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História Só Mais Uma Vez - Talvez


Escrita por: foryu

Notas do Autor


boa leitura!

Capítulo 1 - Talvez


Era para ter acabado ali. Não fazia o menor sentido continuar com aquilo, mas continuamos. Jungkook havia atingido a maior idade a tão pouco tempo e já clamava por coisas que não deveria. Eu estava enlouquecendo tentando manter nós dois vivos.

Eu sabia que era errado continuar me envolvendo com ele e vice-versa. Mas este era o tipo de coisa a qual eu evitava pensar. Caso o fizesse demais, teria noção de que o mundo desabaria sob meus pés, levando-nos a cair diretamente no inferno, depois de desfrutar do paraíso juntos.

As coisas entre a gente começaram de forma inocente, entre brincadeiras de criança que estudantes de universidade insistem colocar malícia. Nós estávamos mais uma vez no bar com o restante da turma, após concluir as provas finais. Se eu soubesse como as coisas iriam terminar, talvez eu tivesse decido ir diretamente para casa naquela noite.

O irmão mais novo de Jimin insistia em ir com a gente para o bar todas às vezes. Eu não entendia aquele garoto, ele se quer se dava tão bem com o irmão ou era realmente próximo de alguém da nossa turma, já que era de um curso diferente. Mas aquela era uma noite importante para todos nós, as últimas provas do semestre terminaram e Jungkook estava comemorando 19 primaveras.

Havia mais gente reunida naquele lugar do que o normal, contribuindo para mais filas no banheiro, mais fervor na pista de dança e mais propostas imbecis sendo feitas e aceitas. Nós estávamos bêbados, afinal.

“Jeon, já que é seu aniversário, se você ganhar na sinuca poderá escolher beijar quem quiser.”

Nós achávamos que Jimin era o talento da família, ele sempre fazia tudo tão bem que sequer pensávamos que Jungkook fosse capaz de realizar tudo que o irmão fazia, duas vezes melhor. Ele não havia ganhado apenas a sinuca, também tinha conquistado o respeito de seus seniores.

Agora ele era parte do nosso grupo também. O Golden Maknae. Nem eu, nem seu irmão mais velho o julgávamos, Jimin na verdade estava bem orgulhoso e eu havia me tornado um admirador. Ele se mostrava bom em cada coisa que fazia e conforme a noite passava suas bebidas começavam a incluir álcool, muitas vezes pagas pelos novos amigos que fazia a cada cinco minutos. Aquela era mesmo a sua noite.

“Então Kookie, quem você vai escolher?” Jimin perguntou para o irmão, ambos ansiosos. Eles eram mesmo iguais.

“Eu quero o Yoongi hyung!” Ele respondeu olhando-me diretamente nos olhos. O garoto sempre pareceu muito inocente, era só o caçula pirralho do meu melhor amigo. Agora não mais. Ele tinha um sorriso malicioso nos lábios e olhos carregados de desejo.

As pessoas a nossa volta estavam gritando em surpresa e exaltação e eu não podia negar que me sentia da mesma forma. Assim como eles, eu havia parado para reparar no garoto naquela noite. Vi o quão bonito é, seu cabelo e olhos escuros realçam a pele tão clara quanto a minha, seus braços são fortes demais para alguém da idade dele, sendo eles cheios de veias ressaltadas, sua calça aperta as coxas grossas e sua postura mostra segurança.

Eu queria não deseja-lo da forma que eu estava desejando naquele momento, mas a faceta de dongsaeng inocente que eu conhecia misturada com a de um rebelde que só queria brincar realmente estava me enlouquecendo.

Eu podia sentir o olhar de Jimin sobre mim, o olhar de todo mundo estava sobre mim, esperavam por uma reação. Mas, eu estava paralisado, tentando medir as consequências daquele beijo e por fim, a conclusão que eu cheguei era que aquilo era apenas uma brincadeira, todos nós havíamos aceitado afinal. Olhando agora, eu devia ter pensado um pouco mais.

