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História Skins - New Generation - S08E05 - Gwen


Escrita por: VOFLucas

Capítulo 5 - S08E05 - Gwen


Fanfic / Fanfiction Skins - New Generation - S08E05 - Gwen

Eu soube que aquele fim de semana me traria problemas no momento em que o professor Carlson anunciou o acampamento. Porque: 1) eu queria muito ir. Todo mundo ia estar lá... Era um lugar longe da cidade, com piscina, campos, lagos, patos, ar fresco, árvores e muita paz. Bem, pelo menos foi assim, quando o pessoal da igreja nos levou até lá, no ano passado. De qualquer maneira, era um lugar incrível. E 2) eu tinha certeza de que meu padrasto não me deixaria ir.

Existe também um terceiro “porquê”, mas este é quase impossível: caso meu padrasto me deixasse ir, seria com muita chateação e agressões – físicas e verbais.

Mas eu estava disposta a arriscar...

Assim que a aula de inglês acabou, guardei meus materiais e deixei que todos os alunos saíssem da sala, antes de ir conversar com o professor Carlson. Pigarreei, me sentindo sem jeito. Afinal, eu ia pedir um favor imenso, e aquilo parecia tão ridículo.

- Professor?

- Sim, Gwendoline? – ele ergueu os olhinhos pequenos para mim.

- Eu queria muito ir ao acampamento, mas... – hesitei um pouco, baixando os olhos para os meus próprios pés. – meu padrasto é meio... preocupado demais, entende? Ele não me deixaria ir, se eu pedisse. Então, pensei que, talvez, se o senhor ligasse pra ele...

- Oh, sim – o professor Carlson sorriu, assentindo com veemência. – Não se preocupe. Eu farei isso por você. A propósito, Gwendoline, não deixe que as pessoas a maltratem... Você é uma garota muito inteligente, com potencial para ser uma mulher extraordinária. Não precisa se arrastar aos pés das outras garotas...

Eu encolhi as mãos junto ao peito, corando. Aquelas palavras foram as mais bonitas que alguém já disse a mim. Diferente dos textos bíblicos, que também achava maravilhosos, mas que eram destinados a todos que quisessem ouvir... aquelas palavras foram ditas diretamente para minha pessoa. Um elogio.

- Gwen, sua vaca lerda! – berrou a voz de Emma, de repente. – Por que está demorando tanto?

Despertei-me de meu devaneio e dei um meio sorriso ao professor, como de quem pede desculpas. Ele olhou-me com uma severidade que nunca havia visto nele.

- Você não precisa... – disse ele.

- Ela é minha amiga – eu disse, antes de me afastar com passos rápidos. Emma me aguardava do lado de fora da sala, com aquele celular nas mãos.

- Ele estava dando em cima de você, ou o quê? – quis saber ela, quando começamos a andar pelo corredor movimentado do Roundview College.

- Não é nada disso... – eu corei, sem olhá-la.

- Sei.

Emma podia ser aquela garota loira, linda, com uma casa invejável e um namorado disputado, mas tinha uma maldade irrefreável dentro de si. Às vezes era divertido tê-la por perto. Às vezes era desagradável. Naquele momento, estava sendo desagradável...

Eu me tornei sua amiga apenas por causa de Felicia. Ela sim era uma pessoa agradável. Sempre me tratou melhor que Emma. E agora, Felicia estava irreconhecível. Ainda me tratava bem, quando eu me aproximava para conversar, mas era apenas isso. Ela parecia, agora, uma lésbica drogada – misericórdia!

- Você vai ao acampamento? – perguntei a Emma, quando entramos no banheiro feminino.

- Claro – ela me passou sua bolsa, como era de costume, e aproximou-se do espelho, jogando a franja loira para trás. – Liam e Ben vão levar bebidas, e vou comprar um pouco de erva daquela nova amiguinha da Licey. Vai ser bem divertido! – ela estendeu a mão, e eu lhe passei o batom, que ficava em um dos bolsinhos de sua bolsa. – Você deveria ir... E ficar chapada com a gente.

