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História Só Faltava Você! – DEGUSTAÇÃO - Tarde de Domingo Inesperada


Escrita por: CRochaS

Capítulo 3 - Tarde de Domingo Inesperada


Fanfic / Fanfiction Só Faltava Você! – DEGUSTAÇÃO - Tarde de Domingo Inesperada

💋


Ele  estava contra a luz do sol e os raios solares criavam uma luz em volta dele que o deixava ainda mais bonito.

Eu comecei a pensar se eu não tinha batido a cabeça com força contra o cimento da ciclovia e morrido, pois ele só podia ser um anjo e estava ali para me levar para o céu.

Ele estava com as duas mãos estendidas para me ajudar a levantar e eu voltei à realidade. Pus as minhas mãos em cima das dele e me ergui com a sua ajuda.

Os olhares curiosos ainda permaneciam em nós, mas assim que perceberam que estava tudo bem com nós dois, as pessoas voltaram as suas atividades. 

Aquele homem, para mim até então desconhecido, ainda parecia preocupado. Ele ainda estava segurando as minhas mãos e olhava para elas, com arranhões que sangravam.

— Você está machucada. Me desculpe, mesmo.

— Não foi nada, são só alguns arranhões, não é nada demais. – Soltei as minhas mãos das dele, um pouco nervosa, pelo susto e pela sua presença. Algo nele estava me deixando desconcertada. 

Talvez fosse pelo fato de ele ser lindo, que mesmo não conseguindo ver os seus olhos, por causa dos óculos escuros do modelo Wayfare da Rayban, e sem conseguir ver direito o seu cabelo, por ele estar usando um boné branco, eu podia ver que ele era. Era nítido pelo formato da sua boca, o nariz, o maxilar e toda a estrutura óssea do seu rosto. Ele parecia ter sido esculpido em marfim pelos anjos. Eu tinha certeza de que eu estava olhando para ele com cara de paisagem e precisava desviar o meu olhar do rosto dele, imediatamente, então olhei mais uma vez para trás, procurando algum rosto conhecido. A voz que deu o alerta me parecia muito familiar e não saía da minha cabeça, mas não havia ninguém ali que eu conhecia. 

— Está tudo bem? – indagou a escultura de anjo e eu virei o rosto novamente para ele na minha frente.

— Você ouviu alguém gritando: "cuidado"? 

— Ouvi, sim, foi o que me fez olhar para frente. Por quê?

— Nada, eu só queria saber se a minha mente não estava me confundindo. É que a voz me pareceu familiar... mas não vejo ninguém conhecido – respondi e olhei de novo para trás, mas acabei desistindo de identificar o dono da voz. Provavelmente tinha sido alguém ali passando que previu o que ia acontecer e continuou andando. A voz apenas soava familiar. – Talvez tenha sido apenas impressão minha ou alguma voz parecida, deixa pra lá. – Dei de ombros. – Mas e você... Você está machucado? – perguntei, o olhando de cima a baixo.

Ele estava usando uma camisa branca, bermuda larga bege e tênis branco da Nike. 

Eu senti as minhas pernas fraquejarem com a beleza daquele ser que aparentava ter um metro e oitenta de altura. Foi inevitável soltar um leve suspiro, acho que isso era bem comum com as mulheres que o olhavam.

— Não, eu não tive nada – respondeu, esticando os braços, verificando-os. – Só estou com o braço dolorido pela pancada – apertou o braço esquerdo –, mas não é nada. – Ele deu de ombros e olhou para trás. – Olha só, eu estou me sentindo mal por ter te acertado com a bicicleta e te derrubado. – Ele virou o rosto para mim e eu só tentava imaginar como seriam os olhos dele. 

"Será que são verdes? Castanhos?! Talvez ele tenha aqueles olhos cor de mel esverdeados que parecem castanhos, mas na luz ficam verdes. Ou será que são azuis? É, azuis, com certeza são azuis."

— Tem um posto médico logo ali atrás – apontou com o polegar por cima do ombro –, me deixa te levar até lá, é o mínimo que eu posso fazer.

— Não, imagina... – falei, balançando a mão em sua frente como alguém desinteressada, mas na minha mente eu estava gritando para mim mesma que porra eu estava fazendo, quando o que eu queria mesmo era deixar ele me levar para onde ele quisesse. – Você não precisa mesmo fazer isso, eu estou bem, não foi nada e, bom... Eu posso ir sozinha.

"Cala a boca, Melanie! O que você está fazendo? Retire já o que disse! Aceita, aceita, aceita!" 

A verdade é que eu precisava mesmo de atendimento, a minha barriga doía, o guidão da bicicleta havia batido bem no meu lado esquerdo da costela, mas não queria contar a ele isso.

— Não vou aceitar isso, eu insisto, por favor. Eu vou só pegar a bicicleta e te levo lá. 

Ele andou em direção à bicicleta caída no chão e eu mentalmente comemorei. Eu estava mesmo torcendo para que ele insistisse e eu me convenci facilmente, deixando que ele me levasse.

Ele ia empurrando a bicicleta, segurando-a pelo guidão, e eu patinando devagar ao seu lado. Enquanto andávamos em silêncio até o posto, pois eu não sabia bem o que dizer, eu fiquei pensando no que tinha acontecido naquela manhã. 

Eu tinha resolvido mexer nas minhas antigas coisas a fim de jogar algumas coisas fora, um par dos meus patins caiu na minha cabeça me fazendo ir até Santa Monica patinar, escolho o caminho para Malibu ao invés de ir até Venice e, eu sou derrubada por um deus grego que está preocupado demais com os meus arranhões a ponto de insistir em me levar até um posto médico.

"Isso é algum tipo de sinal?" 

Então eu fui tirada dos meus pensamentos pelo deus grego em questão, ao meu lado.

— E então... – ele disse, olhando para mim. – Como você se chama?

Dei um leve sorriso baixando a cabeça e respondi:

— Melanie.

— Prazer, Melanie. – Ele estendeu a mão e eu estendi a minha, apertando a dele.

— E você, como se chama? – perguntei e ele pareceu surpreso com a pergunta, mas depois sorriu, soltando a minha mão.

— Me chamo Nickolas, mas pode me chamar de Nick, é como todos me chamam – respondeu, abrindo um sorriso e, Deus, que sorriso!

Se não fosse pela dor que eu estava sentindo, eu podia jurar que eu tinha batido mesmo com a cabeça no chão e estava mesmo morta! Por via das dúvidas, eu olhei para trás para me certificar de que eu não estava vivendo uma experiência de pós-morte com o meu corpo caído no chão, torto com sangue saindo da minha cabeça, e com as pessoas ao redor chamando uma ambulância. Mas não, não havia nada disso, eu estava viva mesmo!

Eu olhei novamente para ele e sorri.

— Prazer, Nick. E você pode me chamar de Mel.

Ele soltou um riso fraco e pegou na aba do boné, o virando para trás. Ao fazer isso eu podia jurar que já o tinha visto em algum lugar.

"Será que ele é modelo e já fez teste na agência? Não... Eu me lembraria dele. Talvez eu tenha o visto em algum evento, onde a Sarah me convidou para ir, ou quem sabe em algum outro lugar."

Chegamos até o posto médico e não demorou muito para que eu fosse atendida. Nick me acompanhou até a área de atendimento, mesmo eu dizendo que não era necessário, mas ele fez questão. Eu me sentei na maca e ele sentou-se em uma cadeira próxima olhando o médico avaliar a minha situação. Estávamos em silêncio até ele falar:

— Então Doutor... O caso é grave? – Nick perguntou com ar sério, mas logo contraiu os lábios, segurando um riso.

Eu estreitei os olhos para ele que riu de leve.

— Você nem sabe o quanto. – O médico olhou para Nick e deu uma piscada de olho.

— Vocês dois estão tirando sarro com a minha cara, né? – perguntei e os dois riram achando graça.

— Ela vai precisar de pontos? – Nick perguntou, tentando disfarçar a vontade de rir.

— Ah vai, com certeza vai – respondeu o médico com leve sorriso e olhando para ele que tentava segurar o riso.

Eu semicerrei os olhos e balancei a cabeça. Nick achou graça e riu.

