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História SKIN CURE - A Cura Fica Na Pele - 3. Axel


Escrita por: Markz

Notas do Autor


Terceiro capítulo...

Capítulo 3 - 3. Axel


Fanfic / Fanfiction SKIN CURE - A Cura Fica Na Pele - 3. Axel

    DE INÍCIO, TUDO PARECE UM BORRÃO, UMA IMAGEM LARANJA com alguns círculos luminosos. Leva alguns segundos para minha visão entrar em foco. Trata-se do teto de uma sala.

    Viro, lentamente, a cabeça para o lado e sinto minhas têmporas doerem como se algo espremesse minha cabeça até a massa encefálica sair pelas orelhas. Não há janelas no cômodo, só uma porta com um retângulo de vidro que oferece a visão um pedaço do exterior da sala, mas não preciso ir até lá para descobrir onde estou. Os meus trajes e a aparelhagem disposta ao lado da minha cama já me informam isso. Estou no hospital da sede de agentes.

    Fecho os olhos e, por um breve momento, sinto a dor na minha cabeça cessar, mas ela retorna assim que volto a abri-los. Analiso minha situação e constato que, com exceção da minha dor de cabeça e um ferimento coberto por curativo no meu supercilho, não há mais nada de errado comigo.

    Por fim, levanto da cama, meus pés descalços tocam o chão liso e frio enquanto caminho em passos descoordenados para fora do quarto.

    Percorro um corredor extenso e paro em frente a uma porta, através do vidro vejo alguém deitado. Alguém familiar. Apenas na fisionomia, pois a expressão que transparece em seu rosto, estou certo de que nunca vi antes.

    Com um semblante frustrado, Brooks fita o teto com os olhos marejados por lágrimas que ele parece ter passado horas retendo. Pouso a mão sobre a maçaneta e empurro a porta, entrando no quarto. Brooks não se move, nem faz menção à minha presença. Por um minuto inteiro, tudo o que se ouve são os barulhos da aparelhagem do outro lado da cama. Um conjunto de botões, cabos, luzes e monitores. A luminosidade do quarto é igual à do que acabei de deixar. Um tanto amarelada e faz parecer que a pele dele está envolta em bronze.

    Violo o silêncio que se instala no recinto.

    — Você está bem? — pergunto.

    Brooks está em silêncio e permanece na mesma condição por cerca de meio minuto, quando, enfim, responde, diz:

    — Estou acabado... — Ele fala com os lábios molhados pelas lágrimas que finalmente deixou rolar pelo rosto.

    — O quê? Do que está falando?

    — Não posso mais continuar, Reed. Estou fora do esquadrão. Nesse momento, devem estar acrescentando um novo dado no meu registro de agente. Um grande e vermelho inválido. — diz, a dor em suas palavras faz elas soarem como se estivessem carregadas de chumbo. Peso puro.

    — Gostaria de ter feito mais do que fiz antes de ter me tornado um zero à esquerda.

    — Não fale assim, Brooks. Isso não acabou. Quando sair daqui, tudo voltará a ser como era. Você vai ver.

    — Não, não vai.

    — Você vai mesmo deixar um fracasso te definir?

    — Jamais poderei ser lembrado por outra coisa.

    — Prefere continuar como um covarde?

    — Eu não posso mais andar, Reed! — exclama Brooks, agora olhando diretamente para mim.

    — O quê? — pergunto, minha voz soa quase inaudível.

    — Um tiro que eu levei atingiu minha coluna e rompeu a medula óssea e o outro prejudicou meu sistema respiratório, estou respirando graças aos aparelhos. — fala, apontando um sistema ultramoderno. — Não posso mais caminhar. Sou um peso morto.

    — Você é um herói. Alguém que lutou por uma causa.

    — E que fracassou em todas as tentativas.

    — Suas intenções já fizeram de você um exemplo. Isso não basta pra você? — pergunto.

    — As intenções nunca transcendem os fracassos. No final, você sempre será criticado por alguém. Apontado não pelo que fez, mas pelo que não pode fazer.

    — As pessoas só criticam quem elas não conseguem alcançar.

    — Isso é só uma das muitas filosofias que os hipócritas usam para mascarar a verdade em uma tentativa desesperada de se sentirem secretamente admirados ou, até mesmo, invejados. Mas na realidade, todo mundo se acha melhor que todo mundo. A diferença é que alguns deixam transparecer e outros escondem isso debaixo de uma camada de falsa modéstia. — diz Brooks se acomodando na cama outra vez e recuperando o fôlego.

