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História Smells Like Teen Spirit - Broken


Escrita por: Finallais , fifthondrugs e RenaTriz

Capítulo 44 - Broken


44

Matthew

Assim que Ash colocou os pés para fora da casa, eu soube que não aguentaria passar aquela noite sozinho ali. Eu procurei pelo número do Carter na minha agenda e liguei para ele, e claro que meu irmão prontamente disse que viria até aqui. Se fiquei dez minutos esperando, fiquei demais, mas foi tempo o suficiente para as lembranças me afogarem na tristeza mais forte possível. Eu nunca tinha considerado nem sequer passar um tempo aqui e agora eu iria morar. A campainha tocou e eu me levantei para me arrastar até a porta, ao abri-la tive uma surpresa.

— Holly? — Minha expressão se tornou confusa.

— Espero que não se importe de eu ter vindo. — Ela acenou para mim.

— Ela me obrigou a deixar ela vir comigo. — Carter disse assim que meus olhos encontraram ele.

— Eu trouxe bebida, vai nos deixar entrar ou...? — a menina perguntou.

Eu abri mais a porta dando passagem para eles e, assim que passaram, eu fechei e me virei. Carter percorria com os olhos toda a casa e logo parou em mim.

— Por quanto tempo vai ficar? — perguntou e pareceu preocupado.

— Provavelmente até eu me formar. — Dei de ombros.

— Vai morar sozinho? — Holly se jogou no sofá.

— Sim, não vejo problemas nisso. — Dei de ombros e me encostei na parede.

— Bem, não tem problema... é só que... — Carter coçou a nuca.

— Está tudo bem, eu vou ficar bem. — Suspirei.

Eu sabia que meu irmão estava preocupado comigo pelo simples fato de que o antigo morador dessa casa me faz uma falta extrema e estar em contato 100% do dia com tudo isso poderia me botar numa bad fodida, mas talvez ficar aqui doa menos do que ter que olhar para Stassie todos os dias.

— Vamos beber? — Holly disse cortando o silêncio.

Fiz uma careta. Ninguém ali estava sóbrio devido à festa de Tony, mas eu não recusaria uma bebida agora nem que fosse álcool 70.

— E então... — Carter procurou por copos na cozinha e logo voltou. — Quer nos contar o que aconteceu? — Começou a encher as doses.

— Não sei! — Fitei os copos na minha frente em cima da mesinha.

— Você sabe que pode confiar na gente, Matt. Só estamos aqui para te ouvir hoje. — Holly pegou um dos copos e logo virou de uma só vez.

Eu peguei o meu e virei também.

— Podemos fazer um jogo se isso te faz sentir melhor. — Deu de ombros. — Enchemos três doses e cada um conta um problema e no final desse problema vira as três doses de uma só vez. Vamos fazer isso até esquecermos o motivo da tristeza! O que acham?

— Eu topo. — Carter afundou o corpo ao meu lado no sofá.

— Okay, estou dentro. — Sorri de lado.

— Então eu começo. — Holly encheu os três copos e os fitou por alguns segundos. — Bem, eu...

Naquele momento eu notei o quão ruim aquilo poderia ir, afinal, eu tinha quase certeza de que boa parte das coisas que poderiam deixar Holly triste estavam diretamente ligadas ao cara sentado do meu lado.

— Stassie me traiu — eu soltei antes que ela concluísse uma frase.

— Com quem? Onde? Como você soube? — A loira me metralhou de perguntas.

— Com o amigo do Carter, na casa do Carter e bem... eu ouvi e vi. — Dei de ombros.

— Meu amigo? Jason? — Carter se mexeu impaciente do meu lado.

— Ele é um grande babaca. Mas quem tinha compromisso comigo não era ele, bro. — Estiquei o braço para pegar um dos copos.

— Só pode tomar depois que contar toda a história. — Holly me parou.

— Ok. — Fiquei em silêncio por alguns segundos.

Era como se tudo agora tentasse se encaixar na minha cabeça, mesmo não tendo o que e como ser encaixado.