Jungkook estava prestes a dar um passo, para vir até mim ou desistir devido a minha demorada reação. No entanto, andei mais rápido para sua direção, porque eu precisava manter o meu orgulho e ter iniciativa e também porque eu clamava ter seus lábios colados aos meus. Eu não sei de onde surgiu aquela sensação, meu coração ainda estava comprimido com a resposta tão direta de Jeongguk e existia um nó na minha garganta. Era um sentimento bom, apesar de tudo.

Estávamos um de frente para o outro e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Jungkook segurou minha cintura e puxou-me para perto de seu corpo. Consegui notar que ele, mesmo sendo mais novo que eu, era alguns centímetros mais alto. Aquilo não atrapalhou em nada, logo seus lábios estavam grudados aos meus. Não fui capaz de resistir, nem mesmo quando senti sua língua quente traçando um caminho até estar em contato com a minha, me instigando e explorando. Apesar da lentidão do beijo, era clara a urgência que nós dois estávamos sentindo, um querendo apreciar o gosto do outro. Soltei um leve gemido, do qual ele era o único capaz de ouvir, quando suas mãos começaram a subir por dentro do meu moletom da faculdade e da camiseta que eu vestia por baixo.  Era como se as pontas de seus dedos transmitissem choques elétricos pelo meu tronco. O beijo foi interrompido depois de um tempo, devido à falta de ar. Parecia ter durado uma eternidade, eu sentia que tinha sido levado ao céu assim que senti a boca do moreno e depois jogado de volta a Terra assim que nos separamos.

Jungkook me encarou com os lábios inchados e vermelhos, parecendo orgulhoso do beijo, dando-me a certeza de que meus lábios estavam com a mesma aparência. Com suas mãos ainda no mesmo lugar, abriu um largo sorriso vitorioso e depositou mais uma vez seus lábios nos meus, em um selinho. Ele realmente era muito abusado.

“Eu preciso de uma bebida.” Ele disse, quebrando o clima de encanto que havia se formado em nossa volta. Foi assim que eu percebi que estava vidrado no garoto, observando cada pedacinho do seu rosto, principalmente os lábios que anteriormente eram quase parte de mim. Seu cheiro amadeirado também estava me deixando anestesiado.

De qualquer maneira, eu não confessaria isso para ele, nem para ninguém. Se quer, eu mesmo estava entendendo o que se passava na minha cabeça, nada parecido já havia acontecido, mas ironicamente, Jeon Jungkook também era diferente de que qualquer coisa que eu tenha visto.

Jimin me puxou dos braços do irmão, que logo saiu indo em direção ao bar como se nada tivesse acontecido.

“Isso foi nojento! Espero que não aconteça mais.” Disse rindo. Ele não tinha preconceito nenhum, pelo contrário, mas com certeza deve ter sido estranho ter me visto beijando seu dongsaeng.

“Até que ele não é ruim no que faz.” Falei, provocando Jimin.

Jungkook não era mesmo ruim em nada que fazia. Observa-lo pelo resto da noite havia me comprovado aquilo.

“Min Yoongi, o cara que sempre toma a iniciativa, devia ter feito alguma coisa ao invés de ficar me olhando a noite toda.” Ele disse, quando a festa quase já estava no fim.

Minha face fervia, em vergonha e raiva. Como ele poderia ser tão atrevido daquela forma?

Segurei seu pulso de forma firme e o puxei para fora daquele lugar. Talvez deixasse uma marca mais tarde, mas também não seria a única que eu deixaria no corpo do mais novo.

“Onde você está levando meu dongsaeng, Yoongi?” Jimin gritou. Eu não respondi e Jeon ainda estava ocupado demais rindo para dar alguma satisfação para o irmão.

O empurrei para dentro do meu carro, com pressa para chegar logo em casa e dar uma boa lição naquele pirralho. Não que eu achasse que realmente fosse funcionar, já que a cada ato meu ele parecia mais satisfeito, sabendo que tinha grande efeito sobre mim. Como eu podia ter deixado isso acontecer?

O levei para meu apartamento. Aquele era um lugar importante para mim, eu o tinha comprado sozinho, sem precisar da ajuda de ninguém. Eu não costumava levar ninguém para lá, Jungkook era mesmo uma exceção. De qualquer maneira, mesmo que nenhum de nós estivesse muito bêbado, amanhã eu colocaria a culpa na bebida.

