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História Sky Ascending - Ciclos


Escrita por: suzannaclimaco9

Capítulo 16 - Ciclos


- Bellamy! - exclamo novamente, afastando-me de seus braços.

É tão bom ver alguém familiar, estar de volta em um lugar conhecido que meus olhos se enchem d'água, mas eu não tenho tempo para emoções e lágrimas nas atuais circunstâncias. Ele me olha com um sorriso no rosto cansado e machado de sujeira, mas eu vejo apreensão em sua expressão e algo próximo de um ódio ferrenho. Procuro por algum sinal de ferimento que indicaria que ele esteve no meio da invasão, mas eu não encontro nada além de arranhões em seus braços.

- O que houve aqui? - completo.

Nesse instante, Lexa nos alcança. Ela tem a atitude de parar mais atrás de mim, não tão perto dos outros. Há mais três pessoas que reconheço apenas de vista, olhando para nós. Com um olhar de Bellamy, eles voltam ao trabalho.

- Sua mãe não lhe disse que fomos atacados? - ele pergunta.

- Clarke, não temos para isso. - avisa Lexa, chegando para o meu lado direito.

Ela e Bellamy trocam olhares. Bellamy parece subitamente eriçado e sua expressão é de desafio puro. Ele ergue o queixo como se não quisesse mostrar que está intimidado de alguma forma pela postura de Lexa que ao meu ver está pouco interessada nele.

- Leve-nos para conversar com alguém que esteja no lugar de Clarke. - pede Lexa a Bellamy com educação, as mãos cruzadas a frente do corpo.

- O que você quer dizer com isso? - pergunto a Lexa.

 Bellamy se meche imediatamente, pegando no ar algo que eu pareço ter deixado escapar e nós o seguimos para as fortificações de Arkadia.

- Para mim, você é a líder dos Skykru, Clarke. Até este rapaz parece ver isso.

- Eu não sou líder de ninguém. - exclamo, meio encabulada.

Lexa me dá um olhar de esguelha e um pequeno sorriso antes de balançar a cabeça como se estivesse diante de uma piada. Não digo mais nada, pois não quero brigar com ela na frente de todo mundo. Nós atravessamos vários corredores semi iluminados, passamos por várias pessoa e eu começo a ver neles algum estrago do ataque. Pessoas mancando, pernas feridas, olhos roxos. Eles parecem ter participado de uma guerra.

- Bellamy, me conte o que aconteceu.

Ele não se vira para me olhar enquanto fala. Apenas segue na frente, dobrando em mais corredores para os fundos dos destroços da Ark. Então, ele me conta o que houve aqui. Os terra-firmes da Nação do Gelo chegaram no meio da noite, depois do toque de recolher que foi adotado desde que haviam notado que estavam sendo vigiados. Todos foram pegos de surpresa, exceto alguns guardas deixados nas imediações da cerca para lhes alertar de qualquer investida.

E foi exatamente o que eles fizeram quando os homens de Nia chegaram. Correram para minha mãe e Marcus quando viram um mar de terra-firmes ao redor da cerca. Eles traziam um enorme tronco de árvore com o qual vários deles abriram uma passagem pela cerca nos poucos minutos que os guardas levaram para acordar Abby e Kane. Quando eles soaram um alerta pelo edifício já era tarde de mais. Os terra-firmes estavam do lado de dentro com eles.

Alguns foram mortos ainda em suas camas. Alguns foram pegos quando buscavam suas armas. Outros morreram lutando. E assim meu povo diminuiu consideravelmente nessa noite. Um ódio ferve em minhas veias e vejo ele se espalhar pelos membros de Lexa. Seu rosto já não está mais impassível.

Apenas quando os terra-firmes se sentiram ameaçados pelas armas de fogo que eles nunca tinham visto até aquele momento, eles pararam. Aproveitando essa parada súbita, Kane se pronunciou e pediu por uma trégua. Eles pediram a cabeça de Lexa para os próximos três dias e foram embora deixando meu povo assustado e aos frangalhos. 