— Eu preciso beber. — Peguei o copo e virei rapidamente.

O líquido já não queimava tanto como de costume e isso era um ótimo sinal.

— Eu entreguei o meu coração para uma pessoa que eu achava que conhecia, mas no final vi que só fui um grande babaca. — Eu não olhava para nenhum dos dois ao meu lado, mas eu tinha certeza de que seus olhos estavam fixados em mim. — Nós dois fizemos promessas e agora todas elas foram quebradas, assim como a porra do meu coração. — Peguei mais uma dose e virei antes de relaxar meu corpo no sofá e encostar a cabeça atrás. — O amor é tão mal visto e é por causa disso, porque ás vezes achamos que encontramos a pessoa perfeita quando na verdade estamos só nos enganando. Eu estou devastado por dentro, cara, estou devastado porque eu sei que assim como Joey a minha Stassie não tem volta, eu a vi morrer quando encontrei ela na cama com aquele otário. Mas a diferença é que ela vai ser o meu fantasma que ronda pelos corredores e pelo campus, enquanto Joey... — Me estiquei para pegar o último copo. — Eu estou fodido de todas as formas e a que mais me preocupa é a sentimental. Eu não quero sentir essa dor que estou sentindo por alguém que simplesmente não vale a pena, porque ela não vale a pena — eu tentava me convencer.

A verdade é que quando você namora uma pessoa, você acaba se entregando para ela e confiando seu coração nas mãos dela. E agora eu tinha o meu coração de volta, mas ele estava complemente em pedacinhos e eu não conseguia ver uma opção para curá-lo. Eu não conseguia ter mais a imagem da Stassie como a pessoa que eu fazia planos para um futuro não tão distante, ela agora era uma desconhecida para mim e isso era o que mais machucava e fazia tudo doer.

— Eu sinto muito Matt. — Holly acariciou minhas costas.

— Eu vou ficar bem, eu consigo passar por isso numa boa. — Peguei a garrafa e voltei a encher os copos.

Carter estava em silêncio do meu lado e eu tratei de virar as três doses rapidamente mais uma vez.

— Vamos falar sobre alguma outra coisa — meu irmão sugeriu.

Nós ficamos algum tempo bebendo e falando algumas coisas aleatórias, conseguimos achar coisas boas em pequenos momentos que nos tinham acontecido e a garrafa já estava seca e eu decidi ir até o quarto pegar uma nova. Abri o armário e apenas duas haviam restado, peguei só uma e a outra eu sabia que precisaria outro dia.

— Matthew gritou como uma menininha nesse dia. — Carter não continha as gargalhadas altas.

— Beba mais e pare de contar minhas histórias vergonhosas para ela. — Revirei os olhos e joguei a garrafa para ele.

— Eu sinto pena é dos pais de vocês, deve ter sido difícil aturar duas pestes. — Holly tentava parar de rir.

— É, anjo? Nunca fez nada demais né? — Cruzei os braços.

— Não, sempre fui a menininha das mamães. Sempre fui muito educada e uma criança admirável! — Deu de ombros enquanto se gabava.

— Deixe eu refrescar a sua memória. — Estiquei o copinho para que Carter enchesse. — Quem foi que acionou o alarme de incêndio da escola? E depois ainda correu achando que realmente estava pegando fogo... — Comecei a rir me lembrando.

— MATTHEW! — Holly deu um tapinha no meu ombro.

— Eu nunca vi suas mães tão bravas com você — assumi. 

— Você acha que eu não lembro que você deixou as cobras do aquário escaparem? Foi por causa delas que eu sem querer acionei o alarme — tentou se justificar.

— Esse dia a escola inteira ficou sem aula, agradeço Holly. — Carter levantou o copo como se brindasse e logo virou.

Continuamos relembrando de coisas dos nossos passados e de certa forma sempre estávamos juntos ou tínhamos algo em comum. Eu só me dei conta que a garrafa havia chegado ao fim quando Holly foi fazer de microfone e deixou escorregar deixando tudo em cacos. Nenhum de nós três conseguíamos levantar, tudo que conseguíamos fazer era rir.