- Eu quero – eu disse, sem pensar. Mas logo repliquei: - Ir ao acampamento, digo...

- Hmm – Emma olhou-me de esguelha, enquanto escorregava o batom rosa pelos lábios. – Você pode dizer ao seu padrasto que vai dormir lá em casa, esse fim de semana.

- Isso é mentira...

- Eu sei – Emma revirou os olhos. – Mas pelo que bem conheço daquele fanático, você não colocará os pés pra fora do quarto, se disser a verdade.

Fitei-me no espelho, refletindo sobre suas palavras. Emma estava certa. Meu padrasto só me deixava ir aos retiros da igreja porque estava o tempo todo por perto, me supervisionando... Caso eu vestisse um short, ou uma blusa sem mangas, para entrar na piscina, ele berrava meu nome com uma ferocidade espantosa e me fazia vestir a saia longa e o casaco mais uma vez. Ir a um acampamento com meus colegas, sem sua presença, com certeza o faria pensar que eu me desvirtuaria, de algum modo.

- Eu pedi ao professor Carlson que conversasse com ele – disse eu, por fim.

- Coitado do professor – Emma deu de ombros, pegando a bolsa de minhas mãos. – Não queria estar na pele dele.

Saímos do banheiro e continuamos seguindo o corredor para a saída da escola.

- Gwen Esquisita! – berrou alguém, passando por nós rapidamente. Não reconheci o garoto. Mas ele olhou pra trás e fez um gesto obsceno com a língua e os dedos.

Encolhi os ombros, num gesto defensivo que virara rotina.

- Antes ser esquisita do que tapado, idiota! – gritou Emma, alvoroçando-se. – Vai se ferrar!

- Tá tudo bem, Emma – eu sussurrei, tentando tranquilizá-la.

- Que cara mais idiota... – resmungava ela. – E ele acha que aquele cabelo laranja não é esquisito? Pelo amor de Deus... Queima-rosca!

 Quando passamos de frente à sala da diretora, a porta se escancarou e Chad Cooper saiu por ela, com uma expressão preocupada. Tinha gotas de suor escorrendo por baixo de seu boné de aba reta. Às suas costas, a diretora ajeitava os seios dentro do macacão rosa-choque.

Ele pareceu sem jeito, quando nos viu, e apenas acenou com uma das mãos. Baixei a cabeça, sentindo minhas bochechas corarem e o coração disparar. Isso sempre acontecia quando dividíamos o mesmo ambiente. Sabia que parte daquilo era paixão, desejo carnal... A outra parte era algo bem mais negativo.

 De qualquer maneira, não gostava de pensar nisso.

...

 

Eu ia para casa a pé todos os dias. Gostava daqueles vinte minutos de caminhada pelas ruas de Bristol. Colocava fones nos ouvidos e ouvia canções que meu padrasto não me permitia ouvir no som de casa. Não que fossem músicas promíscuas ou satânicas. Apenas não tinham vínculo com a igreja e isso, para ele, era blasfêmia.

Gostava de observar as roupas nas vitrines, e me imaginar dentro delas. Gostava de observar as crianças brincando, sob os olhos descuidados dos pais. Comprava pipoca da senhora Parker, que tinha uma barraquinha na praça do nosso bairro. Dividia minha pipoca com alguns pássaros... Eram os vinte minutos mais agradáveis de todo o meu dia.

Sim, porque, na escola, eu era a esquisita, a virgem, a fanática, a brega, a feiosa... Em casa, eu era a empregada, a babá, a filha de outro cara, pecaminosa e desobediente... Mas, na rua, ninguém me importunava. Ninguém apontava e ria. Ninguém ligava para ninguém, na verdade.