Ele passou o caminho inteiro provocando-me, a mão em minha coxa a apertando, olhando-me de forma intensa ou dizendo insanidades sussurradas em meu ouvido. Eu o deixei fazer o que queria, porque assim que chegássemos as coisas seriam diferentes.

No saguão do prédio, como se soubesse o caminho, ele anda até o fim do corredor, parando em frente ao elevador. Apoiado na parede, ele aperta o botão que indica os andares superiores, enquanto olha cada passo meu em sua direção. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, as portas se abrem e sou puxado para dentro da caixa metálica.

Diferente do que eu imaginava, ele não tenta me agarrar ou fazer algo similar. A parte inocente dele se faz presente e tudo o que recebo é um abraço acolhedor, com sua cabeça apoiada em meu ombro e sua respiração em meu pescoço. O ar que sai de sua boca é quente e tem cheiro de vodca, tem um ritmo lento e me causa arrepios nas costas. Retribuo envolvendo meus braços a sua volta, tendo seu corpo inteiramente preso ao meu. Vai ser só essa noite, prometi para mim mesmo.

 

“Você está livre essa noite, hyung?”

Não foi exatamente uma surpresa quando percebi que aquela era mais uma das minhas promessas quebradas. Havia se tornado um costume encontrar Jungkook parado em frente ao meu prédio, sentado na calçada com sua bicicleta jogada ao lado. Eu realmente tentei evita-lo, dizer que tudo aquilo não havia passado de uma brincadeira, mas ele insistia. “Só mais essa vez, Yoongi!” E eu não fui capaz de resistir.

Suas palavras se repetiam em minha mente, mesmo depois de guardar o celular no bolso, sem me dar ao trabalho de respondê-lo. Tentei prestar atenção no professor a minha frente, tendo noção de que aquela era uma aula importante. Mas era inevitável não me torturar com as lembranças que seu nome evocava.

 Por mais que eu tentasse negar, a reposta era clara para mim e para ele. Certamente eu estava livre, principalmente se fosse para Jeon. O que estava implícito em suas palavras era o que me levava cada vez mais ao encontro do garoto.

Não me surpreendi ao sentir meu celular vibrando mais uma vez. Aquela criança é mesmo muito insistente e espera que eu o dê devida atenção, respondendo-o na hora que ele bem entendesse. E por mais que eu quisesse respondê-lo, dizendo que estava mais do que livre, eu precisava manter o resto de orgulho ferido que me sobrava.

Passei o restante da aula torturando-me ao pensar qual era a mais nova proposta maluca que Jeon tinha para me fazer. Evitei ler sua mensagem para tentar prestar atenção no que o professor dizia, mas tudo o que fiz foi encarar o relógio, contando os segundos para que o sinal batesse.

Reuni-me com Jimin e o restante dos meninos no refeitório da faculdade assim que fomos liberados para o almoço. Eles falavam alto e riam sobre alguma coisa. Tenho consciência de que é como se eu fosse uma exceção no grupo, o único diferente. Eles sempre falavam demais, riam demais ou eram reconhecidos por pessoas das quais eu sequer sabia o nome, enquanto eu era o garoto calado e reservado, que pouco mostrava um simples sorriso. E de alguma maneira, eu ainda fazia parte daquilo tudo, como se com a minha presença houvesse um equilíbrio de temperamentos.

Peguei meu celular do bolso logo após nos sentarmos em uma mesa espaçosa, com nossas bandejas em mãos, todos prontos para ter uma boa refeição.  Jimin estava bem ao meu lado, sem ao menos imaginar que seu irmão ainda mantinha contato comigo, com intenções diferentes de um simples dongsaeng.

“Você pode tentar me evitar, mas nós dois sabemos que isso não vai adiantar de nada, Yoongi.”

E eu sabia mesmo. Jungkook cumpria o que prometia, e eu havia aprendido isso das piores formas possíveis. Resolvi responder, apenas por precaução.

“Eu não estava te evitando, só não acho justo você atrapalhar minha aula com suas baboseiras.”

“Baboseiras das quais você nunca reclamou.”

Eu poderia ter dito milhares de vezes ao mais novo que nossos encontros deveriam parar de acontecer ou sobre o quanto aquilo era errado, mas eu realmente nunca havia reclamado ou desgostado deles de fato.