— Eu ia cantar e... — Holly gargalhava. — Eu... — Quanto mais tentava se controlar, mais ríamos.

Eu não sei em que momento nós dormimos, mas eu acordei e não consegui abrir os olhos porque recebi o bom dia diretamente da minha cabeça latejando como se um caminhão tivesse passado por cima.

— Merda. — Levei a mão até meus olhos.

— Não. — Carter falou baixinho.

— Que? — Abri mais os olhos e notei que os dois estavam do meu lado.

Ao pisar no chão senti os cacos de vidros e logo comecei a ter alguns flashes da noite anterior, e logo as imagens de Stassie na cama com Jason.

— Péssimo dia. — Neguei com a cabeça.

Eu não tinha forças para levantar e nem poderia já que tinha vidro para todos os cantos daquela sala. Demorou mais algum tempo até que Holly e Carter acordassem e parecia que a ressaca tinha nos pegado de jeito.

— Precisamos de café, por minha conta. — Carter disse pulando pelo lado do sofá.

Holly e eu quicamos no sofá até chegarmos na lateral limpa e saímos também acompanhando meu irmão. O Sol surrou meu rosto e corri para dentro da casa novamente e busquei por um óculos qualquer. Estávamos uns verdadeiros cacos e bastou nos encararmos para que caíssemos na risada antes mesmo de chegar no carro.

— Cara, o que aconteceu com a gente? — Carter perguntou respirando fundo para parar de rir.

— Eu não me lembro de quase nada. — Holly massageou suas têmporas.

— Bem, sorte a sua, Winston. — Destravei o carro.

Nós entramos e seguimos para a cafeteria próxima do campus. Eu não estava preparado para viver aquele dia sem auxílio de uma bebida.

 

Carter

— Chegamos — Matt anunciou quando estacionou em frente a antiga casa de Joey, havíamos deixado Holly no dormitório e pedi que meu irmão viesse para cá porque sabia como seria difícil sequer parar em frente à casa onde Jason morava, além do mais eu precisava pegar minha moto, que estava estacionada de uma forma completamente desastrosa no gramado. Nem posso imagina como fui capaz de chegar aqui sem matar Holly e eu ontem a noite.

Me espreguicei no banco e virei de modo que pudesse encarar Matt, meu irmão estava péssimo e nem mesmo os óculos conseguiam disfarçar seu estado deplorável. Suspirei, não havia tido a oportunidade de conversar só com ele porque Holly havia resolvido vir também, mas a verdade é que ver meu irmão caçula nesse estado me deixava devastado por dentro. Eu sabia mais do que ninguém o que era se enganar com uma pessoa e sem contar o fato de minha vida amorosa não ser lá das melhores.

— Stassie é uma burra, Matt — falei subitamente e meu irmão apenas ficou em silêncio, seus olhos pregados nas mãos que ainda seguravam o volante. — Você é o melhor cara que eu conheço e não digo isso só porque é meu irmão, mas porque todo mundo que te tem de alguma forma presente na vida sabe o quanto você é especial.  Você está sempre ali me dizendo as mais duras verdades e que, mesmo eu odiando ter que admitir isso, me ajudam a fazer o certo de alguma forma. — Fiz uma pausa e olhei para frente. — Então, se Stassie não conseguiu enxergar nada disso, ela nunca mereceu você.

Matthew tirou as mãos do volante e respirou fundo antes de tirar os óculos, as olheiras arroxeadas fortes sob seus olhos castanhos, iguaizinhos os de nossa mãe.

— Carter, você não precisa... — ele começou, mas eu o interrompi.

— Não, tá tudo bem. Só senti que você precisava saber disso — falei antes de sorrir fracamente. — Sei que não sou o melhor exemplo de irmão, mas eu me preocupo com você e sempre estarei aqui pra pelo menos tentar cuidar de você. Queria poder consertar isso.

Matt negou com a cabeça.

— Obrigado, bro — Ele sorriu e seguiu-se um momento de silêncio antes dele acrescentar: — Esse é o momento em que a gente se abraça e você diz que me ama?