— Bom, falando sério agora, não foi nada demais, apenas alguns arranhões. Vamos só limpar os ferimentos e colocar curativos.

— Viu só? – Olhei para Nick. – Eu te disse.

— É, mas não custava nada verificar.

— Seu namorado está certo. Não é porque foram só alguns arranhões que não precisa cuidar.

— Ah, não, nós não... – dissemos juntos.

— Não somos namorados, nós acabamos de nos conhecer. – Eu me apressei em explicar para o médico e senti o meu rosto queimar com Nick me olhando com leve sorriso.

— Entendi. Só ajudou ela depois de ela cair? – O médico perguntou para ele que assentiu. – Foi fazer alguma manobra radical e não deu certo? – perguntou para mim, sorrindo.

— Ah, não, não foi isso. Foi uma idiotice minha. Eu fechei os olhos e deixei os patins me levar. A gente se chocou um com o outro na ciclovia – respondi e o médico olhou confuso para Nick.

— Mas você não está de patins também.

— Não, eu estou de bicicleta.

— E você não se machucou? – Ele quis saber.

— Não, nada. Apenas o meu braço que está dolorido pela pancada – respondeu, tocando novamente no braço. – Mas não foi nada.

— Bom, parece que foi uma pancada forte. – Ele finalizou o curativo e me olhou. – Tem mais algum lugar dolorido ou machucado? – perguntou e eu achei melhor falar sobre a barriga dolorida, já que estava ali, era melhor checar se estava tudo bem.

— Bem, na verdade tem... – respondi, contraindo um lado do rosto, e Nick me olhou intrigado. – Minha barriga está doendo – falei, colocando a mão no lugar onde doía. – O guidão da bicicleta bateu bem aqui.

— Por que você não me disse? – perguntou Nick surpreso.

— Eu não queria que soubesse e te preocupar mais e incomodar. Me desculpa – falei e Nick semicerrou os olhos, balançando a cabeça e estalando a língua em desaprovação.

Eu ri levemente, me divertindo com a cara dele. Eu estava começando a achar ele bem agradável e divertido.

— Vamos dar uma olhada.

O médico me fez deitar na maca e suspender a blusa até a costela, onde tinha recebido a pancada. A área afetada estava bem vermelha.

Ele examinou, apertando em volta do local e depois no lugar que estava vermelho. Eu gemi de dor, contraindo o rosto.

— Só dói quando eu aperto aqui? – perguntou, apertando novamente no local e eu confirmei com a cabeça. Ele pediu que eu levantasse o braço esquerdo, o que eu fiz sem dificuldade, e perguntou se doía ao respirar, ao que eu respondi que não. – Não é nada grave. Vai ficar dolorido e com toda certeza um hematoma. Faça uma compressa de gelo assim que chegar em casa e deixe por 20 minutos.

O médico me liberou depois de também me receitar um aerosol para passar no local e recomendou procurar o hospital para tirar raio-x se a dor piorasse.

Nós agradecemos e nos despedimos. 

Logo depois eu e Nick estávamos do lado de fora do posto médico e esperei ele desprender a bicicleta para agradecer e me despedir. Quando ele soltou a corrente, ele se virou para mim com nós dois falando ao mesmo tempo:

— Então... – ele disse.

— Bom... – eu disse e rimos.

— Você primeiro.

— Não, pode falar.

— Então... Você vai ficar bem?

— Vou, claro! Já estou pronta para voltar à ciclovia e continuar a patinar – respondi séria e ele me olhou, abrindo a boca pronto para manifestar contra. – Eu estou brincando, Nick! – disse, sorrindo e me inclinando levemente para frente.

Ele relaxou, rindo e balançando a cabeça.

— Você quase me pegou – disse, balançando o dedo indicador para mim e eu ri.

— Quase não. Você acreditou, sim – rimos. Então havia chegado o momento de me despedir dele. – Bem, obrigada por tudo, você não precisava ter me acompanhado até aqui.

— Não, eu precisava, sim, afinal eu que atropelei você.

— Nada disso. Eu que estava de olhos fechados, foi idiotice minha.

— Mas eu também não estava olhando para frente, estava olhando a praia e... – ele parou de falar, baixando a cabeça e rindo.

— O que foi? – perguntei, sorrindo curiosa e franzindo o cenho.

— Nenhum de nós dois vai deixar o outro levar a culpa. – Ele respondeu, me olhando e sorrindo.

Eu sorri, assentindo, mas os meus pensamentos só estavam em querer saber como eram os olhos dele e vê-los parados nos meus.

— É, é verdade. Então vamos deixar isso apenas como um acidente normal e os dois levam a culpa, que tal? – sugeri e ele assentiu.

— Me parece justo.

— Que bom – suspirei, relaxando –, não vamos precisar de um tribunal – disse de forma descontraída e ele riu com aquele maldito sorriso que deixava as minhas pernas parecendo macarrão cozido. – Bom, então é isso... – falei sem jeito, levantando os ombros e estendi a mão. – Obrigada mais uma vez, você foi muito atencioso e gentil.

— Não fiz nada além do que deveria – disse ele de forma descontraída e apertou a minha mão. – Foi um prazer te conhecer, Melanie.

— Igualmente, Nickolas. – Soltei a mão dele e então me virei para ir embora, mesmo que eu não quisesse ir.

A minha vontade era de ficar ali, parada de frente para ele e ficar só admirando a sua beleza parcial, pois ele ainda estava de boné para trás e com os óculos – e eu tinha a impressão de que se ele o tirasse, teria o mesmo efeito que a Medusa e me deixaria paralisada feito pedra – mas eu tinha que ir, eu não queria ficar ali e o ver partir primeiro, eu ia me frustrar mais em vê-lo indo embora, sabendo que ele não havia se interessado em mim da mesma maneira, do que eu ir primeiro.

Saber que não o veria mais me incomodava profundamente e eu nem sabia porquê.

— Ei, Melanie! – Ouvi a sua voz me chamando e eu me virei no mesmo instante. – Digo... Mel. – Ele sorriu. 

"Macarrão, macarrão, macarrão!"

Meu Deus, eu ainda estava de patins e as minhas pernas estavam moles. Seria o fiasco do flerte se eu caísse novamente por causa dessas pernas de macarrão. Mas a cada vez que ele sorria o meu coração parava de bater por um segundo e voltava a bater descompassado.

"Para de sorrir, homem, ou vai me causar outro acidente!"

— Você vai fazer alguma coisa agora ou você já vai embora? – perguntou, me olhando ali parada, e sentou no banco da bicicleta com um braço apoiado no guidão e outro no banco.

"Será que esse homem fez curso pra ser lindo e gostoso assim ou ele simplesmente nasceu assim?"

— Na verdade nenhuma das duas coisas – respondi, voltando em sua direção com as minhas pernas de macarrão nos patins. – Não queria voltar pra casa agora, não tenho nada pra fazer lá, sem falar que o dia está tão bonito – falei, olhando para o lado e para o céu. – Ia ficar por aqui mesmo e andar um pouco, sem os patins, é claro. – Eu sorri e ele sorriu de volta.

"Maldito! Será que se eu parar de sorrir ele para também?"

Me aproximei dele e quando freei o patins, as minhas pernas me traíram completamente, me fazendo desequilibrar levemente. Instintivamente estiquei os braços para frente como reflexo para me segurar em algo. Nick se levantou rapidamente e me amparou, me segurando pela cintura. 

— Opa! Tudo bem? Não vai cair de novo, hein? – Ele disse sorrindo e eu ri de leve, assentindo.

"É só você parar de sorrir, semideus!"

Olhei para ele e os nossos rostos estavam próximos demais e os nossos corpos estavam colados. Então eu percebi que não era só o seu sorriso que deixava as minhas pernas bambas, mas o seu toque, o seu corpo colado ao meu, o seu olhar em mim que eu não via, mas sabia que estava. Eu senti uma eletricidade enorme percorrer todo o meu corpo, como uma rede de alta voltagem.

"Que raios é isso?!"

Eu nunca havia sentido algo assim e tão forte, ainda mais com alguém que tinha acabado de conhecer.

— Está tudo bem, não foi nada. Foi só um pequeno desequilíbrio – falei, olhando para a minha mão que estava tocando em seu braço e me soltei dele, sentindo o meu corpo arrepiar. Eu me afastei um pouco e olhei para ele. – Mas então... – pigarreei – por que me perguntou se eu ia ficar aqui ou ir embora? 

