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História Sky Ascending - Capítulo 12: Ajustes


Escrita por: suzannaclimaco9

Capítulo 12 - Capítulo 12: Ajustes


Quando o dia surgiu timidamente pelas janelas altas, eu já estava desperta. Não foi muito que eu consegui dormir enquanto minha mente repassava o que eu tinha feito, o que tinha sido dito ou não e mais fortemente as ferroadas entre mim e Lexa. Novamente, a vergonha me assaltou em um nível catastrófico. Eu, Clarke, nunca tinha ficado tão deprimida comigo mesma. Até ali eu podia ter experimentado muito tipo de sofrimentos. A perda de um pai, ser a assassina de um namorado, decidir quem morria e quem sobrevivia. E agora eu tinha me posto novamente no patamar de decidir sobre a vida de alguém. 

Ainda assim disse a mim mesma que qualquer um no meu lugar e, principalmente Lexa devido ao seu histórico, tomaria a mesma atitude que eu tomei. Salvar o meu povo, mantê-lo seguro, era a minha prioridade por que eles fariam o mesmo por mim. Eles vieram primeiro do que Lexa na minha vida. É a eles que devo minha lealdade. Mas dizer isso não abranda a ferroada em meu peito quando eu penso nos beijos que troquei com Lexa para depois acaricia-la com a porra de um adaga envenenada. 

E foi nesse instante que eu me levantei alarmada, sem fôlego, o coração a mil como se tivesse visto um fantasma me espiando da beira de uma das janelas. Eu cortei Lexa com uma faca envenenada. Antes que eu pudesse pensar no que estava fazendo corri porta a fora por que agora eu sei que não me perdoaria se eu matasse Lexa de uma maneira tão vil.  

Mas quando eu cheguei na base da escada no final de um corredor, me dei conta de que não sabia aonde ir. Onde Lexa estaria a essa hora? Dormindo? E como eu posso chegar até seu quarto? A única coisa em que pensei é que ela não deveria ter me posto longe dela. De onde ela pudesse vir rapidamente, caso precisasse. Então, eu andei em todos os corredores a minha disposição naquele andar, abrindo portas, checando através de vãos, até que me deparei com duas portas de madeira muito semelhantes a do meu próprio quarto que eu pensei ter voltado ao início da busca. 

No entanto, quando eu abri o cômodo ele não estava vazio. Lexa dormia profundamente em uma espécie de sofá ou divã. Eu me aproximei cautelosamente do móvel apenas para constatar que ela estava perdida em seus sonhos. Cheguei a me perguntar se Lexa sonhava mesmo. Mais uma coisa sobre ela que eu desconhecia. Visto que eu não teria coragem para tirá-la de um sono que parecia tão singelo, eu me pus a olhar ao redor tentando englobar algo que não fosse a garota a minha frente. 

A cama de Lexa estava coberta por peles e parecia muito mais convidativa do que a minha, havia móveis antigos onde quer que se olhasse como numa visita a um museu, e encontrei com muita felicidade uma barra de carvão encostada em um bloco maciço de folhas chamuscadas. De alguma maneira, era como se eu tivesse sido movida a este dia, este lugar, para encontrar esses dois objetos. 

Quando ergui minha vista da folha em minha mão, a primeira coisa com que me deparei foi o divã vinho onde Lexa estava repousando e não pude resistir aquela modelo esperando para ser talhada em uma gravura. Até mesmo esqueci o que tinha vindo fazer ali em primeiro lugar. Me pus a desenhar em um banquinho, lançando olhares demorados a figura de Lexa enquanto esboçava no papel o seu semblante ameno. Eu nunca a tinha visto tão em paz. 

Eu não estava sequer satisfeita com o que tinha feito, quando ela começou a se espreguiçar para sair da letargia. Meu primeiro instinto foi esconder a minha obra, pois eu não gostava de mostrar meus desenhos nem a minha mãe que os via sendo feitos praticamente todo dia, mas Lexa foi mais rápida do que eu e quando ela notou o que eu estivera fazendo, ela se levantou e caminhou até mim. 