Trocamos um olhar e rimos.

— Não exagera, Matt — eu disse e destravei a porta. — Preciso ir ver como estão as coisas em casa, mas pode me ligar qualquer coisa.

Desci do carro, mas antes que pudesse bater a porta, Matt me chamou.

— O que? — perguntei.

— Você pode não ser o melhor exemplo, mas é o melhor irmão — ele disse sorrindo levemente para mim.

Eu sorri de volta e comecei a pensar que já estávamos ficando melosos demais para os meus padrões. Hora de voltar a sermos os velhos e bons Vissers.

— Eu sou o único que você tem, Matt — falei fazendo meu irmão soltar uma risada. — Fica bem, bro. — Bati a porta do carro e caminhei até minha moto.

Quando cheguei em casa tudo estava no mais perfeito silêncio. Subi as escadas ignorando o chão pegajoso de sujeira e todos aqueles copos e outras coisas inusitadas espalhadas pelo piso. Céus, eu não iria ajudar a limpar isso, afinal, eu nem havia aproveitado essa festa direito. A porta do quarto dos caras estava aberta e Jason estava jogado em sua cama só de cueca, encarei meu amigo e neguei com a cabeça. Sei que Jason nunca havia de fato gostado do Matt, mas ainda assim, jamais imaginei que ele pudesse fazer... Bom, tudo bem que Stassie era quem tinha um relacionamento, mas porra! Matt é meu irmão mais novo. Jason deveria ter o mínimo de consideração.

Neguei com a cabeça e segui para o meu quarto, mas assim que abri a porta voltei a fecha-la. Mas. Que. Porra? Pisquei algumas vezes e voltei a abrir a porta só para ter certeza de que havia visto certo e não estava alucinando. Deitados na antiga cama de Matt estavam Beck e Tony. Ok, isso é estranho. E Anna? Não pude deixar de pensar em minha amiga. Nossa, ela havia se esforçado tanto para essa festa. O que será que aconteceu?

Acho que essa sem dúvida foi uma das noites mais bizarras de todo mundo. Parabéns Tony, sua festa de aniversário foi realmente inesquecível.

~~

O restante da semana passou voando e quando dei por mim já estávamos na metade de outubro. Tudo estava uma verdadeira loucura, eu não tinha tempo nem sequer para respirar. Com a formatura chegando todos nós veteranos estávamos atolados com nossos TCCs e para ser sincero tive que recorrer a Anna como ajuda para o meu, que abrangia o tema relacionado com direito penal, que sempre fora uma das minhas áreas preferidas. Apesar de estar ocupada com seu próprio trabalho, Anna não me recusou ajuda, mas sempre deixando claro que não escreveria nem sequer uma linha para mim, não que eu tenha pedido. A verdade é que nós dois vínhamos passando muito tempo na biblioteca elaborando nossos trabalhos, mas Anna parecia exatamente a mesma garota de sempre. Quero dizer, não havia dito uma palavra sobre o que aconteceu na festa de aniversário de Tony para que eu o encontrasse na cama com Beck, mas parecia que estava de boa com tudo então apenas fiquei na minha.

Quanto ao restante do pessoal... Bom, não demorou muito para que todos soubessem do término de Stassie e Matt, o campus ficou um verdadeiro inferno com as fofocas, mas Stassie não parecia preocupada. Toda vez que esbarrávamos no corredor ela parecia a mesma Stassie de sempre e até mesmo a encontrei em algumas das festas em que me dei a audácia de ir. Devo confessar que isso era um saco porque enquanto ela parecia se divertir, meu irmão estava arrasado em casa. Ok, talvez eu esteja exagerando. Os caras da banda iam visita-lo constantemente e Ashley sempre estava lá, mas eu ainda percebia a tristeza nos olhos de meu irmão.

Tony vinha passando muito tempo com os nerds da computação devido ao seu trabalho final e todos parecíamos estar com os nervos à flor da pele, exceto Jason, que levaria mais alguns anos para se formar. Minha relação com Jason estava estranha, eu sei que ele não havia feito nada comigo, mas eu não podia deixar de tomar as dores do meu irmão e de fato nossa amizade ficou abalada.