Meu celular apita mais uma vez.

“Espero que a porta esteja aberta às 20h, Suga hyung.”

Suga hyung. Ele até mesmo havia inventado um apelido para mim, depois de marcar todo o meu corpo com a força de seus lábios, dizendo que minha pele era branca feito açúcar.

“Com quem você tanto conversa Yoongi?” Hoseok pergunta enquanto tenta pegar meu celular de minha mão.

“Não é da sua conta e tire essas mãos de mim e do meu celular.” Digo rindo, tentando disfarçar o meu desespero caso ele leia o que tem ali.

“Aish, você nunca conta nada para nós.” Ele fala, fingindo-se bravo.

“Justamente. Eu não tenho nada para contar.”

Não posso deixar de imaginar todos nós juntos, incluindo Jungkook, passeando por aí como se não existisse problema nenhum na relação que temos. Obviamente, tudo não passa de meras ilusões da minha mente, que pouco provavelmente irão se concretizar um dia. Eu e Jeongguk não somos esse tipo de pessoa.

 

Voltei para casa depois de mais algumas aulas cansativas, das quais eu sei que um dia valeriam a pena. Dessa vez foi mais fácil prestar atenção no conteúdo dado e o tempo passou praticamente voando.

Usei o tempo que ainda me sobrava até Jungkook chegar para tomar um banho, realizar as leituras indicadas pelos professores e praticar um pouco de piano. É pela música que eu tenho vivido durante muito tempo e eu nunca ganhei muito com os shows pequenos que cheguei a fazer, mas ainda sim a possibilidade de desistir se quer passa pela minha cabeça.

Eu estava totalmente entregue ás notas da nova composição da qual estava finalizando quando ouvi os passos leves e a respiração ritmada de Jungkook atrás de mim. Eu realmente deixava a porta destrancada quando ele me pedia, apenas pelo simples conforto de tão ter que parar o que eu estivesse fazendo para ir atendê-lo. E talvez porque eu também goste de quando ele aparece de repente pressionando seu corpo em minhas costas enquanto diz que havia chegado.

Dessa vez ele apenas está parado encostado na parede, olhando-me com um sorriso no rosto. Chega a ser bonitinha a forma que ele está ali, como se ainda fosse o garotinho que eu via junto de Jimin quando o conheci.

“Olhando assim, nem parece que está passando milhares de imagens nossas em cima desse piano em sua mente.” Digo, provocando-o.

Seu sorriso que antes era doce e puro se transforma em algo que só estou acostumado a ver quando estamos a sós. Ele dá o restante de passos que falta para chegar a mim e puxa meus pulsos para que eu me levante.

“Você é muito baixinho, hyung.” Ele diz enquanto olha-me de cima, segurando em minha cintura e colocando-me sobre o piano, do qual fechei assim que ele chegou.

“Eu não estava falando sério sobre nós fazermos algo aqui em cima.”

Tento me desvencilhar dele e sair de cima do piano, mas o garoto pressiona ainda mais seu corpo no meu, impedindo-me. Sua força surpreende-me mais a cada dia, mesmo que ele não costume usa-la comigo frequentemente. Eu sou um cara bonzinho em relação a suas vontades.

Logo seus lábios estão pressionados aos meus de forma ágil e poderosa. Ele usa todos os seus artifícios e experiência para fazer de mim o que quiser. Deixando leves sugadas em meu lábio inferior, mordidas e sopros em meu pescoço e apertões em minha cintura, ele mostra que depois de tantas noites juntos aprendeu como devia lidar comigo com maestria.

“Você fala demais!” Jungkook diz ofegante, separando o beijo apenas para arrancar minha blusa.

“Será que podemos ir para o quarto agora, Kookie?” Pergunto pausadamente, enquanto vou deixando beijos hora fortes hora suaves pela extensão do seu rosto e pescoço. Durante nosso tempo juntos eu também havia aprendido algumas coisas sobre o garoto.

“Porque tanta pressa, Yoongi?” Por mais que minhas mãos estivessem na barra de sua camiseta branca, prestes a tira-la, eu queria empurra-lo e expulsa-lo da minha casa apenas por ser tão petulante.

