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História Skins - New Generation - S08E06 - Dual


Escrita por: VOFLucas

Capítulo 6 - S08E06 - Dual


Fanfic / Fanfiction Skins - New Generation - S08E06 - Dual

-... os remédios precisam ser dados no horário, sem nenhum atraso – eu dizia, colocando as caixinhas em cima da mesa. – Esse é às sete da noite, esse às três da manhã, e essas gotas... se ele sentir alguma dor, misture quarenta delas com um pouco de água. Não mais que isso, tudo bem? Ah, e não deixe a janela aberta por muito tempo... O ar que vem de fora faz mal a ele.

- Tudo bem – assentiu a enfermeira, com um sorriso divertido nos lábios. – Não se preocupe, Dwight.

- Eu estarei aqui, querido – disse-me vovó, lá de sua poltrona. – Não vou deixá-la fazer nada de errado.

Eu sorri, desviando os olhos para a criaturinha murcha de cabelos brancos, que tricotava com as mãos trêmulas. Fui até ela e dei-lhe um beijo demorado na bochecha.

- Eu sei, vovó.

- Então não pegue tanto no pé da moça – disse-me ela, com ar de repreensão. – Assim ela vai se assustar...

Revirei os olhos para enfermeira, balançando de leve a cabeça. Vovó, como sempre, acreditando que eu estava desesperado por uma namorada.

- Tudo bem, eu vou indo agora – anunciei, correndo até o meu quarto. Peguei a abarrotada bolsa que eu havia preparado para aquele fim de semana, e dei uma olhada rápida pelos meus desenhos colados na parede. Rostos femininos e masculinos, cheios de expressão... Entre eles, um que eu havia feito por último e que vinha atraindo sempre minha atenção, desde que o terminei: o esboço das feições viris de Liam Powell.

Tinha esperanças de que, durante o acampamento, pudéssemos tirar algumas coisas a limpo. Como todas as olhadas que ele vinha me dando, todos os comentários preconceituosos que ele deixava escapar, quando eu estava por perto, e aquela mensagem que ele me mandara pedindo para manter distância.

Eu não sou idiota. Sei que ele estava com medo de alguma coisa. E queria deixar bem claro que ser bissexual não é sinônimo de galinhagem. Não é como se eu fosse agarrá-lo a foça, ou fosse arrancá-lo de sua namoradinha fútil.

Eu tinha muitas opções...

Coloquei a bolsa no ombro e o meu chapéu preto na cabeça, e fui até o quarto do vovô. Ele estava dormindo, a máscara de oxigênio em seu rosto. Parecia tão sereno, tão frágil... Era horrível vê-lo assim. Aproximei-me e afastei seu cabelo grisalho da testa. Inclinei-me, e plantei ali um beijo.

- Te amo, vovô – eu sussurrei. – Fica firme aí.

Saí do quarto e fui até onde minha avó estava sentada, tricotando. Dei-lhe mais um beijo na bochecha, e disse que a amava também. Depois disso, acenei para a enfermeira, controlando-me para não dar mais instruções, e saí pela porta da frente do apartamento em que morávamos, sentindo-me péssimo por deixá-los sozinhos por um fim de semana inteiro.

Vai ficar tudo bem, disse a mim mesmo. Vai, sim...

...

 

Eu morava em Bristol, com meus avós, há pouco mais de três anos. Meus pais viviam em Londres, assim como meus dois irmãos mais velhos, Jensen e Paul. Não tínhamos uma convivência muito boa, e por isso decidi vir pra cá. Por mais que eu houvesse deixado claro minha opção sexual para meus avós, eu nunca levara ninguém pra casa, por respeito a eles. Nem garota, nem garoto. Eles diziam que não se importavam, e que adorariam conhecer meus interesses amorosos. Só que eu sabia dos meus limites, e que não podia abusar da gentileza daquelas adoráveis criaturinhas murchas.

No último ano, meu avô foi diagnosticado com um tumor maligno no cérebro. Isso foi um choque pra todos nós... Meus pais mandaram dinheiro para que ele fizesse a cirurgia, mas o tratamento era caro demais, além dos remédios. Foi por isso que comecei a trabalhar no Tarantle, três dias da semana, e nos finais de semana. O dinheiro que eu ganhava como barman era muito pouco. Conhecendo Yazuko, e vários de seus contatos, eu passei a vender drogas também, numa tentativa desesperada de conseguir mais dinheiro para ajudar na recuperação do vovô. Eles não sabem disso... E nem podem saber! Mas, com o dinheiro das drogas, conseguimos melhorar a situação e adquirir tudo o que era necessário para que vovô tivesse mais chance de ser curado.