Estávamos em uma sexta-feira à noite e eu andava apressado pelos corredores da faculdade. Fiquei até um pouco mais tarde para ajeitar algumas coisas em meu trabalho que nem me dei conta de que estava extremamente atrasado para um show. Eric me mataria se eu faltasse mais um. É sério, ele nem ao menos queria saber se eu estava enrolado com meu TCC. Sei que entrei nisso de cantor em uma banda como uma forma de ganhar dinheiro, mas eu estava curtindo de fato e nossa banda estava meio que dando certo. Todo lugar que íamos tocar enchia e algumas pessoas já até mesmo conheciam algumas de nossas músicas autorais. Isso era o máximo. Entretanto, por mais que minha vontade fosse largar a UCLA e ir viver nos palcos de L.A, eu sabia que tinha que ser sensato. Vocês sabem qual é a chance de uma banda de barzinho conseguir dar certo e emplacar? Um em um milhão.

Estava tão absorto em pensamentos que nem reparei na garota que vinha andando em sentido contrário e acabamos colidindo. Os livros que estavam em minhas mãos caíram com um baque e os dela também, sem contar as folhas que voaram para todos os lados.

— Mas que inferno! — Holly gritou enquanto juntava as folhas. — Você não olha por onde anda, Carter?

— Aparentemente você também não — resmunguei abaixando para pegar os livros.

Holly revirou os olhos, mas nós rimos. Desde o aniversário do Tony estávamos de boa, não que tivéssemos conversado sobre como ficaríamos, mas apenas estávamos. Eu sei, complicado. Mas era mais ou menos assim, não voltamos a namorar, mas também não estávamos com aquele ódio mútuo ou as provocações constantes. Sempre que nos encontrávamos pelo campus conversávamos normalmente e isso era bom e ruim de certa forma porque eu tinha que ter um controle absurdo para não beijar Holly a cada sílaba que saía de sua boca. Fico pensando em quando vou conseguir superar de uma vez nós dois. Bom, talvez quando me formar e não precisar ficar esbarrando com ela a cada passo, pensei.

— Então, onde vai com tanta pressa? — Holly perguntou me trazendo de volta para a realidade.

— Tenho um show para fazer. E você? — Entreguei os livros dela.

— Tenho que devolver esses livros antes que a biblioteca feche e eu precise morrer em uma grana para pagar a multa — falou, as sobrancelhas franzidas.

— Odeio ter que dizer isso, mas ela acabou de fechar — eu disse e pude ver Holly fazer uma careta antes de praguejar baixinho.

— A culpa é toda sua, Visser — ela disse de repente.

— Não me culpe pela sua negligencia com prazos. — Estreitei os olhos.

Holly riu e dessa vez começamos a caminhar na mesma direção.

— Não vejo a hora de você se formar e eu me ver livre de você — falou me fazendo rir.

— Não seja mentirosa, sei que vai chorar de tanta saudade — rebati, mas ela não negou. — Sabe, se quiser ir ao show de hoje. Convidei Matt e Ash para ir também — acrescentei antes que Holly pensasse qualquer coisa.

Ela assentiu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Você parece estar curtindo esse lance de cantor — disse com um sorriso que não fui capaz de não retribuir.

— Espere só até eu ficar famoso, aí você vai poder olhar para uma foto minha na TV e dizer aos seus filhos “Hey, estão vendo esse cara tatuado? Foi meu namorado na época de faculdade. Ele tem o melhor beijo que já provei” — falei e nós rimos. A verdade é que a imagem de Holly casada e com filhos de alguém que não era eu fazia meu estomago revirar.

— Você é tão convencido, Carter — ela disse quando parou de rir.

Percebi que estávamos chegando ao prédio dos dormitórios femininos e só voltei a falar quando paramos na porta.

— Mas é sério, você deveria ir ao show hoje porque vou cantar uma música nova — eu disse a olhando diretamente nos olhos. — É sobre uma garota.