Ele sentou novamente na bicicleta e deu de ombros.

— Bom, é porque como você disse, está um dia bonito e eu também não vou embora agora. Então como estamos sozinhos aqui, acho que nos fazermos companhia seria legal. – Ele sorriu e eu não liguei mais para as minhas pernas bambas, pois isso era inevitável. – Me evitaria atropelar mais alguém. – Ele riu dando de ombros e eu ri junto. – Então... O que me diz? – perguntou, mordendo um dos cantos do lábio e arqueando a sobrancelha.

"Puta merda!"

Aquilo era muito pior do que apenas um sorriso. O efeito disso não atingiu apenas as minhas pernas, mas o meu corpo inteiro. 

Pode me chamar de Melanie Spaguetti.

"E de preferência com molho branco...", pensei, surgindo um pensamento malicioso enquanto eu olhava para ele e ri.

— Mel?!

— Desculpa, eu... eu estava pensando. Você está me convidando para ficar aqui com você e te fazer companhia? – perguntei sorrindo de leve e semicerrando os olhos.

— É, estou. – Ele assentiu, balançando a cabeça e sorrindo de volta.

— Hum, eu não sei... – cruzei os braços, fazendo uma cara pensativa. – Você me parece meio chato, mas eu vou ser uma heroína e fazer esse esforço para salvar as pessoas que você poderia atropelar – respondi e ele riu, assentindo. Dei uma risada de leve, mas por dentro eu estava pulando, gritando, esbravejando de felicidade. – Mas então... Nick. O que você quer fazer?

— Não sei... mas com certeza alguma coisa que não envolva a ciclovia.

Rimos.

— Nisso, nós concordamos.

— Que tal almoço? Aposto que você ainda não almoçou – sugeriu e de fato eu não havia almoçado ainda.

A palavra almoço fez até mesmo o meu estômago roncar. Eu tinha perdido totalmente a noção de tempo e já se passavam das duas horas da tarde.

— É, ainda não. Um almoço seria bom.

— Tem um restaurante ao ar livre logo ali que é muito bom – disse, apontando para trás.

— Você conhece tudo por aqui – comentei.

— Conheço, sim. É que eu moro em Malibu. Mas então, vamos? – Ele se levantou e eu assenti.

💋

Nós chegamos ao restaurante e nos sentamos, próximos um do outro. A nossa mesa ficava situada do lado de fora do estabelecimento, o que me deu a liberdade de tirar os patins, ficando descalça.

— Nossa... Que cheiro é esse?! – perguntou ele, fazendo uma cara feia, se é que ele conseguia.

— Que cheiro? – respirei fundo, tentando sentir o aroma. – Não estou sentindo nada.

— Ah, já sei o que é – disse se recostando na cadeira e fazendo cara de "eu já sabia". – Você tirou os patins. – Ele colocou o cardápio no rosto, segurando um riso, e se abaixou levemente.

Eu abri a boca, pasmada.

— Está insinuando que eu tenho chulé? Que audácia! – ralhei e ri batendo de leve no ombro dele.

Nick abaixou o cardápio rindo, pôs na mesa e olhou para os meus pés. 

— Seus pés são bonitos – elogiou e eu agradeci por estar com a pedicure em dia. As minhas unhas estavam pintadas e não estavam parecendo unhas de Bicho-Preguiça. 

Eu sorri agradecendo o elogio, então finalmente ele tirou os óculos enquanto ainda olhava para os meus pés, fechou as hastes e pendurou na gola da camisa.

"Olha para mim, Medusa!"

— Mas mesmo sendo bonitos, eu não tive como não deixar de brincar – disse rindo e então me olhou, me permitindo finalmente ver os olhos dele que eram azuis claros, lindos do jeito que eu achava que eram.

"Pedra! Total!"

Eu fiquei paralisada, vidrada nos olhos dele e em todo o conjunto da escultura esculpida pelos anjos.

Melanie?! Oi? – Ele acenou na minha frente e eu voltei a ser humana.

— Oi! Desculpa. É que eu fiquei olhando seus olhos... você tem olhos lindos – falei, me inclinando um pouco por cima da mesa.

— Ah, obrigado – sorriu –, mas não são exatamente meus, os meus olhos são castanhos, essa cor são das lentes.

— São lentes?! – perguntei com espanto.

— Não – respondeu rindo e eu comecei a rir por cair na brincadeira dele.

"Lindo e divertido. Será que ele tem algum defeito? Talvez ele esteja ficando careca."

Como se ele pudesse ouvir os meus pensamentos, ele tirou parcialmente o boné com um sorriso de cair calcinha, passou a mão no cabelo perfeitamente loiro sem um fio faltando e colocou novamente o boné.

"Pau pequeno. Só pode ser isso! Não é possível alguém ser tão perfeito assim!"

— Você me pegou – disse com riso leve.

— Você é fácil de ser enganada. – Ele deu de ombros sorrindo e eu olhei para ele, desfazendo o sorriso e pensando em todas as vezes que pessoas conseguiram me enganar.

Não era algo agradável e, pelo o meu passado, eu já deveria ter aprendido a não confiar tanto assim nas pessoas, eu não deveria ser tão fácil assim de ser enganada, mas eu costumava confiar nas pessoas, na bondade delas.

Meu irmão dizia que esse era o meu maior defeito, mas também a minha maior virtude. Ele sempre me dizia que meu coração era puro, por não ver maldade nas pessoas, isso me fazia ser gentil, bondosa, mas também acabava fazendo com que as pessoas se aproveitassem disso e me enganando, e me manipulando.

— Me desculpe, isso te ofendeu? – Ele perguntou, percebendo que aquilo tinha me causado desconforto.

— Não. Não é isso – disse rapidamente e sorri de leve. – Você tem razão, eu sou fácil de ser enganada – olhei para baixo –, mas é porque eu costumo acreditar nas pessoas. – Voltei a olhar para ele. – Você não? – perguntei e ele balançou a cabeça negativamente. – Mesmo? Por quê?

— Experiências próprias, já passei por muitas experiências desagradáveis – respondeu e eu me perguntei curiosa quais teriam sido essas experiências desagradáveis. Não teriam sido iguais as minhas, disso eu tinha certeza.

— Por exemplo...?

— Traições.

— Já foi traído muitas vezes?

— Isso depende do que você define como traição.

— De todo o tipo. Para mim traição é quando você confia demais em alguém que acaba te apunhalando pelas costas, fazendo você perder a confiança nela. Isso serve tanto para relacionamentos amorosos como os de amizade. Eu não suporto traição, para mim é algo imperdoável.

— É, eu também não – concordou, desviando o olhar pensativo, como se lembrasse de algo. – E respondendo a sua pergunta... já. Já fui traído muitas e muitas vezes. Namoradas, amigos que não eram amigos... – ele riu com ironia e se recostou na cadeira – e até mesmo familiar – disse com semblante sério, até mesmo pesaroso.

Mesmo traição sendo algo que não importa a aparência que a pessoa tenha, eu não conseguia imaginar uma namorada traindo aquele homem. Quem teria coragem de trair um deus grego? Traição amorosa é algo muito comum. Pouquíssimas pessoas podem dizer que nunca foram traídas. Mas traição familiar? Isso era pesado. Nick parecia ser uma pessoa com um passado turbulento, até mesmo sofrido. Eu sabia muito bem como era isso.

— Então eu entendo você não acreditar nas pessoas. Infelizmente eu não consigo ser assim – falei, soltando um leve suspiro, tentando evitar as lembranças do meu passado.

— Bom, não é que eu não confie nas pessoas, eu só não confio de imediato. Confiança para mim tem que ser conquistada.

— Concordo. Mesmo que eu não seja assim, mas sei que eu deveria ser.

Eu sei que eu deveria confiar nas pessoas apenas com o tempo, mas eu levava comigo a ideia de que: "Quem vê cara, não vê coração." E eu achava que todas as pessoas tinham um bom coração, até que se provasse o contrário.

