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História Só Faltava Você! – DEGUSTAÇÃO - Se For Para Ser, Será!


Escrita por: CRochaS

Capítulo 2 - Se For Para Ser, Será!


Fanfic / Fanfiction Só Faltava Você! – DEGUSTAÇÃO - Se For Para Ser, Será!

💋


Setembro, 2012.


Era uma manhã de sábado e os raios solares entravam pela janela aberta, mas não foi isso que me despertou, e sim o meu celular, que tocava insistentemente. Abri um olho e a claridade me ofuscou, o que fez com que eu o fechasse novamente, apertando-os. Virei para o outro lado da cama, sem ter a menor ideia de que horas eram, mas mesmo assim me perguntava quem estaria me ligando de manhã cedo. Abri os olhos novamente, segura de que a claridade não ia me cegar e estiquei o meu braço, tentando alcançar o celular que teimava em tocar. Alcancei o objeto que vibrava e tocava, olhando ao mesmo tempo para o relógio digital em cima do criado-mudo, este anunciava em vermelho o horário:

09h10.

— Espero que seja um caso de vida ou morte! – resmunguei ainda sonolenta e atendi a ligação, sem ver quem estava me ligando. 

A voz do outro lado da linha me parecia familiar, e estava berrando algo de estar na praia me esperando, foi então que reconheci a voz.

— Sarah, é você? – perguntei, ainda sonolenta.

Não, é a telefonista da empresa de despertador! Mas é claro que sou eu! – respondeu bem irritada e sarcástica, como sempre.

— Nossa, que humor! Dá para parar de gritar, por favor? 

Como você queria que eu estivesse, Melanie? – Ela sempre me chamava pelo nome, não pelo apelido de Mel, quando estava brava. – Estou aqui na praia há uma hora te esperando e você aí dormindo! Você sabe que horas são? – gritou no outro lado da linha.

— Se você que está a mais tempo acordada não sabe, como é que eu que estava dormindo vou saber?

Melanie! Deixa de palhaçada! Não tem graça!

— Está bem, está bem, eu sei, são nove e... onze – respondi, olhando novamente para o relógio que agora marcava aquele horário.

E por que você ainda estava dormindo? A que hora nós marcamos?

— Desculpa, Sarah, depois que você saiu daqui, eu estava tão cansada e bêbada que apaguei na cama sem acertar o alarme.

Eu e Sarah tínhamos enchido a cara de vinho na noite anterior e agora eu estava com sono e de ressaca.

Está bem, mas você vem ou não? – quis saber, impaciente. 

Mas a sua pergunta me deixou em um dilema: Voltar a dormir e só acordar depois das onze e deixar Sarah voltar para casa furiosa comigo, ou ir ao encontro dela e evitar a terceira guerra mundial? 

Evitar a terceira guerra mundial, para o bem da paz mundial. 

— Vou, sim, daqui a uma hora eu chego aí. 

Uma hora? Mais uma hora? – ralhou.

— Eu não tenho helicóptero, senhorita Smith – respondi com ironia.

Está bem, mas vem logo. Já saiu da cama pelo menos? – perguntou e eu ainda estava deitada. 

— Já, sim – respondi, saindo rapidamente da cama, tropeçando no lençol e caindo de joelhos. Me levantei rapidamente, como se ela pudesse me ver. – Daqui a pouco eu chego aí. Em que local da praia você está exatamente? – perguntei, indo em direção ao banheiro. 

No mesmo ponto de sempre, perto do posto salva-vidas. Vou estar aqui te esperando

— Está certo. Eu te encontro.

Me despedi dela, encerrei a ligação e fui me arrumar.

💋

Já tinha se passado meia hora desde o telefonema da Sarah, se eu não chegasse lá em vinte minutos, ela me mataria, e era provavelmente o que aconteceria, porque chegar até a praia de Zuma em Malibu, na manhã de um sábado e saindo de Santa Monica, não era tarefa fácil. 

Peguei a bolsa de praia com as minhas coisas, a chave do carro, tomei um suco, peguei uma maçã e saí ao encontro de Sarah.

Nós sempre íamos para a praia de Zuma, situada em Malibu, e estava sempre cheia. 

Por que não íamos para a de Santa Monica ou Venice que eram mais perto? Porque essas estavam sempre repletas de turistas. Além disso, Zuma é muito frequentada, especialmente pelos surfistas e nós adorávamos. A Sarah e a Vanessa eram mais pelo flerte, e eu para poder usar as pranchas deles. 

A quem eu estou querendo enganar? Eu também usava isso para flertar!

O fato é que quando eu morava em Miami, eu tinha o hábito de todo sábado ir à praia e a noite ir para uma boate chamada Ônix. E em Los Angeles isso não foi diferente. 