Eu bem que queria dizer que esse é um lindo drama de amor à família, e não há nada além disso, mas a verdade é que, quando se envolve com drogas, você não consegue apenas vendê-las. A curiosidade, em algum momento, vence e você passa a ser também um usuário. Assim, as drogas enchem meu bolso e o meu corpo.

E, naquela manhã, eu estava levando alguns pacotes para vender para outros viciados.

...

 

- E aí, meninas? – eu disse em voz alta, aproximando-me de Yaz, Felicia e uma garota que eu não conhecia. – Preparadas para um fim de semana épico?

- Se com “épico” você quer dizer “supervisionado por professores, com toque de recolher e com cronogramas acadêmicos”, com certeza não – resmungou Yaz, fazendo careta.

- Nossa...  – comentei. – Alguém acordou de mal humor...

- Vai ser divertido, gente, relaxa – interveio Felicia. – Oh, Dual... Essa é minha amiga Gwen. Gwen, esse é o Dual.

Desviei os olhos para a amiga de Felicia, a tal de Gwen. E só então a reconheci como a garota que todos achavam esquisita e fanática religiosa. Só que ela estava bem diferente. Usava uma blusinha regata e justa, acompanhado por short jeans. Seu cabelo havia sido alisado, e pendia ao redor do rosto saliente. Não pude deixar de notar o sinal que ela tinha no alto do seio esquerdo.

- Prazer, Gwen! – eu exclamei, acenando com o chapéu.

Ela apenas sorriu, timidamente.

- Gwen?! – exclamou alguém, entrando na minha frente.

Era Chad Cooper, com um chapeuzinho de pescador, bermuda e camiseta sem mangas. Ele ainda usava aquela corrente ridícula com um grande C dourado.

- Porra, Gwen, o que houve com você?! – continuou ele. – Você está tão... gostosa! 

- Sai daqui, Chad! – exclamou Felicia, empurrando-o com um nojo evidente.

- Caramba... – continuava o rapaz. Eu e Yaz trocamos olhares divertidos. – Não sabia que você era isso tud... Ei, espere. Esse sinal... ele não me parece estranho...

- Dá um tempo, Chad.

- É sério!

- Atenção, alunos do último ano! – exclamou o senhor Carlson, de repente, usando um megafone para que sua voz fosse ouvida por todos. – Para dentro do ônibus, todo mundo. Vamos sair dentro de um minuto! Vamos lá... vamos lá, todos para dentro!

Gwen afastou-se depressa, ignorando os comentários de Chad. Yaz e eu trocamos outro olhar, e seguimos a procissão de alunos que embarcava no ônibus que nos levaria ao acampamento. Acidentalmente, meus olhos se encontraram com os de Liam, que me observava de longe, apesar de estar abraçado com sua namorada. Eu dei meu melhor sorriso sedutor, por pura implicância, e enlacei Felicia pela cintura.

Felicia e eu tínhamos uma espécie de amizade colorida. Não discutíamos sobre isso, e nem víamos necessidade de discussão. Uma hora ou outra, quando estávamos chapados, a gente se beijava e transava. Mas era algo apenas físico, desprovido de sentimentos amorosos. Ambos sabíamos disso. E, no fim das contas, ela tinha as paqueras dela, e eu tinha as minhas.

A “viagem” até o local do acampamento durou cerca de quarenta minutos. Os alunos estavam incontroláveis, apesar dos esforços do professor Carlson, da diretora Armstrong e da irritadiça Sra. Barnes. Fui ao lado de Yaz, e Felicia foi à nossa frente, ao lado de Gwen. Tomei um comprimido para me deixar mais alegre, e Yaz fez o mesmo. E, por isso, dentro de poucos minutos, estávamos cantando músicas do Nirvana, do David Bowie e de outras bandas de rock, nos revezando para colocar a cabeça de fora da janela. E eu tinha certeza que não éramos os únicos alterados.

Nas poltronas dos fundos, Benjamin Wilkinson tocava violão, e fazia coro com seu grupo de amigos. As músicas eram, em sua maioria, paródias com os nomes de alunos e professores, envolvendo assuntos como sexo, bebedeira, e coisas do gênero.

