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História Smile Once Again - Capítulo Único


Escrita por: sataem

Notas do Autor


Depois de 84 anos, eu voltei com uma oneshot MUITO longa. Ela foi feita pro SHINee fic fest e eu resolvi repostar aqui. ^^

Seguem os dados da fic:

Plot-#: 166

Plot enviado: #166 - Se perguntassem a Taemin qual sua grande e verdadeira paixão, ele responderia, sem hesitar nem por um segundo, a dança. Mas após sofrer um grave acidente que lhe tira a mobilidade das pernas, ele terá de encontrar um novo motivo para sorrir.

OTP: Minho/Taemin

Classificação: +12

Contagem de palavras: 15,764

Avisos: linguagem imprópria, menção a suicídio, violência

A capa foi feita pela @coralins~ Muito obrigada!!

Prestem atenção nas notas finais, elas são importantes! ^^

Boa leitura~!

Capítulo 1 - Capítulo Único


“Eu preciso passar nessa entrevista.”

Foi o que pensou Minho quando abraçou com um pouco mais de força o travesseiro enquanto tentava criar coragem para se levantar naquela manhã fria de inverno. Havia perdido sua posição anterior em uma desconhecida livraria da cidade e se encaminhava agora para uma entrevista de uma vaga que nunca nem sonhara em concorrer. Ele precisava trabalhar, tinha contas para pagar, uma casa para manter e uma namorada um tanto quanto mimada para agradar com presentinhos de vez em quando. Aquele emprego novo viria a calhar na hora certa e talvez com ele até conseguiria mandar dinheiro para os pais que moravam no interior. Seria perfeito.

Parecia muito fácil. Cuidador de uma pessoa com deficiência, jornada semanal aceitável, um salário – bem – acima da média e não exigia experiência. A vaga perfeita para si, de acordo com o funcionário da agencia de empregos. Fácil. Ele tiraria isso de letra.

Enquanto descia pela rua até o ponto de ônibus, Minho pensava e repensava no que deveria dizer, em como deveria se comportar e quais os novos desafios que esse emprego traria. A roupa social que vestia contrastava com as suas feições jovens e o seu cabelo curto e escuro ajeitado em um charmoso topete. O ônibus não demorou a chegar e a viagem não demoraria mais do que 20 minutos, segundo a breve pesquisa que o moreno havia feito na internet no dia anterior. Sentia-se confiante enquanto observava distraidamente a paisagem da janela do ônibus e quase perdera o ponto para descer enquanto estava absorto em seus próprios pensamentos. Inspirou profundamente antes de saltar do veículo e se encaminhou para o jardim no endereço indicado pelo funcionário da agência de empregos enquanto tentava manter-se seguro agora que estava lá, pensando que nada nesse mundo poderia abalar a sua auto-estima.

Até que viu uma garota sair correndo e chorando da casa dos Lee.

Minho engoliu em seco e, pela primeira vez na vida, sentiu medo do que estava a seguir. O homem parou de andar por alguns segundos para ficar observando as costas da moça que corria em desespero para se afastar o mais rápido possível daquele lugar, e foi preciso uma grande força de vontade para retomar a caminhada até a porta de entrada do local, onde uma mulher estava parada. A senhora Lee, pelo que presumiu, olhava para a moça que corria com um certo ar de pena e culpa ao mesmo tempo, e foi preciso que Minho desse uma breve tossida para que ela notasse a sua presença ali.

– Ah, me desculpe! – A senhora de traços delicados e sofridos focou seus olhos no homem parado ao seu lado e tentou dar um sorriso forçado antes de estender a sua pequena mão e fazer uma breve reverência. – Você deve ser Choi Minho, o último candidato para a vaga de cuidador…

– Ah… S-sim! Sou eu… – De um jeito meio desengonçado, Minho segurou a mão da mulher e se curvou em um ângulo de aproximadamente 90 graus em sinal de respeito, voltando a falar em seguida enquanto confirmava suas palavras com acenos breves de cabeça. – É um prazer conhecê-la.

– O prazer é meu, rapaz. – Disse sem entusiasmo aparente ao soltar a mão do homem e deu um suspiro cansado antes de apontar para a porta que Minho supôs ser o hall de entrada da casa, em que só agora se permitira dar uma boa olhada. – Me acompanhe, por favor. Vamos tomar uma xícara de café enquanto conversamos.

– Sim, senhora. – Com mais um aceno de cabeça, ele seguiu a frágil mulher a passos curtos, pois tinha a impressão de que ela pudesse se desmanchar a qualquer momento enquanto andava à sua frente.

“Ok, isso é maior do que eu estava esperando.”

Foi o primeiro pensamento de Minho quando passou pela soleira da porta da casa, ou melhor, mansão dos Lee. Ele sempre soube que a família era tradicional e rica, principalmente pelos empreendimentos de diversos ramos que mantinham no estado, mas nunca na vida havia imaginado que pudesse estar naquele lugar, muito menos que estaria se candidatando para uma vaga de emprego ali, uma vez que os seus gostos envolviam cultura e esportes, algo que nunca cruzaria com qualquer tipo de interesse do grupo empresarial da família.

– Sente-se aqui, por favor. Logo trarão o nosso café. – A voz baixa e séria da mulher tirou Minho de seus devaneios e o rapaz prontamente se sentou no lugar indicado no sofá logo à sua frente. – Então, vamos começar… – A Sra. Lee pegou uma prancheta com o que seria o currículo do rapaz e leu algumas linhas antes de voltar a falar. – Aqui diz que o senhor não possui experiência como cuidador ou enfermeiro, certo?

– C-certo, mas… Mas eu aprendo rápido, a senhora não vai se arrepender! – Minho esboçou o seu sorriso mais confiante enquanto falava de forma toda atrapalhada, mas, a julgar pelo olhar inquisidor da mulher, não fora muito convincente. – Eu tenho certeza que o seu marido e eu nos daremos bem, podemos falar muito sobre futebol e esportes juntos!

– Você não vai ter que cuidar do meu marido, Sr. Choi. Ele já faleceu. – Aquelas palavras ditas calmamente foram como um balde de água gelada sendo jogado sobre as costas do moreno, que engoliu em seco sem saber o que dizer. – Você precisa cuidar do meu filho. – Minho abriu a boca para tentar falar, mas não conseguiu emitir som algum, fato que fez com que a Sra. Lee apenas continuasse a falar. – Senhor Choi, vou lhe fazer uma pergunta. Se eu perguntasse o que o senhor mais ama nesse mundo, a sua verdadeira paixão… O que o senhor me responderia?

– Eu… Hã… – Minho já podia sentir minúsculas gotículas de suor escorrendo pelos lados do seu rosto e suas roupas sociais pareciam apertadas demais, sufocantes demais. Sentia como se fosse entrar em combustão a qualquer momento de tão quente que se sentia enquanto seu cérebro trabalhava bastante para processar a pergunta que lhe fora feita. – A minha família? Não! Digo, são tudo pra mim, mas algo que eu amo fazer… Hm… Qualquer coisa relacionada com esportes? – O moreno engoliu em seco mais uma vez, pois sabia que estava fazendo papel de idiota. Era sempre assim quando se sentia pressionado.

– Dança, Senhor Choi. – Começou a Sra. Lee com um tom menos sério, fazendo com que a pressão no peito de Minho diminuísse um pouco no mesmo momento em que a empregada entrou na sala trazendo uma bandeja com duas xícaras. O rapaz aceitou de bom grado a oportunidade de ficar calado enquanto bebericava o seu café, aguardando que a mulher retomasse a sua fala logo em seguida. – A paixão da vida do meu filho é a dança. Ou era. Antes do acidente. – Finalizou a frase com um gole longo do café, sem tirar os olhos de Minho.

– Um acidente? Eu sinto muito… – O rapaz começou a dizer, mas sentiu sua garganta secar diante do olhar direto sobre si e decidiu por desviar os olhos para a xícara em suas mãos enquanto a Sra. Lee voltava a falar.

– Há dois anos. Ele estava nos Estados Unidos se preparando para uma apresentação quando foi atropelado a caminho do estúdio de dança. – Minho podia sentir a dor em cada palavra que a mulher falava, podia sentir o quanto ela se sentia incapaz de ajudar mais o filho. – Ele continua fazendo fisioterapia, mas nunca melhorou. Taemin não sente nada da cintura para baixo, tem dificuldades com os movimentos das mãos e está condenado a viver numa cadeira de rodas para sempre… – Era doloroso, como era doloroso ter que explicar essa história pela milésima vez. O que ela mais queria era poder se colocar no lugar no filho para que ele não tivesse que desistir do sonho, que doesse nela, mas não nele. Era assim que a Sra. Lee se sentia a cada dia que levantava da cama e se dava conta de que esse gesto automático era algo que o seu filho não conseguia fazer sozinho. Porém, não podia se mostrar fraca. Tinha que ser forte por ele. Por toda a família. E esse pensamento era o que a impedia de desabar em lágrimas naquele exato momento. – Isso é o básico do que o senhor precisa saber. Eu estou sem opções e não acho que mulheres consigam se dar bem com o meu filho, pois ele as detesta. Aquela moça que o senhor viu saindo foi a quinta enfermeira que Taemin conseguiu afugentar só nesse mês… – Os olhos já grandes de Minho ficaram ainda maiores quando ouviu essas palavras, mas o moreno logo se recompôs e colocou a xícara na mesinha de centro enquanto a mulher suspirava cansada mais uma vez.

– Sra. Lee, eu não posso dizer que sei o que a senhora está passando, mas posso dizer que quero ajudar. Além do mais, eu… – O rapaz começou a falar e respirou fundo antes de retomar a frase, focando seu olhar nos olhos sofridos da senhora e tentando passar o máximo de confiança possível com aquele ato. – Eu preciso desse emprego. Vou dar o meu melhor para fazer o seu filho sorrir de novo.

– Bom, eu não tenho outra opção, não é mesmo? – A mulher disse em um tom cansado e deixou a xícara sobre a mesa de centro entre os dois, logo se levantando antes de voltar a falar. – Acompanhe-me, Sr. Choi, o Taemin fica por aqui. Transformamos uma das alas da casa em um pequeno apartamento para que ele se sentisse mais à vontade. Por favor, não se assuste.

Mais do que depressa, Minho acenou de forma positiva com a cabeça e se levantou do sofá quase que com um pulo para poder seguir a mulher. Conforme a mesma falava, um misto de ansiedade e insegurança tomava conta dos seus pensamentos por conta da última frase dita pela Sra. Lee enquanto os dois caminhavam por um corredor largo e comprido, cheio de janelas grandes que davam para o jardim de inverno. A senhora então abriu a última porta quando chegaram ao final do caminho e deixou a mesma aberta para que o rapaz entrasse primeiro, logo a fechando atrás de si ao também adentrar no cômodo.

Tudo era incrivelmente ainda mais espaçoso. Os móveis mais afastados uns dos outros, a mesa era mais baixa que o normal, assim como o balcão da cozinha do lado direito. Aquilo era realmente uma casa completamente adaptada para uma pessoa com deficiência física, quase do mesmo tamanho da casa que Minho havia alugado quando resolveu tentar a vida na capital ao deixar a casa dos pais, coisa que o deixou ligeiramente incomodado.

– Ele deve estar no quarto. – A Sra. Lee disse num tom calmo ao tocar o ombro do moreno, quando percebeu que ele estava absorto em pensamentos enquanto observava a casa que haviam desenvolvido para o filho cadeirante. – Meu outro filho é fisioterapeuta, mas não tem tempo para ficar com Taemin porque atende os pacientes no consultório dele. Jinki vem pra cá quase todos os dias pela manhã para ministrar as sessões de fisioterapia. No começo, Taemin estava muito esperançoso, mas hoje em dia até mesmo a presença do próprio irmão o deixa com raiva e deprimido… – completou com um suspiro. Minho já havia perdido a conta de quantos suspiros daquele tipo a pobre mulher já deixara escapar durante o pouco tempo que estiveram juntos conversando. – O quarto dele fica naquela porta, você pode entrar.