Todo sábado, eu e Sarah fazíamos as mesmas coisas. Não que eu gostasse de rotina, mas era algo habitual. Nós íamos à praia de manhã, e à noite saíamos para dançar em nossa boate favorita. 

A Exchange.

As outras garotas só iam à praia ou topavam ir para a boate quando estavam a fim. Mas para mim e para Sarah, nossa rotina de sábado era sagrada. Era o mesmo que ir à missa no domingo.

A praia estava cheia, mesmo sendo início de outono, e estava fazendo muito calor naquela manhã, resquício de verão.

Cheguei ao ponto que sempre íamos e avistei a Sarah de longe. Era impossível não a reconhecer com seus 1m71 de altura e seus cabelos longos até a cintura de um preto brilhoso de fazer inveja, daqueles que brilham até em dia nublado; a cor da pele dela também é invejável, pele dourada pelo sol e seus olhos castanhos claros bem delineados destacam-se facilmente, assim como sua sobrancelha bem desenhada e arqueada. Os seus olhos refletem muito bem a pessoa que ela é, uma escorpiana para ninguém botar defeito. 

Caminhei em direção a ela que estava sentada na areia admirando a paisagem e cheguei por trás tapando os olhos dela.

— Adivinha quem é? 

— Michael – suspirou.

— Michael? – perguntei surpresa tirando as mãos do rosto dela. – Por acaso esse Michael é gay, para ter uma voz de mulher? – Sentei-me ao seu lado. – Ou é minha voz que é masculina?

A minha voz não era nada masculina, pelo contrário, era uma voz bem feminina, suave.

— Não, não é nada disso. – Riu e suspirou. – Eu que estou distraída demais. 

— Mas quem é esse Michael, afinal? – perguntei curiosa. 

— Melanie, eu te falei sobre ele ontem!

— Sarah, eu fiquei bêbada! Eu não lembro metade do que nós conversamos – disse rindo olhando para ela. Ela revirou os olhos balançando a cabeça. – O quê? Foi assunto demais! Você já fala pelos cotovelos, bebendo fica pior! Foram muitos assuntos ontem. E eu estou em uma ressaca filha da puta hoje, por isso... Eu não vou beber hoje – anunciei e ela riu alto, jogando a cabeça para trás.

Eu falava isso todo fim de semana.

— Até parece que você vai aguentar ficar sem beber hoje – disse rindo e me olhou. – Mel, você diz isso todo sábado! – Ela riu achando graça e eu levantei os óculos escuros olhando para ela.

— Mas dessa vez é pra valer! Hoje eu não vou beber – disse com firmeza e ela riu olhando para frente. – Mas agora me diz. Quem é esse Michael?

— É um cara que eu conheci na segunda, na festa de comemoração de aniversário da revista Gossip. Você sabe, eu estava organizando o evento, a Vanessa trabalha para a revista... Só você não foi.

A Sarah tem uma empresa de organização de eventos e está sempre conhecendo pessoas novas nos eventos que ela organiza. Sempre que tinha um evento do qual ela estava organizando, ela me mandava convite, mas no evento em questão eu não pude ir por estar trabalhando.

— Não, eu sei. Mas você não me falou como foi – disse e ela me olhou irônica. – Ah tá, você me falou ontem... mas eu não me lembro. Sou uma péssima amiga, eu sei. – Ri com ela balançando a cabeça. – Mas me fala, por que me confundiu com ele?

— Eu não confundi. Eu só estava aérea e pensei que seria ele. É que quando conversamos no evento, eu mencionei que gostava de praia e viria à praia hoje e, bom, ele disse que vinha, mas ele não me ligou a semana toda e me disse que ligaria – explicou, suspirando frustrada e eu comecei a rir.

— Sarah... quantas vezes eu vou ter que te dizer isso? Quando um cara te diz que vai te ligar, ele não vai te ligar. Em que planeta você vive? Planeta Disney? Você o conheceu por algumas horas apenas, não é como se você tivesse conhecido o amor da sua vida! Vai por mim, não é! Na verdade ele estava era querendo te dizer: "não espere uma ligação, pois eu não vou ligar." Só você pra cair nessa ainda. 

— Com o Oliver não foi assim. 

— O Oliver é um caso a parte, ele é um banana – disse rindo. 

— Ah, não é não. Ele é atencioso, sensível, educado, gentil... Não é como os outros que fazem a gente de boba. 

— Tudo bem, eu tenho que admitir,  ele é tudo isso sim, mas ainda continua sendo um banana – disse e rimos.

