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História SKIN CURE - A Cura Fica Na Pele - 6. Damon


Escrita por: Markz

Notas do Autor


Sexto capítulo...

Capítulo 6 - 6. Damon


Fanfic / Fanfiction SKIN CURE - A Cura Fica Na Pele - 6. Damon

    O CASAL ME ENCARA AINDA COM DÚVIDA, TALVEZ ATÉ MAIS CONFUSOS DO QUE EU. A mulher se senta do outro lado da mesa de frente para mim e o homem se debruça sobre o encosto da cadeira onde ela está acomodada. A luz do sol entra pela janela à minha direita e ilumina o rosto de ambos. Nos olhos deles posso ver a dúvida a respeito do que está acontecendo.

    — Podem explicar novamente? — peço antes de mergulhar a cabeça entre as mãos e encarar a superfície áspera da mesa.

    — Já dissemos, você surgiu aqui no meio da noite há dois dias. — começa a mulher. Ela aparenta ter cerca de quarenta anos, seus cabelos castanho-escuros estão presos em uma trança e seus olhos da mesma cor do cabelo me olham como se eu fosse um órfão desamparado. — Não sabemos de onde veio nem o porquê de estar vagando por aí apesar das atuais circunstâncias.

    — Não sei se no seu estado atual, você está ciente disso, mas pessoas com suas... — O homem desliza o dedo pela pele do próprio antebraço enquanto busca palavras para completar o raciocínio. — características não acham seguro ficar perambulando por aí.

    — Você também não deveria. — acrescenta a mulher.

    — Eu sei disso. — asseguro. — Agora eu sei. Mas, entendam, tudo o que se passou nesses dois dias em que dizem que estive aqui... eu não sei explicar, mas eu não me recordo de nada.

    — Fletcher, ouça...

    — Eu me chamo Damon. — interrompo.

    — Bom, Damon... — A mulher gesticula dando ênfase quando fala meu nome. — o fato é que você sentou na nossa varanda tarde da noite e quando fomos até você, nos disse que se chamava Fletcher. Não foi, querido?

    — Sinceramente, eu já não sei de mais nada. — fala o homem coçando a cabeça repleta de cabelos grisalhos.

    — Nós abrigamos você aqui.

    — Escondemos você aqui! — corrige o homem.

    — Eugene! — repreende a mulher.

    — Pra quê tentar amenizar as palavras, Marion? É a verdade. Nós o escondemos.

    — Tudo bem, escondemos você. Mas você foi muito útil nos dois dias que passou aqui. Ajudou Eugene com os afazeres e me auxiliou na cozinha. — diz Marion.

    — Quando perguntamos o que o trouxe aqui, você disse que se perdeu do seu grupo. — conta Eugene.

    — Bom, parece que esse fato se tornou real. — falo, me levantando e indo até a janela de onde posso ver um pequeno campo e uma enorme estufa mais ao fundo. — Eu não faço a menor ideia de onde estou.

    — Você está no setor de agricultura de Rebuild, a capital da Survivor Nation. — afirma Eugene.

    — Na capital?! — exclamo, assustado. — Não, eu não posso ficar aqui. Os riscos são muito altos. Eu tenho que voltar e encontrar os outros. Eu tenho que ir embora daqui antes que eu acabe morto como os outros negros que foram capturados pelos agentes do governo.

    — Você não pode sair assim, Fletcher.

    — Damon! — corrijo.

    — Desculpe... Damon. — diz Marion. — Mas não pode ir embora. Não agora pelo menos.

    — Marion tem razão. — concorda Eugene. — Espere anoitecer, as chances de chegar com vida a onde quer que seja são mais altas se você sair à noite.

    Olho para o casal. Apesar de não saber muito sobre eles, não me parecem pessoas de má índole. E me mantiveram vivo por dois dias, então acho que mais algumas horas não me farão mal.

    — Tudo bem. — digo. — Parto à noite, então.

    Marion sorri satisfeita e Eugene me encara com um olhar que mescla estranheza e humor. Eu me volto para a janela.

    — Ah, Damon? — chama Eugene.

    — Sim?