Ainda relutante com as orientações, Minho acenou brevemente com a cabeça e seguiu na direção indicada anteriormente. Engoliu em seco enquanto levantou o punho para dar leves batidinhas na porta e sentiu um arrepio percorrer a coluna antes de abrir a porta de forma lenta.

O cômodo era muito grande e espaçoso, a cama era mais baixa e ligeiramente maior que uma cama normalmente seria. A cadeira de rodas na qual Taemin estava sentado se encontrava de costas para a entrada do quarto, dessa forma, ele não poderia ver quem havia aberto a porta do local. Um homem vestindo um jaleco branco, aparentemente apenas um pouco mais velho que Minho, estava fazendo uns ajustes na cadeira antes de lhe sorrir abertamente. Por educação, e também um pouco de medo, o moreno fez o mesmo.

– Você deve ser a nova cuidadora… – Uma voz diferente e fria chegou aos ouvidos de Minho e fez o seu sorriso vacilar um pouco. – Eu estava aqui apostando com o meu irmão quantas vezes eu te faria chorar só hoje… Se é que você não vai sair logo correndo como a última idiota que a minha mãe tentou contratar.

– Taemin, não seja assim… – Jinki disse em um tom de reprovação e balançou a cabeça para os lados enquanto deixava um suspiro frustrado escapar. Ele era um homem de sorriso fácil, mas que agora se escondia sob sua face preocupada com o irmão paraplégico. – Acho que você deveria dar uma olhada na sua nova companhia, porque vai se surpreender, pequeno.

– Não me chama de pequeno, Jinki. Eu não tenho mais 10 anos. – O único que conseguia ver o bico que se formara nos lábios de Taemin ao dizer essas palavras era o seu irmão e isso aliviou as suas feições, fazendo com que o mesmo voltasse a sorrir de leve.

Minho assistia e ouvia tudo enquanto se perguntava por qual motivo ainda não tinha dado meia volta para ir embora. Porém, antes de ter qualquer reação, o cadeirante já havia se virado de frente para si e parecia tão surpreso quanto o moreno ao encontrar o seu olhar.

– Você é um homem.

– Ah… Sou… – O rapaz precisou de alguns segundos para se recuperar e balançou a cabeça para os lados para tentar organizar os pensamentos, prontamente dando alguns passos à frente e estendendo a mão na direção do outro enquanto fazia uma profunda reverência. – Eu me chamo Cho Minho e serei o seu novo cuidador a partir de hoje. Muito prazer.

– O que você pensa que está fazendo? – Taemin fitava o homem curvado diante de si com um misto de curiosidade com repulsa. Será que a sua mãe não havia falado para aquele cara como se portar? – Você não sabe o quanto me irrita se movendo livremente desse jeito, não é? Isso é quase o mesmo que você me dar um tapa na c…

– Taemin, já chega. – A voz autoritária da Sra. Lee inundou o quarto e fez Minho se sobressaltar ao virar o corpo para fitá-la, os olhos assustados e a boca entreaberta pronta para tentar balbuciar algumas palavras em vão. Era quase impossível de acreditar que aquela senhora de aparência frágil pudesse ter uma tom tão forte ao falar, fazendo com que todos no cômodo prendessem a respiração por alguns segundos enquanto ela se pronunciava. – Esse rapaz é o sexto cuidador que estamos contratando esse mês e ele é uma boa pessoa. Você precisa de ajuda, meu amor. Minho está aqui para te ajudar e não para te humilhar. Enquanto você não deixar que ele te ajude, você não vai melhorar.

– Já pode parar o sermão, mãe. Ou será que hoje você e o Jinki tiraram o dia pra me tratar feito criança? – Taemin levou uma das mãos até os cabelos com certa dificuldade para retirar uns fios que caíam da franja e que atrapalhavam o seu olhar, bufando alto e fechando os olhos antes de voltar a falar. Precisaria de muita paciência com o idiota atlético que fora contratado para “ajudar”. – Certo. Choi Minho, não é? Eu sou Lee Taemin. – O garoto abriu os olhos enquanto falava e levantou a mesma mão que antes estava em seus fios para calar o homem à sua frente quando percebeu que o mesmo estava se preparando para dizer alguma coisa. – Não quero ouvir que é um prazer pra você me conhecer porque não é recíproco. Se você está aqui, significa que eu continuo um inválido inútil preso nessa maldita cadeira. – Abaixou a mão com um certo sorriso no canto do lábio ao fitar a expressão assustada de Minho e continuou a falar ao se dirigir para os demais. – Agora que eu já fui um bom menino, será que podemos todos sair do meu quarto? Quero jogar videogame e tomar o meu café da manhã. – Disse num tom autoritário e segurou os controles da cadeira, dirigindo a mesma para sair do cômodo, dando uma boa olhada do homem vestido de social que seria seu cuidador dali em diante e sorrindo consigo mesmo quando sentiu que o havia intimidado da maneira como estava esperando.

– S-sim, Senhor Lee. – A voz de Minho saiu mais baixa e falhada do que ele esperava e precisou tossir um pouco para poder disfarçar, porque ele não sabia exatamente como se sentir depois desse encontro nada amigável. Não conseguia entender como havia sido tão insensível se curvando e tentando interagir com alguém que estava com raiva de tudo e de todos pela sua condição física, ao mesmo tempo em que não conseguia entender direito o motivo pelo qual estava sendo tão maltratado pelo seu futuro chefe.

– Eu sinto muito… Minho, não é? –Jinki se aproximou com cuidado do mais novo e colocou amigavelmente a mão no ombro do outro, dando uma leve pressionada no local como se quisesse passar que tudo ficaria bem, sorrindo abertamente enquanto falava e estendendo a mesma mão logo em seguida para poder cumprimentar Minho da maneira correta. – Eu sou Lee Jinki, mas você já sabe disso. Quero me desculpar pelo meu irmão. Ele sempre foi mimado pelos nossos pais e a condição dele não é das melhores, então, releve as grosserias dele, se puder…

– M-muito prazer… – Minho segurou a mão do outro e chacoalhou brevemente enquanto acenava com a cabeça, logo a soltando e tentando se recompor do choque que fora o encontro com o seu futuro “paciente”. – Eu fui muito insensível com ele, deveria ter pensado nisso também, eu acho…

– A culpa não é sua, você não fez nada com intenções ruins então não precisa se sentir culpado por isso. Agora vamos, você precisa fazer o café dele e eu preciso te mostrar quais remédios vai precisar dar para ele durante o dia.

Dito isso, Jinki deu um leve tapinha no ombro de Minho mais uma vez e saiu do quarto logo em seguida, sendo seguido de perto pelo outro. Taemin já estava na mesa da sala de estar e conversava normalmente com a mãe, mas usando um tom mais baixo e sem a arrogância anterior. A Sra. Lee o olhava como quem olha um filhotinho que precisava de muito amor e carinho para que pudesse crescer saudável, sendo visível o brilho que seus olhos tinham enquanto fitava o filho mais novo. De alguma forma, isso conseguiu acalmar Minho um pouco e ele sorriu de leve com a cena antes de seguir Jinki até a cozinha, onde o mesmo o explicou como e quando usar os remédios prescritos por ele.

– Você deve dar alguns analgésicos se ele sentir dores, mas evite os remédios para insônia porque eles viciam e Taemin já quase entrou em coma quando tomou uma dose maior por conta própria. Portanto, não deixe os remédios ao alcance dele. Alguma dúvida? – O médico sorriu abertamente para o rapaz, que apenas negou com a cabeça. Não era muito complicado. Os remédios sempre precisariam ficar fora do alcance de Taemin e havia alguns que ele deveria evitar. Não era tão difícil assim de assimilar tudo. – Meu telefone está anotado na agenda que fica na mesa de cabeceira do quarto dele. Se estiver com alguma dúvida ou se precisar de alguma coisa, por favor, me ligue.

– Sim, senhor. Eu ligarei se precisar. – Minho fez uma longa reverência para o mais velho e sorriu abertamente logo em seguida, finalmente retomando um pouco da sua coragem anterior enquanto estava no caminho para a mansão. – Agora, se me der licença, eu vou preparar o café-da-man… – Foi então que o rapaz se deu conta que não sabia nada sobre Taemin além da breve descrição que a sua mãe havia feito do acidente e dos anos que se seguiram após o acontecido. Isso fez com que ele se calasse no meio da frase, coisa que não passou despercebida por Jinki.

– Leite bem quente com chocolate e panquecas. – Sussurrou o médico, se divertindo com toda a situação e com a expressão assustada que voltara a pairar sobre a face do cuidador. Sem dizer mais nada, foi até os armários e pegou uma caixinha de leite integral juntamente com o pote de chocolate em pó e os entregou diretamente a Minho, sorrindo em seguida e dando uma piscadela quando voltou a falar. – Isso vai fazer com que ele goste um pouquinho de você. Finja que adivinhou qual é o café-da-manhã favorito dele, hm? Ah, tem massa pra panqueca no mesmo armário onde eu peguei isso aqui. Espero que você saiba fazer a panqueca mais gostosa do mundo! – Com mais um sorriso largo, Jinki deu um leve tapinha no ombro do rapaz, que possuía as mãos ocupadas pelo leite e pelo chocolate em pó, seguindo então para a sala de estar para despedir-se da mãe e do irmão.

O moreno ficou ali na cozinha tentando não se esquecer de absolutamente nada que lhe fora dito para que conseguisse sobreviver àquele dia que parecia estar bem longe de acabar. Chacoalhou levemente a cabeça em seguida como que para organizar os pensamentos e decidiu que tentaria conquistar não a amizade, porque isso demoraria muito tempo, mas a simpatia de Taemin com esse café-da-manhã, seguindo rigorosamente as dicas que o irmão do seu paciente havia lhe dado.

Depois de aquecer a mistura da massa de panqueca numa panela, Minho fez uma pequena pilha em um prato com os alimentos já feitos na frigideira, arriscando um pouco ao derramar um pouquinho de mel sobre a pilha de panquecas prontas e sorrindo animado com o resultado do seu prato. Abriu a embalagem do leite e colocou o líquido em uma caneca decorada com um bigode de gatinho, rindo baixo depois de observar o detalhe na porcelana branca e colocando a mesma dentro do micro-ondas para aquecer bem a bebida. Já com tudo pronto, colocou o prato de panquecas e a caneca em uma bandeja antes de se dirigir com cuidado até a sala onde agora Taemin estava sozinho.

– Ah… Trouxe seu café, Sr. Lee… – Minho disse em um tom um pouco assustado quando percebeu que estava sozinho novamente com o cadeirante, sem saber muito bem o que poderia acontecer agora que não havia a presença de uma figura que o mesmo respeitasse, como a sua mãe.

– Já estava na hora. Você é sempre tão lerdo assim pra preparar um café-da-manhã? – Taemin usou o mesmo tom que assustara Minho no quarto há poucos minutos e sorriu malicioso ao perceber que estava provocando no outro a mesma reação mais uma vez. – Coloque a bandeja na minha frente e pode sair. Não vou precisar de você pra viver, vou jogar videogame pelo resto do meu dia e eu só quero ver a sua cara se eu te chamar. Estamos entendidos? – O mais novo manteve os braços cruzados no peito e aumentou o seu sorriso quando viu o corpo do maior se curvar ligeiramente em uma reverência antes de sair da sala de jantar.

