1. Spirit Fanfics >
  2. Sky Ascending >
  3. Capítulo 3: Circunstâncias

História Sky Ascending - Capítulo 3: Circunstâncias


Escrita por: suzannaclimaco9

Capítulo 3 - Capítulo 3: Circunstâncias


Duas semanas se passaram desde a luta com Jót. 14 dias em que cada segundo que me havia de sobra pensava no meu povo. Será que estão a minha procura? Minha mãe jamais se conformaria com a minha saída. Ela mpveria o mundo para vir atrás de mim. Bellamy estará mantendo vigia sobre os outros ou estará na floresta procurando meu rastro com eles? É o que se esperaria dele. Bellamy aprendeu a amar o seu povo e se preocupar com cada indivíduo como se fossem da sua família. E aquele olhar... Talvez ele venha por mim.

Embora, eu não deseje que eles venham. Não depois de ter amostras do poder de Nia. Aqui na Nação do Gelo eles são mais organizados, possuem mais ferramentas e pessoas, e Nia inspira o seu povo como nunca vi ninguém ser capaz de fazer. Não duvidaria que até mesmo as crianças dariam sua vida por sua rainha. É diferente de Lexa que é apenas uma jovem que obteve poder subitamente. Seu povo foi obrigado a aceitar-lhe e apesar de demonstrar força e sabedoria em suas escolhas, eu sei que ela não tem todos ao seu favor. Não vejo isso aqui.

Já o meu povo é pequeno, mal abastecido de armas, cheio de pessoas com cicatrizes e medos. Estão mais fortes do que antes, mas não o bastante. É por isso que eu estou verdadeiramente tentando ser o que Nia espera que eu seja. Não por ela ou por nosso acordo ou por meus desejos de vingança, mas por que eu gostaria de ser capaz. Sem me preocupar com limites pequenos ou se eu tenho alguma arma com a qual estava acostumada. Se apegar as coisas do passado - a quem eu era - só acabará por ser a causa da minha morte. E então o que seria do meu povo?

Eu já decidi. Voltarei ao Camp Jaha. Não deixarei que o sentimento de culpa me corroa e me isole. Não é assim que devo honrar as mortes dos que foram sacrificados para que tivéssemos a chance de perpetuar a humanidade. Irei voltar, mas apenas depois que eu encontrar uma maneira para que possamos viver em paz. Que possamos ser como essas pessoas que vivem aqui. Do contrário, seremos dizimados, mortos um a um e não restará ninguém para lembrar daqueles que vieram do céu.

Se apenas os terra-firmes parecem conseguir sobreviver, então devemos aprender com ele. Podemos começar por mim. Serei uma terra-firme. Por isso, foi bom ter partido. Agora sabemos que temos mais inimigos do que suponhamos.

Só queria saber se todos estão bem para me focar integralmente. Eu deveria pô-los no acordo. Nia precisa de mim mais do que diz. Para ter o comando do bando de selvagens de Lexa, ela precisa que confiem nela. Isso não viria se soubessem que ela planejou a morte de sua líder. Meu coração acelera de súbito com esse pensamento. É para isso que ela precisa de mim. Para que eu seja a pessoa que eles irão odiar e então eles terão uma motivação para lutar.

Minha garganta se fecha, seca como rocha do deserto, e dói. Dói em um ponto que eu não havia sentindo estar vivo desde a morte de Finn. Eu precisei assassiná-lo e o que me resta agora? Nada mais que voltar ao mesmo ponto. Como será ver os olhos escuros de Lexa perderem o seu brilho usual, a ferocidade que faz dela uma terra-firme? Será que me bastará saber que foi o que ela merece depois do que fez? Deixou-me para morrer ou escolher deixar meu povo morrer. E nada do que eu diga a mim mesma faz com que eu esqueça aquele momento em que ela revelou-se uma traidora.

