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História Sky Ascending - Capítulo 4: Vislumbre


Escrita por: suzannaclimaco9

Capítulo 4 - Capítulo 4: Vislumbre


Passasse mais uma semana até que a rainha aprove a minha ida até o Camp Jaha. Uma semana quer dizer: muitas lutas, embora nem todas ganhas; muito esterco sendo recolhido, ajudas na cozinha e até mesmo limpeza de toda a construção. Foram os dias mais exaustivos pelos quais já passei desde que estou na Terra. Muito mais cansativos do que planejar batalhas e estar nelas.

Mas se isso queria dizer que eu poderia ver meu povo novamente, então eu devia ir fundo. Contudo, eu estou ciente que não irei até eles sozinha. Não é uma volta para casa e definitivamente não é como se eu fosse de total confiança.

Fico me dizendo isso diversas vezes. Não tenho escolha. Não agora. Preciso de tempo e tempo ganha-se com paciência. Já é um grande prêmio poder vê-los mesmo que de longe. Meu peito se aperta com saudade e cada hora em que estou aqui e não lá é um suplício. Não posso estragar tudo agora.

Será que minha mãe estará lá me esperando? E Bellamy com todos os outros? Poderia ser possível que estejam bem? Fico imaginando que Lexa arrumou qualquer pretexto para atacá-los novamente e que estão todos mortos. Essas dúvidas vão me matar. Ainda bem que o dia de ter certeza é hoje.

Visto-me como me instruíram: uma camisa de mangas longas cinzenta com uma regata de couro por cima, uma calça de lona de um marrom desbotado, botas e a lança premiada pendurada nas costas. Eles me deram uma faca também para o caso de avistarmos o povo de Lexa rondando o Camp Jaha. Eles acreditam que eles não serão capazes de me reconhecer. Roan e Jót irão comigo para vigiar-me. Eles terão armas melhores a disposição. De alguma forma, me consideram perigosa o bastante para merecer dois guardas bem armados.

Uma criada de nome Guin faz linhas pelo meu rosto com algum tipo de tinta artesanal. Traços ao redor dos meus olhos que acentuam seus tons fazendo-os parecer profundamente azuis, linhas negras em minhas bochechas que assemelham-se a arranhões. Guin faz seu serviço em silêncio de forma meticulosa, não olha em meus olhos e parece-me distante. Permaneço em silencio enquanto ela trancei-a meu cabelo no costume padrão dos terra-firmes e as puxa em um coque preciso.

Eles querem me deixar o mais irreconhecível possível para o caso de alguém do meu povo me ver. É por isso que eles me vestem com roupas mais leves que pertenceram a inimigos capturados do clã de Lexa, assim ninguém saberá dizer que não sou uma deles. Nia não quer que saibam da sua existência antes da hora, então vamos nos passar por grounders do clã Trikru.

Ontem fui capaz de encontrar um pedaço de papel no meu quarto, embora muito pequeno, e roubei um pedaço de carvão da cozinha. Vai ter que servir. Quando Guin me deixa a sós tenho uns poucos minutos antes que Roan venha me buscar, então aproveito para escrever a mensagem.

"Sou eu. Clarke. Estou bem. Encontro-me..." Penso se forneço alguma ideia a eles de que sou prisioneira. Isso faria com que eles procurassem por mim. Nia poderia matá-los e eu nunca ficaria sabendo. Eles precisam se manter como estão, seja lá o que isso seja. Apago a última palavra. "Sou eu. Clarke. Estou bem. Encontrei um lugar para mim. Decidi algo que precisam saber. Matarei Lexa antes que ela resolva fazer o mesmo conosco. Estejam preparados, pois haverá retaliação. Não posso explicar-lhes tudo agora, mas esperem por mim. Só aguardem." O espaço na folha de papel acaba e escondo-a na minha roupa. Só posso esperar que entendam.

Lágrimas me vêm aos olhos. Frescas e dolorosas. A porta atrás de mim produz um estalido seco, alguém entra e não preciso virar-me para saber quem. Enxugo o rosto apressadamente antes de levantar-me.

- Vamos, Clarke. - chama Roan parado na soleira da porta. Tento encontrar algo em sua expressão que me faça sentir mais segura de que não é uma armadilha da rainha. Quem sabe o que ela tem em mente? Mas o rosto de Kange permanece incólume, lembrando-me vagamente Lincoln quando o torturávamos. Nada nele denunciava-o. De repente, tenho inveja.

- Estou logo atrás de você. - gesticulo para que ele saía na frente e lá estamos nós deixando a aldeia da Nação do Gelo.