– Patético. – O cadeirante deixou a palavra escapar junto com um riso soprado e observou a comida que estava na bandeja à sua frente, antes de levantar as sobrancelhas em uma expressão surpresa quando viu sua caneca favorita cheia de um fumegante leite com chocolate e um prato cheio de panquecas quentinhas com mel ao lado delas. – Ok, talvez não tão patético assim… Mas só se o leite estiver na temperatura que eu gosto e as panquecas no ponto certinho… – Enquanto ele falava, pegou a colher que estava do lado da caneca decorada e mexeu lentamente o líquido quente para misturar o chocolate mais uma vez, levando a colher à boca em seguida e suspirando baixo ao sentir o sabor doce na medida certa. Mesmo não querendo admitir, Taemin havia gostado do tratamento que recebera, mesmo que tenha feito o seu máximo para causar desconforto no seu novo cuidador.

Minho deixou o paciente mais à vontade e voltou para a cozinha para lavar as louças que havia sujado no processo do preparo das panquecas. Quando voltou para a sala, a mesma já se encontrava vazia, assim como a caneca e o prato de panquecas. Aquilo ao mesmo tempo animou o cuidador e o deixou com um vazio no peito. Não sabia como fazer para se aproximar de Taemin, para que esse emprego se tornasse, no mínimo, suportável, e sentia medo de estragar tudo para que acabasse sendo mandado embora no primeiro dia de trabalho. Ele não queria de forma alguma que isso acontecesse. Parte por conta do dinheiro e do seu orgulho, mas parte também porque sentira pena da vida que o cadeirante levava e, sempre seguindo o seu lado mais puro, Minho queria e iria ajudar. O que ele não sabia era que os dias na casa dos Lee seriam repletos de humilhações e solidão.

Esses dias se tornaram semanas e, apesar de ter batido o recorde dos cuidadores anteriores, Minho já não aguentava mais. Estava a ponto de explodir com a má educação e o tratamento terrível que recebia de Taemin. Apesar de precisar muito do dinheiro para ajudar a família, estava ficando difícil de suportar aquela criança mimada – sim, ele se recusava em usar outro termo – dando chilique a cada palavra que era pronunciada.

Era sempre a mesma coisa. Levantar, ir para o trabalho, colocar Taemin na cadeira de rodas ouvindo os maiores insultos e depois ser ignorado pelo resto do dia após o café da manhã. Minho deveria se sentir grato por isso, por ter um pouco de paz, mas não conseguia. Até o seu namoro estava em crise pelo fato de sua namorada achar desnecessário e não entender por que ele fazia tudo o que fazia e aguentava tudo o que aguentava por Taemin. O seu senso de bondade fazia com que ele quisesse se comunicar e tentar entender o que se passava na cabeça do cadeirante, mesmo que isso lhe custasse toda a dose de paciência que tinha dentro de si.

Naquela manhã fria de segunda-feira, não foi diferente. Apesar de ter notado certos avanços e uma ou outra palavra trocada com Taemin logo após do café da manhã naquele dia, o ápice da falta de paciência de Minho aconteceu quando o mesmo se recusou a comer e simplesmente jogou no chão a tigela de cereais que o mais velho havia preparado para o café da tarde, pelo simples fato de que o Lee não havia sido consultado antes de o alimento ser preparado.

– EU NÃO VOU COMER ESSA PORCARIA! – Taemin gritava enquanto o outro fitava intensamente o chão e trincava a mandíbula ao sentir a raiva subir-lhe a cabeça. – QUEM DISSE PRA VOCÊ QUE EU IA QUERER LEITE COM CEREAIS DE LANCHE HOJE? POR ACASO JÁ OUVIU FALAR EM IOGUR…

– JÁ CHEGA! – Minho calou o outro ao gritar ainda mais alto e, num movimento rápido, tirou o avental que estava usando e jogou o tecido com força no chão, bem em cima de onde a tigela havia quebrado e a comida se espalhara. – EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊ, LEE TAEMIN. EU NÃO TENHO CULPA NENHUMA DA SUA CONDIÇÃO, VOCÊ SABIA DISSO? EU FUI CONTRATADO PARA CUIDAR DE VOCÊ E TENTAR TE ANIMAR UM POUCO, MAS TUDO O QUE VOCÊ SABE FAZER É ME TRATAR DE FORMA INFERIOR E FINGIR QUE EU NÃO EXISTO! – Taemin arregalou os olhos conforme o outro gritava, enquanto a sua voz atingia notas cada vez mais altas. O mais novo não estava preparado para essa reação, nunca poderia imaginar ver aquele cuidador perder a linha e falar consigo dessa forma. Enquanto isso, Minho continuou gritando. – MAS É ÓBVIO QUE VOCÊ NÃO CONSEGUE VER, NÃO É? VOCÊ NÃO ENXERGA UM PALMO ALÉM DO SEU PRÓPRIO UMBIGO. VOCÊ NÃO PASSA DE UMA CRIANÇA MIMADA. NINGUÉM NO MUNDO TEM CULPA DA SUA CONDIÇÃO FÍSICA E NINGUÉM É OBRIGADO A AGUENTAR AS SUAS MANHAS. EU NÃO AGUENTO MAIS, ME DEMITO! – Veias saltavam do pescoço do cuidador conforme ele gritava cada palavra a plenos pulmões, esperando que elas ferissem o outro do mesmo jeito que as palavras dele o feriam. Porém, ele não sabia o quanto aquelas palavras havia realmente mexido com Taemin.

– M-Minho… – O mais novo gaguejou ao falar, mas tudo o que conseguia fitar eram as costas largas de Minho andando rapidamente para fora do seu anexo. Um nó se formou em sua garganta e Taemin mordeu o lábio inferior ao lutar contra a vontade de chorar e a impotência de não poder sair correndo e sumir pra sempre. Ele realmente sentia que talvez pudesse aceitar melhor a presença de um cuidador na sua vida, ainda mais este último que sempre fora tão gentil, mas a presença desse tipo de pessoa à sua volta apenas servia para mostrar o quão fraco e impossibilitado ele era.

Foi então que o cadeirante teve uma ideia que talvez pudesse colocar um fim no sofrimento dele e de sua família também. Com apenas alguns cliques na internet depois de voltar para o quarto, ele já tinha um plano.

Na manhã seguinte, Taemin acordou sozinho mais cedo do que o normal. Os acontecimentos do dia anterior continuaram passando em sua mente mesmo durante toda a noite e tudo o que ele havia conseguido fora uma insônia e uma bela dor de cabeça pela privação de um sono bom. Ansiosamente, o cadeirante olhava esperançoso para o despertador na sua mesa-de-cabeceira para que os minutos passassem mais rápido. Por que diabos eles precisavam demorar tanto para passar? Por acaso já não fazia uma hora que ele acordara? Isso significava que o cuidador já deveria estar ali.

Porém, Minho não veio. E nem na manhã seguinte. Sua mãe o questionara alguns dias depois e tudo o que ele pôde dizer é que havia dado uma semana de folga para o cuidador pelo seu excelente trabalho. Incrivelmente, isso havia sido engolido por ela e Taemin não precisou se preocupar mais com perguntas que não queria e não tinha coragem de responder. Na manhã do sétimo dia, quando Minho não apareceu novamente, foi o momento escolhido para literalmente se mexer.

– Aonde você quer ir, Taemin? – O mais novo rolou os olhos quando escutou a voz de Jinki enquanto tomavam café-da-manhã juntos e suspirou pesado antes de descansar a colher na bandeja perto da sua caneca já quase vazia de leite.

– Precis… Quero visitar Choi Minho, o meu cuidador. – Taemin pronunciou as palavras lentamente como se estivesse falando com uma criança e a mesma não falasse a sua língua – Quero ir até a casa dele e quero a sua ajuda para poder chegar lá. Você sabe muito bem como eu sou um inútil nessa cadeira de rodas. – Ele ignorou os resmungos de protesto do irmão e levantou uma das mãos para indicar que ele não falasse mais enquanto continuou. – Eu preciso resolver umas pendências com ele, a folga dele acaba hoje.

– Olha, eu não sei se acredito muito nessa história, mas se ele está te fazendo sair de casa por vontade própria então acho que eu devo agradecê-lo… – Jinki riu soprado ao falar e abriu um sorriso que fazia com que os seus olhos se fechassem em meias-luas envoltas por várias rugas minúsculas que os emolduravam, revelando a expressão que Taemin mais gostava de ver no rosto do mais velho e que contagiava quem mais pudesse vê-lo. – Termine o seu café e estaremos prontos para ir! – Dito isso, se levantou e deu a volta na mesa, abaixando-se para depositar um selar rápido no topo da cabeça do irmão mais novo, suspirando de leve antes de se dirigir para a garagem para buscar o carro adaptado da família com a intenção de virar o motorista particular de Taemin por um dia, por mais que não soubesse a verdadeira razão por trás do pedido repentino.

Assim que a cadeira estava devidamente instalada no carro depois do café-da-manhã do mais novo, Jinki deu partida no veículo e ligou o GPS para que o aparelho indicasse o caminho mais rápido até a casa de Minho, assim como Taemin havia pedido. Vez ou outra o médico olhava para o irmão confortavelmente sentado no banco de trás, enquanto o mesmo fitava a paisagem que passava pelo lado de fora da janela, e sentia muita vontade de perguntar o que ele estava pensando, mas segurava a sua curiosidade para si mesmo. Durante toda a sua vida, ele aprendera mais do que ninguém a ler as expressões do mais novo e descobrir se conseguiria extrair alguma coisa dele. E essa definitivamente não era uma opção.

O cadeirante, por sua vez, se sentia inseguro e não sabia muito bem por que estava fazendo aquilo. Porém, havia tomado uma decisão e não iria voltar atrás nela. Para que isso acontecesse, precisava acertar as coisas com Minho o mais rápido possível e isso aconteceria quando fosse até a casa dele para recontratá-lo como seu cuidador. Um sorriso brincou em seus lábios por alguns momentos antes de ser substituído por uma mordida suave ao relembrar todas as coisas horríveis que havia feito e falado para o mais velho que sempre fora tão gentil consigo. Taemin não sabia e não conseguia explicar por que gostava tanto de importunar o outro – não era mais pelo motivo da raiva que sentia de sua condição física, tinha plena consciência disso. Ele simplesmente queria causar reações em Minho e só conhecia um jeito para fazer isso; por essa razão, era sempre grosso, mimado e desrespeitoso.

Jinki estacionou o carro na frente da casa simples que o aplicativo de localização indicava como o endereço da residência de Choi Minho e ficou algum tempo observando o local antes de virar para trás ao fitar o irmão. Sorriu abertamente, sua marca registrada, e indicou o pequeno sobrado com um aceno de cabeça, que foi retribuído com outro aceno positivo por parte do mais novo.

Saindo rapidamente do carro, o médico retirou a cadeira do banco de trás e montou a mesma na calçada ao lado da porta de Taemin para que então pudesse pegá-lo com cuidado pela cintura e colocá-lo de forma confortável na cadeira. Jinki sabia que essa era uma das partes que o irmão mais odiava: se sentir inútil. Ele precisava de ajuda até mesmo para sair de um carro e seu coração se apertou um pouco ao ver a expressão quase sem vida no rosto do outro.

– Taemin, o que está acontecendo? – O mais velho dobrou os joelhos ao se agachar na frente do outro para que seus olhos ficassem aproximadamente no mesmo nível e levantou as sobrancelhas enquanto queria manter contato visual com Taemin, que tentava a todo custo evitar o irmão.

– Nada, Jinki. É só que… – Suspirou profundamente e fechou os olhos ao fazê-lo, apenas voltando a fitar o médico agachado à sua frente quando conseguiu colocar um sorriso leve nos lábios. – Eu não tenho sido um bom garoto para o Minho hyung e acho que devo desculpas para ele.