Nós sempre nos perguntávamos por que éramos sempre atraídas por aqueles que nos faziam sofrer, nos enganavam, enrolavam e não por os 'bananas' que nos tratavam bem.

A Sarah como promotora de eventos, estava sempre rodeada de gente conhecida e conhecendo pessoas, mas apesar de sermos bem sucedidas e de estarmos cercada de gente conhecida, sempre caíamos nas garras de algum cafajeste querendo nos fazer de bestas.

Eu e Sarah nos conhecemos em um evento de moda há seis anos. Nós duas estávamos trabalhando, durante uma longa semana de correria. Na época ainda estávamos fazendo estágio e foi um longo e trabalhoso ano.

— Vou dar um mergulho, preciso curar essa ressaca – disse, me levantando.

— Como sempre – comentou e joguei a minha blusa nela que riu.

— Você me conhece. Se eu não entrar na água eu não vim à praia – falei, tirando o short jeans e joguei pra ela. – Segura aí. Eu já volto. – Me virei, prendendo o cabelo.

— Isso se você não arranjar uma prancha! – disse em voz alta e eu ri, virando o rosto para ela. 

E como Sarah bem sabia e disse, eu arranjei uma prancha de um surfista.

Eu tinha aprendido a surfar em Miami, com os meus amigos de lá e que também eram amigos do meu ex, do qual eu não ousava mencionar nem o nome. Vou me referir a ele como "P".

Eu adorava surfar. Era uma sensação boa de liberdade e eu sempre amei o mar. Então todo sábado, quando íamos à praia, eu pedia a algum surfista para me emprestar a prancha. Alguns me olhavam intrigados, até de um jeito divertido, como se pensassem que eu não sabia surfar e estava usando desculpa para flertar com eles, querendo que me ensinassem, mas quando eu dizia que já sabia e pegava algumas ondas, eles ficavam surpresos, impressionados e admirados. Sempre me perguntavam por que eu não usava uma minha e a resposta era simples.

Porque eu não tinha uma. 

Pranchas são caras e apesar de minha família em Miami ser rica, eu não dependia deles. Além de ter saído de lá brigada com meu pai, eu queria ser independente. Todo o meu salário ia para pagar as minhas contas, comprar as minhas coisas e para sair com as garotas no fim de semana. Então comprar uma prancha de surfe mesmo que eu fosse usar todo sábado, era gasto desnecessário. Além do mais, era um ótimo jeito para se conhecer pessoas. 

As minhas amigas adoravam isso, porque eu sempre acabava apresentando alguns surfistas para elas. Essas malandras me usavam de isca para pescar surfista. Mas eu também aproveitava. Inclusive, um dos meus relacionamentos que não deu certo, foi com um surfista chamado Zac que me emprestou sua prancha. Foi um relacionamento rápido – se é que eu posso chamar aquilo de relacionamento.

Zac era um típico surfista californiano, loiro com os fios queimados do sol. Ele tinha a minha altura e ele não era lindo, mas tinha o seu charme e muita pegada. Nos conhecemos três anos atrás e tivemos alguns encontros. No início estava tudo maravilhoso, nós tivemos alguns encontros e ele parecia estar muito interessado em mim, eu também estava, nós tínhamos muitas coisas em comum, o que facilitava muito a conversa. Mas depois que tivemos a nossa primeira transa, que devo dizer foi incrível, o cara sumiu!

Eu não entendi absolutamente nada. Ele parou de me ligar, não atendia as minhas ligações e nem respondia as minhas mensagens de texto. Ele sumiu da praia e eu dei por mim de que ele só queria mesmo me levar para cama. Zac era só mais um babaca e apaguei o seu número do meu celular e da minha vida. 

Obrigada pela lição, Zac.

Ficamos na praia até às quatro horas da tarde, e antes de irmos embora Sarah sugeriu sairmos para jantar com as nossas outras amigas antes de irmos para a Exchange. Ligamos para elas e todas estavam a fim de sair. A única que não iria era a Rochelle, mas porque ela estava morando em Nova Iorque já fazia dois anos.

Eu e Sarah nos despedimos e eu fui para casa, apenas para tomar um banho e me arrumar para encontrá-las no restaurante escolhido por nós. 

💋

Eu estava andando depressa, quase correndo pela calçada, atrasada, como sempre, para chegar ao restaurante que tínhamos marcado de jantar. Estava com o celular na mão achando que a qualquer momento a Sarah me ligaria querendo saber onde eu estava que não havia chegado ainda, mas para a minha surpresa isso não aconteceu. O que eu acabei estranhando esse fato, pois ela sempre ligava quando eu me atrasava.