Sinto tanta raiva que eu gostaria de matar Nia novamente, lentamente, dessa vez não com uma espada, mas com minhas próprias mãos.

- Se eles desejam guerra com seu próprio povo, contra sua comandante, é o que eles irão colher. - ameaça Lexa quando paramos no final de um corredor em frente uma porta de metal. Ela desliza e lá estão Marcus, Kane, Octavia e Lincoln ao redor de uma mesa precária de metal.

- Eu quero ouvi-los pedir misericórdia. - eu digo com algum nível de raiva.

Nós entramos depois de Bellamy e ele fecha a porta apertando em um botão. Meus olhos encontram os de Octavia quase que imediatamente por que ela está me fuzilando na frente de todos. Estou esperando que ela ataque Lexa ou a mim com palavras, mas ela apenas franze o cenho e aperta a mandíbula diante de nós.

- Vocês vão ficar aí em pé ou vão se sentar conosco? - ela pergunta ferozmente.

- Calma, Octavia. - pede Lincoln, olhando substancialmente para aquela que foi sua comandante até um tempo atrás, colocando um braço ao redor dela.

Por algum motivo, eu gostaria que alguém fizesse o mesmo comigo. Estou tão cansada dessa guerra infinita. Desse vale da sombra da morte. Nós sentamos como nos foi sugerido com Lexa na cabeceira da mesa. Ela vai logo direto ao ponto como é do seu costume.

- Quantos homens e mulheres aptos para lutar vocês tem para mim?

- Talvez uns 30. - responde Kane.

Lexa ergue uma sobrancelha. Isso quer dizer que ela está decepcionada com nosso contingente.

- Nós perdemos cerca de 25 pessoas boas para luta. O que nos sobrou são vários feridos que mal se aguentam de pé. - informa minha mãe.

- Traga destes os 20 melhores. Eu não posso fazer nada com menos de 50 homens e mulheres dos seus. - avisa Lexa.

- E o que você pretende? - indaga Lincoln, curioso. Posso ver o guerreiro dentro dele analisando nossas opções e sei imediatamente que ele e Octavia são um dos trinta.

- Manter um cerco na aldeia da Nação do Gelo. Nós não vimos sequer um deles vindo para cá, o que eu presumo querer dizer que eles não estão pretendendo um ataque em breve. Suponho que não estão mantendo acampamento. - o final soa como se Lexa estivesse fazendo uma pergunta.

- Nós estamos de olho desde a invasão. Se eles estão longe de suas terras não estão por aqui. - diz Kane. - Quando você pensa em partir? Talvez devesse esperar mais alguns d...

- Não. Estou indo agora. Não vou esperar que eles se reúnam e tenham mais tempo de tramar contra mim. - retorqui Lexa, confiante. - Agora é o melhor momento.

- Talvez, conhecendo você como eles devem conhecer já que são parte do seu povo, eles esperem exatamente por isso. - joga Octavia.

Lexa balança a cabeça, descartando a opinião de Octavia tão facilmente quanto mataria um pernilongo.

- É como eu faço as coisas. Não vou voltar atrás agora. Passei minha vida inteira lutando contra meus inimigos. Eu sei quando devo entrar em uma luta.

- Lexa, eu acho que Octavia tem razão. - digo. - Você pode estar jogando sua vida fora por uma imprudência baseada em costumes. 

- Não são apenas costumes, Clarke. È a minha vida. Mas não espero que você entenda isso ou qualquer um de vocês. 

- Eles fazem isso por que eles sabem que conseguem atingir você. - continuo, desejando que Lexa seja capaz de escultar a razão e não suas emoções e seu desejo de vingança.

Jus drein Jus daun. Eles não sairão impunes enquanto eu viver. Você não é obrigada a lutar minhas batalhas, Clarke. - repreende Lexa, aborrecida.

- Eu não sou obrigada, mas essa luta não é só sua. Eles atacaram meu povo pessoalmente.