Jeon poderia ficar nessa por um tempo, fingindo ter uma confiança impenetrável e sendo o cara que comandava a situação, mas depois que eu cansasse da sua impertinência e começasse a fazer minha mágica ele estaria totalmente a mercê dos meus quereres, suplicando por mim.

“Apenas faça o que estou dizendo, Jeongguk.” Sussurrei em seu ouvindo, para segundos mais tarde morder o lóbulo de sua orelha.

Como eu esperava, ele apenas puxou-me de cima do instrumento com minhas pernas presas em seu quadril e carregou-me até o quarto, do qual ele já sabia o caminho de cor e salteado. Ele parecia totalmente desesperado e cheio de desejo, se quer parava o beijo para olhar por onde andava e quando percebi já estava sendo jogado em cima da cama de casal.

“Isso tudo é saudade?” Falo enquanto ele tira o restante de roupa que ainda tem em seu corpo, observando seu formato esculturado. “Eu não vou fugir daqui, baby.”

“Mesmo que você tentasse fugir, eu não deixaria.” Sua voz sai rouca e profunda ao dizer isso e percebo que a única coisa da qual quero fugir agora é do sentimento que tenho sendo nutrido por ele.

Eu não estou apaixonado. Nem Jungkook. Nós dois sabemos que nossa relação é apenas sexo, mas sentir seus braços em volta de mim, seus dedos tocando onde bem entendem, sua respiração causando-me arrepios e os baixos gemidos que solta quando estou dentro dele me faz pensar que não tem lugar melhor para eu estar. Isso parece bem certo para mim.

 

Todo mundo sabe o quanto gosto de dormir, mas é Kookie quem sempre pega no sono quando tudo termina. Seria um pecado se eu não permanecesse acordado apenas para o olhar de forma tão serena, quase angelical. Seus lábios estão levemente separados, o cabelo totalmente desgrenhado e as bochechas continuam rosadas pelo calor e esforço de momentos anteriores. Pouco antes de adormecer por completo, deitou sua cabeça em meu braço, parecendo pela primeira vez menor do que eu. Foi praticamente impossível evitar passar a mão em seu rosto, até chegar a seus fios rebeldes, movendo meus dedos em um cafuné intimo e acolhedor.

Apesar do jeito malicioso de Jungkook me atrair muito, era quando ele estava dessa forma inocente e pura que eu mais gostava dele. Ele é tão novo e tão doce, que eu sinto que estou no melhor lugar do mundo quando o tenho em meus braços assim. Depois de tê-lo da forma mais intensa possível, com todo o seu corpo se envolvendo e misturando com o meu, ele apenas se permitia desmoronar de uma forma mais do que positiva.  A melhor parte do nosso “relacionamento” era poder sentir o quanto éramos um do outro quando estávamos juntos. Poucas pessoas param para analisar o quanto beijar ou fazer sexo com outra pessoa é algo realmente intimo e verdadeiro, talvez nem mesmo ele tenha noção do significado que isso tem. Mas justamente por eu ver e entender a complexidade que tudo isso tem, permiti a mim mesmo continuar com isso. Continuar com Jungkook não foi uma simples escolha, não foi por conta de um amor nutrido, mas porque ele me proporcionava o melhor sentimento que nossa intimidade poderia.

“Se o hyung continuar me dando tanto carinho, como serei capaz de ir embora?” Ele pergunta, abrindo seus olhos inchados pela soneca.

“Pareceu convidativo enquanto você dormia, mas assim que abre a boca tenho vontade de usar minhas mãos para te socar.” Digo afastando-me dele, sem ser o suficiente para achar que estou o expulsando.

Ao menos dessa vez eu queria que ele não fosse embora tão rápido, apesar do seu jeito insuportável.

“Então acho melhor eu fugir antes que você faça algo contra mim.” Diz fingindo medo e fraqueza, como se nós dois não soubéssemos que ele é capaz de acabar comigo em dois segundos. Em todos os sentidos.

“Mesmo que você tentasse, eu não deixaria.” Faço referência à o que ele disse mais cedo.