Quando finalmente chegamos, o professor Carlson começou a berrar no megafone sobre as regras, antes mesmo de descermos do ônibus. Ninguém deu muita atenção ao que ele dizia. Descemos, e eu fiquei encantado com a beleza do lugar.

Estávamos no paraíso.

...

 

Antes do fim do primeiro dia, os professores se convenceram de que tentar colocar ordem e disciplina era perca de tempo. Então, simplesmente lavaram as mãos, e passaram a se divertir, como estávamos fazendo.

Fiquei a maior parte do tempo nadando no lago, onde era proibido nadar. Brinquei com os patos, e dei mergulhos acrobáticos, do alto de uma árvore que ficava às margens. Ensinei Yazuko a nadar de costas, e ficamos um tempo tomando sol, boiando na superfície do lago.

Depois, decidimos nos aventurar num bosque que havia por perto. Nesse momento, Felicia, Gwen e Emma se juntaram a nós. Lá, fumamos maconha e cantamos com os pássaros. Gwen se recusou a fumar e foi embora mais cedo, apesar de nossos protestos. Ela era uma garota muito vergonhosa. Emma, por sua vez, era o oposto. Decididamente desinibida. Tanto é que tirou a parte de cima do biquíni na minha frente, após perguntar se eu não me importava.

É claro que eu disse que não. E, aliás, seus seios não me excitaram tanto.

Fomos chamados para o almoço, e alguém deve ter colocado droga nos bolinhos de carne, porque, sério, depois daquele almoço, as coisas ficaram bem loucas. O professor Carlson ligou o som e começou a executar uma dancinha estranha, vestido numa sunga azul e camiseta branca. Nas piscinas, os alunos o imitavam, e riam, completamente chapados. Depois, a diretora Madeline apareceu de maiô, em cima de um quadriciclo vermelho, as calças de Chad Cooper amarradas em seu pescoço. E, atrás dela, o garoto corria de cuecas, dizendo que a amava.

Vi Felicia e Ben aos beijos, sob a sombra de uma árvore, e aquilo me surpreendeu um pouco. Eu sabia que ela ainda gostava dele, mas... sei lá, ele não era bom o bastante para ela.

Apesar de estar sob efeito dos bolinhos de carne, eu me afastei de todos, passando pelo lago e caminhando pelo bosque até encontrar um lugar plano onde eu pudesse adormecer. As noites no Tarantle eram desgastantes, e eu fui tomado por um sono absurdo.

Estendi a toalha, quando encontrei uma pedra plana, à sombra de uma formação rochosa que circundava o riacho que desaguava no lago, e deitei-me de bruços. Fechei os olhos, e deixei minha mente chapada se desligar aos poucos.

Estava prestes a pegar no sono, quando senti que alguém se sentava ao meu lado, com um suspiro cansado.

- Você anda, hein, cara?

Arregalei os olhos, ao ouvir aquela voz.

Liam Powell estava ali, e me olhava com um sorriso bobão.

Aquilo sim me surpreendeu.

- E ai? – eu disse, virando-me de barriga para cima, a fim de observá-lo melhor. Seus olhos correram pelo meu corpo, e seu sorriso se desfez.

- Queria conversar com você – disse ele.

- Tudo bem...

- Mas... não sei bem o que dizer.

- Oh – ergui as sobrancelhas. – Alguns gestos e atitudes funcionam melhor que palavras, em algumas ocasiões.

- Eu não vou... beijá-lo – soltou Liam, amarrando a cara.

- É isso que você quer?

Liam ficou em silêncio, mantendo os olhos longe de mim. Vi seu pomo de adão subir e descer.

- Eu te odeio – disse ele, ainda sem me olhar.

Não me entristeci com isso. Na verdade, senti o riso brincar na minha garganta.

- E a gente mal se conhece – suspirei, virando-me de novo.

- Você está prestes a destruir tudo o que eu tenho.

- Estou, é?

- Está – Liam olhou-me, e percebi que seus olhos estavam marejados. – Não sei que porra está acontecendo, só... só quero que nada disso aconteça. Eu... não quero ser como você, eu não quero. Nem sei nem porque eu te segui...

- Eu também não.

- Cale a boca! – ralhou ele.

- Okay – encolhi as pernas e sentei-me ao meu lado, mantendo os olhos fixos nas águas correntes que desciam para o lago.

Ficamos naquele silêncio por algum tempo. Sem nos olharmos. Apenas sentindo o calor do corpo um do outro, minha mente cansada e chapada tentando resistir à tentação de tocá-lo – porque, sim, Liam Powell é muito atraente.