Eu sei que eu deveria fazer o inverso, desconfiar de todos até que provassem ser uma boa pessoa, ainda mais depois de tudo o que passei com o 'P' e com todos os outros errados, mas eu só queria acreditar que existiam pessoas boas e em um mundo melhor. Eu me recusava a acreditar que existiam mais pessoas ruins do que boas.

O garçom se aproximou da mesa e nos perguntou se queríamos pedir alguma coisa. Pegamos o cardápio e fizemos o pedido. Retomamos a conversa assim que o garçom se afastou.

— Então, me conta um pouco sobre você – pediu Nick e eu lhe contei um pouco sobre a minha vida sem falar muito do meu passado. 

Falei que eu era de Miami e sobre a minha mudança para Los Angeles para cursar a faculdade de Design de Moda na UCLA. Contei um pouco sobre o meu local de trabalho e o que eu fazia lá, além de dizer que o meu sonho era me tornar uma estilista de sucesso algum dia. 

— Algum dia?! E por que não agora? – Ele indagou.

— Porque é um mercado difícil. Tem muita gente buscando a mesma coisa e precisa de muito investimento. Meus pais poderiam me ajudar, mas não quero depender deles – respondi e ele assentiu, entendido.

— E como você espera entrar no mercado sem o investimento deles?

— Com o melhor marketing... As amigas usando as minhas criações – respondi soando óbvia e sorri. – Ou buscando algum investidor – dei de ombros –, mas eu não tive um bom momento, ainda. O trabalho me deixa sem muito tempo para me dedicar a apenas isso. Mas chega de falar de mim, vamos falar um pouco de você. De onde você é? O que você faz? – perguntei e ele riu. – O que foi?

— Nada. Eu nasci em Jamestown, Nova York, mas cresci em Tampa, e sou cantor.

— Oh, você também é da Flórida! Bem-vindo a L.A.! – exclamei com um sorriso.

— É isso aí! – Ele riu, assentindo.

— Tem muito tempo que veio para Los Angeles?

— Tem. Moro aqui desde... dois mil e um.

— Veio buscando o sucesso?!

— Digamos que sim.

— Normal. Parece que todo mundo de fora dessa cidade veio para cá para tentar alguma carreira e ser famoso. Seja cantor, cantora, ator, atriz, modelo...

— Estilista... – disse e eu ri, assentindo.

— Pensei que estávamos falando sobre você agora – falei me debruçando na mesa e ele riu. – Você já sabe sobre o meu sonho. Agora me fala sobre o seu. Sempre foi o seu sonho ser cantor? Ser um artista de sucesso e cantar no Staples Center? – perguntei e ele assentiu.

O Staples Center era simplesmente o maior local em Los Angeles para apresentações de bandas, cantores e grupos e, era o local dos jogos da liga de basquete e de hóquei com capacidade para vinte mil pessoas.

Todos os cantores e bandas de sucesso, se apresentavam lá.

— Desde os meus... dez anos – respondeu parecendo pensar em dúvida sobre a idade.

— Nossa! Muito tempo, eu imagino – comentei sem saber a sua idade, mas ele não parecia passar dos 35 anos. Ele assentiu, revelando em seguida ter 32. – Eu tenho vinte e oito e sonho em ser estilista desde os meus quinze – contei e ri de leve, recebendo um sorriso em troca. – E você é artista solo ou tem uma banda? – perguntei e ele segurou um riso.

— Na verdade, um grupo – respondeu segurando um riso.

— O que foi? Por que você está querendo rir?

— Nada, por nada.

— Como por nada? É por algo, sim. – Eu fiquei olhando para ele, desconfiada. – Você não está me enganando de novo, está?

— Não, eu estou dizendo a verdade.

— Acho bom, porque me enganar uma vez, tudo bem, mas uma segunda já é maldade – falei e ele sorriu para mim.

— Não estou te enganando, eu juro.

— Então por que ri?

— Porque... Porque está divertido falar sobre a minha carreira... sobre o meu sonho. Só isso – Ele deu de ombros e continuei o olhando, desconfiada.

— Qual é o gênero musical de vocês?

— Pop.

— E vocês tocam muito aqui em L.A.?

— Sim.

— Onde? – perguntei e ele demorou a responder. Parecia pensar se diria, então deu um leve suspiro. – O que foi? Não quer me dizer? Eu quero saber onde eu posso ir ver uma apresentação de vocês. Eu gosto de Pop e de outros tipos de música também. Eu tenho um irmão e ele me influenciou bastante em outros gêneros musicais, mas ele não... – parei de falar ao perceber que ele me olhava com um meio sorriso. Eu logo percebi que eu estava tagarelando e ele poderia estar me achando insuportável por não calar a boca. Acontece que eu sempre falava demais quando ficava nervosa. – Me desculpe, eu acabei de perceber que eu estava falando demais e... talvez você não queira falar por não querer que eu vá...

— Não! Não é isso, Mel. – Ele apressou-se em dizer. – É que... – ele passou a língua nos lábios e mordeu o lábio inferior. – Bem, vai acabar com toda a graça – disse e eu o olhei confusa, sem entender, mas assenti de leve. 

— Tudo bem...

Nós dois ficamos calados por um tempo e eu não quis perguntar mais nada, mas eu não sabia mais o que dizer, já que ele não queria me contar, parecia querer fugir do assunto, não querer que eu o conhecesse melhor. Eu logo pensei em todos os outros caras que me enrolaram e que sumiram sem dizer nada.

Seria ele um desse tipo? Ele sumiria da minha vida depois? Se fosse isso, era melhor mesmo eu não querer saber mais nada sobre ele. Eu seria só uma garota que ele conheceu e passou a tarde de domingo por não ter nada melhor para fazer, nós não trocaríamos telefone e nunca mais nos veríamos. Era uma total perda de tempo.

Então eu resolvi falar o que estava pensando:

— Me desculpe, eu... eu não queria ficar fazendo um monte de perguntas para você, eu só achei que estávamos nos conhecendo, mas já vi que não é esse o caso, então eu... – disse tudo de uma vez e ele me interrompeu.

— Não, não... Melanie. – Ele tocou em minha mão e sorriu de leve. – Digo, Mel. Não é nada disso, é só que... – ele suspirou e tirou a mão de cima da minha. – Vai acabar mesmo com toda a graça. É que... Bom, eu já realizei o meu sonho – disse e eu o olhei, intrigada. – A última vez em que eu e o meu grupo nos apresentamos aqui... – ele fez uma pausa, suspirou e olhou pra mim – foi no Staples Center – disse sério e eu semicerrei os olhos, desconfiada, mas sorri.

— Staples Center? O Staples Center? – perguntei desconfiada e ele assentiu, contraindo os lábios, então eu ri. – Ah, Nick, você está de sacanagem comigo! Está me enganando de novo?!

— Não. Não estou – respondeu e eu o olhava ainda desconfiada. – Eu juro que não, Mel.

— Então vocês... fazem muito sucesso aqui nos Estados Unidos?! – perguntei, surpresa.

— Estados Unidos, Canadá, México...

— Ah, para! Vocês são conhecidos na América do Norte toda?

— Central e Sul também. – Ele fez uma pausa rápida e me olhou, rindo. – Europa, Ásia, África e... Oceania.

— Ai, meu Deus, que mancada! Vocês são famosos mundialmente? – perguntei meio sem jeito.

— Sim. E achar uma pessoa aqui que não me reconheça, é incrível. Não estou achando ruim – disse rapidamente e sorriu. – Eu adorei isso! Mas foi por isso que eu disse que acabaria a graça. Você vai logo me reconhecer, eu sei que vai.

— Certo... Se você não está me enganando, então me diz o nome do seu grupo.

— Ah não, você vai ter que adivinhar – desafiou e sorriu, se inclinando na mesa e apoiando-se com os braços.

— Sério? Quer que eu adivinhe? – perguntei e ele assentiu veemente. – Certo... Deixa-me pensar. Você se chama Nickolas, tem um grupo, e não banda, de pop e que é mundialmente conhecida. – Eu fiquei olhando-o e então ele sorriu de canto, com os lábios fechados, e ergueu uma sobrancelha. Então de repente, como se eu tivesse sido atingida por um raio, eu o reconheci.

Como eu pude não reconhecer o cara de quem eu era fã e tinha até um pôster no meu quarto em Miami? Mas também como eu poderia? Nem em meus sonhos eu imaginei conhecer ele um dia. Ainda mais ali e daquele modo.