- Isso não se trata de você. Nem tudo gira em torno de você. - ataca Octavia.

- Basta! - repreende Kane. - Não estamos resolvendo nada com isso. Se você está decidida, Lexa, e não há nada que possamos fazer para que fique, falarei com  algumas pessoas. - ele se ergue.

- Eu vou com você. - diz minha mãe, se levantando de sua cadeira em seguida. - Alguns são meus pacientes.

Abby o acompanha para fora e restam apenas nós cinco na sala.

- Eu estou indo para onde meu exército, Clarke. - informa Lexa ao se elevar de sua cadeira. Seus olhos me perguntam se vou com ela.

- Vou permanecer aqui mais um pouco. - respondo sua pergunta silenciosa.

- Você sabe onde me encontrar. Se ainda quiser fazer parte disto, apenas não demore.

Lexa nos deixa e eu não gosto da sensação de vê-la ir.

- Clarke, faça com que ela reconsidere. - pede Bellamy pensativo.

- O que faz você pensar que eu tenho esse poder? - pergunto, imaginando outra briga com Lexa.

- O jeito como vocês se olham. - ele parece um pouco triste.

Octavia e Lincoln também se levantam.

- Nós vamos reunir o pessoal. - diz Lincoln e atravessa a sala de mãos dadas com Octavia. Eles também nos deixam.

Depois que tenho certeza que estamos mesmo a sós, eu pergunto a Bellamy:

Como nós nos olhamos? - sussurro com um medo infantil do que ele irá me dizer.

- Como se dependessem uma da outra para viver. - ele pigarreia como se afastasse uma visão ruim. É quando eu noto pela primeira vez que ele sente ciúmes de Lexa.

Fico boquiaberta. De todas as coisas que ele poderia dizer, eu não estive pensando realmente nisso. Ou estive? Em quanto eu dependo de Lexa. Eu balanço a cabeça. A afirmação dele parece idiota quando eu lembro de todas as nossas discussões, em como eu e Lexa temos maneiras diferentes de ver a vida e lidar com situações desesperadoras. Sacrifícios e sobrevivência são tudo que importam para ela. Bellamy parece ver essas constatações dentro de mim por que ele diz:

- Vocês são parecidas.

- Eu não vejo em quê. - digo de cabeça baixa, pois os olhos dele me acusam.

- Na maneira como cuidam de seu povo ao ponto de sacrificarem a própria vida. Apesar de tudo não posso dizer que Lexa não ama seu povo e que não faz de tudo por eles. - responde Bellamy como se doesse defender Lexa.

- É. Talvez.

Eu penso nisso e vejo verdade em suas palavras. Mas sermos parecidas não apaga tudo aquilo em que somos diferentes. Eu jamais teria traído Lexa. Eu acho.

- Talvez eu devesse ir me juntar a ela. - me levanto.

Bellamy olha para mim, verdadeiramente olha para mim. Através de meus muros e cascas e ele vê alguma coisa que lhe agrada, que faz com que me ame e eu quero perguntar o que é que ele é capaz de enxergar, mas não tenho coragem para dar esse passo.

- Talvez você devesse ficar aqui conosco. - ele pede, quase uma súplica.

- Você sabe que eu não posso. Se eles conseguissem matar Lexa, isso ainda não seria o bastante. Eu seria a próxima. Tenho que garantir que isso não aconteça.

- Por que você gosta dela. - de todas as suas palavras essas são as que mais parecem uma acusação.

Por alguma razão primitiva, eu aperto o botão onde meus dedos estavam descansando e deixo Bellamy com suas dúvidas, murmurando sozinho. Infelizmente, mesmo sabendo quem ele é e vendo o rapaz que abdicou de tudo para cuidar da irmã, mesmo sabendo que ele seria ótimo para mim, eu não sou capaz de enxergar através dele.

Você gosta dela. Quando estou diante de Lexa novamente quase posso sentir que isso é verdade.