Holly desviou o olhar na hora.

— Elas sempre são — disse baixinho e eu assenti.

— Mas essa é especial — falei e fiquei a encarando até que ela me olhasse novamente. Senti meu coração bater forte, era uma droga ter que manter distância.  — É sobre minha mãe, a garota que mais amo nessa vida — acrescentei depois de uma pausa e Holly tentou conter o sorriso diante da minha mentira descarada. Não a parte sobre minha mãe ser a garota que mais amo, mas da música ser para ela.

— Nesse caso eu posso pensar em aparecer — ela falou.

— A gente se vê, Holly. — Sorri antes de continuar meu caminho. 

 

Holly

Eu estava subindo as escadas com um sorriso idiota no rosto, o mesmo sorriso que ficava sempre que encontrava com Carter. Não entendo por que ele me deixa tão... fora de mim. Ele era o meu desejo proibido, não podia tê-lo, não era certo, mas dentro de mim ele era o que eu mais queria.

Quando cheguei no andar do meu quarto, Zoe saía dele.

— Holly, eu queria falar com você. — Ela apressou os passos até mim.

— Zoe, eu não...

— Eu sei que você não quer falar comigo porque traí a amizade da Beck e tudo mais, mas eu quero continuar sendo sua amiga. Eu não queria que as coisas acabassem assim. Eu até entendo que vocês são melhores amigas, mas eu não tinha compromisso com ninguém e que eu saiba, nem a Juliana. —Ela estava com os dreads soltos e seus olhos me encaram de um jeito frenético, provavelmente estava drogada.

— Não importa que vocês eram solteiras, Zoe. O fato é que você sabia dos sentimentos da Beck, sabia que ela estava apaixonada e pelo que ela me contou, deu até conselhos para ajudá-la. E no fim, acabou de boca na... — Não quis descer o nível. — Não foi certo e ficarei do lado da Beck até que vocês se resolvam.

— Mas a Beck não quer saber de mim, eu tentei conversar com ela no campus e ela mandou eu me afastar ou ela enfiaria o salto agulha na minha cara. — Zoe soltou um riso nasalado de deboche.

— Não posso te ajudar com isso.

— Pensei que você fosse minha amiga também, mas pelo visto, só fui um passatempo pra você. Você me usou, não é? Desde o início, naquela maldita festa. Só por causa do Carter. —Zoe estava com as sobrancelhas franzidas. — Eu cheguei a me apaixonar pelo seu jeito, achei que tínhamos coisas em comum e até mesmo quando você veio dizer que seriamos “apenas amigas” eu aceitei, porque gostava de você. — Comecei a me sentir culpada. Mas o que eu podia fazer? Beck era importante para mim e estava magoada. — A Juliana que foi a grande filha da puta também, você não deixou de falar.

— Zoe, eu não te usei — eu menti, pois sabia que em vários momentos, eu a beijei apenas para provocar o Carter, mas jamais admitiria. — E a Juliana é minha colega de quarto, não posso mudar isso. Não vou ficar puta com ela se eu moro no mesmo lugar que ela. E ela nunca mentiu, nunca fingiu se importar, ao contrário de você, que apoiava a Beck no romance. E eu gosto de você, mas você vacilou e isso não muda.

— Quer saber, Holly? Que se foda. — Ela passou por mim e desceu as escadas apressadas.

Eu não podia escolher entre uma e outra, se eu voltasse a falar com Zoe, Beck ficaria irritada e provavelmente não falaria comigo e eu dava prioridade a nossa amizade. Já foi complicado convencer a Rebeka de que eu não podia ficar em um clima ruim com a Juliana, praticamente tive que gritar para que ela entendesse que seria insuportável morar com alguém que não se pode ter uma relação saudável.

Quando entrei no quarto, senti o aroma doce do incenso e notei que Juliana escrevia algo no notebook, provavelmente estava estudando, sei lá, ela nunca me contou muito sobre a vida dela ou o curso e eu não procurei saber.