Entrei no restaurante procurando por elas em alguma mesa e as avistei de longe. Elas estavam conversando e rindo, parecia até que elas nem tinham notado a minha demora, o que era bom. O papo deveria estar muito legal e estar rolando há tempos.

Cheguei à mesa esbaforida e cumprimentei todas me desculpando pelo atraso, puxei uma cadeira e já fui perguntando do que o papo tão animado se tratava e para a minha surpresa, não era sobre homens e sim sobre...

— Sobre mim? – perguntei surpresa e um tanto preocupada. Por que elas estavam falando de mim tão animadas e soltando risadas espalhafatosas? – Do que vocês estavam falando de mim que estavam rindo tanto? – perguntei curiosa.

— Ah nada demais, só estávamos nos lembrando do passado. – Sarah respondeu, mas deu pra perceber que ela queria cortar o assunto.

— Ah não, agora eu quero saber o que as minhas três melhores amigas estavam falando sobre mim, o que era tão engraçado? – perguntei com curiosidade extrema.

Eu era muito curiosa, muito mesmo. Ainda mais se era algo sobre mim.

— Nada demais, estávamos falando que você estava atrasada como sempre, e aí nos lembramos daquela vez que você se atrasou para um encontro e... – Ana fez uma pequena pausa, tentando controlar o riso – saiu apressada de casa sem a saia.

Foi o suficiente para todas caírem na risada.

Elas estavam mesmo gozando da minha cara. A Vanessa mal podia se controlar e estava quase chorando de rir.

— Há-Há. Que engraçado – disse ironicamente. – É bom lembrar essas coisas, não é? Como aquela vez na festa na casa do Peter que você saiu do banheiro com um papel higiênico preso a bunda e com uma parte da saia presa a sua calcinha – falei, olhando para Ana que parou de rir. 

Sarah e Vanessa riram alto, praticamente caindo da cadeira e rolando para debaixo da mesa.

— Parem senão eu tenho um troço – disse Vanessa se recompondo e enxugando o canto dos olhos. – Acho que de risos e histórias embaraçosas por hoje já está bom.

— Vocês já pediram alguma coisa? – quis saber, estava faminta.

— Não, estávamos esperando você chegar – respondeu Sarah ainda com um sorrisinho de canto. Ela não estava completamente refeita do ataque de risos.

— Então vamos logo fazer os pedidos, temos uma noite ainda pra curtir. – Vanessa disse e parecia estar bem animada, e como eu conhecia bem ela, por ela teríamos ido direto para a boate. – Preciso me dar bem hoje. Tem tempo que eu não transo. 

— Era disso que eu achei que vocês estavam falando quando eu cheguei. Pensei que vocês estavam falando sobre homens – comentei sem tirar os olhos do cardápio.

— Por quê? Você tem algo para nos contar? – perguntou Ana me olhando por cima do cardápio. – Por isso está com esse vestido vermelho deslumbrante?

Meu vestido vermelho era justo no corpo, mas não tão colado. Ele tinha um decote em V, não tão profundo e tinha tachinhas douradas nos ombros, em uma manga curta.

— Quê? Não é nada deslumbrante, e a escolha do vestido não tem nada a ver com homens.

— Eu diria o contrário. Vestidos vermelhos sempre chamam atenção dos homens – comentou Vanessa jogando uma mecha grossa dos cabelos para trás e com um sorriso malicioso.

— Esqueçam o vestido, foi uma escolha totalmente aleatória. Eu não tenho nada para falar sobre homens, mas a Sarah... – respondi, dando um leve sorriso e olhei para ela.

— Nem vem, Mel – disse ela querendo se safar.

— Vocês estão sabendo de algum Michael? – perguntei para Ana e Vanessa que negaram com a cabeça.

— Não... – responderam.

— Não, espera... Michael não é aquele que você nos apresentou na festa da revista? – perguntou Ana.

— Ah, sim! – exclamou Vanessa. – Esse Michael. O que é que tem ele?

— Não tem nada, esqueçam isso – respondeu Sarah. – Você também, Mel, esquece esse cara. Você tinha razão, ele nunca vai ligar.

— Ele ficou de te ligar? – indagou Vanessa e Sarah assentiu. – E não ligou ainda?

— Não. Ele falou para ela que ia à praia hoje, mas não ligou e nem apareceu por lá – respondi por ela.

— Ah, não esquenta. Michael é assim mesmo. Ele some e aparece do nada.

— Você o conhece tão bem assim?

— Sim, eu o conheço. Ele é amigo daquele cara que eu falei para vocês, que foi morar em Londres.

— Ah, sim.

— Além do mais... – ela se inclinou na mesa – ele tem um caso de anos com a minha chefe.

— Nossa. Então é melhor você se esquecer mesmo dele, Sarah – falei, voltando a olhar o cardápio.