Eu morava com meu padrasto e meu meio-irmão desde que minha mãe morrera num acidente de avião, há quatro anos. Naquela época, éramos uma família feliz. Mamãe sabia manter as coisas calmas, nos eixos... Mas, depois da tragédia que lhe tirou a vida, meu padrasto mudou drasticamente, e se tornou o fanático religioso que hoje me aguarda quando eu entrar em casa.

Meu meio-irmão, Will, é dez anos mais novo que eu, e não se lembra da mamãe, e de como as coisas eram naquela época. Então, pra ele, meu padrasto é incrível, é íntegro, honesto e correto em tudo o que faz...

Apanhei uma florzinha que achei junto à calçada e coloquei-a no cabelo. Era tão lindinha! Então, respirei fundo, e segui com passos vacilantes até a porta da minha casa. Tirei os fones dos ouvidos. Entrei.

Meu padrasto estava na sala, usando o uniforme apertado da oficina em que trabalhava. A TV, ligada em um canal cristão, tinha um volume alto, a voz do pregador soando rascante.

- Benção – pedi, passando por ele, de cabeça baixa.

- Gwendoline – chamou-me num tom grave.

Entanquei, sentindo a boca secar. Dei uma olhadela por cima do ombro.

- Senhor?

- Sente-se.

Eu assenti, ainda sentindo a boca seca, e minhas pernas vacilando como macarrões amolecidos. Virei-me e me sentei no outro sofá.

- Tire essa coisa do seu cabelo – disse ele, olhando-me com os olhos injetados. – A vaidade não vem de Deus, você sabe.

- Sim, senhor – com pesar, tirei a florzinha do meu cabelo, envolvendo-a com ambas as mãos. Aguardei. Sabia que viria mais coisa. Sabia que havia dado tempo de o professor Carlson ter ligado pra ele, pedindo permissão para ir ao acampamento. Mentalmente, comecei a orar, pedindo a Deus que amolecesse seu coração, e que ele me deixasse ir. Pelo menos daquela vez...

- Conversei com seu professor de inglês.

Silêncio.

- Você não vai a esse acampamento.

- M...

- Você não vai e pronto! – interrompeu-me ele, levantando a voz. – Esses acampamentos escolares são os berços dos pecados, da fornicação, dos vícios! Esses adolescentes endiabrados vão fazê-la virar um deles! Vão induzi-la a beber, a se prostituir, a ouvir e dançar músicas seculares! Você se tornará mais uma Jezabel!

- Não, senhor... Eu... eu nunca faria nada disso, o senhor sabe! Eu convivo com eles todos os dias, e isso nunca aconteceu...

- Será?

- É claro! – eu exclamei, indignada. – Por favor, eu quero muito ir...

- Pra que você quer tanto ir? O que há lá que tanto te atrai? Vão fazer grupos de oração? Vão fazer vigílias com hinos ao nosso Senhor? É claro que não! É claro que você quer entrar na brecha para pecar... Mas não vou permitir isso! Sua mãe não ia querer te ver como uma garotinha promíscua e vulgar, que se deita com rapazes imundos, derramando a semente da prostituição!

- Mamãe sabia que eu não sou essa garotinha que você está dizendo...! – retruquei, ainda mais indignada, as lágrimas ameaçando rolar dos meus olhos.

- Estou indo trabalhar – disse meu padrasto, ignorando-me. Levantou-se e desligou a TV. – Não se esqueça de buscar seu irmão na escola. E já chega desse assunto. Você não vai, e ponto final.

Baixei os olhos, as lágrimas agora rolando pelo meu rosto. Ouvi a porta bater quando ele saiu, e só então eu me permiti chorar em voz alta. Tive vontade de gritar de frustração, mas não fiz isso. Apenas deitei-me no sofá, abraçando uma almofada com força, enquanto as lágrimas rolavam.

...