As lágrimas vêm aos meus olhos e eu as deixo ir. Queimam como se fossem lava e meu corpo estremece. Se não fossem as correntes eu desabaria. Não quero matar Lexa. No fundo, não é o que eu quero. Contudo, por quê? Talvez eu saiba, mas não queira admitir. Então, eu forço as lágrimas a pararem. Ela não deve ter chorado por mim. Ela não teria pena se fosse o caso. Amor é fraqueza.

Em algum ponto, adormeci e quando meus olhos se abrem há alguém na cela comigo. Me ponho estirada, e meus pulsos já não protestam mais como antes, acostumados com o decorrer do tempo. Quem está lá é Nia. A primeira vez que ela vem me ver desde a humilhação que me fez passar lutando com Jót. Forço minha expressão a ficar impassível.

- Veio ver se ainda estou viva? - digo com sarcasmo. - Para sua felicidade, ainda estou de pé.

A rainha sorri, entrelaça os dedos sobre o longo vestido vermelho, e observa-me como se eu fosse um macaquinho divertindo-lhe.

- Ah, Clarke! Não posso dizer que não senti falta da sua astúcia. Só vim lhe informar que dei autorização aos meus caçadores para levar você amanhã com eles. - diz ela misteriosa.

- Levar-me para onde? - indago sem entender.

- Ora, e não é óbvio? Para caçar com eles na floresta. Confio que você vai se sair bem lá fora. É bom para você que saiba mais de estratégia. Abater um animal não é diferente de matar uma pessoa. Se não é mais difícil. - informa ela pensativa.

Algo cruza minha mente.

- Eu quero vê-los.

- Os caçadores? - sua voz soa falsamente enganada.

- Meu povo. - minha voz soa firme.

Os lábios dela crispam-se irritados. Sua expressão fala por ela.

- Não agora. - meus dentes cerram-se com raiva. - Mas não quer dizer que não vai acontecer.

Fico em silêncio. Ela sabe que me pegou com essa. O que eu posso dizer? Preciso saber que estão bem. Mas algo mais também. Preciso prepará-los para as consequências do que farei. Se eu for bem sucedida em matar Lexa, Nia vai conquistar o seu povo e eles pedirão por vingança para sua Heda e nada me faz crer que ela não acabará me traindo, agrupando-os e vindo atrás de nós. Isso se houver tempo para que eu escape. Se não, todo o meu povo será pego de surpresa e não posso deixar que isso aconteça novamente.

Estou entre fazer o desejo de Nia e esperar que ela não me traía ou anteceder o dia da morte dos meus amigos.

- Eu espero que você saiba o que está fazendo. - murmuro.

A rainha fixa-se em mim, o rosto com uma expressão de pedra e depois algo mais como curiosidade, então ela vira-se para a porta parando por um instante.

- Tive muito tempo para pensar nisso. É para o bem do meu povo.

Eu já ouvi palavras semelhantes a essas muitas vezes. Ela se vai. O baque da porta fechando-se permanece murmurando como um fantasma e estou novamente só.

- Meu nome é Kange. - diz ele, o homem que me capturou na floresta depois de me acertar a cabeça com algum porrete e me trouxe como um prêmio para sua irmã, a rainha da Nação do Gelo.

KAnge é mais alto que os outros terra-firmes que vi por aqui, ele deve precisar de muito mais peles para cobrir-se. Ele usa uma curta capa pontilhada de pelos negros e cinzas atrelada as costas. O homem deve ter por volta da idade de Marcus, o conselheiro do Chanceler Jaha. É pouca coisa mais novo que Nia. Seu rosto está cheio de tinta preta formando linhas e curvas em seu rosto maltratado, a barba é longa e trançada na ponta, mas seus olhos são quietos e observadores.

- Eu sou Clarke, mas você já deve saber. - respondo.

Ele gesticula afirmativamente e empurra algo em sua mão para mim. Uma vara com um pedaço de metal encrustado na ponta.