    — Então me diga, se as pessoas irão criticá-lo independente do que faça, que diferença fará se você conseguir ajudar a erradicar o VC? — questiono.

    — A diferença é que comigo condenado a uma cama ou a uma cadeira de rodas, eles realmente terão razão para me criticar. — diz ele encarando o teto.

    — Você pode pensar o que quiser. Para mim, você continua sendo um herói. E ainda seria mesmo que tivessem amputado suas pernas.

    — Eu preferiria estar morto a me encontrar nessas condições. — fala, sua voz soa rouca.

    — Você tem ideia da carga de idiotice presente no que acabou de falar, Ewan Brooks? — pergunto, alterando a voz.

    — Dispenso sua bravata, Reed. Já perdi o controle das minhas pernas, alguém censurando a minha língua é a última coisa de que preciso no momento. Agora, se não se importa, gostaria de ficar sozinho.

    Brooks vira o rosto para o outro lado e eu me dirijo à saída.

    

---

    

    Quando retorno ao meu quarto, há uma pessoa nele, de pé. Próxima à cama. Uma mulher de postura rígida, vestida em tons neutros sem nenhum fio de seus cabelos negros fora do lugar. Ela parece ter notado minha presença, porque se vira para mim com um semblante sério. Seus lábios traçam uma lina reta em seu rosto e seus olhos me encaram com uma expressão de pena e preocupação. Odeio quando ela me olha assim, aliás odeio quando ela me procura.

    — O que está fazendo aqui? — pergunto.

    — Me informaram que mais um comboio em que você estava sofreu ataque. Fiquei preocupada. — diz ela, ainda com o odioso olhar fixo em mim.

    — Se preocupou em vão. Como pode ver, não foi nada demais.  Obrigado pela visita, foi muito prazeroso ter você aqui. — ironizo. — Agora pode ir.

    — Axel, não precisa agir dessa forma comigo.

    — O que é que você quer? Não me diga que seu marido teve um surto de bom senso e se divorciou de você. É isso? Agora você está desesperada por alguém que tenha uma vida pra você controlar? Sinto em dizer, mas não vai ser a minha. Mas como sou alguém legal e hoje me sinto, particularmente, agradável, vou te dar uma sugestão. — falo. — Sabe aqueles dois pequenos seres que você empurrou pra fora de si mesma há quatro anos? Eles são um excelente alvo para o seu cuidado demasiado.

    — Você continua extremamente arisco.

    — Funciona pra mim.

    — Eu só vim aqui pedir que você ouça a voz da razão. Quantas vezes vou precisar receber notícias em minha casa de que você sofreu ataque? Quantas vezes vou ter que me deslocar até aqui convivendo com a terrível possibilidade de que você pode ter morrido ou estar morrendo? — ela fala, agora com um tom condescendente, mas não menos odioso do que o olhar que ela me lançava ainda há pouco.

    — Depende. Quanto tempo mais vai fazer questão de se manter informada sobre mim? Garanto que quando parar de espionar minha vida, todas essas preocupações também irão parar. — rebato.

    — Você não acha que já tentou demais? Que já se arriscou demais? Eu me preocupo com você, Axel, ainda que rejeite isso. Vim aqui guiada por meu amor por você, pra te aconselhar a largar isso. — diz ela pousando sua mão leve e macia em meu ombro.

    — Sabe, quando saí da sua casa para vir morar aqui, foi justamente desses conselhos que eu queria fugir. Porque eu já não suportava mais a sua falta de crença e seu excesso de egoísmo.

    — Egoísmo? Eu quero que essa cura seja descoberta tanto quanto você. — ela alega com um tom imponente na voz, tirando a mão do meu ombro e caminhando pelo cômodo.

    — É, você quer a cura, mas não importa quantos tenham que morrer para conseguí-la desde que eu não esteja entre eles. — afirmo. — Não se atinge objetivos sem correr riscos nem sem a possibilidade de se sofrer perdas. Lamento em informar, mas você não está isenta disso.

    — Você é tão teimoso quanto o papai era. E você sabe o fim que ele teve por conta dessa teimosia. — apela ela.

    Me sento na cama, sorrio ironicamente com os olhos fixos no chão, ergo-os até ela que está parada próxima à porta e devolvo:

    — Você é tão imparcial quanto a mamãe era. E olha só, ela morreu antes dele, não foi?

    Ela recupera o fôlego para argumentar, mas ao que parece nada de significativo consegue se estruturar no raciocínio dela. Então ela simplesmente me olha com uma expressão brava.

    — Tchau, Axel. — Ela fala enquanto abre a porta para sair.