— Já esqueci. – Ela disse fazendo o mesmo. Mas eu a conhecia bem para saber que ela tinha ficado mexida com ele.

Fizemos os pedidos e, enquanto aguardávamos, conversamos bastante, como não fazíamos há muito tempo.

💋

Depois de jantarmos, saímos do restaurante e fomos para a Exchange.

Por irmos para a Exchange todo sábado, acabamos ficando conhecidas por lá, então ficava muito mais fácil entrar. 

Assim como a maioria das boates de L.A., há uma fila enorme de pessoas que tentam entrar quando a capacidade fica no limite, e na Exchange isso não era diferente.

Me lembro da primeira vez em que eu e a Sarah tentamos entrar lá, claro que não conseguimos e ficamos arrasadas por uma semana. Depois disso, virou o nosso objetivo daquele dia em diante conseguir entrar naquela boate. Só conseguimos quase cinco anos atrás, em 2008, quando Sarah teve a ideia de comemorarmos o meu aniversário – que é em Novembro – na Exchange. 

Não saberíamos se conseguiríamos, mas quem é que negaria para uma aniversariante de comemorar o seu aniversário?

Então Dan, o segurança da porta, que tem quase dois metros de altura por um de largura – sim, eu sou exagerada – e que já estava cansado de ver nós duas lá todo fim de semana, permitiu a nossa entrada e aquele dia além de comemorar o meu aniversário, comemoramos finalmente a nossa entrada na Exchange. Foi o nosso dia de glória e eu me diverti muito aquela noite.

Com isso eu também aprendi uma lição. 

Se você quer conseguir algo tem que persistir muito, especialmente se for em uma cidade como Los Angeles.

As meninas chegaram à porta e Dan liberou a nossa entrada nos cumprimentando como sempre. Algumas pessoas sempre reclamavam na fila, mas Dan era um cara grande e calava todo mundo.  

A boate estava lotada e agitada. As pessoas dançavam no ritmo das batidas eletrônicas do DJ e passamos com um pouco de dificuldade por elas na pista de dança, indo direto para a escada.

Nós sempre ficávamos primeiro no andar de cima, em alguma mesa ou no bar, bebendo e conversando, até nos animarmos para dançar. 

Chegamos ao andar de cima e nos sentamos em uma mesa que tinha acabado de vagar.

— Vou pegar as bebidas – avisei para elas deixando a minha clutch com elas.

— Você não disse que não ia beber hoje?! – Sarah perguntou com um sorriso irônico e eu dei de ombros.

— Eu falo isso todo sábado! – respondi e ela riu.

Não era preciso perguntar a elas o que elas iam beber. Nós sempre bebíamos os nossos drinks favoritos.

Martini para Sarah, Lua Negra para Vanessa, Sangria para Ana e o meu favorito, Dama da Noite – que sempre me lembrava a Rochelle, por ter sido ela a me viciar naquela bebida.

Voltei para a mesa distribuindo as bebidas e o papo já estava rolando entre elas e dessa vez sim, elas estavam falando sobre homens. Especificamente sobre um que estava em uma mesa à poucos metros da nossa acompanhado de mais outros dois rapazes. 

Os questionamentos, elogios e comentários maliciosos rolavam soltos na mesa acompanhados de umas olhadas de canto para o cara que nem olhava para elas olhando e falando dele.

Eu não conseguia enxergá-lo direito naquela escuridão e com todo aquele laser verde passando nos nossos rostos e todas aquelas luzes piscando, mas ele parecia ser muito lindo. Ele estava sentado, mas dava para perceber que ele era alto, e tinha o cabelo loiro curto. Os amigos dele estavam de costas e os dois tinham cabelos pretos, mas pareciam ser tão lindos quanto ele.

Eu o observei por um instante, alheia aos comentários delas sobre ele. Ele estava com o olhar para a mesa, segurando uma garrafa de cerveja enquanto os dois amigos dele falavam com ele. Um deles chegou a tocar em seu ombro o balançando, mas ele não olhava para o amigo, ou para os lados e nem para frente, e aquilo estava me deixando intrigada. 

Comecei a tentar a desvendar o motivo. Ele me parecia desanimado e que até nem queria estar ali, com certeza os amigos o arrancaram de casa e o arrastaram para lá aquela noite.

"Rompimento. Com certeza rompimento. O coitado deve ter sido dispensado e está de coração partido. Os amigos estão tentando anima-lo."

Virei a taça do meu drink na boca, tomando um gole e ainda o observando. Ele parecia não querer estar ali, não estava ali para se divertir, mas diferentemente dele, eu ia me divertir e dançar como se não houvesse o amanhã!