    — Pode me ajudar a terminar de carregar os sacos de batata para dentro do depósito? — pergunta. — Sabe como é, Fletcher começou a me ajudar, mas ele foi embora meio que de repente.

    Marion sorri e eu também.

    — Posso, sim. — falo seguindo ele para fora da casa.

    

ÄÄÄ

 

    Quando a hora já está bem avançada, estou pronto para deixar a casa de Marion e Eugene. Estou usando uma camisa cinza claro, uma calça preta e um par de botas, Marion gentilmente lavou as roupas que eu estava usando quando cheguei aqui e as colocou em uma mochila que penduro em um dos ombros.

    — Damon. — diz Marion na entrada do quarto.

    — Pois não?

    — Acho melhor vestir isso. — diz Marion estendendo um casaco com capuz para mim. — Pode ajudar você a não ser notado.

    — Obrigado. — falo pegando o capuz.

    Visto ele enquanto desço as escadas. Eugene está de pé no hall de entrada da casa e Marion desce as escadas bem atrás de mim.

    — Acho que isso é um adeus. — digo. — Eu não tenho nem como o que fizeram por mim.

    — Não precisa. Também fez muito por nós. — afirma Marion.

    Assinto e caminho em direção à porta, mas antes de sair, me volto para o casal.

    — Posso fazer uma última pergunta?

    — Isso já é uma pergunta. — contesta Marion sorrindo e eu retribuo o sorriso.

    — Fique à vontade. — fala Eugene colocando o braço em volta do ombro da esposa.

    — Porquê não me entregaram aos agentes? Quer dizer, seria uma chance de encontrarem a cura para a doença que atormenta o povo de vocês.

    — Nós não concordamos com essa realidade, Damon. — diz Marion. — Não gostamos de saber que vivem oprimidos, se escondendo.

    — É. Não nos achamos no direito de tomar de vocês o direito de fazer escolhas, de usá-los apenas como instrumento para solucionar os nossos problemas. E acreditamos que o verdadeiro vírus está em pensar de forma diferente da que pensamos. Se a humanidade vier a ser extinta, será por isso, não pela doença. — conclui Eugene.

    — Vocês são admiráveis! — exclamo para o casal que sorri. — Foi um prazer conhecê-los.

    Continuo caminhando em direção à saída.

    — Garoto! — diz Eugene e me viro para ele. — Verifique os bolsos da calça.

    Enfio a mão nos bolsos da calça até encontrar uma faca de caça igual à que Nancy usa para esfolar os animais. Eu olho para a faca e, em seguida, para Eugene.

    — Ganhei isso do meu pai. — conta. — Mas nunca precisei usar. Talvez seja mais útil para você. Caso enconte algum... animal pelo caminho.

    — Bom, mais uma vez, agradeço. — digo. — Espero poder vê-los de novo algum dia.

    Eugene e Marion assentem e eu retomo o caminho da porta. Dessa vez, não volto a parar.

 

ÄÄÄ

 

    Eugene e eu estudamos a rota que eu faria por horas para garantir que eu não me perderia no meio da cidade. Depois de tanto encarar o mapa que ele me mostrou, sei exatamente onde fica cada rua, cada beco e cada viela. Enquanto caminho de cabeça baixa com o capuz cobrindo parcialmente meu rosto, aproveito para observar o máximo possível de tudo. É muito diferente do que tudo o que já vi. Passei minha vida inteira me guiando por trilhas e marcando árvores grandes como referências pelos caminhos que fazia. Caminhar pelo asfalto nivelado é tão incomum pra mim que meus pés estranham o solo a cada passo.

    As pessoas passam por mim sem fazer a menor ideia de que há um negro entre elas. Acho que o que estou fazendo é tão insano e arriscado que chega a ser discreto. Continuo caminhando sem parar, mas tomando cuidado com a velocidade dos meus passos para não parecer apressado demais.

    Encaro as pontas das botas que Marion me cedeu e sigo adiante me aproximando do fim da avenida. Uma mulher passa por mim com um aroma que mistura canela com madeira. É bastante agradável. O cheiro se vai junto com a mulher e, então vem uma mão que toca meu ombro e traz meu coração para a garganta.