Jinki explodiu em um sorriso ainda mais largo e brilhante, se é que isso era possível. Finalmente ele via no seu irmão a esperança de alguém menos mesquinho e um pouco mais aberto para aproximações amigáveis de outras pessoas. O mais velho então levantou e bagunçou rapidamente os fios do mais novo, antes de se posicionar por trás da cadeira para poder empurrá-la na direção da estreita entrada da casa de Minho, prontamente tocando a campainha. Taemin se sentia nervoso mesmo sem saber muito bem por que, e seu coração deu um salto quando ouviu o barulho da chave sendo virada na fechadura da porta. Um sorriso sincero e consideravelmente discreto surgiu nos cantos da sua boca apenas para se desfazer em seguida.

– Em que posso ajudar? – Uma garota muito bonita estava ali parada à porta da casa do cuidador e seu olhar corria do cadeirante para o médico que empurrava a sua cadeira, fazendo com que ela levantasse uma das sobrancelhas quando nenhum dos dois respondera à sua pergunta. – Então… Em que eu posso ajudar?

– Ahh… Min, Choi Minho. Ele mora aqui, certo? – Jinki esboçou um dos seus melhores e acolhedores sorrisos, na esperança de desfazer um pouco o clima tenso e esquisito que havia se formado ali, seus olhos quase se fechando, sorriso esse que logo foi retribuído pela garota, para a sua extrema surpresa.

– Sim, é o meu namorado! – O rosto da garota se iluminou com um sorriso orgulhoso quando falou, como se ela estivesse contando que acabara de voltar de uma competição esportiva com o prêmio de primeiro lugar e sem nenhum pingo de humildade. Taemin tentou se mexer levemente de forma incômoda na sua cadeira quando ouviu a garota falando enquanto a mesma passava a mão pelos fios longos e pretos, pois algo na expressão corporal dela não o agradava. O garoto baixou então o olhar para observá-la melhor da cabeça aos pés e constatou que ela tinha um corpo bonito, pernas longas para a sua estatura e uma cinturinha fina de fazer inveja para muita modelo. Os cabelos escuros caíam em cachos pelos ombros e uma franja delicada ajudava a emoldurar o seu rosto. Ainda assim, apesar dos olhos aparentemente mostrarem gentileza, o sorriso dela era malicioso, quase como se soubesse que Taemin estava observando. – E vocês quem são?

– T-Taemin? – A voz de uma quarta pessoa foi ouvida do interior do hall de entrada da casa e logo Minho passou pela namorada com passos rápidos, sem nem se importar se havia empurrado levemente o corpo dela para poder sair, vindo parar na frente dos Lee. A sua expressão revelava algo que misturava um pouco de surpresa misturada com descrença, e sua boca se mantinha ligeiramente aberta enquanto fitava o rosto do cadeirante. – Você saiu de casa.

– É… É o que parece… – Taemin imediatamente respondeu à pergunta do seu antigo cuidador e utilizou um tom fraco, quase sem vida, para poder falar, sorrindo fraco e de forma quase envergonhada enquanto tentava manter o seu foco de visão no rosto do homem à sua frente. – Eu precisava falar com você…

– Posso saber o que você quer falar com o meu namorado, sendo que ele não trabalha mais pra você? – disse a garota enquanto dava alguns passos à frente, os seus braços finos cruzados sobre o seu peito, seus olhos ligeiramente cerrados enquanto ela fitava fixamente o rosto de Taemin num plano mais baixo por conta da cadeira. – Como você tem coragem de aparecer aqui com essa cara de cachorro que caiu da mudança depois de tudo o que você f…

– Tiffany, chega. – A voz grave de Minho encheu os ouvidos da namorada e logo ela sentiu um leve aperto quando o homem a segurou pelo braço, fazendo-a recuar e se afastar dos Lee. Jinki, nesse meio tempo, também havia se movido e agora estava ao lado do irmão com uma das mãos repousando no ombro do mesmo, demonstrando proteção. – Ele quer conversar e deve ter bons motivos para ter saído de casa apenas para vir aqui falar comigo. Quero ouvir o que ele tem a dizer… – Dito isso, Minho puxou a namorada consigo para dentro de casa, sob alguns protestos e uma breve discussão, antes de voltar para onde estava, parado na frente dos irmãos. – Me desculpem, ela não tem filtros e bem… Eu devo ter falado um pouco mal de você para ela quando fui embora da sua casa na semana passada…

– Percebemos… – Um tom mais desapontado que o normal transpareceu na voz de Taemin quando ele falou, causando um certo incômodo nos outros dois homens ali presentes. Minho sentiu a garganta quase fechar e levou uma das mãos à nuca, sentindo-se desconcertado e sem saber como prosseguir a conversa. O cadeirante, percebendo isso, limpou a garganta ao tossir e continuou com um tom um pouco mais amigável, tentando sorrir de leve enquanto pronunciava as palavras de forma calma, sendo encorajado pelo braço de Jinki que continuava sobre os seus ombros. – Hm, então… Eu estou aqui para pedir desculpas, Minho. Eu tenho sido um peso pra minha família e pra você também desde que você começou a cuidar de mim. Não sei exatamente por que agi daquela forma com você, mas parece que eu aprendi a lição e gostaria… Gostaria que voltasse a trabalhar comigo. Seja meu cuidador de novo, Minho. Por favor… – O menor baixou a cabeça como pôde ao indicar uma reverência com o seu ato e mordeu o lábio inferior em antecipação enquanto aguardava a reação e a resposta do outro.

Aquelas palavras pegaram Minho de surpresa. Aquele simplesmente não parecia o Taemin mimado e depressivo de sempre. Parecia uma pessoa completamente nova, com novas ideias e também novos horizontes. O fato de o cadeirante se deslocar até a sua própria casa e estar ali pedindo desculpas de cabeça baixa era algo a se admirar.

– Desculpas aceitas. – A voz do cuidador saiu mais ríspida e dura do que ele havia planejado, mas aquilo fez com que Taemin levantasse o rosto para fitá-lo. – Mas com uma condição… – Minho logo emendou quando percebeu a boca do outro se abrindo para falar alguma coisa enquanto o mesmo cerrava os olhos para fitá-lo, e logo o mais velho continuou: – Eu vou embora na primeira vez que você me tratar mal.

– Acho justo. – Jinki até agora apenas observava a conversa dos dois como alguém passivo à ação, mas resolveu se intrometer antes que o gênio forte do irmão acabasse estragando tudo naquele momento. Com um leve apertão no ombro de Taemin, o médico deu alguns passos à frente e estendeu uma das mãos na direção de Minho, usando o seu sorriso mais radiante da mesma forma que fizera quando o outro fora contratado pela primeira vez. – Esperamos você amanhã no mesmo horário. Vamos colocar uma pedra nesse assunto e seguir daqui pra frente. Eu tenho certeza que aprendemos a lição, não é mesmo, Taemin? – O mais velho ali se virou para fitar o irmão que imediatamente baixou a cabeça em sinal de vergonha e acenou levemente de forma positiva para concordar com as palavras do outro. Jinki voltou a olhar para Minho quando este segurou a sua mão com firmeza e a balançou suavemente, o cuidador também com um sorriso radiante nos lábios.

Após uma breve conversa sobre como Taemin havia passado os últimos dias, os Lee se encontravam no carro prontos para sair e Minho aguardava que eles fossem embora para entrar em casa e enfrentar a fúria da namorada que o esperava. Ele só não esperava que uma almofada na cara fosse a primeira coisa que ele receberia quando adentrasse na sala.

– VOCÊ É UM IDIOTA! – A voz de Tiffany estava esganiçada, o seu ódio podia ser sentido nas poucas palavras que ela emitira. – VOCÊ É UM IDIOTA, CHOI MINHO.

– Tiffany, olha… É complicado… – Minho suspirou enquanto pegava a almofada do chão e a colocava sobre uma das poltronas velhas da casa, incerto se deveria levar essa discussão mais adiante ou não. O homem levantou o seu olhar a tempo de levantar os braços para se defender dos tapas e unhadas que a namorada desferia contra si enquanto berrava algumas palavras já sem sentido. – O quê…? Tiffany… Se controla… TIFFANY, CHEGA! – Ele dera vários passos para trás enquanto a mulher avançava pra cima de si até que bateu as costas com força contra a parede do cômodo, fazendo com que ele tivesse que segurar a namorada pelos braços enquanto ela ainda tentava acertá-lo. – VOCÊ FICOU LOUCA, MULHER?

– Louca, eu? Acho que o louco aqui é você e aquele inválido. O que tá rolando entre vocês dois, hein? – Os olhos da garota estavam ligeiramente saltados e a voz instável demonstrava que ela não se encontrava em suas plenas faculdades mentais enquanto tentava discutir com o namorado, as lágrimas começando a escorrer pelas suas bochechas. – Ele te humilhou todos os dias, você voltava pra casa arrasado e eu te consolava. Agora ele aparece aqui com o rabo no meio das rodas daquela maldita cadeira te pedindo pra voltar e você volta feito um cachorrinho!

– Um cachorrinho? D-do que você ta falando? Isso não faz sentido… – Minho franziu o cenho ao começar a pensar nas palavras que Tiffany dissera e nisso afrouxou o aperto nos punhos da namorada, que se aproveitou da situação para então desferir um tapa em cheio no rosto do namorado, fazendo-o virar o rosto para o lado e ficar petrificado no lugar.

– Não acredito que vou ser obrigada a fazer essa pergunta, mas… Minho, por acaso… Por acaso, você é gay? – A pergunta fez com que o homem saísse do seu estado de inércia e fitasse a namorada com os olhos ainda mais abertos do que o normal, franzindo o cenho como se não tivesse entendido a pergunta dela, mas ainda assim não havia respondido a mesma. – Ele é bonito, não é? Esse gay cadeirante é até que bonito, mas OLHA SÓ PRA MIM! – A garota abriu os braços ao falar e deu uma volta antes de voltar a encará-lo, como se estivesse exibindo o seu corpo para o homem. – Todos os seus amigos queriam ficar comigo, sabia? Mas eu nunca quis nenhum deles. Eu sempre quis você e, talvez, esse tenha sido o meu único grande erro… – As palavras da mulher eram carregadas de ódio e veneno, cada uma delas deixando uma cicatriz invisível no corpo de Minho, e tudo o que ele conseguia fazer era continuar ali parado, ouvindo tudo o que ela tinha a dizer e tentando processar cada palavra proferida contra si. – Ele não pode te satisfazer como eu posso, Minho… E mesmo assim… VOCÊ ME ENGANOU!

– Eu não sei do que você está falando. Talvez você tenha realmente ficado louca. Saia da minha casa agora. – O homem finalmente reuniu forças suficientes para falar e sua voz saiu mais rouca e sombria do que ele estava desejando, mas ele continuou mesmo assim. – SAIA, AGORA. EU NÃO QUERO MAIS OUVIR FALAR NO SEU NOME, TIFFANY! – O tom usado por Minho deixou a mulher assustada e, sabiamente, ela decidiu fazer o que ele havia pedido, mas não antes de lançar-lhe um olhar de nojo e desprezo enquanto se encaminhava até a porta da casa, batendo-a com força para então ir embora sem olhar para trás.

Dentro da residência, Minho havia escorregado até o corpo chão e ficou ali sentado escorado na parede e examinando os braços cheios de marcas vermelhas das unhas que a agora ex-namorada havia deixado em sua pele. A sua bochecha ainda ardia por conta do tapa e o homem poderia jurar que o local apresentava uma coloração rósea, mesmo sem nenhuma superfície espelhada por perto para que ele pudesse confirmar.