Olhei para Lexa como se a visse pela primeira vez. Ela estava usando um vestido fendido da mesma cor do divã, um vinho de tons fortes e cintilantes, e boa parte da sua perna direita se destacava para fora do corte no tecido. Seu cabelo não estava trançado em nenhum ponto, apenas ligeiramente ondulado,  jogado para um lado sobre seu ombro. Não havia maquiagem de guerra em seus olhos e eu me dei conta de que estava diante de Lexa, a mulher. 

Lexa era de tirar o fôlego. Apenas essa constatação poderia definir a cara abobalhada que eu sabia ter naquele momento. Ela deveria achar que era apenas por ela ter me pego em flagrante a desenhando sem permissão, mas todo o meu espanto tinha a ver com ela de um modo geral. 

- Posso ver? – ela pediu suavemente ou do modo mais suave que sua voz autoritária conseguia soar. 

- Claro. – eu disse, passando a folha para a mão dela erguida em minha direção. 

Enquanto ela olhava meu trabalho, passando um dedo levemente pelas curvas no desenho e parecendo apreciar realmente o que eu tinha feito, eu pude voltar a mim. 

- Lexa. 

- Sim, Clarke. 

Ela afastou os olhos da folha e pousou os braços a frente do corpo. Sua expressão estava amena, pacífica, quase como se ela estivesse sorrindo. Então eu pensei, como ela pode estar envenenada e ainda parecer tão bem? 

- A adaga estava envenenada. – reflito e sai como um questionamento. 

- Estava. Quando Titus trouxe-a para que eu visse, fiz questão de pedir a um curandeiro para dar uma olhada nela. É do nosso conhecimento que Nia usa veneno em suas armas.  

- Mas... 

- Havia um antídoto. – ela me informa, placidamente. – Eu me surpreendo em como em um momento você parece disposta a me matar para em seguida se preocupar com meu bem estar físico. 

- Eu... Lexa, você chegou a entender que eu não tinha... 

- Você tinha, Clarke. Lembra que você disse que me odeia?  

Lexa ergue uma sobrancelha. Eu me odeio por tê-la munido de armas contra mim. 

- É, eu lembro. Mas lembro também que você disse que não foi isso que pareceu quando eu a beijei. 

- Está querendo dizer que tem sentimentos por mim, Clarke? 

- Acho que este não é um dia propício para falar sobre isso. – respondo, fazendo menção ao embate com Nia mais tarde. 

Lexa solta cuidadosamente o desenho sobre o divã. Seu rosto volta a máscara severa como se ela tivesse a colocado sem que eu me desse conta. 

- Eu e Nia estamos a tempo de mais nos digladiando. Isso não é bom para nosso povo.  

- Por que ela te odeia tanto, Lexa? Isso parece ser algo muito maior do que sede por poder. 

- Tem algo de inveja no desejo de Nia. – pelo tom de voz arrastado de Lexa eu soube que ela começaria uma longa história. - Na verdade tudo começou quando ela soube que eu havia conquistado Costia, a garota de quem lhe falei. Ela era uma sangue da noite vinda da Nação do Gelo. Ela e Nia tinham um passado, fiquei sabendo por Costia em uma noite após uma luta que tive com Nia. Finalmente, ela achou que eu devia saber o motivo de tanto ódio por parte de sua antiga colega. Nia amava Costia mesmo sendo muito mais velha do que ela, daquela sua maneira doentia e ela depositou em mim toda sua frustração. Ela nunca tinha conseguido nada de Costia, mesmo quando ambas viviam na Nação do Gelo. Mas isso não foi justificativa o bastante, então ela encontrou um alvo para depositar sua raiva. 

- Isso é horrível, Lexa. – sussurrei e ela assentiu com a cabeça baixa.  