— Ai meu Deus! – Levei as mãos à boca, chocada que eu não tinha o reconhecido antes, e apontei o dedo para ele.

— Não! – Ele exclamou e riu. – Você não descobriu. Não! – exclamou, apontando o dedo para mim e rindo.

— Puta merda! Nick... Carter... Você é um Backs... – elevei a voz e ele fez rapidamente um sinal de silêncio com o dedo e olhando em volta. – Backstreet Boy – baixei o tom de voz e tapei a boca novamente com as mãos, chocada, mas logo em seguida veio a vergonha de não ter o reconhecido e feito todas aquelas perguntas. – Oh meu Deus! – Eu tapei o rosto inteiro, sentindo a vergonha por só ter o reconhecido naquele momento, o que fez Nick rir alto. – Não estou acreditando nisso. – Eu destampei o rosto, deixando as mãos nas laterais. Nick estava rindo e me olhando com o cotovelo apoiado no braço da cadeira. Ele estava achando graça da minha reação. Meu rosto estava queimando, eu sabia que eu estava vermelha de tanta vergonha. – Meu Deus, que vergonha! – Virei o rosto e ele riu ainda mais. – Eu estou me sentindo muito fã falsa agora – disse, o fazendo gargalhar.

— Não! Você não vai dizer agora que é fã! – Nick exclamou, apontando o dedo para mim e rindo.

— Eu sou...

— Não, você não é! – disse, balançando a cabeça.

— Eu tinha um pôster seu... – falei, tapando o rosto com as mãos e ele gargalhou, inclinando a cabeça para trás.

Eu estava morrendo de vergonha.

— Não, você não tinha. Você não tinha um pôster meu, Melanie!

— Eu tinha, eu tinha, eu tinha – afirmei rindo, assentindo com veemência e com as mãos ainda tapando o meu rosto enquanto ouvia a risada alta dele. – Meu Deus! Que vergonha! Eu devo estar muito vermelha agora – falei, sentindo o meu rosto quente. Abri as mãos, olhando para ele, mas ainda morrendo de vergonha. – Jesus amado! – exclamei e pus a minha mão na testa, me escondendo. Nick não parava de rir.

— Está mesmo! Está muito vermelha, mas está uma graça assim – falou e riu. – Olha... eu achei que a graça fosse acabar quando você me reconhecesse, mas a graça começou agora.

Eu virei o rosto para o outro lado, rindo, e fazendo-o rir ainda mais.

— Meu Deus, que vergonha. Como eu não te reconheci? Eu tinha um pôster seu no meu quarto! – disse, lembrando-me do pôster que eu tinha dele, que era uma foto da época do álbum Millennium. – Bem, depois dessa eu vou embora, foi um prazer te conhecer... – falei me levantando e ele achou graça, rindo mais ainda e balançando o dedo negativamente.

— Não, não. Você vai ficar aí, pode sentar. Você não vai fugir agora que ficou interessante. – Ele segurou o meu braço e eu sentei, rindo e com o meu rosto queimando, corado da vergonha que eu ainda sentia. – Você vai me falar mais desse pôster meu no seu quarto. – Nick riu de leve e eu ri, tapando o rosto. – E agora acabou os meus minutos de anonimato – falou sorrindo e eu levantei o rosto, destapando-o, mas sem conseguir encará-lo. – Mas foi divertido.

— Bom, em minha defesa, você mudou muito e eu não te reconheci porque eu devo ter tido um bloqueio mental pelo acidente. Com certeza eu bati com a cabeça no chão e tive uma pequena amnésia.

— Ah, ‘ bom. E essa pequena amnésia só te fez não me reconhecer? Não adianta procurar explicações agora por ser fã falsa, Melanie. – Riu e eu tapei o rosto novamente, rindo. – Não vai ganhar ingresso quando tiver show – disse e eu ri mais ainda, baixando a cabeça na mesa. Nick achou graça e riu. – Eu ia te dar acesso VIP, mas você não merece – continuou rindo e me fazendo rir mais ainda, sem querer erguer a cabeça.

Eu ria tanto que senti o lado da minha barriga com a pancada doer.

— Não me faz rir, a minha barriga está doendo. – Levantei a cabeça, parando de rir e olhei para ele, ainda envergonhada, pois eu só conseguia ver o Backstreet Boy Nick Carter na minha frente e não apenas mais um cara comum.

— Ai, me desculpa. Esqueci disso. Você está bem? – Ele tocou em meu ombro e eu assenti com a mão na barriga.

— Está tudo bem. Só não me cause uma crise de riso. – Sorri e ele sorriu de volta, tirando a mão do meu ombro. – Pronto, agora eu não consigo mais olhar para você sem me sentir uma completa idiota – falei, erguendo o corpo e desviando o olhar.

— Ah, para com isso, Mel. Não precisa se sentir assim. Eu gostei de você não ter me reconhecido, e além do mais, eu ainda sou o chato que te atropelou – falou e sorriu, tocando em minha mão.

Mesmo ainda envergonhada, eu sabia que ele estava certo. Antes de reconhecê-lo estava agindo normalmente e eu podia continuar assim. 

Eu assenti sorrindo e olhei para ele, respondendo:

— É, você ainda é o chato que me atropelou.

Eu mal podia acreditar que aquilo estava acontecendo. 

Nick Carter, dos Backstreet Boys, me acertou em cheio com sua bicicleta, me levou até um posto médico, me convidou para passar a tarde com ele e almoçar, e agora eu estava ali sentada em uma mesa conversando com ele e eu não tinha o reconhecido.

Mas o que estava acontecendo? Que domingo era aquele?

Todos pensam que estando em Los Angeles vão se esbarrar ou ver alguma celebridade, mas não. É uma cidade megametropolitana, a probabilidade de ver alguém famoso é muito pequena, então você acha que nunca vai acontecer com você. Desde que me mudei para Los Angeles há oito anos, pouquíssimas vezes vi alguma celebridade. As melhores oportunidades para ver gente famosa é em eventos, tapetes vermelhos de premiação, como o Oscar, ou em premières de filmes. E mesmo assim de longe, bem de longe. Então conhecer uma celebridade e conversar, as chances são quase zero! Talvez tenha sido essa a razão para eu não ter o reconhecido. Quando que eu ia imaginar que Nick Carter estaria andando de bicicleta na ciclovia em Santa Monica?

Nunca!

— ‘, eu preciso saber de uma coisa – disse me inclinando na mesa. – O que você está fazendo aqui? Não pensou que alguém poderia te reconhecer?

— Por isso o boné e os óculos. – Ele apontou para o boné. – Sem falar que ninguém imaginaria que eu pudesse estar aqui. As pessoas não olham para as outras ao seu redor, ou as que estão andando de bicicleta ou de patins – sorriu –, mas se alguém me olhasse poderia achar que era alguém parecido. – Deu de ombros. – Se bem que a única pessoa que me viu nem mesmo pensou isso.

Ele sorriu me olhando e eu sorri, estreitando os olhos.

— Como sabe? – indaguei e ele deu de ombros.

— Você teria comentado. – Ele manteve o sorriso e eu assenti, sorrindo. Nick balançou a cabeça para os lados. – Não acredito que não me reconheceu tendo um pôster meu no quarto! – comentou com uma falsa indignação.

— Eu não tenho mais! Isso foi há oito anos atrás!

— Não interessa, não me reconheceu! Isso é um absurdo! Como pode ter se esquecido desse rostinho aqui?! – falou com falso aborrecimento, girando o dedo na frente do rosto, e eu ri.

— Você vai ficar jogando isso na minha cara o tempo todo, não é? – perguntei sorrindo e ele acenou veemente com a cabeça.

— Todas as vezes que eu puder. Esse é o preço que se paga por ser fã falsa.

— É justo.

Ficamos conversando por mais um tempo até que os nossos pedidos chegaram e mesmo assim não parávamos de falar, parecíamos amigos de longa data que não se viam há muito tempo. 

Ele fez muitas perguntas sobre mim e eu fiz muitas outras sobre ele e o grupo. Ele me respondeu a tudo com paciência e entusiasmo. E claro ele quis saber como era o pôster que eu tive dele, o que nos proporcionou boas risadas.