- Eu te odeio, cara – começou a choramingar, fungando. – Olha só o que você está fazendo comigo...

- Mas... eu não estou fazendo nada.

- Está sim!

- Escuta, Liam – eu o olhei, com pesar, ao ver que ele estava mesmo chorando. – Se você se sente atraído por mim... não é culpa sua, nem minha, nem de ninguém. Essas coisas simplesmente acontecem. E eu não quero ser o vilão da sua vida. Na verdade, eu mal o conheço... não vou persegui-lo, não vou atrapalhar seu namoro, não quero nada disso. Mas, se você quer mesmo resistir, precisa se esforçar mais, e parar de ficar dando tão na cara. E parar de me seguir também... Certo?

Liam fungou ainda mais alto, e o choro veio com tudo.

Droga.

Sem saber o que fazer, passei meu braço por seu ombro e deixei que ele chorasse no meu, mesmo sabendo que aquilo não ia ajudar nenhum de nós dois a resistir àquela aventurazinha.

Suas lágrimas rolavam pela minha pele nua e, pela primeira vez, tive medo de que Liam não estivesse só passando por uma fase adolescente, com curiosidades sexuais. Tive medo de que aquelas lágrimas fossem porque ele sentia mesmo algo por mim. Algo que era doloroso e difícil de sufocar. Algo além da simples atração física.

Não, por favor... Não.

- Liam? – chamei.

- Hmm?

- Você não está apaixonado por mim, está?

Ele ficou em silêncio, ainda aos prantos. Virei seu rosto para mim, com uma das mãos, e fitei seus olhos, por mais que ele se recusasse a fixá-los nos meus.

Aquilo só confirmou minha suspeita.

- Está tudo bem... – eu disse, suspirando. – Hmm... Acho que você deve voltar para sua namorada, para seus amigos, e tentar esquecer isso, okay?

- Eu tento... mas... você está por toda parte.

Ai, meu Deus aquilo era um caso grave de paixão adolescente. Eu tinha certeza de que ele só estava confessando aquelas coisas por causa da droga no bolinho... Quando estivesse sóbrio, voltaríamos para nossos mundinhos diferentes, com aquelas trocas de olhares furtivos. Não ia me aproveitar daquela situação. Não sou um cafajeste, nem com garotas, nem com garotos.

- Escuta, por que não vai tomar um banho e pensar melhor? É direito seu resistir e continuar a sua vida, com sua namorada e tal. Não vou contar nada a ninguém... Mas, caso queira tirar essa pedra que sufoca seu peito, eu vou estar aqui. Estamos juntos.

Liam olhou-me com os olhos cheios de dor. Tentou sorrir, mas não conseguiu. Então, inclinou-se e me deu um beijo no rosto.

Aquilo me deixou sem reação.

Minha boca secou, e as coisas se agitaram dentro de mim. Apenas o observei se afastar, torcendo para que eu também não estivesse me envolvendo demais. Eu não queria me apaixonar.

...

 

Não sei ao certo o horário, mas durante a madrugada fui acordado por uma Yaz muito risonha e luminosa.

- Anda, Dual! – sibilou ela. – Festa no bosque!

E logo eu estava de pé, vestido apenas em minha samba canção. Colares e pulseiras coloridas de neon me enfeitavam, e eu corria com Yaz por entre as barracas nos campos, em direção ao bosque. Vi que algumas pessoas também corriam para lá, abafando risadinhas.  Como estava escuro, tropeçamos em alguns pontos, mas alcançamos as árvores. Lá, o caminho ficou mais fácil, porque haviam pendurado lanternas nos galhos das árvores, até a clareira em que a festa acontecia.

Um aparelho de som tocava música eletrônica, e alguns adolescentes com roupas de dormir dançavam na semiescuridão. Todos tinham colares e pulseiras luminosos. Chad Cooper distribuía garrafas de cerveja e copos plásticos. Benjamin Wilkinson e Liam tentavam acender uma fogueira, usando galhos de árvore. Suas respectivas namoradas tentavam convencer Gwen a dançar – o que ela recusava veementemente.

- Trouxe as pílulas? – perguntou Yaz.

- Claro.

E começamos a vender comprimidos de ecstasy, depois de tomarmos um nós mesmos. Evitei ter contato com Liam, e ele também parecia me evitar... Achei aquilo bom. Seguro.