 

°°°

Estamos sobre nossos cavalos, eu, Lexa e Titus e alguns dos outros terra-firmes, aguardando, quando minha mãe e Kane chegam com nosso reforço ao flanco do exército de Lexa. Eu não conto, mas acho que eles conseguiram reunir mais do que os cinquenta que ela havia pedido. Há gente que claramente não deveria estar aqui, mas eu aposto como eles não conseguiram fugir dos seus desejos de vingança. Eu particularmente estou nessa, mas por isso do que por qualquer outra coisa.

Kane e Abby nos cumprimentam e quando todos que vieram com eles se espalham, eles nos desejam sucesso em nossa empreitada. Lexa dá a eles o desenho de um mapa que eu montei com ela para que eles possam nos encontrar durante o período do cerco. Minha mãe pega a folha e a guarda, um sorriso tímido em seu rosto. Desmonto e lhe abraço, bem apertado, uma despedida que pode ser a última para nós.

Quando ela me solta, ela não implora para que eu fique, nem insiste em ir conosco por que este é seu lugar e ela sabe que nesse momento não é onde eu devo estar. Ela também deseja sorte a Lexa, mas de uma maneira mais contida e, por um breve instante, vejo incriminação em seu rosto como se Lexa fosse culpada de estarmos passando por tudo isso.

Mas de todas as coisas que posso acusá-la essa situação não é uma delas.

Após as despedidas, das quais Bellamy não participou, nós marchamos. Homens, mulheres e cavalos para um destino incerto. Para muitos de nós não haverá uma volta ao lar. Tenho total consciência disso. Fazemos nosso caminho através de árvores frondosas, mato e arbustos. Vejo a cabana de Niylah outra vez e desejo que ela pudesse estar do lado de fora para nos despedirmos. Ela é uma boa pessoa apesar do que concordou em fazer. Me pergunto se ela irá ver sua irmã outra vez. Talvez se tivermos sucesso, ela possa voltar para casa.

Cavalgamos até minhas costas e as nádegas estarem tão doloridas que penso em fazer o caminho a pé. Nos arrastando por uma imensidão de verde sem fim. Atravessamos um rio de forte correnteza com alguma dificuldade e continuamos, continuamos... Até eu ver os primeiros sinais de montanhas geladas no horizonte com seus picos salpicados de branco, até que a manhã e boa parte da tarde vão embora e nós precisamos parar para alimentar os cavalos e as pessoas.

Nós comemos e descansamos talvez por uma hora quando deitada ao lado de Lexa, eu penso em lhe fazer uma pergunta.

- Lexa, como você encara a morte?

Sua cabeça a centímetros da minha vira para o meu lado e seus olhos que estavam prescrutando as árvores buscam os meus.

- Eu posso vê-los em meus sonhos. - diz ela como se eu pudesse entender do que ela está falando.

- Quem?

- Os outros comandantes. Eu tenho esses sonhos onde eles falam comigo e me aconselham. Eu não sei onde eles vivem realmente após suas mortes, mas como nunca  teceram uma palavra sobre isso, eu suponho que é um bom lugar para se estar.

Então, ela acredita que de alguma maneira seu espírito vai permanecer em algum lugar. Já ouvi falar disto quando vivia na Ark. È uma boa coisa em que se ter esperanças.

- Eles disseram alguma coisa sobre o que estamos fazendo?

Sua cabeça se volta para cima e ela olha mais uma vez para as folhas acima de nós. Parece cheia de dúvidas e medo.

- Apenas que era meu destino traçar este caminho. Eu tenho que fazer isso para completar um ciclo, Clarke. - comenta Lexa como se fosse um aviso.

E eu lembro de um ciclo. O ciclo da vida. Penso irremediavelmente em como ele termina. Morte. É quase de mais para mim pensar na morte de Lexa e eu fico calada imaginando que pessoas vão morrer e nós podemos ser uma delas.

Então, eu sei que no que depender de mim esse ciclo não vai se cumprir para Lexa.



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