As árvores parecem todas iguais em qualquer lugar da floresta. As folhas secas no chão, a brisa soprando, o cheiro de terra e de adubo. Mas então algo lhe chama a atenção. Um padrão nas sombras, no modo como os galhos se atiram uns aos outros, o musgo nos troncos e, as vezes, até o cheiro da morte. É difícil não reconhecer o lugar onde muitas das pessoas que você gostava morreram ou onde você matou pela primeira vez. E tudo aconteceu aqui, ao redor do lugar onde nós caímos do céu.

Pedi a Roan para virmos aqui primeiro, uma tarefa difícil para ele concordar por que segundo suas palavras "Nia não falou nada sobre seguirmos um caminho diferente da caça". Disse a ele que eu apenas queria dar uma olhada e acho que a expressão em meu rosto lhe deu algum nível de compaixão. Mas não é por nostalgia que eu desejava visitar os destroços da nave que nos trouxe para a Terra. Entro no ferro velho e retorcido que nos serviu de abrigo e Roan e Jót me esperam na entrada. Fico um tempo ali parada, absorvendo o pouco do que posso enxergar no meio breu e meu estômago borbulha com ansiedade. Afasto as lembranças e vasculho o local, procurando por um lugar relativamente fácil para encontrarem a minha mensagem. Se algum deles ainda vir aqui.

Logo dou-me conta da mesa onde Raven costumava trabalhar com o rádio. Um bom lugar. Um ótimo na verdade. Talvez ela ainda precise vir aqui, o pensamento reconfortante encontra base nas ferramentas que foram esquecidas para trás quando fugimos as pressas. Pesco a folha de dentro do meu traje e a coloco sobre a poeira. Pego uma espécie de pinça metálica para servir como aparador e o ajusto para que segure a folha.

- Ei, garota. - a voz rouca de Roan se pronuncia vinda de fora. - Nós temos um tempo determinado para fazer isso. Se quiser vê-los ainda, vamos agora.

Permaneço um tempo com os olhos fixos na folha amassada. Isso é certo? Nem sei se terei mesmo sucesso em matar Lexa, se eu voltarei mesmo para Arkadia e isso pode servir apenas para mantê-los aflitos. "Nós vamos encontrar uma motivação para você lutar", disse-me Nia. Quando giro de volta para fora, em um lugar obscuro dentro de mim sei que já encontrei. Isso tudo é culpa de Lexa.

Após uma longa caminhada, estamos na beira da clareira onde estão os destroços enormes da Ark com todo meu povo. Estamos muito longe para que eu veja mais do que alguns poucos pontos negros caminhando após a cerca. Verificar que tudo parece normal, sem indícios de qualquer ataque me dá alívio. Roan está ao meu lado, paralisado por algum tipo de espanto. Ele parece brevemente assustado. É algo relativamente novo para ele. O povo que veio do céu.

- Nós ficaremos sobre as árvores até a noite. - ele diz voltando-se para mim. - Há muitos guardas ao redor da cerca. Não podemos nos aproximar a luz do dia e eu sei que você não quer vê-los de longe.

- Não mesmo. - murmuro. - Eu preciso ver minha mãe e os outros. Saber que estão vivos.

- Nós não fizemos nada com eles. - diz ele com convicção como se quisesse espantar meus receios. - Eles devem estar escondidos aí. Não ouvimos falar de ataques.

- Eu quero vê-los. - retalio irritada antes de me puxar para cima da árvore mais próxima. Rapidamente chego a uma altura considerada ideal. Isso fez parte do meu treinamento. - E não quero falar sobre isso. Venham logo antes que os oficiais vejam lampejos do movimento de vocês.

- Nós podíamos dar conta deles. - responde Jót ferozmente com as pernas balançando para fora de um galho próximo. Ele acredita nisso ferreamente. Quero dizer a ele que não seria mais fácil, mas deixo que ele acredite no que quiser.

Puxo das minhas costas a bolsa de peles que guarda algum alimento que Roan me forneceu. Levo o pote com água até os lábios secos, mastigo algumas nozes e recosto minha cabeça no tronco. O galho é largo o bastante para que eu me aprume e tenha algum espaço para mexer-me, ainda que não seja o bastante para não temer uma queda. Em algum momento, o cansaço faz-me cair no sono. Um doce sono sem sonhos como não tive em tempos.

Muito tempo depois, desperto com um cutucão da espada de Jót e ele aponta em meio a escuridão para o Camp Jaha. Meus olhos mal piscam em seguida, quando dou-me conta já estou no chão e os outros me seguem para a beira da floresta. Várias pessoas estão no campo aberto dentro da cerca, suas formas bruxuleando em luzes laranjas e douradas vindas das tochas. A maioria do meu povo está do lado de fora, juntos em uma espécie de reunião.