Depois que terminamos nossas refeições passamos mais uns vinte minutos ali sentados ainda conversando até que decidimos pagar a conta. Ele fez questão de pagar, mesmo eu protestando em dividirmos.

Logo estávamos de volta na calçada, caminhando lado a lado. Ele empurrando a bicicleta e eu andando descalça segurando os meus patins. Nick pôs os óculos escuros e tornou a virar o boné para frente.

— Nossa, que disfarce! Não dá mesmo para te reconhecer assim – falei, rindo ironicamente.

— Você não reconheceu – rebateu com um sorriso.

— ‘, dessa vez eu mereci – concordei rindo.

— Vamos sair daqui? – perguntou, olhando em volta. – De repente isso aqui ficou cheio.

— Nick, eu estou descalça e segurando os patins! – Eu ergui os patins e ele olhou para os mesmos, depois para os meus pés.

— Então vamos para a areia. – Ele se virou abruptamente para o lado e eu o segui rindo. 

Fomos aos poucos nos afastando da ciclovia, ficando longe das pessoas e nos isolando na areia da praia. Nick parou a uns cem metros do mar e largou a bicicleta, sentando-se na areia.

— Ah, bem melhor!

Sentei-me ao seu lado e fiquei admirando o mar. Era uma das coisas que eu mais gostava de fazer. Observar o mar e ouvir o barulho das ondas era para mim a coisa mais relaxante. O mar me acalmava de uma maneira que nenhuma outra coisa conseguia – com exceção da estufa que havia na casa dos meus pais em Miami. 

Eu olhava para o mar, vendo as suas ondas quebrando violentamente e depois se acalmando pacificamente quando chegava ao raso, como se vivesse uma turbulência e depois tudo se acalmasse.

Para mim, isso era o mesmo de quando dizem que depois da tempestade vem a calmaria, o sol aparece e com ele pode vim um arco-íris. O mar me fazia pensar nisso constantemente, sempre que eu ficava a contemplar. Ele simbolizava para mim um período de revolta com as suas ondas, depois de uma longa calmaria, e depois tudo voltava a ficar calmo, quando chegava ao raso. Era um sinal de que tudo passa, até mesmo quando tudo parece conturbado, perdido.

Olhei de canto para Nick e ele olhava para o mar com o olhar distraído. Ele não parecia estar admirando-o mas, sim, pensando na vida, como muitas vezes eu fiz, principalmente quando eu fazia terapia. Ele parecia estar passando por algum momento difícil, algo pessoal, e eu não ia perguntar nada, eu não queria parecer intrometida, porém queria tirá-lo dos seus pensamentos que não pareciam bons.

— É lindo, não é? – perguntei, olhando para o mar.

— O quê? – perguntou, desviando o seu olhar para mim.

— O mar.

— É. É, sim – respondeu e voltou a olhar para o mar, dando um leve suspiro. – E misterioso. O que mais me fascina é não saber o que está embaixo d'água neste momento.

— É mesmo fascinante.

— É como se fosse um outro planeta, um outro mundo. Por exemplo, nesse momento, bem ali – apontou para o horizonte –, pode estar passando uma baleia, mas a gente não sabe – disse e sorriu, olhando novamente para mim.

— Ou um tubarão – falei e sorri, olhando para ele que assentiu rindo.

— Gosta de tubarão?

— É um dos meus animais favoritos – respondi e ele sorriu largo.

— Diz isso porque você nunca viu um de perto! – Ele riu, voltando a olhar para frente.

— Você já viu algum?

— Não! – Nick riu, balançando a cabeça para os lados. – É o único animal que eu sou fascinado mas não tenho a mínima coragem de ficar de frente com um! – disse e eu ri, achando graça dele.

— Ah, eu teria! – afirmei e ele me olhou, erguendo uma sobrancelha, duvidando disso. – Mas claro que dentro daquelas jaulas, sabe?

— Sei... Acho que nem assim eu teria coragem – confessou e rimos. – Você já fez mergulho alguma vez?

— Não, nunca.

— Não acredito! – exclamou, virando o rosto para mim, surpreso. – Você é de Miami e nunca fez mergulho?

— Estou lhe dizendo, eu nunca fiz.

— Você precisa fazer! – entusiasmou-se. 

Nick, assim como eu, cresceu morando próximo ao mar e sempre foi fascinado, apaixonado por tudo relacionado a ele. O pai dele tinha um barco e Nick fez até curso de mergulho, desses que dão até certificado. Além da pesca, mergulho era um dos seus hobbies favoritos.

Nick me falou sobre as experiências que já teve fazendo mergulho e todas as criaturas que já viu. Ele falava sobre o mar com fascínio e paixão, e era encantador ficar ouvindo ele falar sobre isso, pois eu também era fascinada pelo mar.

— Acredite em mim, você tem que fazer algum dia. É uma experiência única!

— Me convenceu. Eu vou fazer.

— Faz mesmo, não vai se arrepender.

Ficamos nos olhando por apenas alguns segundos até ele sacudir a cabeça levemente e desviar o olhar, rindo.

— O que foi? — indaguei rindo, curiosa para saber o motivo do seu riso.

— Nada, é que... só agora eu entendi quando você ficou olhando os meus olhos – respondeu, voltando a me olhar. – Os seus também são lindos. E com essa luz então... São tão esverdeados!

— Ah, obrigada – agradeci, inclinando a cabeça para o lado e sorrindo. – Mas... – tirei os óculos do seu rosto e coloquei em mim – agora você também não vai ver os meus! 

Nick riu de leve.

— Combinou com você – comentou e eu dei de ombros.

— Talvez eu leve de lembrança. Posso vender no E-bay os óculos de Nick Carter – falei, me apoiando com as duas mãos na areia e sorri para ele que riu.

— Ninguém vai acreditar que são meus. 

— Tem certeza de que as suas fãs precisam de comprovação?

— É, não, elas não precisam – balançou a cabeça –, elas compram qualquer coisa que tenha o meu nome.

Rimos.

— Qual foi a coisa mais bizarra que você já viu vendendo na Internet que dizia ter sido usada por você? – questionei e ele pensou um pouco e riu.

— Chiclete! – disse e rimos. – Cotonete...

— Cotonete?! – perguntei pasmada e ri. Ele assentiu, também rindo. — O que elas queriam? O seu DNA? – indaguei e ele riu alto. – Queriam te clonar.

— Isso foi na época que estávamos no auge. Era uma loucura!

— Mas mudando de assunto... O que te trouxe aqui hoje? – perguntei e ele deu de ombros, voltando a olhar para o mar.

— Estava de bobeira em casa. – Nick dobrou as pernas e abraçou os joelhos. – Não queria ficar lá sem ter o que fazer. Era muito melhor aproveitar o dia.

— Sim, mas você deve conhecer muita gente. Ninguém te convidou para nada?

— Não estava a fim. Além do mais, saí ontem com uns amigos – respondeu e olhou para mim. – Mas você também, cadê as suas amigas? Achava que vocês mulheres só andavam em grupo.

Rimos.

— Não, nem sempre. Na verdade eu nem avisei a ninguém que viria aqui.

— Quis se livrar das amigas hoje? – perguntou com leve riso e eu gargalhei.

— Não, não foi isso. Eu vim pelo impulso – respondi e ele franziu o cenho. – Eu fui arrumar um armário e os patins caíram na minha cabeça!

— Sério?! – indagou, querendo rir.

— É. Pode rir.

Rimos.

— Então decidiu vir patinar depois de quase arrebentar a cabeça? – perguntou e eu assenti, sorrindo. – Talvez fosse um sinal para você não vir, pois ia sofrer algo pior – comentou e rimos. 

— Realmente... estou mais arrebentada – falei rindo e ele virou o rosto para frente.

— Ai meu Deus, desculpa de novo.

— Para, já concordamos que foi culpa dos dois. E além do mais, não foi tão ruim assim, eu te conheci – falei e sorri, encostando a cabeça em meu ombro.

Nick riu, assentindo.

— Mas então, por que não pensou em chamar uma de suas amigas? – perguntou e eu dei de ombros.

— Ah, porque além de vir por impulso, eu sei que elas provavelmente estão de ressaca. Nós também saímos ontem.