- Mais tarde, perto da minha ascensão, ela se enfureceu com a negativa as suas investidas a tal ponto que sequestrou Costia de dentro de Pólis. Ela havia dado sinais que Costia não quis ver. Nia sempre dizia que Costia seria morta em vão em nossa busca por um líder e que seria muito melhor para ela que voltasse para Azgeda. Naquela época, Nia já era rainha da Nação do Gelo. Quando eu tentei ir atrás dela, desesperada como eu estava apenas com minhas espadas e nada mais, ela me expulsou como a um cão sarnento e eu tive de aceitar a derrota e voltar para Pólis. No dia seguinte, a cabeça de Costia decorava a cabeceira da minha cama. 

Uma das minhas mãos elevou-se a minha boca, lacrando-a e jurei que Lexa não ia conseguir se segurar. Seja de ódio ou de tristeza, mas ela não esboçou a mínima emoção como se ela fosse uma velha contando uma história da infância.

- Eu nunca soube qual a razão que levou Nia ao extremo. - Lexa reflete com tristeza dançando em seus olhos.

 E eu tive muita pena da mulher em minha frente que aprendera de tantas maneiras que amor era fraqueza. Vi como aquilo deve ter cavado muito fundo em seu coração, enterrando lá dentro os preceitos do seu povo e não encontrei forças para quebrar o silêncio. Mesmo através de toda essa dor e mágoa, é surpreendente o modo como ela conseguiu encontrar um lugar para mim em seu coração. 

- Eu não desejo sua morte, Lexa. 

Por alguma razão, eu tinha que fazê-la ver isso. Que na verdade eu não a odeio, mas que também não compreendo totalmente o que nós temos aqui.

- Não vou morrer hoje, Clarke. A justiça encontrará seu lugar e Nia vai pagar por tudo que fez. 

- Como você pode ter tanta certeza? 

- Eu apenas sei. Da mesma maneira que sempre soube que eu viria a ser Heda ou como eu soube aquele dia que você já estava crescida, Clarke, que você se sairia bem. 

Permaneci muda diante do que ela dizia e mesmo depois que pareceu terminar. Ela estava prestes a ir para sua própria guerra e talvez eu não fosse capaz de suportar mais uma perda. Sei que não lhe disse se iria assistir ou não o embate, pois naquele momento aquilo pareceu com assinalar um compromisso e mesmo compreendendo todo o esforço de Lexa para me deixar furar seu bloqueio e demonstrar isso, eu não sabia o quão pronta estava para me entregar a outro relacionamento que parecia não caminhar para um rumo certo. 

Na verdade, eu não queria ser responsável por ferir novamente nós duas.

Encontrei dentro de mim forças para deixar o quarto antes que eu fizesse algo de que me arrepende-se depois. Lexa deixou-me ir sem me indagar sobre nada, nem mesmo sobre se eu permaneceria em Pólis. Ela devia apenas saber como sabia de todo o resto que até aquele momento nós estávamos unidas pelo acaso, para o bem ou para o mal.

 

°°°

| Lexa

Nia nunca deixou de ser uma covarde. Ela é incapaz de lutar suas próprias batalhas, tomar as rédeas das consequências de suas escolhas e confrontá-las. È por isso que ela pôs Ontari para pelejar comigo.

Mas eu não sou assim. 

Eu poderia me poupar e colocar alguém para ir nesse embate em meu lugar, mas sempre fui capaz de erguer minha cabeça para qualquer obstáculo. È o que meu povo espera de mim, até mesmo aqueles que me dizem ser medrosa. Eles conhecem o meu potencial desde que eu era uma criança lutando em um cercado improvisado, desde que eu matei cada um dos meus companheiros para ascender. 

Eles não esperam que Lexa fuja e eu não farei diferente.