Eu nunca havia ido numa festa no bosque antes, e devo confessar que a junção de todos aqueles elementos peculiares deixava tudo ainda mais surreal. As árvores, a fogueira, o efeito das luzes nas expressões... Era como um sonho, fantasiado de pesadelo.

Bebi outro comprimido, e me deixei ser dominado por ele.

A música eletrônica agia sobre o meu corpo como se eu fosse uma marionete. Me senti frágil. Ágil. Dancei em torno da fogueira, com Yaz. Foi uma dança estranha, mas nós éramos estranhos, então nada mais justo. Me enturmei com pessoas que eu jamais imaginava me enturmar... Bebi com Chad Cooper, gritei com Ben Wilkinson, dancei na companhia de Emma Dreschler... e encarei Liam Powell, que dançava atrás dela, os olhos fixos em mim.

Participei de uma competição de bebida flamejante com os rapazes. Perdi. Ben e Chad viraram uma garrafa de cerveja na minha cara, e eu quase me afoguei. Também quase caí na fogueira. Riram de mim, e disseram que eu era divertido.

Comentários daquele tipo sempre me agradavam.

Assim, a festa se prolongou, madrugada afora.

Ao alvorecer, quando as coisas pareciam mais calmas e eu já não tinha mais noção de muita coisa, cambaleei para longe, a fim de aliviar a bexiga. Esbarrei em troncos de árvore, escorreguei, ri de mim mesmo e ouvi vozes.

-... por favor, não diga a ninguém... – era Gwen.

- Não vou dizer... Mas, francamente, garota, você me surpreendeu.

- Não vamos mais fazer aquilo...

- Não... Agora, podemos fazer diferente.

- Chad...

- Vou devagar.

- Ai, Chad... tá doendo.

- Shh... deixa o Chad cuidar de você, minha Rose Pussy.

Eu tive de conter a risada.

Continuei avançando, porque não queria ouvir Chad e Gwen transando, cheio de apelidinhos sexuais. Tropecei por entre as árvore e baixei a cueca, deixando a cerveja se esvair de mim e regar a terra.

Estava quase terminando, quando ouvi o som de gravetos se partindo. Virei-me, sobressaltado, e uma mão grande e áspera tapou minha boca, empurrando-me contra uma árvore.

- Emma desmaiou – disse a voz de Liam.

Eu fiquei em silêncio, meu coração acelerado por causa do susto... e por causa de Liam também. Sua mão afastou-se de minha boca, e ele respirou fundo. Lentamente, aproximou o rosto do meu. Sua bochecha resvalou na minha e seus lábios tocaram meu pescoço.

- Não consigo mais resistir – sussurrou ele, em meu ouvido.

- Então não resista.

Assim, com delicadeza, e depois com intensidade, nos beijamos. Não sei ao certo o que passava pela minha cabeça, no momento, mas não vou colocar a culpa nas drogas. Eu gostava de Liam, e ele gostava de mim. Era simples...

No entanto, não devo me demorar muito nesse momento de ternura impensada. Porque, enquanto nos beijávamos, Ben apareceu, enraivecido porque havia acabado de descobrir, pela própria namorada chapada, que ela havia perdido a virgindade com Chad Cooper, que era um de seus melhores amigos. Felicia vinha logo atrás, tentando explicar-se, enquanto que Chad se alvoroçava e se escondia atrás de Gwen, que, a propósito, estava seminua. E, no fim das contas, estávamos próximos o bastante para que ele nos visse.

O circo estava armado.

- Mas... que porra é essa? – fez Ben, os olhos correndo entre mim e Liam, depois para Chad e Gwen, e, por fim, para Felicia.

- Cara... – começou Liam, mas eu o interrompi.

- Eu o agarrei.

Ben franziu o cenho, olhando-nos com um desprezo venenoso.

- Seus veadinhos do inferno! – xingou, chocado. – E seu filho da puta traidor! – olhou para Chad, com o mesmo desprezo. – Que amigões vocês são, hein? Seus desgraçados! Filhos da puta desgraçados! – Ben tentou alcançar Chad, dando-lhe socos e pontapés.  Gwen afastou-se depressa, cobrindo os seios com os braços.

- Não foi minha culpa... – tentava explicar-se Chad. – Eu não tive culpa, Ben, ela... ela...

- O culpado foi você, Ben! – interveio Felicia.

- Cala a boca, sua vadia! – Ben virou-se e fez menção de estapeá-la, mas se conteve. Ele tremia de raiva. – Você é uma puta, Felicia. Uma puta.

Felicia recuou alguns passos, o queixo tremendo como se estivesse prestes a chorar.