 

Na manhã seguinte, eu estava muito deprimida. Tomei café, levei meu irmão à escola, em silêncio, e caminhei até o Roundview sem qualquer vontade. Era uma daquelas manhãs em que eu não agradecia a Deus por mais um dia... na verdade, eu questionava o porquê.

Sim, apesar de tudo, eu creio em Deus. Não o culpo pelo comportamento do meu padrasto, não o culpo pelas coisas que me acontecem, e não acho que seja antiquado crer em sua existência. Eu tive experiências maravilhosas com Ele, que superam qualquer situação desagradável em casa. Então, eu sei que as coisas que o meu padrasto diz são exageradas. São sem fundamento. São extremistas. Existem pessoas que agem da mesma forma e não são praticantes de nenhuma religião, então...

De qualquer maneira, crer Nele me permitia questioná-Lo.

E, naquela manhã, eu estava assim.

Sentei-me no gramado, sozinha, sem vontade de me juntar aos meus amigos, e fiquei observando o céu. Os estudantes começavam a chegar em seus carros, em suas roupas da moda, com sorrisos mascarados, e uma alegria duvidosa. Pareciam tão superficiais.

Então, sem que eu percebesse, Felicia sentou-se ao meu lado, dando-me um empurrãozinho de leve com o ombro.

- Oi – disse ela, com um sorriso sincero.

- Licey! – ela me abraçou pelos ombros, o rosto espremido contra o meu.

- Tudo bem?

- Tudo – eu respondi, sorrindo também. – E você?

- Ah, eu estou ótima – Felicia deu de ombros, colocando uma mecha do cabelo escuro e ondulado atrás da orelha. – Sinto sua falta...

Aquilo fez meu coração amolecer.

- Eu também.

- Sente mesmo? Por que ainda anda com aquele povo?

Eu ri do tom teatralmente enojado em sua voz.

- Foi você quem me abandonou – retorqui.

- Você dizendo assim, eu me sinto culpada.

Nós duas rimos e, depois, ficamos em silêncio. Desviei os olhos para onde Emma estava sentada com Liam, Chad e Ben, e percebi que eles nos observavam.

- Você vai ao acampamento? – perguntou Felicia, tocando na minha ferida.

- O que acha?

- Padrasto?

- Isso.

- Gente, que cara opressivo! – exclamou ela, indignada. – O que ele acha que vai acontecer? Que você vai ficar drogada, e liberar geral pra todos os garotos que estiverem lá?

- É exatamente isso – eu dei um sorrisinho entristecido.

- Não, não vamos permitir que ele te controle dessa maneira!

- O que eu posso fazer?

- Desobedecer... Pelo menos uma vez na vida, Gwen! Deus não vai mandá-la para o inferno por causa disso.

- Melhor não...

- Gwen, ele precisa entender que você é uma garota responsável – Felicia revirou os olhos. – Você já tem 17 anos! Até quando ele vai prendê-la? Até você se casar e sair de casa? Francamente!

Eu contive um risinho amargo, observando-a se alterar.

- Você mudou – eu observei.

- Graças a Deus – Felicia atenuou a expressão indignada, sorrindo. – E você também precisa mudar. Não digo ser como as outras garotas, porque, realmente, você é bem melhor que elas. Mas... você precisa passar a ter vontade própria. Ter vida própria!

- Mas eu tenho – argumentei, sem soar muito convicta.

- Essa é a vida que você queria para si mesma? – Felicia ergueu uma sobrancelha, fitando-me.

Hesitei pouco tempo, antes de balançar a cabeça negativamente.

- Então! – exclamou ela. – Você vai a esse acampamento!

- Como? – suspirei.

Felicia mordeu o lábio inferior, pensativa, os olhos castanhos correndo pelos alunos que circulavam a nossa volta, sem realmente vê-los.

- Fugir? – sugeriu ela.

- Não – mesmo se eu quisesse muito, nunca faria aquilo. Não teria para onde ir, após o acampamento, já que meu padrasto sempre me alertara de que não me receberia de volta em casa, se algum dia eu o desobedecesse.