 

°°°

| Clarke

Onde antes havia uma tenda enorme que eu havia visto ao entrar em Pólis, agora há um espaço aberto de frente para um imenso tablado com cobertura, onde estão acomodados os líderes dos 12 clãs. Quando eu me aproximo por trás da multidão que veio assistir ao embate, Lexa já está se apresentando para Titus, que parece orientar todo o processo, e para os outros líderes. Ao seu lado não está Nia como eu esperava, mas Ontari. 

Pensei muito sobre vir ver Lexa lutar. Imaginei-a caindo, ensaguentada após receber um corte fatal, e eu assistindo a isso e pensando em tudo que eu nunca disse a ela e que ela nunca disse a mim. Senti dentro do meu coração que talvez fosse uma emoção forte de mais. Entretanto, eu não posso deixá-la sozinha. È isso que nós sempre fazemos uma com a outra. 

Se eu não consegui matá-la nem pelo meu próprio povo, então há uma explicação para isso e não vou encontrá-la sozinha.

Eu busco por Nia através do mar de pessoas por que ela não está no seu lugar no palanque. Com muita atenção, eu a vejo entre os cidadãos comuns, um olho em Lexa e outro em Ontari. Seu olhar cinza parece brutal e eu vejo a mulher que assassinou uma jovem friamente e penso que ela faria, se pudesse, o mesmo com Lexa.

Um tambor começa a rufar e depois mais outro, um coro estrondoso e eles formam uma canção que parece o rugido de um dragão prestes a incendiar um vilarejo. Meu coração palpita e sei que minha expressão atesta a aflição em todo o meu corpo. Lexa tem de vencer! Eu gostaria de poder ver o rosto de Lexa, mas do ponto onde estou ela está exatamente de costas para mim.

A voz de Titus faz os tambores cessarem ou qualquer som que venha da multidão que circunda o espaço dedicado para a luta.

- Este é um combate singular e somente um morrerá hoje. Guerreiros, se preparem. 

Lexa e Ontari fazem um gesto de cabeça uma para outra, virando-se para ficarem olho no olho. Agora eu possa ver Lexa e ela está com seu traje habitual escuro e a manta vermelha saindo de um dos seus ombros até se arrastar pelo chão; os cabelos puxados para trás, volumoso, trançado ao acaso. A sua pintura de guerra está lá, os olhos envolvidos em garras escuras, que parece lhe dar um ar muito mais feroz hoje. Nada de medo, receio ou misericórdia passa por suas feições. Ela está inteiramente ela quando olha para Ontari em suas vestes felpudas da Nação do Gelo. 

- Podem começar! - grita Titus quando faz um movimento de abaixar a mão como se cortasse uma barreira entre as duas e algum tremor me sobe pelas canelas.

Um homem se aproxima de Ontari, um alforje longo estendido, e ela puxa de lá uma espada tão longa quanto uma de suas pernas. Em seguida, ela faz uma careta hostil para Lexa como se rosnasse ameaçadoramente. Agora é a vez de Lexa ter sua arma entregue a ela, mas ninguém se aproxima. Quando eu percebo, ela vêm para o meu lado da barreira, sem me notar, e seus passos cessam a poucos metros de mim. Ela retira seu manto para poder lutar com mais fluidez e quando ela está tirando suas duas lâminas do alforje que estiram em sua direção, ela me vê.

Lexa parece surpresa por me ver e continua olhando para mim como se estivesse se decidindo se sou mesmo real. Eu meio que perco o fôlego por que quero gritar para que ela fuja para longe, para que não se deixe morrer por minha causa. Sei que ela pode ver culpa através do meu olhar.

- Que bom que você veio, Clarke. - ela sussurra, ainda me encarando, séria.

- Tenha cuidado. - é tudo que eu digo antes dela virar o rosto, o corpo e puxar o restante do corpo de suas espadas para suas mãos habilidosas.

Um coro de terra-firmes brada diante disto. Heda! Heda! Heda!