- Não fale assim com ela – eu disse, aproximando-me.

- Falo como eu quiser, sua bichona! – gritou Ben, em plenos pulmões, virando-se para me encarar. – Falo como eu quiser...!

- Não, não vai maltratá-la desse jeito, quando foi você quem a traiu primeiro.

- Ah, vai se ferrar, cara... Vai dar o rabo pro Liam, ou é ele que faz essa parte?

- Ben – a voz de Liam soou às minhas costas. – Não é isso...

- Olha o que você fez com ele, seu desgraçado! – Ben avançou contra mim, empurrando-me. Não me defendi, nem o agredi. Continuei a encará-lo, porque Emma e Yaz haviam acabado de chegar e eu preferia não olhar para elas.

A tensão aumentou. 

- O que está acontecendo? – quis saber Emma, os olhos saltados correndo entre nós.

- Aha! – fez Ben, a voz soando meio mórbida. – Vou explicar, Em. Vou explicar pra você...

- Ben, por favor – Liam o interrompeu, a voz suplicante.

-... hoje tudo veio à tona!

Baixei os olhos.

- A adorável Felicia deu pro Chad, quando ainda éramos namorados... – começou Ben. – E... o... filho da mãe fingiu... que nada havia acontecido! Eu o considerava pra caramba, seu traidor desgraçado! – Ben jogou um galho quebrado contra Chad, que se encolheu, para se defender. – E olha só: a Gwen! A metida à puritana!  

- Não precisa fazer isso, cara – Chad interveio.

- Ah, preciso! Preciso sim! Chega de segredos! – ele deu uma risadinha doida. – Chad descobriu, hoje pela manhã, que Gwen é a Rose Pussy! Sim, sua namoradinha virtual, com quem trocava vídeos íntimos!

- Chad! – Gwen olhou para o rapaz com uma expressão mista entre decepção e choque, os olhos lacrimejantes.

- Quem diria, não é? A garota santinha é uma prostituta virtual!

Aquilo eu não sabia. E, na verdade, eu não fiquei tão impressionado. Eu estava mais nervoso com o que estava por vir.

- E agora, a mais inacreditável de todas as revelações! – continuou Ben, olhando para mim e para Liam. Tentei não olhar para Emma.

- Ben, para com isso – Liam veio em sua direção, postando-se ao meu lado, com um ar ameaçador. – Não quero ter de machucar você.

- Mais? – Ben franziu o cenho, a voz vacilando um pouco. – Todos vocês me machucaram! Muito. Mentiram. Enganaram... A mim e a todos que confiavam em vocês – e, virando-se para Emma, continuou: - Em, seu namorado tem um amante – e, sem me olhar, apontou para o meu peito: - Dual Stumm.  

Não tenho palavras para descrever o que houve em seguida. Se Ben Wilkinson queria fazer o inferno com tudo o que dissera, obteve êxito. Imagens, egos e dignidades foram despedaçados por palavras. Amizades desfeitas, relacionamentos destruídos... Tudo estilhaçado de uma só vez.

E não havia nada que alguém pudesse fazer para reverter aquele estrago.

...

O resto do acampamento foi uma eternidade angustiante e desagradável. Muitos de nós nos submetemos ao cronograma dos professores, desprovidos do espírito festivo e rebelde que estivera em nós no primeiro dia.

Yaz ficou o tempo todo do meu lado, preocupada e morrendo de ódio de Ben. Liam se recusava a conversar comigo. Emma tentou me bater, na fila para o jantar, me xingando com vários insultos preconceituosos. E os outros me olhavam como se eu tivesse forçado Liam a ser o que era...

Por isso, dei graças a Deus quando chegou a hora de irmos embora. Dentro do ônibus, o clima modorrento se acentuou ainda mais. Foram raros os momentos em que Liam, agora sentado ao lado de Chad, me olhava. E sempre havia aquela dor... aquela tristeza.

Me despedi de Yaz e fui andando para casa.

Tentava não me sentir tão culpado, mas... estava sendo tão difícil!

De qualquer maneira, todas as angústias e preocupações sobre o que houve no acampamento foram rapidamente esquecidas, quando vi uma ambulância parada de frente ao nosso prédio, e dois paramédicos empurrarem a maca com meu avô para dentro dela.

Meu coração disparou.

Corri e gritei, mas eles fecharam as portas da ambulância e partiram, a sirene ecoando de forma agourenta pelas ruas de Bristol. 



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