- É claro que não – Felicia empurrou-me com o ombro mais uma vez, bufando. – Hmm...  Então vamos até a sua casa hoje. Eu e Yaz. Vamos nos sentar com seu padrasto e conversar...

- Isso não é uma boa ideia.

- Ele não vai te maltratar na nossa frente.

- Você quem pensa...

- Vamos protegê-la. Somos testemunhas de sua integridade e de sua pureza. Vamos convencê-lo de que você é responsável o bastante para ir a outro lugar que não seja a escola e a igreja por conta própria. Combinado?

Eu a observei por um tempo, impressionada com sua determinação em me ajudar. Até me senti um pouco mal por isso. Mas, no fim das contas, dei de ombros e forcei um sorriso.

- Podemos tentar...

- Ótimo!

...

 

Eu havia acabado de pôr a mesa de jantar, quando a buzina soou lá fora. Meu padrasto resmungou alguma coisa, e eu me apressei a ir atender a porta, com o coração palpitando de nervosismo. Passei por Will, e afaguei sua cabeça, num gesto automático, antes de girar a chave e me deparar com Felicia e a garota asiática, que, naquele momento, usava uma boina – provavelmente para esconder o cabelo colorido, que escandalizaria meu padrasto.

As duas estavam muito bem vestidas. E aquilo fez um riso estrangulado formar-se em minha garganta. Estavam tentando impressionar.

- Olá, Gwen! – exclamou Felicia, radiante, me abraçando. Seu cabelo estava partido ao meio, de modo que a parte raspada de sua cabeça ficasse oculta.

- Oi – disse a menina asiática, acenando. Parecia desconfortável.

- Entrem, por favor – eu disse, afastando-me da porta para que elas entrassem. – George, essas são minhas colegas...

- Felicia e Yazuko – interrompeu-me Felicia, como se adivinhasse que eu não saberia o nome da asiática. – Acho que já nos conhecemos.

Meu padrasto franziu a testa, os olhos correndo pelas duas e de volta para mim. Eu quase podia ouvir seu cérebro trabalhando ruidosamente, tentando descobrir por que elas estavam em sua casa.

- Elas vieram conversar – eu disse. – Sentem-se, meninas... Fiquem à vontade. Querem beber alguma coisa?

- Água, por favor – pediu Yazuko. – Só bebo água, a bebida mais saudável que existe!

Tentei não franzir o cenho, enquanto me afastava para buscar a água. Às minhas costas, ouvi Felicia comentar sobre o quão interessante achava as palestras daquele pregador que passava na TV. Elas estavam se esforçando demais...

Voltei com a água, e me sentei ao lado de Felicia, sentindo os olhos desconfiados de meu padrasto em mim.

- Então, viemos aqui conversar sobre Gwen – disse Felicia, com naturalidade. – O senhor precisa deixá-la ir ao acampamento desse fim de semana.

Que direta!

- Se for sobre isso que querem conversar, nem precisam gastar saliva...

- Mas o senhor tem entender que Gwen precisa de uma vida! Precisa de liberdade, que é bem diferente de libertinagem, veja bem. Não pode prendê-la aqui para sempre! Ela é uma garota tão meiga, tão doce, tão pura, que eu duvido muito que um fim de semana com os colegas de sala vá corromper seu caráter.

- A Bíblia diz para não nos sentarmos à roda dos escarnecedores – recitou meu padrasto, numa ferocidade perigosa. – Ela não vai se misturar com esses adolescentes mundanos, que escarnecem da Palavra de Deus e se afogam nas impurezas oferecidas pelo diabo.

- Mas lá nem vai rolar bebida, nem drogas, nem... – começou Yazuko, interrompendo-se após uma olhadela furtiva de Felicia.