Ontari sequer dá tempo para Lexa tomar fôlego antes de ela correr para cima dela, a espada erguida para destroçar. Mas a comandante passa por ela em sua própria corrida e girando o tronco desfere um corte nas costas de Ontari que para no lugar, o olhar completamente irado. Ela se vira e eu vejo que o golpe não passou a barreira de peles ao redor da sua caixa torácica.

Lexa toma distância de Ontari, as duas se examinando e circulando ao redor da pequena clareira. Em seguida, Lexa cobre rapidamente o espaço entre elas, decidindo-se pelo ataque, e lança suas espadas contra a de Ontari, executando giros enquanto tenta acertar sua oponente. Mas Ontari é igualmente hábil e estaca todos as tentativas de Lexa e ainda consegue retirar uma das espadas da mão dela, fazendo-a aterrizar longe de seu alcance. Metal retini contra metal em absurdos sons cortantes.

Em um momento, Lexa forma um X com sua espada contra a lâmina de Ontari e elas ficam em um impasse, forçando uma a outra a recuar, mas para minha total descrença Ontari se mostra mais forte e começa a inclinar o corpo de Lexa para baixo. A heda cerra os dentes enquanto um de seus joelhos encontra o chão e ela faz uma coisa absurda aos meus olhos. Uma de suas mãos deixa o cabo da espada para segurar a lâmina de Ontari. Mesmo estando semi protegida por uma espécie de luva, sangue verte de seus dedos nus e novamente meus pulmões ficam sem ar.

Então ela consegue, com o apoio equilibrado da mão e da espada, afastar Ontari para trás quando ergue as lâminas para próximo do rosto da oponente. Mas Ontari não se dá por vencida e trás a espada para a cabeça de Lexa que no último instante se agacha, voltando em segundos para encontrar a espada de Ontari com a sua própria.

Notando que está perdendo muito tempo, Ontari afasta Lexa de lado e lhe dá um chute na parte de trás dos joelhos. Lexa se desequilibra e está novamente apoiada em um dos joelhos. Ela eleva sua espada para desferir um corte na barriga de Ontari, mas antecedendo o movimento, ela leva sua própria espada para Lexa e ampara no punho da manga a lâmina que se erguia, enquanto dá um soco no rosto desprotegido da garota.

A comandante quase se estatela no chão, mas ampara a queda com um dos cotovelos. Aproveitando o instante de confusão, Ontari chuta a espada da mão trôpega de Lexa que mesmo em desvantagem não deixa escapar uma oportunidade, juntando as mãos e desferindo uma cotovelada no joelho de Ontari, seguido de um soco no queixo e pela primeira vez na luta a jovem se desequilibra e perde a espada.

Lexa se agacha e retoma suas espadas, fazendo um giro completo com elas em mãos. Com sangue vertendo do nariz, ela faz uma pose alçando-as, totalmente focada. Ontari parece despersa, sem saber o que fazer por estar desarmada, e em uma última alternativa, ela agarra e puxa a lança de um dos homens que impede a multidão de se espalhar e volta para a arena em sua posse.

Girando a arma ameaçadoramente, Ontari se apresenta de volta a luta, dando alguns passos para perto de Lexa. Elas se aproximam, Ontari dá outro golpe visando arrancar a cabeça de Lexa que se esquiva, abaixando-se. Ela se ergue imediatamente, esperando pelas investidas da mulher de Azgeda. Alguma força ancestral toma conta de Lexa nessa hora, pois ela trás a espada para Ontari sabiamente, uma vez após a outra, girando e atacando em uma tentativa de confundi-la. 

Cansaço e vergões cobrem o rosto de Ontari que ergue sua lança sempre nos momentos certos, embora com alguns segundos de espera. Em um desses segundos, Lexa parece abaixar a guarda e Ontari investe uma pancada poderosa contra uma das espadas nas mãos da comandante que com o impacto voa para longe e depois é a vez da outra seguir o mesmo caminho. Sem nenhum obstáculo, ela chuta fortemente Lexa na barriga que é lançada para trás em pleno ar, caindo de costas no chão.