Aquilo tudo doía de uma forma estranha. Minho não sabia dizer se era o seu orgulho ferido por ter apanhado depois de tanto tempo – a última vez que apanhara fora de sua mãe quando tinha 10 anos! – ou se as palavras cheias de veneno que Tiffany lhe dirigiu falando de Taemin haviam provocado aquela sensação. Ele já não sabia. Achava que conhecia a mulher por quem havia se apaixonado tempos atrás, achava que conhecia todos os lados dela, inclusive os ruins, mas isso só mostrou que ela ainda era uma mera desconhecida. A única coisa que o homem tinha certeza agora era de que precisava de uma boa noite de sono para poder estar apresentável na casa dos Lee na próxima manhã, que não tardou a chegar.

O dia seguinte passou sem muitos imprevistos por parte de Taemin, Minho teve que admitir. O cadeirante parecia mais assustado do que qualquer outra coisa, falava pouco e, quando falava, era extremamente cuidadoso com as suas palavras, coisa que fazia o seu cuidador sorrir de leve, parte pelo contentamento e parte por achar aquilo extremamente fofo. Apesar de tudo, o clima entre os dois parecia leve, o que deixou ambos felizes, mas por motivos diferentes. Taemin estava realmente empenhado em melhorar e ver a vida de uma perspectiva menos negativa enquanto Minho estava apenas feliz por ver que era útil ali e por não ser humilhado constantemente todos os dias.

Os dias se tornaram semanas e o relacionamento entre cadeirante e cuidador parecia cada vez mais forte e cada vez mais profundo. Aquilo era visível por todos ali na casa dos Lee, dos outros empregados à própria mãe de Taemin, que não andava mais por aí com um semblante tão sério e preocupado, mas sim, com um sorriso fácil nos lábios que a deixava ainda mais jovem, se é que isso era possível.

Conforme o tempo passava, Minho conseguia mais e mais arrancar os segredos de Taemin um por um, e o mais novo acabou se tornando uma espécie de fixação para ele. O modo como via a vida, suas opiniões, seus gostos, ele queria saber de absolutamente tudo e muitas vezes se surpreendera com o que lhe era contado.

A coisa que mais intrigava o mais velho era saber sobre a relação do outro com a dança antes do acidente, mas era o tipo de assunto que não era simples de se abordar. Na realidade, Minho sentia medo de despertar a antiga fúria de Taemin que, por hora, estava aprisionada e já não dava sinais há muito tempo desde que ele voltara a ser o seu cuidador. Entretanto, é como todos dizem: a curiosidade matou o gato. E foi assim, curioso, que o mais velho começou essa conversa em um dos vários dias que os dois passavam juntos nos jardins da casa da família Lee.

– Hm, Taemin? Erm… Posso perguntar uma coisa? – Disse o homem em um tom extremamente incerto e cauteloso enquanto ele mordia o lábio inferior de canto na expectativa da resposta do outro. – Eu vou entender se não quiser falar, mas nós nos aproximamos tanto e eu sempre tive curiosidade de saber sobr…

– Ballet. – Taemin o interrompeu antes mesmo que ele pudesse terminar de se desculpar. O mais novo não conseguia fitar o rosto do cuidador no momento e não sabia se teria forças de continuar a falar, mas continuou mesmo assim. – Eu era bailarino clássico antes do acidente e é uma surpresa que você tenha demorado tanto tempo assim para me perguntar sobre isso…

– Me desculpe, eu… – Minho engoliu em seco e se arrependeu amargamente de ter tocado no assunto no momento em que sentiu a dor em cada sílaba que o outro pronunciava, aproveitando para fechar os olhos com força ao demonstrar arrependimento, mesmo que o menor não o olhasse naquele momento.

– Tudo bem. Você não fez por mal… – Falar sobre o acidente e a dança, sua maior paixão, doía muito, mas Taemin entendia a curiosidade do cuidador. Afinal, o mesmo havia caído de pára-quedas em sua vida e tudo o que Minho sabia era que o agora cadeirante era um dançarino que sofrera um acidente e fora atropelado a caminho do ensaio. Isso não conta muita coisa, mas pelo menos evitava os detalhes que mais lhe doíam. Detalhes esses que ele estava disposto a contar para o homem que lhe acompanhava naquela tarde gostosa no jardim. – Eu comecei a dançar com quatro anos de idade e só parei quando sofri o acidente. No começo, o meu pai não queria aceitar o fato de eu ser apaixonado por ballet clássico, mas, depois da minha primeira apresentação, ele ficou impressionado com o meu talento, modéstia à parte… – Taemin sorriu sem vontade enquanto falava e riu fraco das próprias palavras, virando lentamente o rosto na direção de Minho antes de continuar no mesmo tom baixo de antes enquanto a leve brisa balançava os fios que emolduravam o seu rosto. – E então ele começou a ser o meu principal fã e apoiador. Todas as vezes que eu falhava em audições, ele estava lá pra me fazer rir um pouco e me ajudava as superar as minhas decepções, que foram muitas… Acredite. – O cadeirante já sentia os seus olhos marejados d’água e a voz queria começar a embargar antes de continuar falando, sensibilizando Minho, que prontamente segurou as suas mãos e deu um aceno de cabeça para incentivá-lo a não parar de contar. E foi o que ele fez. – Depois da morte do meu pai, eu estava tentado a me distanciar da dança porque tudo me fazia lembrar dele… Até que um colega de palco me disse que eu deveria usar o meu amor pela dança para enaltecer a memória do meu pai. – Taemin piscou com força e duas lágrimas escorreram pelas suas bochechas, fazendo com que ele sentisse a pele do local molhada logo em seguida e precisasse respirar fundo antes de continuar por conta do nó que já se formara em sua garganta. – Eu… Só queria poder dançar de novo e orgulhar o meu pai mais uma vez…

O que o cadeirante não esperava era que um par de braços estaria em volta do seu corpo lhe abraçando com força quase no mesmo momento em que ele terminara de falar, e muito menos que a pessoa responsável por esse gesto fosse Minho, quem ele primeiramente rejeitou e humilhou no momento em que se conheceram e nos dias decorrentes também. Taemin tinha que reconhecer que estar naquela posição, envolto no abraço do outro, era reconfortante e que o calor que emanava daquele corpo simplesmente fazia com que ele se sentisse menos frio em seu próprio interior, mesmo sem saber explicar exatamente por que isso estava acontecendo.  Da mesma forma, sem perceber o que estava se passando, o menor começou a chorar quando escondeu o rosto na curvatura do pescoço do seu cuidador, os soluços sendo abafados contra a pele do local enquanto o outro sussurrava palavras de conforto misturadas com vários “eu sinto muito” e afagos em seu cabelo.

O cadeirante não sabia dizer se haviam passado minutos ou horas, mas o que ele sabia é que Minho não o havia soltado em momento nenhum até que o caminho das lágrimas em ambas as suas bochechas já estivesse seco e os seus olhos irritadiços por conta do choro. Taemin nunca imaginou que se sentiria tão bem por ter chorado na frente de alguém e por ter tirado todo aquele peso de dentro de si mesmo, como se a breve conversa que tivera com o seu cuidador fosse uma cura para aquela dor que latejava sempre que ele pensava em dançar novamente. E ele sabia que seria impossível voltar a ser o que era antes, não importa quantas sessões de fisioterapia a sua mãe pagasse e nem quanto tempo ele ficasse em repouso depois delas, nada mudaria. Ele continuaria sendo um cadeirante impossibilitado, mas pelo menos agora ele sentia que possuía uma companhia, alguém em quem ele pudesse confiar e em quem ele pudesse até mesmo talvez descontar a sua raiva e frustração no futuro. Esse pensamento ficaria em sua mente durante o resto do dia e, embora o garoto não conseguisse disfarçar bem esse tipo de coisa, seria quando Minho não estivesse mais lá que ele pensaria e repensaria a decisão que achava que já havia tomado há muito tempo, porém que parecia prestes a mudar por conta daquele abraço que recebera hoje.

– Obrigado, hyung… – A voz fraca e abafada do menor foi ouvida depois de um tempo e Minho soltou o abraço, se afastando para poder fitar o rosto vermelho de Taemin. Os olhos inchados do garoto estavam ainda mais pequenininhos e isso fez o coração do maior dar um salto, porque aquilo era provavelmente a coisa mais fofa que ele já vira na vida. – E desculpa por chorar desse jeito… Acho que molhei a sua camiseta… – O cadeirante riu baixinho ao terminar de falar e levou as mãos aos olhos irritados por conta do choro para poder coçá-los, fazendo com que o outro se afastasse ainda mais para evitar o impulso de abraçá-lo de novo tamanha fofura.

– N-Não foi nada… Você pode chorar no meu ombro sempre que quiser… – Minho falou rapidamente e de forma meio atrapalhada, logo balançando a cabeça pros lados para organizar os pensamentos quando viu o olhar que Taemin lançara para si. – Não que eu queira te ver chorando… Ah, você entendeu!

– Entendi, hyung… Entendi. – O menor riu soprado, se divertindo com a situação e a expressão desconcertada de Minho, logo deixando um suspiro baixo escapar antes de voltar a falar. – Será que a gente pode voltar pra dentro? Está tarde e eu estou ficando um pouco cansado… – O cuidador prontamente atendeu ao pedido do seu paciente, se ajeitando atrás da cadeira do mesmo para poder empurrá-la na direção da casa, deixando o jardim florido para trás.

O mais velho não foi capaz de esquecer como sentira a necessidade de proteger Taemin naquela tarde quando o mesmo havia aberto o seu coração despedaçado ao contar os detalhes mais mínimos da sua vida antes de ser cadeirante. A sensação do seu corpo pequeno e frágil, o som dos seus soluços juntamente com a sensação das lágrimas alheias molhando a sua camiseta eram coisas que não seriam apagadas de forma tão rápida da mente do maior, o que também fez com que o sentimento de proteção se tornasse mais forte e que uma nova determinação surgisse dentro de si. O cuidador então descobriu que queria ser o responsável por fazer com que Taemin sorrisse novamente.

Pensando sempre naquele momento do abraço no jardim, Minho tratou de sempre ter algo diferente para fazer depois daquele dia, evitando assim que Taemin ficasse entediado o bastante para voltar a pensar na conversa que os dois tiveram. A cada dia era uma proposta diferente da anterior, e isso fazia bem aos dois, que estavam se acostumando com essa nova relação mais próxima. Foi então que o mais velho teve uma ideia arriscada, pois não sabia como o outro reagiria. Entretanto, era tentador demais não fazer um esforço e isso poderia trazer benefícios futuros, então, Minho simplesmente o fez.

– Para onde você vai me levar e por que eu estou vestido tão formal assim? – Taemin fitava o maior pelo reflexo do espelho depois de observar as suas roupas com uma das sobrancelhas arqueadas, demonstrando a evidente suspeita do cadeirante, que apenas era confirmada pelo sorriso largo que Minho tentava esconder.

– Hm, acho que não vou te contar porque eu gosto de fazer surpresas. Só espero que você goste tanto quanto eu. – E o sorriso se intensificou mais ainda no rosto do mais velho, fazendo com que o coração de Taemin falhasse uma batida enquanto ele mesmo também se encontrava sorrindo sem perceber. Por que aquilo acontecera? Ele não sabia explicar, mas decidiu ignorar a sensação e apenas rolou os olhos, afinal, Minho era uma bolinha de energia quando queria e se ele estava tão animado assim para o que quer que eles fossem fazer, deveria ser uma coisa muito boa.