- A questão é: somos testemunhas de que Gwen é responsável o bastante para ir para esse acampamento. Convivemos com ela todos os dias, desde... sei lá, anos. Sabemos que ela não é nenhuma garota rebelde e desesperada por coisas mundanas, como o senhor pensa. Se esse fosse o caso, ela já teria fugido de casa...

- É – confirmou Yazuko.

-... mas, ao invés disso, ela prefere obedecer. E é por isso que estamos aqui. Como amigas dela, queremos muito que ela vá e se divirta conosco, sem ter que desobedecer ao senhor. Os professores vão estar por perto. Existem regras lá. Muita disciplina. Não acho que deva se preocupar. Gwen já tem idade e maturidade o bastante – até transbordante –, para se responsabilizar por seus atos e ir a eventos escolares sem sua proibição.

- Exatamente – concluiu Yazuko, com um ar de sabedoria.

O silêncio que se seguiu foi alarmante. Eu mantive os olhos baixos o tempo todo, mas tinha certeza de que meu padrasto estava me observando, fervendo de raiva, por submetê-lo àquela situação. Engoli em seco. A única voz que se ouvia era a do pregador suado na TV.

Então, ele suspirou e disse:

- Que seja, então.

Aquilo foi um choque pra mim. O gelo em minhas entranhas derreteu, e eu tive de erguer os olhos para olhá-lo. Tão fácil, tão rápido!

- Você vai a esse acampamento – continuou ele, a pele corada como um tomate murcho. – Mas não me responsabilizarei caso você se corrompa por lá, e vire hospedeira das impurezas de Satã.

- Oh, isso não vai acontecer! – garantiu Felicia, radiante.

E foi apenas isso. Mais nenhuma recomendação, nenhuma palavra, nenhum olhar acusador. Ele simplesmente levantou-se e foi até a cozinha, jantar, deixando-me à sós com Felicia, Yazuko e Will, que parecia tão chocado quanto eu.

Não tive tanta liberdade para agradecê-las... Pelo menos não tanto quanto queria. As abracei com força, dizendo o mais sincero dos muito obrigados, e Felicia disse que no dia seguinte, sairíamos para fazer compras. Eu não objetei.

Subi para o meu quarto, sentindo-me imensamente feliz, e agradeci a Deus por ter amolecido o coração de meu padrasto. Ainda não acreditava que aquilo estivesse mesmo acontecendo! E, ao mesmo tempo em que O agradecia, uma pontada de culpa me incomodava, devido a algumas coisas que Felicia dissera para me defender e que não era totalmente verdade.

Olhei para o notebook em cima da escrivaninha, e fui até ele. Certificando-me de que Will não estava por perto, entrei na internet e excluí uma das contas que eu usava com uma frequência vergonhosa: a com o nickname Rose Pussy. Excluí também todos os vídeos que Chad mandara para mim, sem saber que era eu do lado de cá da tela do computador.

Fechei os olhos, sentindo-me ligeiramente mais aliviada.

A verdade é que eu não era assim tão pura... E nem tão responsável. Em momentos em que eu simplesmente não suportava mais a repressão abusiva de meu padrasto e queria escapar de todas aquelas regras e proibições, eu entrava em um site para adultos e trocava vídeos íntimos com Chad, usando o nickname Rose Pussy. Nunca mostrei meu rosto, é claro... Já Chad. Bem, Chad sempre foi afobado daquele jeito, então, desde o princípio eu sabia que era ele. Na verdade, eu o escolhi.

Eu sei que isso é doentio e muito perverso, e eu me arrependo muito de ter deixado um de seus vídeos vazar. Não foi minha intenção... Na verdade, eu me arrependo muito por ter começado tudo isso. E, naquele momento, em que eu me via tão agraciada por Deus, decidi que não podia mais continuar com aquele pecado de estimação. Seria uma afronta...

Por isso, excluí a conta e os vídeos; e o nickname Rose Pussy deixou de existir. 



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