— Zoe queria falar com você — ela disse sem tirar os olhos da tela.

Seus cabelos estavam castanhos agora, sua cor natural, e suas roupas estavam largas sobre o corpo.

— Eu já falei com ela — respondi e joguei meus livros na cabeceira.

— Hum... — falou sem dar muita importância. — Como a Beck tá? Digo... com isso tudo... ela já superou?

— Você realmente se importa, Juliana? — perguntei enquanto pegava o meu celular e procurava o número de Matt.

— Sim — respondeu dando os ombros.

— Ela está ótima, mas ainda te odeia e quer matar a Zoe — respondi sinceramente e apertei “ligar”.

— Ei, Matt — disse ao celular. — Você vai ao show do seu irmão?

Ele me fez prometer que iria, acha que estou completamente deprimido e vive me implorando para ir nas festas com ele. — Mesmo o tom sarcástico de Matt sendo extremamente convincente, eu sabia que de certo modo, Carter estava certo.

Às vezes encontrava com Matt pelos corredores e ele mantinha uma cara neutra, às vezes ficava com fones de ouvido até mesmo no refeitório, sua barba havia crescido consideravelmente e seus olhos viviam caídos.

— Ah... será que você pode me buscar? Eu não sei como chegar lá e não tenho... — comecei a falar, mas ele me interrompeu.

Claro, Holly — disse num tom animado. — Vocês dois estão...? Você sabe... — Ele ficou esperando e eu tive que respirar fundo antes de responder.

— Não, somos apenas amigos, ou algo do tipo — falei de um jeito cansado.

Bem, então nos vemos a noite, te busco às nove horas.

— Matthew! — chamei sua atenção antes que ele desligasse. — Posso levar a Beck? Tem espaço no seu carro?

Pode. Só vai a Ash e eu, e agora você. — Ele riu e eu sorri para o nada. — A Beck pode ir com a gente.

— Ótimo, nos vemos depois — disse e desliguei.

Vista algo sexy hoje, nós vamos a um show” — Mandei mensagem para a Beck

Quando você diz “sexy”, você quer dizer “piranha provocadora” ou “piranha pronta pra dar”? ” — Ela respondeu.

Acho que “piranha pronta pra dar” combina mais com você. ” — Respondi e joguei o meu celular na cama.

O tempo passou rápido, faltava uma hora para o Matt chegar e eu não havia escolhido nenhuma roupa ainda. Abri meu armário apressada e procurei por algo legal, eu não iria ter um encontro com Carter nem nada, mas queria estar bonita. E se fosse um encontro, eu provavelmente não iria, já que o Oliver me fez ficar traumatizada com a palavra “encontro”. Agradeço aos céus por ele ter saído da faculdade logo depois de eu descobrir o quanto ele era um verme traidor. Se aquele filho da puta continuasse dando aula para mim, era capaz de eu atirar na cara dele. Provavelmente teve a sensatez de fugir, ou foi para outra instituição de ensino dar em cima de alunas distintas.

Escolhi uma calça jeans rasgada nos joelhos, uma blusa preta tomara que caia justa ao corpo e calcei tênis, não era como se eu quisesse ir de vestido ou algo provocativo, apenas queria me sentir bem comigo mesma.

— Você vai assim? — Beck me olhava de cima a baixo quando apareci em sua porta para busca-la. — Que tipo de ex namorada do vocalista você é? — Ela colocou as mãos na cintura e eu reparei no vestido roxo que marcava cada curva de seu corpo. — Pensei em algo mais chamativo.

— Mas me sinto bonita assim. — Apontei para mim mesma.

— Pelo menos mostre as pernas, calça jeans? Jura? — Ela me puxou para dentro e jogou uma saia preta tão curta que se eu sentasse, subiria e mostraria a minha calcinha. Pelo menos combinava com a minha blusa.

Beck me maquiou e calçou os saltos finíssimos antes de sairmos. Matt já estava esperando por nós.

— Você parece uma estudante de direito com esse cabelo preso. — Beck disse para Ash.