Nesse momento, estou prestes a arrancar os cabelos e tenho certeza de estar a alguns segundos de assistir a morte de Lexa. Eu vejo quando Titus se ergue de seu assento, desesperado e eu sei que estamos compartilhando a mesma aflição. Todos ao redor da arena parecem estupefatos e o silêncio reina.

Ontari joga a lança para cima que executa um giro perfeito em volta de si mesma antes de pousar nas mãos da jovem. Ela caminha e mira, o olhar vitorioso em Lexa, cessando os passos bem ao lado do corpo estirado no chão. Mantendo um dos pés ao lado das costelas da comandante para o caso de ela se mexer em sua direção, Ontari mira a ponta da lança na cabeça dela.

Sinto meus lábios se abrirem formando um círculo perfeito e todo o ar me escapa. Minhas pálpebras parecem pesadas e eu não tenho certeza de estar piscando. Eu não tenho certeza de nada a não ser que Lexa está encarando a morte.

A sombra de Nia, a menina que deve ter a mesma idade de Lexa, puxa os braços para trás se preparando para dar a estocada final. Sua boca liberta os dentes afiados e ela se assemelha a uma leoa abatendo uma corça. A ponta afiada descreve uma linha reta para baixo, para o crânio de Lexa, mas como se ela tivesse usado cada segundo para pensar no improvável, ela rola para o lado oposto e Ontari acerta nada mais que areia.

Girando o tronco e as pernas abertas, Lexa dá uma rasteira precisa em Ontari que cai no chão. As duas se erguem quase que imediatamente como se tivessem treinado para cair e levantar a vida inteira. Arreganhando as armas uma para a outra, elas voltam a se encontrar, as duas fabulosas e mortíferas mulheres,  e mesmo sem nenhuma de suas armas, Lexa se afasta de todos os golpes de Ontari que passam por ela como raios.

Em um momento de instabilidade, Lexa segura o corpo da lança no meio de uma estocada e puxa com todas as suas forças. A arma se desvencilha de Ontari, Lexa a mantém segura e sua mão livre encontra o rosto machucado da mulher a sua frente em uma pancada colossal. Sem nenhum estranhamento, Lexa continua tentanto perfurar Ontari, tentando encontrar uma falha no seu bloqueio para derrubá-la. 

Ontari vacila depois de uma pancada no lado do corpo e fica de joelhos. Lexa acerta a lança no queixo dela e manda Ontari direto para o chão. Sangrando, suja e debilitada, a garota de Nia permanece estirada, indefesa. Lexa se aproxima aos poucos, um tanto cansada, e mira a lança na cabeça de Ontari como ela havia feito com ela.

Ninguém tece uma palavra sabendo que este é o momento derradeiro.

Lexa parece hesitar, olhos nos olhos de Ontari que continua cospindo sangue. Ela parece querer dizer alguma coisa  e mesmo de longe eu posso dizer que ela odeia a comandante com cada célula do seu ser. Odeia o fato de perder e de decepcionar sua rainha. Odeia o fato de que Lexa é o que ela nunca será. Uma líder imbatível, uma guerreira igualmente poderosa.

O tempo se arrasta até parecerem anos que estamos assistindo as duas lutarem. Então, quando estou pensando na ideia de olhar para Nia, só para ver o que ela está achando de tudo isso, a lança desce atravessando com facilidade o pescoço de Ontari. Seu corpo treme e instintivamente ela leva as mãos ao cabo da lança que Lexa mantém estável, mas é em vão. O sangue, sua vida, se esvai mais rápido do que o lance que a deixou desprotegida e ela morre a vista de todos

- A rainha é culpada! - grita Lexa para não restar dúvidas em cada um de nós.



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