💋

Depois de algumas taças de Dama da Noite, e delas terem parado de falar do loiro desanimado da mesa da frente, eu estava pronta para a pista de dança.

Levantei-me chamando alguma delas para juntar-se a mim e Vanessa deu um pulo da cadeira, animada.

— Eu vou! Já não era sem tempo, estava louca para isso. Vamos.

Nos afastamos da mesa, passamos pela mesa do loiro desanimado e fui direto para as escadas com Vanessa vindo atrás.

— Ei, Mel, espera.  O que acha de chamarmos o loiro e os amigos dele para dançar? – perguntou, mais como uma sugestão.

Eu parei no topo da escada e olhei para a mesa dele.

— Só se você quiser levar um fora, pois eu não acho que ele esteja animado para isso – respondi voltando a olhar para ela e sorri. – Além do mais, eu não estou a fim de lidar com paquera hoje. Eu só quero dançar até os meus pés doerem.

Ela deu de ombros pensando que eu estava certa e que levaria mesmo um fora. Se tinha uma coisa que Vanessa detestava, era rejeição.

Nós descemos as escadas e depois de uns empurrões e licenças chegamos ao meio da pista. 

Passamos uma hora dançando. Vanessa flertava muito com alguns homens, mas eu só queria saber de dançar e me esquivava de quem chegasse a mim para fazer o mesmo. 

Voltamos para a mesa, animadas e suando de tanto dançar, pedimos mais bebidas e Sarah e Ana desceram.

Revezamos a noite toda na pista e na mesa, até que em certo momento abandonamos a mesa e nós quatro descemos para a pista. Dançamos até dizer chega sem nos importar com o que acontecia ao nosso redor, com olhadas masculinas ou cantadas baratas, com exceção de Vanessa, é claro. Ela foi a única que dançou com alguns rapazes, mas o objetivo dela naquela noite era diferente de nós três.

Em certo momento enquanto eu dançava, com a cabeça inclinada para trás e olhos fechados deixando a música me levar, eu abri os olhos e meu olhar parou na sacada do andar superior, e em pé olhando para a pista de dança, estava os rapazes da outra mesa. Eu podia jurar que o loiro desanimado estava olhando para mim, mas eu ignorei e baixei a cabeça dançando. 

Eu não estava mesmo a fim do jogo de paquera, dos flertes, conversas vagas e troca de olhares e número de telefone que nunca davam em nada. Estava cansada de ter que conhecer alguém e passar por todo o mesmo processo de conquista de novo para acabar do jeito que sempre acabava.

Com o cara dando no pé e sumindo depois de uma transa.

Ainda mais com alguém que estava desanimado e provavelmente tinha acabado de sair de um relacionamento ou de ter levado um fora da mulher que amava. Com certeza ele sairia da minha cama antes que eu acordasse e nunca mais o veria de novo. 

Eu não seria o consolo de homem nenhum.

 💋

Já se passavam das três da manhã quando decidimos que era hora de irmos embora e a minha missão estava cumprida, os meus pés doíam como nunca.

Me despedi das garotas em frente à boate e fiz o que não deveria fazer nas minhas condições. 

Dirigir depois de beber que nem posto de gasolina. 

A Melanie de nove anos atrás me daria um sermão por fazer isso. Mas o que eu poderia fazer? Não tinha quem dirigisse para mim e táxi de Los Angeles até Santa Monica ficaria caro. 

Dirigi rezando para Deus manter o carro na linha e que polícia nenhuma me parasse, e a reza deu certo, pois cheguei em casa, sã, salva e bêbada.

Subi para o meu quarto, tomei um banho quente e fui para a cama. Mas enquanto eu tentava pegar no sono, eu pensei no loiro desanimado. 

"E se fosse ele o cara certo? Será que fiz bem em ignorar? Será que deixei a oportunidade de conhecer alguém legal e que não ia sumir depois passar? Como é que se sabe quando é o cara certo?"

Não se sabe. Nunca se sabe.

O que eu sabia era que depois de tantos errados, todos os outros passaram a ser errados sem mesmo antes de conhecer. Com certeza ele seria igual aos outros e ia sumir depois que tivesse o que queria.

Eu respirei fundo e me virei para o lado afastando os pensamentos, pois não adiantava mais pensar muito nisso agora, seja o que fosse, era tarde demais, eu não o veria de novo. 

Talvez nunca mais.

💋

Quando eu acordei pela manhã, eu senti a ressaca da noite anterior e descobri que havia sim o amanhã!

Meus olhos foram ofuscados pela claridade e eu franzi o cenho sentindo a cabeça doer. 

