer isso pra não levar sermão dos mais velhos ou estranheza por parte dos outros clientes ali. Infelizmente eu sorria para Jeongguk, que também se divertia muito vendo minha cara de panaca ultra-sensível.

Ah, se eu estivesse um pouco mais concentrado em qualquer ponto além do rosto dele, ia perceber a porta da galeria balançando e dando entrada para um outro conhecido meu.

— A competição nem vai ser justa já que ninguém dessa cidade consegue mandar no grab melhor do que eu e... — Eu notaria a voz dele sobressaindo o som das gargalhadas de Jeongguk, os ruídos dos outros funcionários e a barulheira que os próprios amigos dele faziam. — Nossa.

Hoseok estava ali e olhava para mim, tinha até parado de falar.

Aquela era nossa primeira interação direta desde que ele botou os pés na província outra vez.

Meus cochichos foram diminuindo, desaparecendo. Senti o coração falhar uma batida e me preparei pra ficar congelado, como das outras vezes que a gente se encontrou, mas por algum motivo consegui encará-lo de volta, confuso.

Afinal, por que ele parecia tão surpreso? Era tão chocante assim saber que, depois de lutar com um fim imaturo, eu continuo tendo afeto com outras pessoas?

E que diabos isso tinha haver com ele? Hoseok deixa mais do que claro que eu sou passado na sua jornada brilhante. Nem faz sentido sentir ciúme.

Continuo abraçado com Jeongguk, tentando entender o que aquela porra de olhar significa. Remorso, talvez, porque ele engoliu seco e correu os olhos por nós dois numa avaliação bem miserável. Depois saiu andando como se não tivesse visto nada.

Eu não sabia o que pensar. Quando eu estava com Jeongguk, o vazio da decepção que Hoseok me rendeu desaparecia. Mas quando ele chegava e eu percebia que ainda sentia falta, minha cabeça virava um lugar de fantasias e criações de coisas que não eram verdade. Eu dizia que ele ainda me amava, que mesmo à milhas de distância ele ainda pensava em mim, que se perguntava como eu vinha lidando desde que se foi. Então, o fato de Hoseok sentir raiva de alguém agarrado no seu ex-namorado podia ser só outra ilusão dessa parte estúpida de mim também.

Fiquei com a cabeça abaixada enquanto contava os segundos pra que ele fosse embora. Meus pensamentos falaram ao mesmo tempo, formando uma bagunça desgraçada. Eu não olhava para Jeongguk e não queria olhar para ninguém — o pessoal dali me conhecia, sabiam do que eu e o metido à campeão tínhamos vivido, sabiam que a volta dele significava perturbação pro meu lado.

É, enfim.

Apesar do caos aparente, aquele dia não deu em muita coisa. Hoseok ignorou nossa cena, vagou com o semblante irritado pela galeria e comprou um boné novo. Foi embora antes dos amigos que o acompanhavam pra exaltar sua raivinha.

— Ei, ei! Onde você tá indo? — Um deles gritou.

Sério, eu não tinha a mínima ideia de como reagir. Desde que nós terminamos minha cabeça se encheu de contradições — não sabia se chorava por ele ter dado fim ou sentia raiva pelo mesmo motivo, não sabia se aquele show de ciúme me fazia achar que ele era um babaca ou me fazia realizado por saber que ele continuava se importando.

Não era como se ele fosse me procurar pra resolver alguma coisa, de qualquer jeito.

Merda.

— Tudo bem? — Jeongguk quis verificar, compartilhando do mesmo desgosto sobre o que tinha acabado de acontecer. Estava com o rosto franzido e parecia preocupado comigo, mas eu só confirmei com a cabeça. Conversei bem pouco e atendi menos ainda até o expediente acabar.