— Não liga pra ela, hoje está parecendo uma daquelas apresentadoras de programa de beleza. Quer mudar tudo em todo mundo — disse para Ash.

— Queria parecer uma pessoa que está prestes a surtar com o TCC, acho que deu certo. — Ela sorriu e seus olhos verdes brilharam.

— Você está bonita assim. — Matt falou e eu notei que talvez eles pudessem ser um bom casal.

— Ah... se quiser passa meu batom pelo menos. — Beck tirou um batom vermelho não sei de onde e entregou para Ashley, que passou em sua boca realçando seus lábios. — Agora sim.

Quando chegamos no bar, o lugar parecia pequeno demais para a quantidade de pessoas que estavam ali. Nos esprememos até alcançarmos a mesa onde Tony estava sozinho e eu tive que me concentrar para não morrer de vergonha. Eu não tinha falado com Tony desde o nosso beijo. Mesmo Carter me perdoando, eu me sentia uma puta somente por olha-lo. E não fazia ideia do que fazer.

A mesa era perto do palco e ainda não haviam instrumentos nele, talvez ainda fosse cedo demais. Beck foi para o lado do Tony e por um instante me senti sobrando naquele lugar.

— Vocês querem beber? Vou pegar alguma coisa para gente ali no bar. — Matt sinalizou apontando para o balcão lotado a poucos metros de nós.

— Eu vou precisar. — Beck sorriu e eu concordei com a cabeça.

Matt saiu de perto de nós e Ash o seguiu.

Tony pareceu notar a minha presença e ambos ficamos tímidos.

— Ham...Me desculpe por te... — eu comecei, mas ele me interrompeu.

— Não se preocupe, Carter me explicou. — Eu não sabia o que Carter havia dito, mas preferi não perguntar.

Sorri e me sentei em uma das cadeiras da mesa, era alta, meus pés mal tocavam o chão. Se eu soubesse que iria segurar vela hoje, provavelmente nem viria. Matt chegou com as bebidas e ao seu lado, Carter sorria animado.

— Vocês vieram! — ele disse olhando em meus olhos e eu senti meu rosto esquentar. — Cara, olha quanta gente. — Olhou de um lado para o outro e eu percebi que ele estava feliz. Feito uma criança que havia acabado de ganhar um saco de doces.

— Acho que você está ficando famoso, cara. — Tony falou para ele.

— Acho que você tem até algumas fãs, olha. — Beck apontou para um grupo de meninas que estavam sorrindo para onde nós estávamos, elas seguravam o celular como se estivessem tirando fotos de Carter.

Uma delas cochichava algo no ouvido da outra e ambas acenaram para ele. Carter acenou de volta e todas gritaram e começaram a pular. Senti uma pontada no peito, algo entre raiva e ódio. Quem são essas garotas? Parecem ter dezesseis anos.

— Daqui a pouco vai estar fazendo show pelo mundo. — Ashley comentou e Matt riu.

— Gente, para de iludir o garoto. — Tony pegou um dos copos que Matt havia colocado na mesa e começou a nos servir.

— Que bom que você veio. — Carter se aproximou de mim.

Ele vestia uma blusa branca que realçava suas tatuagens e uma calça jeans escura.

— Pensou que eu não viria? — Eu ergui uma das sobrancelhas. — Você praticamente se ajoelhou para me convidar.

Ele olhou para as minhas coxas, depois para a minha boca e por fim para os meus olhos.

— Não exagera, Winston. — Carter pegou um copo na mesa e começou a beber. — Só não esperava que viesse.

— Você sabe me convencer. — Dei de ombros e peguei um copo para mim.

Ele estava tão lindo, seus olhos exalavam alegria e isso o deixava ainda mais atraente, como se estivesse vivendo a vida como queria.

— Você parece feliz — eu disse francamente.

— Eu... — Mas antes que ele pudesse falar, um garoto de cabelos escuros apareceu, eu o reconheci da banda de Carter.

— Temos um problema — ele disse.

— Eu já volto. — Carter saiu apressado seguindo o amigo e todos voltamos a nossa atenção para o álcool.



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