- Tome. - pego a lança e ela apoia-se muito bem na palma da minha mão. - É para você caçar conosco. É uma arma simples, mas é mais fácil para pegar experiência. Em todo caso, você poderia muito bem usá-la contra um homem.

A lança é feita de um material incrivelmente leve, mas não parece-me prática no entanto. Um vento na hora errada, força a mais na hora de arremessá-la e eu estaria exposta. Mas se ele diz que é mais fácil para que eu aprenda, eu acredito. Vi inúmeras pessoas morrerem por elas. Envenenadas então são ainda mais mortíferas.

Estamos nos fundos da aldeia, muito depois da construção onde estive todos estes dias. Estamos esperando que outro caçador junte-se a nós. Coloco a lança em um apoio na parte inferior do meu traje e volto-me para a floresta. Saudade esmaga meu peito, um desejo de correr para longe, de volta para o Camp Jaha. Eu não sabia antes, mas lá é o meu lugar. Qualquer outra coisa é impensável. Contudo, para que eu volte preciso passar por isso. Até lá preciso esquecer a dor.

- O que esperamos caçar? - indago no intuito de afastar as lembranças.

- Qualquer coisa que a floresta tiver para nós. - murmura Kange, mas ele não está prestando atenção em mim. Ele está olhando um grupo de crianças pequenas circulando mais adiante entre as casas, se você puder nomeá-las assim. O irmão de Nia parece triste.

- O que é, Kange? - de repente, eu me preocupo com ele.

- Nada. - ele olha-me nos olhos, os seus são de um azul misturado ao branco como um céu pontilhado de nuvens. - É só que aqui já não é como antes.

Antes que eu diga alguma coisa, o companheiro misterioso de Kange surge correndo em nossa direção com uma faca comprida de caça em mãos. Ele bate um das mãos nas costas de Kange e sorri para ele. Antes de me notar, é claro.

- Você não me disse que iríamos ter de levá-la. - o homem retalia irritado quando adentramos a floresta.

- Ordens da rainha, Roan. - responde Kange fazendo pouco caso da choradeira do amigo. - Clarke é sua nova arma.

Meus pés param de súbito. Nova arma. Isso significa que ela fez algo parecido antes com outra pessoa. Roan é o primeiro a notar que não estou seguindo-os e ele puxa o braço de Kange para que ele pare também.

- Vamos, Clarke. Nós não podemos...

- Você disse nova arma. O que isso quer dizer? - pergunto e ele rola os olhos aborrecido. Caminha na minha direção, uma faca materializada na sua mão direita, e toda a sua cordialidade vai embora.

- Não quero problemas com a minha irmã. Finja que eu não lhe disse isso. - quando abro minha boca, ele segura minha cintura e empurra-me a diante. - Você vai na frente agora e trate de não fazer barulho para espantar a caça ou juro como vou dar um dos seus membros para os porcos comerem essa noite.

Roan passa por mim com um sorriso presunçoso no seu rosto comprido e fino se posicionando na retaguarda com Kange. Puxo a lança, libertando-a, e tento me focar no que vim fazer aqui. Mas logo fica claro que eu não sei o que fazer, então os dois caminham ao meu lado , cada um posicionado em um dos meus ombros. Depois de uns 15 minutos em que não vemos nada além de árvores e pedras, Kange estaca levando um dedo aos lábios. Sinal que quer dizer silêncio.

Repentinamente, ele posiciona o arco a sua frente engatando precisamente uma flecha na corda. Ele aponta-a para seu lado direito. Procuro aprumar meus ouvidos, observo a direção para a qual ele aponta e ouço restolhos. Folhas e galhos sendo quebrados ao longe. O ponto de onde partem os sons é mais fechado, as árvores juntas como se dessem as mãos. E eu vislumbro algo. Uma massa marrom entre os troncos.

- Ele é enorme. - Roan sussurra em meu ouvido, meio curvado, a faca longa empunhada.