A viagem de carro até o teatro foi rápida e Taemin não fazia a menor ideia do que eles iriam assistir dentro daquele lugar, apesar de ter tentado extrair a resposta do maior durante todo o trajeto. Mais uma vez, o garoto foi pego de surpresa pelo que o seu cuidador havia aprontado, pois ele simplesmente o levara para uma apresentação de ballet clássico de deficientes físicos, incluindo cadeirantes assim como ele próprio. Entretanto, não era qualquer apresentação, mas sim uma bela adaptação de um dos seus espetáculos favoritos do estilo. Taemin não fazia ideia se Minho sabia disso ou se fora apenas um chute com uma boa dose de sorte por ter acertado.

– O… O que significa isso, Minho? P-Porque você me trouxe a-aqui? – A voz do mais novo soava estranha porque a sua garganta já estava prestes a fechar e ele podia sentir os olhos começando a arder por conta das lágrimas que queriam se formar ali. Ele não sabia nomear exatamente como estava se sentindo agora que o espetáculo já havia começado de fato.

– Por quê? Ora… Pra você assistir a um espetáculo do seu estilo de dança favorito! Por qual outro motivo seria? – Era evidente que Minho estava tentando parecer mais animado do que ele realmente estava e, na verdade, o seu tom de voz preocupado era nítido. O maior começara a se questionar se aquilo realmente fora a escolha certa e se isso faria bem a Taemin de alguma forma. Como sempre, seu bom coração cegou-lhe a razão e, apesar de ter cogitado a hipótese algumas vezes, nunca passou pela sua cabeça que, de fato, o cadeirante fosse se sentir desconfortável assistindo a tudo aquilo.

– Isso é… Incrível… – A voz do mais novo saiu falhada porque o mesmo já havia começado a chorar da mesma forma que fizera no jardim naquele dia, um turbilhão de emoções invadindo-lhe o corpo e embaralhando-lhe os sentimentos sem que ele conseguisse controlar nenhuma dessas coisas. – Eles estão dançando… De verdade…

– É claro que eles estão dançando, Taemin. Isso é uma apresentação de ballet! – Minho riu soprado ao falar. O aperto em seu peito já diminuíra consideravelmente apenas de fitar o perfil do rosto do cadeirante, vidrado demais no palco sem piscar, mesmo que as lágrimas insistissem em rolar pelas suas bochechas, emoldurando-lhe o rosto com traços molhados. – É tão lindo…

– É sim… É emocionante também… – Taemin, concentrado demais no palco e no espetáculo, não percebera que o outro não estava mais assistindo já fazia um certo tempo e que aquele elogio não era exatamente para a apresentação em si. O cadeirante empurrou a cadeira mais para frente para ficar próximo da borda do camarote que dividia com Minho e bateu palmas o mais forte que pôde quando o espetáculo acabou, as lágrimas de emoção ainda escorrendo pelos lados do seu rosto.

Assim que as cortinas se fecharam e as luzes do teatro se acenderam, Taemin voltou a sua cadeira na posição inicial e riu soprado enquanto balançava a cabeça pros lados. Ele não conseguia acreditar no que Minho acabara de fazer e estava tentando assimilar tudo antes de poder voltar a encarar o seu cuidador nos olhos.

– E então… Você gostou? – A voz do maior era cuidadosa e suave, quase como se ele estivesse estudando o outro antes de tomar o próximo passo. Suas dúvidas, contudo, foram embora assim que ele viu o sorriso nos lábios de Taemin, refletindo o seu próprio.

– Você sabia que eu nunca achei que fosse forte o bastante para voltar a dançar mesmo usando uma cadeira de rodas? Eu sempre achei que se eu visse uma coisa dessas como esse espetáculo, eu sentiria nojo e vergonha… – O menor falava com calma e gesticulava em direção ao palco conforme as palavras saíam, sem deixar de sorrir. – Mas me fazendo essa surpresa, você não me deixou ter um conceito prévio de como eu reagiria, Minho… E eu gostei muito disso…

– É bom saber que eu fiz a coisa certa então. – Taemin riu baixo da expressão satisfeita que o cuidador exibia ao falar e rolou os olhos em seguida, balançando a cabeça para os lados mais uma vez antes de dar um leve empurrão no ombro do outro, assustando-o. – Mas… O que foi isso?

– Nada não, era só pra tirar esse sorriso bobo da sua cara, hyung. – O garoto bocejou logo após falar e se espreguiçou meio sem jeito na cadeira, já alertando os sentidos de Minho, que prontamente se levantou e se encaminhou até a parte traseira da mesma para poder empurrá-la para fora do camarote e, consequentemente, para fora do teatro na direção do carro. – Hyung, será que podemos ver um filme quando chegarmos em casa?

– Eu preciso ir embora, Taemin… Já está tarde. Eu vou te levar pra casa e depois pego um ônibus… – Minho deu de ombros enquanto falava e logo estava ajeitando o seu paciente dentro do carro adaptado, sorrindo de leve para o mesmo quando afivelou o seu cinto e bagunçando-lhe os cabelos antes de se dirigir ao banco do motorista, deixando para trás o outro com um leve bico nos lábios.

A volta para casa foi muito mais silenciosa do que a ida ao teatro, uma vez que o antes falante Taemin agora se limitava a comentários curtos e frases sem muita emoção. Esse fato, de acordo com o raciocínio lógico de Minho, se devia ao cansaço físico e mental que o menor havia passado por conta do espetáculo de dança e então ele não se preocupou muito com isso enquanto dirigia com calma pelas ruas quase desertas da cidade. Assim que estacionou, o maior fitou o rosto do outro ao se virar para trás e franziu o cenho ao observar o seu semblante mais sério.

– Minho, eu quero que você fique essa noite. – A voz séria de Taemin encheu o carro e fez com que a expressão no rosto do cuidador não melhorasse muito, além de fazer surgir um milhão de perguntas na cabeça do mesmo, que não sabia nem por onde começar a perguntar. – Está tarde demais, não deve nem ter mais ônibus para a sua casa e, pode parecer que não, mas eu me preocupo com você…

– Taemin, isso não é realmente necessário… – Minho sentia as bochechas corarem de leve e também se sentia meio desconcertado pelas palavras do outro, prontamente levando a mão até a própria nuca para esfregar o local, gesto muito comum quando o maior se sentia nervoso ou sob pressão. – Eu posso pegar um táxi ou ir andando mesmo…

– Você vai dormir aqui essa noite. Não quero discussão. – Taemin franziu o cenho enquanto cruzava os braços sobre o próprio peito, fitando o rosto do cuidador com um tom autoritário que há muito tempo não usava com o maior.

– Hm… Tudo bem então. Podemos sair do carro? – Minho engoliu em seco aquele tom que odiava quando o cadeirante usava consigo e suspirou baixo antes de sair do carro, sem esperar a resposta do mesmo para a sua pergunta. Ajeitou a cadeira do lado de fora do veículo e ajudou Taemin a se instalar na mesma, prontamente empurrando-a na direção da entrada da casa sem falar muita coisa no trajeto.

– Hyung, será que podemos ver um filme? – A voz do menor já não continha os traços autoritários de antes quando fez o mesmo pedido de quando deixavam o teatro mais cedo naquela noite.

– Não era você quem estava bocejando na porta do teatro antes de irmos embora? Agora quer ver filme pra continuar acordado? – Minho levantou uma das sobrancelhas ao empurrar a cadeira do menor dentro da casa até os aposentos do mesmo, dando passos lentos ao caminhar pelos corredores da mansão.

– Era… Mas não estou mais cansado. – O tom quase infantil da voz de Taemin fez com que o cuidador deixasse um riso soprado escapar enquanto balançava a cabeça para os lados; a sua raiva causada pela breve conversa no carro praticamente já não existia mais. – Você pode fazer pipoca pra gente? Vou escolhendo o filme enquanto isso.

– Mais alguma ordem, senhor? – Minho levantou uma das sobrancelhas ao ficar na frente da cadeira de Taemin quando eles chegaram à cozinha e a sua expressão fez o cadeirante rir baixo antes de lhe responder de forma negativa. O maior então ficou observando enquanto o outro empurrava a própria cadeira lentamente até a estante da sala para procurar um filme para assistirem. Com a pipoca pronta depois de alguns minutos, o homem levou o balde consigo para o outro cômodo, ajudando Taemin a se instalar no sofá de forma confortável e sentando-se ao lado do mesmo antes de dar play no filme.

As imagens na tela grande da TV passavam sem que Minho prestasse realmente muita atenção nelas, afinal, comédias não faziam muito o seu estilo quando ele queria assistir alguma coisa, mas ele não reclamou e ria de tempos em tempos de acordo com uma ou outra cena. Isso mudou quando percebeu que Taemin estava quieto demais, e ele então desviou o olhar da tela para fitar o mais novo adormecido ao seu lado, a cabeça pendendo para o lado e o cabelo todo jogado na frente dos olhos. O cuidador não sabia dizer por quanto tempo ficou ali observando o outro antes de finalmente se mexer e pegá-lo no colo com cautela para que o mesmo não acordasse enquanto estivesse sendo carregado para a sua própria cama.

Minho colocou o corpo adormecido de Taemin sobre o colchão e ajeitou os travesseiros macios para que a cabeça e o pescoço do cadeirante ficassem em uma posição confortável e ele pudesse dormir de forma profunda durante toda a noite. Logo em seguida, o maior foi até o guarda-roupa em busca de um cobertor para poder colocar sobre a figura adormecida do seu paciente para que ele pudesse ficar aquecido enquanto dormia. Assim que terminou de ajeitar tudo e julgou que Taemin estava confortável o bastante, Minho apagou a luz do cômodo e foi para a sala arrumar uma cama, agora para si, no sofá.

Pegou as pipocas caídas do chão e levou o balde vazio para a pia da cozinha antes de voltar ao quarto do menor, pegando rapidamente um travesseiro e um cobertor no guarda-roupa, saindo rapidamente sem nem ao menos acender a luz ou fazer algum barulho, mas não antes de dar outra olhada no Taemin adormecido que se encontrava debaixo daquele cobertor e sorrindo bobo com a visão. A cama que Minho conseguira arrumar no sofá pequeno era confortável o bastante e fez com que ele rapidamente caísse no sono, o nível de stress e a tensão pelos quais ele passara durante toda a noite contribuindo para que o maior tivesse um sono pesado até a manhã seguinte e praticamente não se movesse até que os primeiros raios de sol batessem no seu rosto, despertando-o.

O cuidador bocejou quando abriu os olhos, suas pernas e braços se esticando para além do móvel pequeno enquanto ele se espreguiçava. Minho suspirou pesado antes de se dar conta de onde estava e isso fez com que ele se sentasse no sofá com um pulo. Dormira tão rápido e tão bem que, por um momento, não sabia onde estava. Seu coração se acalmou quando as formas tão conhecidas dos móveis dos aposentos de Taemin se tornaram mais nítidas e foi esse pensamento que trouxe a lembrança do cadeirante adormecido em sua cama. O maior prontamente levantou do móvel e caminhou sem pressa até o quarto, apenas para sorrir abertamente quando viu que o garoto ainda estava dormindo e numa posição ligeiramente diferente daquela que ele havia sido deixado. Talvez o mais novo tivesse sonhado com alguma coisa essa noite e Minho silenciosamente esperava que fosse com algo bom.

Bocejando novamente, o homem foi para a cozinha preparar algo para comer quando reparou em algumas correspondências no canto do balcão que dividia o cômodo em dois. Provavelmente estavam ali desde o dia anterior, mas nem ele e nem Taemin haviam percebido porque praticamente ficaram o tempo todo fora de casa. Minho pegou os envelopes e olhou-os rapidamente, sem dar muita atenção aos remetentes, logo levando as cartas até a mesa para não se esquecer de entregá-las ao cadeirante quando ele acordasse, aproveitando para ligar a televisão em um noticiário qualquer. O cuidador tomou uma caneca de leite bem quente e comeu alguns biscoitos enquanto ficava debruçado no balcão assistindo ao âncora dando as últimas notícias sobre política, esporte e economia.