    — Com licença, senhor. — diz uma voz masculina enquanto a mão sai do meu ombro. Minhas mãos já estão enterradas nos bolsos  desde que saí da casa de Eugene e Marion, mas agora a direita se fecha em volta da faca de caça que Eugene me entregou.

    — Pois não? — digo sem me virar e me perguntando o que eu estava pensando quando respondi ao homem.

    — Sabe onde fica a rua 54? — pergunta ele, solto o ar dos pulmões e deixo o nervosismo ir embora junto.

    — Desculpe, mas não. — minto, sei onde fica a rua, mas não vou ficar dando informações para alguém que pode ser o pivô da minha morte.

    — Tudo bem, obrigado. — diz a voz e em seguida ouço seus passos seguindo para longe de mim.

    Continuo caminhando e alcanço o fim da avenida, dobro a esquina e me vejo em uma rua deserta. Caminho a passos mais rápidos e tiro as mãos dos bolsos pois o calor delas estava começando a me incomodar. A iluminação da rua é fraca, então não dá pra notar direito a cor da minha pele, mas isso não tem peso nenhum quando ouço passos além dos meus. Enfio as mãos nos bolsos novamente. Pelo limite do capuz posso ver dois homens fardados como soldados vindo na direção oposta a mim. Sigo caminhando de cabeça baixa e eles passam por mim. Por alguns segundos acredito que me livrei, mas o som dos sapatos no concreto cessa e noto que eles pararam de andar. Em seguida a voz de um deles me invade os ouvidos:

    — Ei, você!

    Eu paro de andar e volto a ouvir os passos deles caminhando até mim.

    — Pode se virar por favor? — pede o outro soldado.

    Sinto meu corpo gelar e ficar dormente como se meus sentidos estivessem sendo entorpecidos. Meus pés começam a me virar e o resto do corpo acompanha o movimento deles, mas antes que eu me volte para os soldados, ouço uma terceira voz.

    — Primo!

    Outra mão que toca meu ombro.

    — Eu já falei para você que moro na rua seguinte. Preciso urgentemente mostrar a cidade para você antes que acabe perdido por aí. — O homem fica de frente para mim. Ele olha com uma expressão de humor tão boa que eu acreditaria nela se não tivesse a certeza de que nunca o vi na vida. — Você precisa sair mais de Reborn. Andar pelas outras cidades. Conhecer os lugares. Já te falei isso.

    Ouço os soldados se afastando. Desistiram de falar comigo. Quando já estão a uma certa distância, o semblante do homem migra de humor para serenidade total. Ele aparenta ter a mesma idade que eu. Se for mais novo, não tem menos que vinte, se for mais velho, no máximo vinte e três. Tem cabelos pretos e pele parda, não dá para definir ao certo cor de seus olhos, mas creio que sejam castanhos, é um pouco mais baixo que eu, porém é forte.

    — Eles já foram. — diz. — Foi por pouco!

    — Obrigado. — agradeço e estou prestes a continuar meu caminho tomando o dobro de cuidado quando sinto a mão do homem no meu tórax me impedindo de seguir adiante.

    — Não agradeça ainda. Você vem comigo. — afirma o homem.

    — E quem garante isso? — questiono olhando nos olhos dele.

    — Ele. — responde o homem pressionando algo contra meu estômago. Não preciso olhar para baixo para saber que se trata de um revólver. Discretamente, vou puxando a faca de dentro do bolso, mas antes que eu a retire por completo, a mão livre o homem agarra meu pulso. — Não vamos dificultar as coisas, ok?

    Ele pega a faca da minha mão e a enfia no bolso dele, em seguida, baixa a arma.

    — Me acompanhe. — fala ele, quase como uma ordem.

    — Eu não recebo ordens. — digo, com os dentes semicerrado.

    — E escolhas? Você faz? — indaga ele. — Você tem uma diante de você agora mesmo. Vir comigo — Ele aponta para si mesmo com o revólver — ...ou ir com eles. — conclui apontando a direção por onde os soldados seguiram.

    Fico imóvel por alguns segundos, apenas olhando para o homem. Mas por fim, sigo o desconhecido pela rua escura.


Notas Finais


Continua...


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