Eu tinha que empilhar caixas de discos e organizar estampas por ordem alfabética. Nem preciso comentar sobre como foi um desastre fazer isso quando eu estava mais avoado que qualquer coisa no mundo. De vez em quando Jeongguk passava por perto para garantir que eu não tinha decaído, me distraía falando coisas aleatórias — do tipo estimar o valor do hoverboard que ele queria comprar.

— Olhei um sites, fiquei na dúvida entre o modelo preto ou o azul turquesa... Você bem que poderia escolher a cor pra mim, né?

Eu dava alguns sorrisos e respondia normalmente, mas isso não significava que eu conseguia me sentir aliviado.

Estresse é uma das piores sensações. Fazia tanto tempo que o meu corpo não dava espaço pra algo assim, que eu havia esquecido como era ter a cabeça latejando e o corpo não respondendo aos meus comandos.

Aquela sim era a confirmação que Hoseok tinha voltado — ele não só pisava na mesma cidade que eu, mas também voltava a tumultuar minha mente.

Como um milagre, o tempo não demorou a passar. Logo a gente já estava dispensado e eu montava no skate em direção à Dongyo Street.

— Ei  — Jeongguk me impediu de começar a andar. — Sabe que hoje é quinta, né?

Ah.

Na quinta feira, todos os moradores e simpatizantes da Dongyo Street tinham compromisso marcado: era dia de Dongyo Battle. Era um jogo que começou a alguns meses atrás, onde os skatistas competiam entre si no modo freestyle entre as rampas de Dongyo. Os vencedores não tinham prêmio nem nada, mas ninguém se importava tanto com isso e só competiam pela diversão e pelo exibicionismo na turma de sempre. Naquela mesma manhã eu estava animado pensando em qual sequência ia mostrar na noite, mas tinha me irritado tanto naquele final de tarde que quase esqueci.

— Cara, por pouco eu me lembrei. — cocei a cabeça. Soltei um suspiro frustrado, também, sem acreditar que aquela idiotice me fez esquecer algo que eu gostava tanto. Olhei para Jeongguk, revisando a merda do meu dia, e ele continuava expressando a preocupação de horas atrás.

Pensei em pedir desculpas, já que mesmo que eu fosse o mais velho, era ele que sempre acabava cuidando de mim.

— Sem problemas, eu só quero saber se você vai. — Ele abriu um sorrisinho de lado.

Eu juro que não sabia o que estava fazendo quando, por um momento, hesitei em responder um sim.

Meu subconsciente queria deixar que Hoseok me subisse a cabeça de novo.

Que merda de autocontrole.

Tanto faz se dói, se ele continua me confundindo ou se vai ficar nessa de espreitar minha vida de longe como se estivesse em uma missão secreta. Eu ainda tenho meus amigos, meu skate e a mim mesmo. Hoseok vai precisar de bem mais do que um olhar raivoso se quiser se aproximar.

— Você pode ficar em casa se não estiver se sentindo bem...

— Enlouqueceu? — Interrompi, tomando um choque de realidade. Jeongguk arqueou as sobrancelhas estranhando meu ânimo repentino. — É claro que eu vou. Ou você acha que eu pratiquei atoa, pestinha?

Jeongguk me olhou por um bom tempo e depois deu risada, passando a mochila nas costas, satisfeito pelas minhas ideias pessimistas terem dado trégua.

— Se eu fosse seu oponente na batalha de hoje, Jimin, você já estaria derrotado. — Debochou.

Dei de ombros e esperei ele montar no longboard.

— Quem disse que a gente precisa da batalha pra você perder? — Retruquei, em forma de indireta. Jeongguk mordeu o lábio e aceitou o desafio de bom grado - ele tem como característica principal a mania louca de não aceitar derrota alguma.

Então, assim que o sinal vermelho da rua acendeu, ganhava quem chegasse primeiro no bairro dele sem capotar nenhuma vez.


Notas Finais


ai cuzao
ta chatinho ne hoseok nem ta aparecendo tanto mas no proximo isso muda totalmebte kkkjjj


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