Nesse meio tempo, Taemin acordava em sua cama, um pouco confuso sobre como havia parado lá e o que havia acontecido na noite anterior, sua mente ainda sonolenta porque acabara de acordar. Ele levou uma das mãos aos olhos para coçá-los enquanto bocejava sem se importar em fazer barulho e parou de se mover quando ouviu o som baixo da televisão ligada na sala. Foi então que a ficha caiu e tudo se encaixou.

– Minho? – O cadeirante franziu o cenho quando começou a se lembrar do que acontecera depois que voltara do teatro. A sua voz saiu mais rouca do que ele estava esperando e precisou tossir um pouco antes de voltar a falar novamente, dessa vez com mais clareza. – Minho? – Taemin ouviu o barulho de louça e segundos depois o cuidador estava parado na porta do seu quarto, os olhos arregalados numa expressão assustada.

– Taemin? Tá tudo bem? – A fala do maior parecia ter um tom alarmado que combinava com a sua expressão, o que fez com que o outro deixasse uma risada escapar enquanto balançava a cabeça de forma positiva para responder. – Puxa, você me assustou… Não achei que fosse acordar tão cedo, você geralmente é dorminhoco… – Minho exagerou quando deixou um suspiro longo escapar, repousando a mão sobre o peito ao demonstrar alívio e mordendo o lábio inferior logo em seguida, fitando o cadeirante na cama e rindo soprado com a expressão do mesmo.

– Ya! Eu não sou dorminhoco… – Taemin bufou enquanto falava e cruzou os braços com certa dificuldade na frente do próprio peito, rolando os olhos quando ouviu a risada do outro. – Não sei como eu aguento você, Minho… – Essas palavras foram ditas num tom bem baixinho, mas que o maior ainda conseguiu ouvir. O riso dele então se tornou ainda mais alto enquanto se aproximava da cama e, quase sem fazer esforço nenhum, o cuidador pegou Taemin em seu colo, causando uma ligeira vermelhidão no rosto do menor. – O que foi isso?

– Você acabou de dizer que não é um dorminhoco, certo? Pessoas que não são dorminhocas não ficam na cama se não estão com sono… – Minho deu de ombros ao falar como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e baixou o olhar para observar o semblante envergonhado do cadeirante em seus braços, reprimindo o impulso de apertar o seu abraço em volta do corpo pequeno do outro tamanha era a fofura da cena. – Está na hora do café da manhã, majestade. Vou deixá-lo no seu trono para que eu possa preparar o leite com chocolate e as panquecas reais. – Minho mordeu o lábio mais uma vez para tentar segurar a risada, dessa vez sem sucesso.

– Você não cansa de ser idiota, não? – Taemin rolou os olhos quando ouviu as palavras do outro e manteve o semblante emburrado enquanto era colocado na cadeira pelo cuidador, virando o rosto de lado para evitar fitá-lo de forma direta. Assim que Minho se afastou na direção da cozinha, ainda rindo, o menor segurou as rodas da cadeira e a empurrou lentamente até a mesa para poder esperar o seu café-da-manhã, ignorando completamente o bolo de cartas que provavelmente estariam endereçadas para si. – Não esquece o mel nas panquecas! – Taemin disse em um tom mais alto e riu divertido consigo mesmo quando ouviu a resposta positiva de Minho vinda da cozinha, mal acreditava que àquela hora da manhã estava rindo de uma brincadeira idiota que o cuidador havia feito. E isso o fez refletir um pouco em como tudo mudara desde o primeiro dia que o maior havia pisado naquela casa.

Poucos minutos depois, Minho veio com uma bandeja cheia de comida para a primeira refeição do dia e encontrou um Taemin pensativo que não notara a sua chegada, sendo preciso que o maior parasse à sua frente para que o olhar vidrado do menor fosse desfeito. O mais novo levantou o olhar para encontrar o olhar do outro e sorriu de leve como quem tentava se desculpava meio sem jeito.

– Estava pensando no quê? – Minho, ainda com a sobrancelha levantada, perguntou enquanto posicionava a bandeja na mesa para que o outro pudesse tomar o seu café-da-manhã e deu de ombros quando o mesmo se recusou a falar, contornando a mesa para sentar do outro lado e apontando as cartas com um aceno de cabeça. – Não percebeu que tinha correspondência pra você?

– Sinceramente, não percebi não… – Taemin sorriu fraco para o maior que prontamente franziu o cenho. Não era normal esse tipo de sorriso habitando os lábios do outro. Aliás, desde quando ele reparava na boca alheia mesmo? – Mas deixa pra lá, eu leio mais tarde. Assim eu posso ir tomar meu café e teremos mais tempo para fazer qualquer outra coisa depois que eu terminar de comer! – O menor soltou um suspiro pesado e depois sorriu de forma mais verdadeira, empurrando o bolo de envelopes para o canto da mesa e pegando a sua caneca favorita para beber um gole do leite com chocolate que havia sido preparado pelo cuidador.

– Como quiser… – Minho deu de ombros em seguida e apoiou o rosto em uma das mãos enquanto assistia ao cadeirante comer as panquecas que havia preparado, rindo soprado cada vez que o ouvia suspirar e elogiar os seus dotes culinários. – Você não come outra coisa de café da manhã mesmo, eu acabei me aperfeiçoando…

– Não se sinta tanto assim, as suas panquecas são boas, mas não são as melhores do mundo… Convencido… – Taemin rolou os olhos antes de falar e usou um tom mais baixo quando finalizou o comentário, sorrindo malicioso quando viu a expressão ofendida no rosto do maior e desviando o olhar para o próprio prato em seguida, voltando a pegar mais um pedaço da panqueca que, ao contrário do que havia acabado de dizer, era a melhor que o menor já havia comido na vida.

Minho rolou os olhos quando escutou o “elogio” do mais novo e balançou a cabeça pros lados ao rir soprado quando percebeu o sorriso malicioso iluminando o rosto de Taemin, cerrando os olhos em seguida quando o outro voltou a comer o seu café da manhã. O cuidador se deu conta que não estava mais piscando enquanto fitava Taemin e, por algum motivo, isso o fez corar um pouco.

Desviando o olhar prontamente, o mais velho deu uma tossida e falou algo sobre ter que lavar a louça na cozinha antes de sair rapidamente da mesa para sair em direção ao outro lado cômodo, além do balcão que dividia a cozinha da sala de jantar, deixando o cadeirante confuso com toda aquela situação esquisita. O mais novo, por sua vez, simplesmente deu de ombros e se concentrou em comer prato de panquecas à sua frente antes que o leite da sua caneca se esfriasse.

Assim que finalizou o seu desjejum, Taemin suspirou pesado e passou uma das mãos sobre o estômago ao se recostar na cadeira, fechando os olhos para aproveitar melhor o momento de sensação de saciedade que aquela comida preparada por Minho havia lhe proporcionado. O cadeirante ficou ali por alguns momentos antes de repentinamente se lembrar das correspondências que o mais velho comentara enquanto ele comia. Taemin murmurou frustrado enquanto saía da posição confortável com as costas recostadas para se esticar um pouco sobre a mesa a fim de alcançar a pilha de envelopes que tinha deixado de lado antes, puxando os papeis para si e passando os olhos pelos remetentes, sem muito interesse. Até que um deles fez o seu coração dar um salto em seu peito.

Assustado, Taemin olhou na direção da cozinha, uma vez que não havia muita coisa além do balcão, mas não conseguia ver onde estava Minho. O cadeirante baixou o olhar para o envelope que havia abraçado com força e sentia que o seu coração iria escapar pela boca a qualquer momento. Ele não se lembrava mais que havia feito uma reserva naquele lugar e que a hora de viajar finalmente tinha chegado, mesmo que ele não tivesse mais nenhuma intenção de ir.

Aproveitando então a ausência do cuidador, o mais novo colocou a carta em seu colo e tentou sair da sala de jantar sem fazer muito barulho, algo um tanto impossível quando se empurra uma cadeira de rodas, mas Taemin apenas torceu para que Minho não ouvisse nada enquanto ele se encaminhava para o próprio quarto. Pretendia esconder o envelope entre os seus travesseiros para ler durante a noite quando o cuidador não estivesse mais ali, mas quando virou a cadeira a fim de tentar camuflar a carta o mais novo deu de cara com o outro parado na entrada do quarto com os braços cruzados sobre o peito.

– O que foi isso, Taemin? – Minho estava com uma das sobrancelhas levantadas enquanto falava e uma expressão confusa, apesar da curiosidade presente em seu tom de voz. O cadeirante não sabia o que responder, não sabia como sair dessa situação e muito menos como explicar o teor daquela carta que ele tentava esconder no seu colo, torcendo para que aquilo passasse despercebido. – O que é isso que você ta tentando esconder de mim?

– N-Nada não, Minho… – Sentiu o seu rosto ficar quente e sabia que estava mais vermelho do que um pimentão, um comportamento pouco comum e que não ajudava em nada o fato de que ele só queria que o maior virasse as costas e saísse do quarto, deixando esse assunto esquecido. Porém, Taemin soube que não teria escapatória quando, num movimento rápido, Minho deu dois passos à frente e pegou o envelope das suas mãos, logo dando a volta rapidamente na cama enquanto já rasgava o papel para ler, sabendo que Taemin não conseguiria segui-lo por conta da cadeira. – N-NÃO!

– Por que você está tentando esconder de mim a propaganda de uma clínica de repouso, Taemin? – O cuidador franziu o cenho quando pegou o panfleto do local e leu o conteúdo do mesmo, balançando a cabeça pros lados sem entender os motivos do outro para tentar impedir que ele visse o que estava escrito ali e levantando o rosto para fitar o cadeirante, que mantinha a cabeça baixa naquele momento. Foi então que Minho percebeu que o panfleto não era o único conteúdo do envelope e que ainda havia uma carta menor dentro dele, logo perguntando ainda mais confuso. – O que é isso…? – Antes mesmo que Taemin pudesse explicar, o mais velho já estava lendo o teor do papel.

“Caro Sr. Lee Taemin,

Estamos realizando o envio desta carta para confirmar que a sua estadia na nossa Clínica foi confirmada com sucesso mediante o pagamento já recebido anteriormente! O valor pago inclui os 07 (sete) dias de reserva do quarto, todos os medicamentos necessários para o procedimento e profissionais capacitados para acompanhar o suicídio assistido que o Sr. deseja realizar na próxima semana.

Aguardamos apenas o seu retorno para confirmar o horário e o número do voo para que a nossa equipe possa buscá-lo. Aproveitamos para enfatizar que não aceitaremos a presença de familiares e amigos no quarto durante o procedimento, de acordo com as instruções que o Sr. mesmo nos deixou quando nos contatou pela primeira vez. Caso o senhor tenha mudado de ideia, lembre-se que o regulamento da clínica permite apenas uma pessoa por paciente e, então, precisaremos de todos os dados pessoais do seu acompanhante para liberar a sua entrada na Clínica.

Esperamos fazer dos seus últimos momentos em vida os melhores já passados. Estaremos à sua disposição para maiores questionamentos.

Atenciosamente,

Clínica de Repouso Switz.”