"Dama da Noite... Tinha que ser era Dama da Ressaca, ou Dama da Dor de Cabeça. Não vou beber mais, chega!"

Reclamei mentalmente com Rochelle por me apresentar essa bebida, mas sabendo que no sábado seguinte eu estaria fazendo a mesma coisa outra vez, inclusive dizendo que não ia beber mais.

Espreguicei-me na cama virando para o outro lado e olhei para o relógio digital na mesa de cabeceira.

"Dez e meia."

Soltei um suspiro e fechei os olhos novamente a fim de dormir mais um pouco, mas a claridade da janela aberta e o barulho dos carros na rua, não me deixaram dormir mais. 

Derrotada, levantei-me da cama e fui ao banheiro.

Fiz todas as minhas necessidades e higiene matinais, e quando saí de lá peguei o meu celular na mesa de cabeceira e saí do quarto verificando as notificações. Havia uma mensagem de Sarah que dizia em letras grandes:

"O QUE FOI QUE ACONTECEU ONTEM?"

Eu não pude deixar de rir, realmente tinha sido uma noitada. Eu enviei uma mensagem respondendo:

"Não faço a mínima ideia! Nunca mais eu bebo!"

Desci as escadas rindo e fui até a cozinha. 

Deixei o celular em cima da bancada e preparei o meu café.

Eu estava relaxada sentada em um dos banquinhos do balcão ilha da cozinha com a minha caneca de café na mão e pensando em como eu ia aproveitar o meu domingo. Seria uma semana cheia na agência e estava a fim de relaxar para aguentar a semana estressante de trabalho.

Primeira opção: Ir ao shopping.

Aproveitaria para almoçar lá e olhar vitrines, mas a tentação de comprar seria grande. A possibilidade de sair de lá com um monte de sacola de coisas inúteis, fúteis, de que eu não precisava era grande, então achei melhor não. 

Segunda opção: Ficar em casa e assistir todas as séries e filmes que eu pudesse.

Mas em um momento eu me entediaria.

Terceira opção: Chamar alguma das meninas para sair e fazer alguma coisa.

Mas isso estava fora de questão, estávamos todas de ressaca, inclusive eu, então o que quer que eu fosse fazer eu teria que fazer sozinha e de preferência em casa.

Quarta opção: Organizar algumas coisas na casa. 

Havia algumas coisas que eu estava procrastinando fazer há um tempo e aquele momento parecia ser um bom momento para se fazer isso, mas essa era a que eu mais não queria fazer. Tudo era melhor do que isso, mas realmente eu estava sem outras opções.

Derrotada e pensando que eu estava indo para a forca, eu me levantei, deixei a caneca na pia e saí da cozinha.

— Nunca tem um terremoto quando se precisa.

Subi e fui até o outro quarto, do qual eu chamava de quarto da bagunça, porque guardava tudo o que já não era mais utilizado no armário daquele quarto.

Aquele quarto tinha sido o meu quarto quando minha tia morava comigo e por muito tempo ele me assombrou com lembranças, mas eu já tinha superado, até porque minha tia mudou toda a sua decoração, que antes tinha uma decoração masculina por ter sido o quarto do meu primo antes. Quando eu fui morar com ela, ele já não morava mais lá e depois de tudo o que aconteceu comigo desde que fui morar com ela, ela redecorou o quarto deixando mais parecido comigo. Quando ela foi embora para Paris, eu mudei todas as minhas coisas para o quarto dela, que era maior e com banheiro e aquele quarto virou um quarto de hóspedes com o armário da bagunça.

Havia mais um aposento no mesmo andar onde antes era o escritório dela e eu o fiz como o meu pequeno e humilde ateliê, que era composto apenas por uma mesa de desenho profissional com luminária fixa, uma estante com materiais de desenhos e pastas, uma mesa, da qual antes tinha uma máquina de costura – que eu me desfiz anos atrás – e um mural na parede com alguns desenhos que eu tinha feito e que eram importantes para mim. 

Eu adorava desenhar roupas e confeccioná-las, fazia muito isso no passado, mas o trabalho e a saída todos os fins de semana com as garotas, tiravam todo o meu tempo e eu acabei deixando isso de lado.

Eu abri o armário da bagunça e estava cheio de coisas antigas. Eu realmente precisava me livrar de algumas coisas velhas, eu ia doar ou jogar fora, mas os meus planos de arrumação foram interrompidos quando algo caiu sobre a minha cabeça com força. Coloquei a mão na cabeça sentindo dor e olhei para o chão querendo saber o que raios tinha caído em mim. Então eu vi o meu antigo patins in-line caído no chão e fiquei surpresa porque nem mais me lembrava de que tinha um, e apesar da dor que estava sentindo, eu me alegrei ao relembrar todos os momentos em que patinava na ciclovia de Santa Monica com a Sarah e também alguns momentos com Chris.