A cabeça do animal erguesse, as orelhas apontando para todos os lados. Ele está de lado e um dos seus olhos encontra os meus. Um antílope. O animal nos nota e dispara floresta a dentro. Kange solta uma flecha um segundo após, acertando uma das árvores onde o antílope se abrigava.

- Vamos atrás dele. Está indo em direção ao rio. - ele empurra levemente meu ombro e começamos a correr atrás do antílope que já está longe, um borrão cinza em minha visão.

Minha respiração condensasse no ar frio da floresta, minhas pernas me levam cada vez mais rápido e eu me sinto bem. Livre. Estou sorrindo e esqueço dos dois caçadores ficando para trás. Aí eu paro quando noto que a quantidade de pedras aumenta e as árvores diminuem depois de fazermos uma longa curva. Ele está mesmo indo para o rio. Kange me alcança.

- Você fez bem em parar. Olhe. - ele gesticula para o traço fino de água após a cobertura das últimas árvores e lá está o animal alheio a nós, a cabeça baixa enquanto sorve da água, as orelhas inquietas, mas o corpo paralisado. Ele é mesmo enorme, quase 1,5 m de altura, marrom com listras pretas e brancas no dorso.

- Ele é lindo. - sussurro. Olhando para ele sei que seria incapaz de abatê-lo. Não aqui, quando ele me lembra sobrevivência. - Não posso fazer isso.

- Ah, você vai, Clarke. - sinto a lâmina da faca de Kange roçar as minhas costelas. - Não posso matá-la, mas certamente posso feri-la. Nia não ficará feliz se voltarmos sem nada. Se não for este será outro. Faça agora.

O caçador retira a faca do meu lado, mas a pressão continua lá. Engulo em seco. As coisas que somos obrigados a fazer... Saio de detrás da árvore em que estávamos e com cuidado me arrasto até a próxima. Milagrosamente, atinjo uma posição em que o animal não pode me ver. Empunho a lança com a mão direita tentando lembrar como os terra-firmes o fazem. Kange não vai me dar instruções. É bom que eu acerte, pois só tenho uma chance.

Não viro-me para ver Kange ou Roan, mas a tensão faz com que eu não deixe de perceber suas presenças. Eu posso fazer isso, grito em minha cabeça. Eu fui capaz de matar Finn. Raiva sobe por meu tronco e aperto mais a lança, sinto uma brisa passar por mim descendo em direção ao rio e mentalmente faço o cálculo do que seja o ângulo certo. O antílope está a uns bons 7 m de onde estou.

Atiro a lança. Ela produz um zunido quando corta o ar, projetando-se para cima até encontrar o limite e descer para baixo. O animal levanta a cabeça dando-se conta do seu inimigo, mas é tarde. A ponta da lança fere sua carne entre as costelas e enterrasse ali com força. Ele cai no chão indefeso, sangue jorrando para fora e começa a se debater ainda vivo. Algo passa pela minha visão periférica, provocando-me um arrepio. O antílope grunhe e vejo uma flecha atravessando a sua garganta onde a pouco não havia nada.

- Na próxima vez, acerte onde possa matá-lo de uma vez. - resmunga Kange abaixando o arco, mas quando ele dá tapinhas em meu ombro antes de ir para o cadáver da nossa caça sei que ele está feliz com meu desempenho.

É preciso que cada um de nós ajude para levá-lo de volta a aldeia. Secretamente, fico feliz por ter conseguido enquanto fazemos nosso caminho de volta. Quando chegamos, Nia nos recebe na cozinha. Ela não esboça nem o menor dos sorrisos ou qualquer indicativo em sua expressão de que fui aprovada na tarefa, mas sou permitida estar de volta no quarto em que me haviam colocado em primeiro lugar. Pela primeira vez desde que estou aqui, ela pensa que fiz algo certo. Talvez não falte muito para me tornar uma terra-firme.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...