    — Tchau, Maryse. — digo, lançando a ela um sorriso insolente. — Beijo nas crianças, irmãzinha.

    Maryse se retira da sala e eu me deito na cama ainda com o sorriso insolente que se desfaz gradativamente conforme o cansaço vai se instalando pelo corpo e eu acabo cedendo a ele. Adormeço em questão de minutos.

 

---

 

    Acordo percebendo uma movimentação estranha, me sento na cama e esfrego os olhos para expulsar a sonolência. Não que faça muita diferença, o quarto está escuro. A única luminosidade vem através do vidro na porta, pessoas atravessam na frente dele em passos apressados. Me levanto e, ainda de maneira vagarosa, caminho até a porta. Quando a abro, uma onda de som invade meus ouvidos. Conversas paralelas e comentários proferidos em ritmo veloz se misturam por todo ambiente. Não sei como alguém consegue entender o que quer que seja no meio de todo esse falatório.

    Enfermeiras e médicos caminham pelos corredores e passam por mim como borrões brancos. Todos parecem estar indo na mesma direção. Então os sigo.

    Passo por vários corredores iluminados de maneira uniforme por lâmpadas florescentes, são tão iguais que acabo por perder as contas de quantos deles atravessei. Até que chego a um que possui duas portas brancas na outra extremidade. Ao lado da porta, há um tipo de leitor que irradia uma discreta luz vermelha. Depois que os médicos e enfermeiras passam para o outro lado, resta apenas eu e um homem vestido em um uniforme azul claro.

    Não levo muito tempo para reconhecê-lo. É Walter Gifford, o guarda mais insuportável da ala hospitalar. Do hall de entrada até a porta dos fundos da sede de agentes da Survivor Nation, ele é alvo de reclamações e resmungos difamatórios. Acredito que ele possua uma vida repleta de frustrações e, por causa disso, empenha-se em tornar a dos outros mais difícil. Não que a vida de qualquer cidadão que sobreviveu a tudo o que aconteceu a esse planeta condenado seja fácil em algum aspecto. Com metade dos sobreviventes definhando por conta de uma doença incurável e a outra parte apenas esperando a hora de se contaminar também, fica cada vez mais evidente que não há lado bom pra ninguém nas atuais circunstâncias.

    No entanto, acredito que estar ciente do que está havendo seja algo pelo qual vale a pena tentar dobrar Walter, então me aproximo dele.

    — Boa noite, guarda Gifford. — digo com o tom menos insolente que posso emitir.

    — O acesso é restito, Reeds. — fala de forma rude.

    Respiro fundo.

    — Sei disso. Pode, ao menos, me informar o que está acontecendo?

    — Isso é sigiloso. Você por acaso é médico? Não precisa responder, é uma pergunta retórica. — Me surpreendo por ele saber o que significa a palavra "retórica". — Você é um agente, então não pode ajudar em nada que está acontecendo do outro lado da porta. Então faça o favor de voltar para o seu quarto e desfrutar do seu tempo de folga proveniente de mais um de seus fracassos nas missões em que te escalam.

    Estou prestes a socar a cara dele quando alguém se aproxima.

    — Reed, estava à sua procura. — diz um homem usando um par de óculos quadrados e um jaleco. É o dr. Hallen, um dos responsáveis pelo setor de emergência doa ala hospitalar. — Preciso que me acompanhe. — fala ele caminhando até a porta e passando um cartão no leitor.

    — Claro, doutor. — digo pouco antes de me voltar para Walter. — É, parece que um agente pode ser relevante no setor de emergência, até mesmo um do tipo que fracassa, mas um segurança de corredor está destinado a ficar recolhido à sua insignificância pelo resto de sua vida miserável, Gifford. — concluo, dessa vez sem o mínimo esforço pra não ser insolente.

    Walter trinca os dentes tortos para mim e me lembro de um cachorro que nossa família tinha quando eu era criança. Só que o cachorro era mais bonito. Em seguida, sigo o dr. Hallen e adentro o setor de emergência.

    — E então, doutor, o que deseja falar comigo? — pergunto.

    — É um assunto delicado, Axel. E sei que você é uma das pessoas mais próximas, por isso decidi lhe informar. Nós tentamos de tudo, mas nada adiantou. Vamos noticiar a família assim que ele for liberado. — diz o dr. Hallen me encaminhando para uma sala onde vejo algo que me deixa seriamente perturbado.

    Estou diante de um cadáver. Brooks jaz na minha frente.

    Morto.

 


Notas Finais


Continua...


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