— E para onde vocês foram?

— Para a Exchange.

— Eu também! – exclamou, surpreso.

— Mesmo? E onde você estava lá?

— Na parte de cima, em uma mesa perto das escadas.

— Eu também estava ali! – exclamei, espantada. – Nossa, eu devo ter passado por você umas cinquenta vezes e...

"Não, não pode ser."

De repente me dei conta de que ele era o loiro desanimado da mesa em frente a nossa e olhei para ele com espanto.

— O quê? O que foi?

— Por acaso você estava com mais dois rapazes, morenos? – perguntei e ele me olhou intrigado, franzindo o cenho.

— Estava...

— Oh meu Deus, eu não acredito! Você é o loiro desanimado da mesa da frente! – exclamei, empolgada e surpresa com a coincidência, e eu nem sou de acreditar em coincidências.

— Como é que é? – Ele riu da minha reação e provavelmente do adjetivo que eu tinha dado a ele.

— Você estava na mesa em frente a minha! Minhas amigas ficaram te olhando um bom tempo, mas você não nos olhou nenhuma vez.

— Quem disse que eu não olhei? – perguntou com sorriso de canto. 

Meu Deus, aquele sorriso dele era o mesmo sorriso do clipe de I Want it That Way, e era o sorriso mais lindo do mundo!

"Eu já posso morrer agora, Deus!"

— Não, você não olhou.

— Quatro mulheres, sendo elas duas loiras, uma dos cabelos pretos até a cintura e uma de cabelo castanho usando vestido vermelho, e que por acaso, era você. – Ele terminou de falar e sorriu. Eu estava boquiaberta. – É, eu acho que olhei, sim.

— Mas como você sabe que era eu? Você não me reconheceu...

— Não, só agora depois que você disse isso.

— Meu Deus, quais são as chances disso acontecer?

— Não faço a mínima ideia. Mas a vida é mesmo engraçada. – Ele voltou o olhar para mim. – Mas, estou curioso... Por que se referiu a mim como "loiro desanimado"?

— Ah, é porque você parecia desanimado – respondi sorrindo –, e eu não te reconheci lá também, então dei um apelido a você de loiro desanimado da mesa da frente.

— Para alguém que tinha um pôster meu no quarto, você não me reconhece mesmo! – comentou e eu ri, baixando a cabeça. – Qual vai ser a desculpa agora?

— As luzes da boate?! – perguntei em dúvida e ele riu, assentindo. – Ou a falta delas. E eu não fui a única, tá? Minhas amigas também não te reconheceram.

— Ah, as fãs falsas andam juntas?! – Ele brincou e eu ri. – Vocês tem fã-clube falso também? – perguntou, me fazendo rir mais ainda, jogando a cabeça para trás em uma gargalhada. – Como se chama? BSB Fake Fan Club?! – perguntou e eu me inclinei para o seu lado, rindo e encostando a minha cabeça em seu braço, fazendo-o rir também. 

Me recuperei do riso, me desencostando dele.

— Nós não somos fãs falsas, apenas somos mais fãs do Sphynkter – falei com riso leve e ele abriu a boca, surpreso e apontando com o dedo para mim, então sorriu.

Sphynkter era uma banda fictícia que eles criaram para um dos vídeo clipe deles, o vídeo da música Just Want You to Know.

— Olha só, não é que ela conhece mesmo?! – disse com uma expressão falsa de impressionado e eu ri. – Tudo bem, eu vou deixar passar, a pouca luz da boate não ajuda mesmo. E eu também prefiro o Sphynkter.

Rimos.

— Posso perguntar por que alguém estava tão desanimado em uma boate? – perguntei, sem olhar para ele.

— Eu não queria ir, os meus amigos me tiraram de casa a força – respondeu e eu assenti. Tinha sido exatamente o que eu pensei. – Mas ao contrário de mim, você estava bem animada. Você chamou a minha atenção ontem.

— É? Por causa disso? – perguntei, olhando para ele que assentiu.

— Você estava se divertindo muito, dançava como se o mundo aqui fora estivesse se acabando. Se eu estivesse animado ontem, eu estaria do mesmo jeito. Eu observei você pensando no contraste da minha animação com a sua.

— É, eu estava mesmo – falei, assentindo e rindo de leve, desviando o olhar novamente.

— Por algum motivo?

— Não, nenhum. Apenas só queria me divertir, dançar sem pensar em nada, sem ligar para os outros a minha volta.

— Se desligar de tudo e de todos?

— Exatamente. – Balancei a cabeça, olhando para a areia, e Nick assentiu, olhando para o mar.

— E eu vi que você me viu da pista de dança quando eu estava te olhando da sacada – falou e me olhou. 

Eu olhei para ele e os seus olhos estavam fixos em mim de uma maneira tão intensa que eu corei, desviando o olhar do dele e baixando a cabeça.

— Ah, você viu isso? – perguntei, sorrindo envergonhada, mexendo com a areia.

Nick apenas assentiu com a cabeça, antes de falar:

— Claro que sim. Eu vejo tudo em cima de um palco, imagina se não ia ver ali. – Ele sorriu e eu assenti, mordendo o lábio.

— Nossa, não dá pra acreditar nisso. Estávamos no mesmo lugar e tão perto um do outro ontem e nos encontramos aqui assim.

— É, não dá mesmo. A gente não poderia ter se conhecido ontem?! Eu não teria te atropelado.

Rimos.

— Não, eu acho que foi melhor assim. Mesmo com o acidente.

— Mesmo? – perguntou surpreso.

— É. Se a gente tivesse se conhecido ontem, nós teríamos conversado pouco em meio ao barulho, luzes piscantes e lasers no rosto, teríamos dançado algumas vezes e talvez nos... beijado...  – falei, olhando para ele, e senti minhas bochechas queimarem, corada com ele me olhando e sorrindo. Desviei o olhar novamente de nervoso e dei de ombros, tentando disfarçar. – Ou não, sei lá... – disse e ele riu de leve, achando graça. – Mas teria sido apenas isso e iríamos cada um para sua casa sem muito a acrescentar, sem o nosso total conhecimento sobre o outro. Foi muito melhor aqui, onde conversamos muito mais, onde pude te conhecer melhor, você me conheceu melhor e, o melhor de tudo, com essa paisagem maravilhosa! – Eu estendi os braços para o mar e dei um leve suspiro.

— Não vou discordar. – Ele sorriu de leve, virando o rosto para mim, e o olhei. 

Eu estava encantada. Mesmo depois de todo aquele tempo de conversa, eu ainda não conseguia acreditar que tinha o conhecido, que estava ali conversando com ele. Minhas amigas em Miami não iam acreditar que eu o conheci. Pensando melhor, talvez a Tiffany acreditaria. Ela, ao contrário de mim, achava que era sim possível conhecer Nick. Eu nunca tinha imaginado um dia conhecê-lo. Sempre achei isso impossível de acontecer, e agora a vida me mostrava de que eu sempre estive errada. Eu estava ali com ele ao meu lado, sentado na areia da praia, me olhando e sorrindo. Ele era muito agradável e divertido, do jeito que eu sempre imaginei que ele fosse.

Mesmo com tudo isso eu precisava manter meus pés no chão, afinal ele ainda era Nick Carter, um cara famoso e cobiçado. Eu não estava esperando uma troca de números de telefone e que a gente fosse nos encontrar de novo. Eu não sabia mais nada sobre a sua vida e não sabia se ele estava em um relacionamento. Mesmo achando que o motivo para estar desanimado na noite anterior fosse por conta de um rompimento amoroso. E mesmo que ele estivesse solteiro, eu não ia criar esperança de que ele ia querer manter contato comigo ou me chamar para sair. Para mim, ele apenas me via como uma fã que não o reconheceu.

Eu sorri e desviei o olhar, olhando para o mar. Nick fez o mesmo.

Nós continuamos conversando por horas e Nick me fazia rir muito. Eu também tirei alguns risos dele e nos distraímos tanto que nem vimos o tempo passar, só percebemos quando o dia estava ficando com pouca luz e o sol estava se pondo. Não queria que o dia acabasse, mas estava na hora de nos despedirmos e ir para casa. 