- Eles estão distraídos. - afirma Roan, a voz sussurrada, quente e urgente como se ele quisesse atacá-los. - É nossa chance. - ele empunha o arco e posiciona uma flecha na corda, saindo para a clareira, curvado e exposto. Jót o segue com a espada em mãos. Entrelaço meus dedos ao redor da faca em meu cinto e sigo-os.

Em instantes, nós estamos em um lado da cerca onde a grama cresceu consideravelmente e podemos permanecer semi cobertos por ela ao deitarmos no chão. Nossas vestimentas e tintas nos rostos nos proporcionam camuflagem suficientemente boa para passarmos despercebidos. Não demora muito para que eu veja ao redor de quem o meu povo está. Abby, Marcus e Lincoln. Fico imaginando quantos poderiam ter vindo e os espiado como estamos fazendo, tão facilmente que chega a me dar medo. Tenho o desejo de avisá-los do perigo de estarem expostos assim, mas não estou só.

Eles estão falando baixinho, no entanto. Não posso entendê-los. Fico meio feliz, afinal isso é bom. Mas então eu vejo os olhos de Roan brilhando com reconhecimento. Talvez ele possa ver o que eu não vejo.

- Eles devem estar procurando por você. - ele sussurra e mal posso entendê-lo. - O homem grande está apontando para o lugar onde encontrei você. Não entendo como eles sabem. Fui tão cuidadoso em não deixar marcas...

O homem grande a quem ele se refere é Lincoln. Ele parece nervoso e preocupado enquanto seus lábios movem-se depressa. Eles não podem me procurar. Eles não podem encontrar Nia. Não antes de receberem minha mensagem. Que droga, talvez eu tenha estragado tudo ao fugir do acampamento. Balanço a cabeça com força desejando não me preocupar tanto, eles sabem se cuidar. E é quando algo parece não se encaixar quando observo-os novamente.

Bellamy. Raven. Murphy. Eles não estão lá em qualquer lugar visível para nós. Fico um pouco menos chocada quando encontro Octavia encarando Lincoln no meio de um grupo . Onde eles podem estar?

- Nós precisamos ir agora, Clarke. - comanda Roan, uma mão em meu braço ao seu lado. Repentinamente, minha faca está apoiada em seu pescoço e estou com raiva.

- Você não vai me dizer quando devo sair de perto do meu povo. - minha voz soa fria e cortante como o ar da noite. Ele murmura algo na sua língua nativa. Algo como: "Você vai se arrepender disso."

Jót pula sobre mim, levando um braço por baixo do meu pescoço e estou sem ar.

- Solte a faca, Clarke. - ele pressiona mais minha garganta, mas não libero Roan. Ele não poderia se mexer sem que eu cortasse sua garganta. Tenho consciência de que poderia gritar por ajuda e o meu povo viria me salvar. Eles prenderiam Roan e Jót, e eu estaria salva. Mas até quando teríamos paz? Isso nunca teria fim.

- Vou soltar. Saia de cima de mim. - peço e largo a faca. Jót rola para o lado e sou liberada.

- Vou cuidar para que você nunca possa vê-los novamente. - afirma Roan enquanto voltamos para a cobertura das árvores. - A rainha ficará sabendo disso.

Meus braços enrijecem, meus dentes rangem enquanto devolvo o olhar provocador dele. Eu não vou suportar isso por muito tempo. Estamos sobre uma linha tênue.

- Eu não me importo com o que você tem a dizer a ela. - cuspo. - Você e eu sabemos que não fará diferença. Nia tem um propósito para mim.

- E quem vai mantê-la segura depois que isso acabar? - ele gargalha. - Sua ingênua!

- Eu me manterei segura. - meus pés me arremetem para frente e não preciso deles para encontrar o caminho de volta a aldeia.

Como olhar para a imensidão negra acima da minha cabeça, repleta de estrelas de todos os tamanhos e conseguir não lembrar-me de uma vida inteira? Tantas vezes eu fiz o caminho inverso. Fosse olhando pelas janelas da Ark ou através dos meus desenhos. Embora antes tudo parecesse um sonho distante. A terra prometida e nós os únicos humanos dispostos a reinvindica-la. Então, chegamos aqui e há tanta terra para todos os lados e pessoas vivendo nela. E elas também pensavam estarem sozinhas.

Nós invadimos o seu espaço, mas não somos todos seres humanos? Eu podia procurar entendê-los, mas isso não faz com que não tenhamos direito de viver aqui também. Nós vamos lutar pela terra mesmo que no final tenhamos que entregar nossas próprias vidas. Passamos uma vida inteira, particularmente eu, sendo ensinados a desejar estar aqui para perpetuarmos a humanidade dando continuidade a ela. E isso já não quer dizer o mesmo de antes. Significa continuarmos vivos. Eu, Clarke, farei o possível para chegar lá.



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