Os patins haviam sido mais um passo da minha terapia. Eu precisava sair e fazer atividades ao ar livre e comecei a patinar com o Chris, que tinha me incentivado. Quando saímos no nosso primeiro encontro, ele me levou a uma pista de patinação e dali em diante patinar virou um dos meus hobbies favoritos. Depois que comecei a trabalhar, deixei isso um pouco de lado, pois estava sempre na correria e os fins de semana com as garotas eram bem agitados.

Todos os momentos andando de patins na ciclovia da praia com ele e com Sarah haviam me feito muito bem. Apesar do modo de como terminamos o namoro, eu era grata ao Chris por isso.

Relembrar de como eu me sentia quando patinava, me deu vontade de fazer isso novamente.

Quinta opção: Ir patinar na ciclovia em Santa Monica.

— Por que não? – perguntei para mim mesma, animada com a ideia.

Peguei os patins e fui para o meu quarto me arrumar.

💋

Estacionei o carro e saltei, deixando as minhas sandálias e a minha bolsa, com o celular, dentro do veículo. Calcei os patins e fui para a ciclovia, decidindo ir em direção a Malibu, afinal era domingo e era sempre um dia muito cheio em Santa Monica e em Venice. Sempre tinha muita gente passeando por lá e indo para o píer.

Comecei a andar olhando tudo em volta e sentindo a brisa bater de leve no meu rosto, era uma sensação boa de liberdade.

A cada vez em que eu ia me afastando mais das partes da praia que ficavam cheias, mais o meu caminho ia ficando mais vazio. Olhei em volta e eu estava praticamente sozinha, então olhei para frente tentando enxergar mais a diante à ciclovia, e não vinha ninguém, então pensei em fazer algo que eu gostava de fazer. Peguei velocidade e então quando achei que estava rápido o suficiente, eu parei e deixei que os patins me levassem. Abri os braços, inclinei a cabeça um pouco para trás e fechei os olhos sentindo a sensação de liberdade, com o vento batendo em meu corpo e rosto. Mas segundos depois eu ouvi alguém gritar e a voz na hora me pareceu ser muito conhecida:

— Cuidado!

Eu abri os olhos virando o rosto para trás, procurando saber quem tinha gritado, mas eu deveria ter olhado para frente e o alerta foi tarde demais. Foi uma questão de segundos.

— Meu Deus! – Ouvi uma voz masculina dizer assustado e em alto e bom som na minha frente.

Virei o rosto para frente no momento em que alguém em uma bicicleta tentou desviar de mim, mas eu fui acertada em cheio na lateral do corpo pelo guidão e derrubada no chão com violência.

Ouvi o barulho metálico da bicicleta atingindo o concreto, mas sequer olhei, eu estava mais concentrada em sentar no chão e olhar para os meus arranhões que já sangravam.

— Ai, droga – disse para mim mesma, olhando para os meus braços, mãos e joelhos arranhados depois de me sentar. 

Apesar do susto e dos arranhões e, a pancada na barriga, eu estava bem. A voz que tinha gritado, alertando para o possível acidente, não saía da minha cabeça e olhei novamente para trás, procurando pela pessoa. Aquela voz me parecia ser muito familiar, era uma voz conhecida, mas foi tudo tão rápido que eu poderia estar me confundindo, a minha mente poderia estar me enganando, pois eu não via nenhum rosto conhecido no meio das pessoas que olhavam curiosas o acidente.

O homem, que tinha me acertado com a bicicleta, veio em minha direção e parecia nervoso pelo acidente.

— Puta merda! Me desculpa, eu não te vi. Eu estava distraído olhando para a praia. – Ele se desculpou nervoso e eu continuava a olhar para as pessoas nos olhando ainda procurando algum rosto conhecido. – Você está bem? – Ele estava bem aflito e nervoso. – Você está machucada. Ai, droga! Está doendo alguma coisa? Você está tremendo. Meu Deus, como eu sou idiota!

— Não, não... Está tudo bem. Não precisa pedir desculpas, eu também estava distraída... – falei, parando de olhar para trás a procura de algum rosto conhecido e mantive o olhar para baixo, olhando para as minhas mãos. – Foi culpa minha, eu estava de olhos fechados, foi idiotice minha achar que a ciclovia estava vazia. – Virei o meu corpo para o lado e apoiei as minhas mãos no chão para ficar de joelhos e levantar.

— Deixa que eu te ajudo. – Ele se agachou, ficando no meu nível e eu levantei o rosto, então eu o vi.



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