Levantamos e sacudimos a areia da roupa. Nick pegou sua bicicleta, eu devolvi o seu óculos, e voltamos para a calçada da praia. Andamos até o estacionamento e ele parou em frente ao seu carro, tirou a chave do bolso e acionou o destravamento das portas passando pela lateral.

— Bom, então... Eu vou indo. Foi um prazer te conhecer, Nick – disse acenando e me virei.

— Espera, Mel, só um minuto – pediu e eu parei, me virando novamente para ele. 

Nick foi até a porta da mala, a abriu e pôs a bicicleta dentro, fechando-a em seguida. Foi até a porta do motorista, abriu-a e pegou algo na porta.

— Me diz qual é o seu Twitter – pediu, fechando a porta com o celular em mãos.

— Eu não tenho Twitter.

— Então o seu Instagram.

— Eu... também não tenho Instagram – respondi e ele franziu o cenho, me olhando intrigado.

— Certo... Facebook?! – perguntou e eu balancei a cabeça que não, apertando os lábios. – Snapchat? Youtube?

Eu balancei a cabeça, negando todas.

— Antes que você fale todas as redes sociais existentes, eu te digo que eu não tenho nenhuma – respondi e ele me olhou como se eu fosse de outro planeta. 

— Você existe? – perguntou sério e eu ri, assentindo, mesmo sabendo que ele estava brincando. – Tudo bem, então me dá o seu número – pediu e eu fiquei sem fala. – Não vai me dizer que você também não tem celular! – disse e eu ri, mas ainda surpresa.

— Não, não. Eu tenho, sim. Eu só não esperava... isso.

— Mel, eu preciso de uma prova de que você existe e que eu não passei a tarde toda conversando com uma alucinação – falou e eu ri ainda mais. – Ou para saber que você é desse planeta. Você deve ser a única pessoa da face da terra que não está em rede social alguma. Você só pode ser de Marte. Se bem que eu acho que até os Marcianos têm Instagram — disse e eu ri sem conseguir parar.

Eu já estava acostumada com essas reações quando eu dizia não ter rede social alguma. Parecia que no mundo todo, as pessoas tinham mesmo pelo menos uma conta em alguma rede social, mas alguém com nenhuma? Apenas eu.

Não era por não querer fazer parte, ou não saber usar, ou ser uma pessoa reservada, anti-social, mas porque queria me esconder mesmo. 

Eu não falava para as pessoas que o motivo era esse. Apenas minha família, as minhas amigas em Miami e Sarah sabiam o motivo. 

Estar na internet, ter rede social, era alvo fácil, 'P' me acharia fácil na internet. Mesmo sabendo que ele sabia onde ficava a casa onde eu morava – por já ter vindo comigo à Los Angeles uma vez –, mas eu sabia que ele não estava em L.A., e de onde ele estivesse, ele me acharia na internet. Isso se ele ainda era obcecado por mim. O que eu torcia para que não. Torcia para que ele estivesse bem, recuperado, vivendo a vida dele. Mas eu não sabia e por isso, preferia não estar na internet. Eu não queria que ele soubesse como eu estou e como está a minha vida. Mesmo que Sarah já tivesse me falado mil vezes de que a minha conta poderia ser privada, que ele não veria nada, mesmo assim, eu não queria.

— Sendo assim, como eu não vou conseguir me comunicar com você através de rede social, eu preciso do seu número. – Ele fez uma pausa rápida, franzindo o cenho. – Engraçado, eu achei que nunca ia precisar explicar isso para alguém — falou de um jeito engraçado, como se pensasse nisso e achasse estranho. Eu ri achando graça e assenti.

— Eu sei. É que eu não esperava que você fosse pedir o meu número, ou querer ter qualquer contato.

— Por que não? Porque eu sou quem sou?! Porque você é uma fã falsa?! – perguntou e eu ri, fechando os olhos. Ele nunca ia parar de dizer isso para mim. Eu tinha certeza disso. – Como eu vou poder dizer isso para você mais vezes? Achou que eu não fosse querer mais falar com você ou te ver depois de passar uma tarde agradável com você? A vida é engraçada, Mel, mas ela não dá terceiras chances. – Nick sorriu e eu assenti, sorrindo e querendo pular de alegria.

— Tem razão. Tem toda a razão.

Depois de falar o meu número para ele, nos despedimos.

— Eu adorei te conhecer, Mel, você é uma pessoa muito legal.

— Eu também adorei te conhecer, você é muito divertido, me fez rir bastante – disse sorrindo e ele assentiu.

— Você também me fez rir muito... E eu adorei te fazer rir, a sua risada é contagiante. – Ele sorriu e se aproximou de mim, se inclinou e me deu um beijo no rosto. – Eu te ligo – falou, virando-se para o carro e abriu a porta, entrando logo em seguida.

Eu fiquei no mesmo lugar, esperando ele dar a partida, e acenei enquanto ele manobrava o carro para sair. Ele buzinou, acenando de volta e saiu. Então eu finalmente relaxei, sentindo as minhas pernas ficarem macarrão outra vez, ainda sem acreditar em tudo. 

Eu não conseguia desfazer o enorme sorriso no meu rosto, estava tão anestesiada com tudo que nem me dei conta da maior besteira que eu fiz. Eu não peguei o número dele e, para piorar, ele disse que ia me ligar! 

Logo eu?!

No momento em que ele disse "eu te ligo", eu estava tão paralisada pelo beijo no rosto, por ele pegar o meu número, pelo dia maravilhoso, pelos lindos olhos azuis, o sorriso encantador, que nem me dei conta da minha maior regrinha! E eu não me dei conta disso, até chegar ao meu carro. 

Eu entrei no carro, fechei a porta e comecei a gritar de felicidade, batendo os pés no chão do carro e as mãos no volante.

— Ele pegou o meu número, ele pegou o meu número, Nick Carter pegou o meu número! – berrei e dei um grito, rindo de mim mesma, ainda sem acreditar. – Imagina quando eu contar isso para as garotas! Quando todas souberem que eu o conheci e que ele pegou o meu número e ainda me disse que vai me ligar! – falei e então parei, percebendo tarde demais. – Oh meu Deus, ele disse que vai me ligar! Ele disse: "eu te ligo" – relaxei os ombros, desanimando e encostei a testa no volante. – Não acredito. Burra, burra, burra. Mil vezes burra! – repeti sem parar, dando leves cabeçadas no volante. – Como você deixou isso passar, Melanie?! Como? – Ergui a cabeça, desanimada. – Ele não vai me ligar – falei e me encostei no banco, sentindo a minha felicidade sair pelos pés. – É, é oficial. Você nunca mais vai ver Nick Carter na vida de novo!

Eu sei que essa minha regrinha de que homens quando dizem "eu te ligo" não deveria ser generalizada, mas não tinha como evitar depois de todos os homens que disse isso para mim e nunca me ligaram. Hoje eu estaria só a caveira e ossos com teias de aranha em volta de mim se eu tivesse ficado ao lado do telefone esperando por essas ligações. Isso não ia começar a mudar agora, né? Ainda mais com quem? Nick Carter! Ocupadíssimo, cobiçadíssimo, todas as garotas do mundo querendo só um "oi" dele e eu que tive mais do que isso, deixei escapar assim.

— E nem uma foto eu tirei – disse para mim mesma, desanimada, e dei a partida no carro.

Dirigi até em casa decepcionada, me lamentando e me martirizando por isso. Ao chegar, subi direto para o meu quarto e tirei a roupa entrando no banheiro. Precisava de um banho urgente. 

Depois de banho tomado, entrei no closet e vesti um short e uma blusa de algodão e desci até a cozinha para pegar gelo para fazer a compressa na barriga. Coloquei gelo em um saco e fui para o sofá da sala. Sentei-me ligando a televisão, apanhei a minha bolsa do chão e abri para pegar o meu celular.

Com o celular em mãos, liguei a tela e havia três notificações. Uma indicava haver 1 mensagem de texto, outra indicava 25 mensagens na caixa postal e outra 30 ligações perdidas.

"Vinte e cinco mensagens? Quem será que me ligou o dia todo em um domingo?"

Mas eu já estava desconfiada de quem seria e liguei para a caixa postal para ouvir as mensagens deitando no sofá com o gelo na barriga.



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