Minho já não sabia dizer em qual altura lendo a carta as suas pernas tinham fraquejado ao ponto de ter que se escorar na cama e se sentar no colchão. O homem sentia como se não conseguisse sentir os seus pés tocando o chão e suava frio, identificou a sua respiração irregular, e o coração batia tão rápido que parecia que poderia explodir a qualquer momento. O cuidador ouviu a voz de Taemin chamando o seu nome ao longe, pois um zumbido tomou conta dos seus ouvidos e sua visão começara a embaçar, fazendo com que ele piscasse repetidas vezes a fim de encontrar o foco novamente. A sensação de choque, porém, durou apenas alguns momentos antes de ser substituída por uma raiva crescente e descomunal. O coração de Minho continuava disparado, mas agora por uma razão diferente. Retomando a força nas pernas e no corpo, ele se levantou da cama de forma lenta e fitou o rosto assustado de Taemin enquanto dava passos vagarosos para contornar o leito e se aproximar do outro.

– E-Eu posso explicar, M-Minho… – O cadeirante havia levantado as mãos em sinal de rendição, um pouco para se proteger da reação do maior e um pouco por medo da expressão que o mesmo possuía em seu rosto. – Não é exatamente isso que você está pens…

– É exatamente isso que eu estou pensando, Taemin. Está escrito nessa porcaria dessa carta que você não queria que eu lesse. – A voz baixa e grave de Minho ao falar causou arrepios horríveis na base das costas do mais novo, que se encolheu um pouco na cadeira com os olhos arregalados conforme o cuidador se aproximava. – Você não tem o que explicar, eu já li e sei o que você estava planejando fazer esse tempo todo… – O desprezo no tom que o cuidador usara machucava Taemin de um jeito que ele não imaginava ser possível e foi inevitável quando a primeira lágrima escorreu por uma das suas bochechas.

– Me deixa explicar, M-Min… – A fala do cadeirante era entrecortada por conta de um nó que se formava em sua garganta e, mais uma vez, ele foi interrompido pelo cuidador antes de completar a sua frase.

– COMO VOCÊ PODE TOMAR ESSE TIPO DE DECISÃO SEM ME CONTAR? SEM CONTAR PARA A SUA PRÓPRIA FAMÍLIA? – Minho já não se importava se estava gritando com Taemin e tudo o que conseguia pensar era nas palavras impressas naquele maldito papel na sua mão. O homem não conseguia entender como o mais novo poderia ser tão egoísta a ponto de ir para outro país passar por um procedimento que tiraria a sua vida e nem ao menos daria a chance de se despedirem dele. – VOCÊ É UM EGOÍSTA. SEMPRE FOI! – As veias do pescoço e das têmporas do cuidador estavam saltadas, seu rosto estava lívido de uma mistura de raiva e frustração. A carta em suas mãos havia virado uma bolinha pequenina de papel quando ele percebeu que a amassara enquanto gritava com Taemin e então a arremessou do outro lado do quarto com uma força descomunal, que fez o mais novo estremecer novamente na cadeira. – EU ME PREOCUPEI COM VOCÊ, DEDIQUEI MEUS DIAS A VOCÊ, TERMINEI MEU NAMORO POR VOCÊ E É ASSIM QUE VOCÊ ME AGRADECE, LEE TAEMIN? – Num impulso, Minho se abaixou na frente da cadeira de rodas e segurou o tronco franzino de Taemin pelos ombros, chacoalhando o menor num ímpeto enquanto continuava gritando, sem se importar se o cadeirante agora já estava chorando enquanto repetia a frase “eu não vou mais”. – EU NÃO ACREDITO EM VOCÊ!

– EU NÃO VOU MAIS E É POR SUA CAUSA, MINHO! – Taemin reuniu todas as forças que ainda lhe restavam e gritou a plenos pulmões, mantendo o rosto a centímetros do rosto do cuidador, que suavizou o aperto em seus ombros e foi assim que o cadeirante tomou coragem de continuar a falar. – ERA A MINHA INTENÇÃO NOS ÚLTIMOS TEMPOS, MAS VOCÊ ME FEZ VER O MUNDO DE OUTRO JEITO, VOCÊ ME MUDOU! – Minho finalmente soltou o corpo do outro e endireitou o tronco ao se afastar, sentindo os próprios olhos arderem enquanto as lágrimas lentamente se formavam. Sua expressão estava mais confusa do que nunca e o seu cenho se mostrava franzido ao balançar a cabeça pros lados, tentando assimilar o turbilhão de informações que haviam caído sobre si naqueles poucos minutos dentro do quarto de Taemin antes do mais novo retomar a sua fala. – Eu… Eu não tinha vontade nenhuma de viver, não tenho vergonha de admitir isso. Bom… Não tinha vontade de viver até você aparecer na minha vida, pelo menos.

– Eu… Não consigo entender… – Uma lágrima grossa escorreu por uma das bochechas do cuidador enquanto ele ouvia as palavras do cadeirante e Minho rapidamente limpou-a com as costas de uma das mãos, fungando rapidamente para tentar evitar que outra gota rolasse pelo mesmo caminho da anterior e esperando as próximas palavras de Taemin que já havia aberto a boca para voltar a falar.

– E você acha que eu entendo? Que eu sei realmente o que aconteceu? Eu perdi tudo o que eu mais amava na minha vida e achei que fosse ser assim pra sempre até… – O menor atropelou um pouco as palavras ao falar de forma rápida e fechou os olhos quando interrompeu a própria frase, engolindo em seco para tentar evitar que mais lágrimas escorressem antes de fitar as próprias mãos em seu colo enquanto o cuidador se sentava na ponta da cama próximo de si. – Até que você apareceu e me mostrou que eu não precisava ser rabugento pra sempre, que as pessoas não tinham culpa da minha condição e que eu poderia tentar ser feliz, apesar de tudo… – A voz de Taemin se tornou quase inaudível no final de sua frase e o mais novo sorriu fraco ao levantar o olhar para contemplar o rosto de Minho, mais duas lágrimas rolando pelas suas bochechas deixando um caminho molhado em sua pele.

– E-Eu te ajudei então? – O mais velho sorriu de leve automaticamente ao ver a expressão no rosto do outro, mas continuava confuso com toda a situação e não sabia como se sentir com a confissão de Taemin. O seu lado mais humano, seu lado que sempre queria ajudar as outras pessoas, agora estava aflorado mais do que nunca, fazendo com que um nó se formasse em sua garganta.

– Você não ouviu o que eu disse? Eu desisti de um suicídio assistido, de tirar a minha própria vida, do único caminho que eu achava que era possível porque você me mostrou que não precisava ser assim, seu idiota! – O cadeirante começou a rir baixo, quase sem acreditar na reação chocada que Minho estava tendo, principalmente se comparado com o seu comportamento de minutos atrás. Taemin cobriu a boca com uma das mãos para abafar o riso enquanto continuava a fitar o rosto confuso do cuidador e parou quase que imediatamente quando percebeu que o homem estava agora chorando. – M-Minho, o que foi?

– Achei que fosse perder você pra sempre, eu nunca me senti tão desesperado na minha vida. Tão… Impotente… – O choro dele se misturava com alguns soluços e ele fitava as próprias mãos como se tentasse agarrar o ar à sua frente, abrindo e fechando os dedos de forma aleatória. – Eu senti como se a sua vida estivesse escapando por entre os meus dedos, depois de tudo o que eu fiz pra tentar te deixar bem… – A voz de Minho estava embargada pelo choro recente e o cuidador fungou algumas vezes para tentar fazer seus olhos pararem de lacrimejar antes de se ajoelhar no chão na frente da cadeira de Taemin, jogando os braços pelo pescoço do menor. – Obrigado por não desistir de viver, Taeminnie… – O cadeirante, pego completamente de surpresa, se deixou abraçar pelo outro e apenas retribuiu o abraço depois de alguns segundos de choque, acariciando levemente as costas largas de Minho enquanto este ainda soluçava sobre o seu ombro.

Ambos ficaram naquele enlace por tanto tempo que pareceu até estranho quando se afastaram para se fitarem, o cadeirante sendo o primeiro a rir soprado dos olhos já grandes do cuidador que se encontravam ainda maiores por estarem inchados devido ao choro. Minho, por sua vez, aproximou-se rapidamente para depositar um selar suave no topo da cabeça de Taemin, fazendo com que o coração do menor desse um salto dentro do seu peito devido a esse gesto e seus olhos saltassem por conta do susto.

– É minha vez de rir dos seus olhos esbugalhados agora? – O homem disse com um sorriso de canto e apertou a bochecha do cadeirante em seguida, fazendo com que ele despertasse da espécie de transe em que se encontrava. Minho aumentou o seu sorriso ao perceber o rosto do outro se tornando ligeiramente mais vermelho do que o normal e fingiu uma expressão confusa ao se afastar mais de Taemin, usando um tom curioso ao perguntar. – Por que você está ficando vermelho?

– E-eu não estou vermelho! – O cadeirante balançou a cabeça pros lados para tentar organizar os pensamentos e imediatamente levou ambas as mãos ao rosto para cobrir as bochechas que ele sabia que estavam mais róseas que o normal, fazendo uma nota mental de socar o cuidador com a maior força possível quando tivesse a chance. Enquanto ria, Minho se levantou para andar até o outro lado do quarto, deixando um Taemin curioso para saber o que ele estava prestes a fazer e pegando a bolinha de papel do chão que antes havia jogado ali. – O… O que você vai fazer com isso?

– Isso aqui? – Minho jogou a bolinha algumas vezes pra cima enquanto voltava a se aproximar do mais novo de forma lenta e riu baixo antes de fazer um arremesso no melhor estilo atlético de jogador de basquete, jogando o papel diretamente na cesta de lixo que ficava no canto do quarto e comemorando rapidamente a “cesta” que havia feito. – Aquilo ali é passado. – O cuidador virou o corpo na direção de Taemin e sorriu abertamente ao colocar as mãos nos bolsos, pensando um pouco antes de falar num tom animado. – Quer sair para tomar sorvete?

– Ah… Tomar sorvete? – O menor estava incrédulo sobre tudo o que acabara de acontecer, o turbilhão de emoções e sentimentos que invadiram aquele quarto nos últimos minutos, a repentina mudança de clima o havia deixado um tanto quanto perdido. Taemin piscou algumas vezes quando finalmente conseguiu colocar os próprios pensamentos em ordem e riu baixo ao dar de ombros, sorrindo animado enquanto confirmava com um aceno de cabeça que aceitaria a proposta do cuidador. – Um sorvete é uma boa ideia, mas… Você paga, hyung. – O cadeirante mordeu o lábio inferior para tentar, sem sucesso, esconder um sorriso largo, ao mesmo tempo em que via os olhos de Minho se cerrarem ao fitá-lo. O maior então fingiu rolar os olhos e segurou na cadeira do outro a fim de virá-la com cuidado dentro do quarto para empurrá-la na direção da porta, um sorriso bobo estampando os seus lábios sem saber que Taemin fazia o mesmo.

Nenhum dos dois conseguia acreditar em tudo o que acontecera naqueles poucos meses desde que um havia cruzado o caminho do outro. Tudo parecia surreal demais para que fosse algo verdadeiro, mas ao mesmo tempo era tudo tão real que chegava a doer. Taemin tinha agora vários novos motivos para se levantar da cama todos os dias, mesmo ainda precisando da ajuda de alguém por causa da sua condição física. Minho, por sua vez, fazia qualquer coisa para ver o menor sorrindo, e os seus olhinhos quase fechados ao sorrir se tornaram a sua imagem favorita depois de algum tempo juntos.

Nenhum dos dois sabia exatamente o que estava se desenrolando entre eles, mas já não importava mais. Taemin conseguira encontrar a nova razão pela qual ele poderia sorrir novamente e Minho era o feliz responsável por esse feito.


Notas Finais


Notas finais: Obrigada por lerem até aqui porque ficou bem grande. Sim, me inspirei e usei várias referências de “Como Eu Era Antes De Você”, recomendo para quem queira chorar bastante! ^^


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