O rosto de Jungkook se ilumina em um sorriso adorável. Meu instinto de beijar cada centímetro de seu rosto me encaminha até ele, realizando a ação. O sorriso se expande para uma risada boa de ouvir. Ele parece uma criança ainda, uma com músculos e que beija bem.

 

“O que você fez ontem o dia inteiro? Te liguei para a gente marcar de sair, mas você não atendeu o telefone uma vez se quer.” Jimin disse, chamando minha atenção no meio da aula com seu jeito manhoso e emburrado.

Depois de ter começado a conviver muito com Jungkook conseguia ver o tanto que sua personalidade se espelhava no irmão. Eles eram parecidos em muitos aspectos, conseguindo ainda serem pessoas totalmente únicas. Jimin é extrovertido, expõe charme em tudo o que faz, chama atenção para si, mesmo que não seja seu objetivo e se matem sempre educado e humilde com quem quer que falasse. Jeon é tímido, totalmente reservado, esconde toda sua beleza para si mesmo, mas logo que se sente confortável demonstra seu lado atrevido, até mesmo divertido.

Comparar os irmãos me faz pensar no que eu estava fazendo ontem. E também na reação que Jimin teve quando viu o irmão comigo. Ele odiaria saber o que aconteceu ontem, o que vem acontecendo desde o aniversário de Jeon.

“Eu estava ocupado.” Digo simplista.

“Ocupado demais para atender uma ligação?”

“Aish, Jimin! Deixe-me prestar atenção na aula.” Como se não bastasse Jungkook tirando meu foco.

“Acredito que o rapaz deveria ouvir o Yoongi-ssi e prestar atenção na aula.” O professor disse, assim que Jimin ia abrir a boca para se pronunciar mais vez.

Ri baixinho e ele simplesmente voltou a se recompor em seu lugar, com certeza me amaldiçoando em seus pensamentos.

Escrevi um bilhete para ele, o convidando para tomar um café e conversar quando tivesse algum intervalo entre nossas extensas aulas, tentando me redimir com o garoto e tirar um pouco da culpa que invadia meu corpo sempre que estava em sua companhia.

Fui respondido apenas com um “ok”, dando-me certeza do quanto ele estava chateado comigo. Jimin sempre foi a minha primeira opção para tudo e não estava acostumado com o abandono que eu o estava deixando desde que comecei a sair com Jungkook.

 

“Você vai me perdoar, não é ChimChim?” Falei com o máximo de aegyo que eu conseguia, o abraçando carinhosamente.

Minha vida toda fui incapaz de demonstrar muito carinho, me apegar às pessoas ou expor meus sentimentos. A única coisa que fazia eu mostrar um pouco de tudo isso era a música, sendo escrevendo letras de rap ou tocando piano. Mas isso foi até eu conhecer Jimin.

Eu estava no primeiro ano da faculdade e não tinha nenhum amigo ali. Era apenas eu e meus cadernos, quando o garoto de cabelos negros chegou dizendo-me que gostava da minha aparência. Eu o achei realmente estranho, pensei sobre o tipo de pessoa que ele era para chegar a mim daquela forma. Então, eu aprendi que ele era assim com todo mundo e também era diferente de todo mundo, e por isso ele se tornou o meu melhor amigo, a única pessoa que era capaz de me tirar boas risadas, de me fazer gostar de coisas das quais eu sequer imaginei um dia gostar, ele era capaz de me fazer ser quem eu quisesse ser.

E é assim que uma amizade deve ser afinal.

“Se você pagar o café, com certeza!” O que um pouco de carinho e uma boa refeição não são capazes?

Entramos na cafeteria da Universidade, nos sentando em uma das mesas do fundo. O clima ali dentro era quente de forma protetora contra a estação friorenta e o cheiro era de grãos de café sendo moídos e bolinhos de chocolate sendo preparados.

A grande janela ao nosso lado dava vista para uma paisagem enevoada e umedecida pela garoa. É um clima compatível comigo, mesmo que eu não goste dele.

“Você parece estranho, hyung! Algo errado?”

Antes que eu pudesse responder, o sino da porta da cafeteria tocou, indicando um novo cliente. Jeon Jungkook. Parecia obra do destino, ou melhor, uma armadilha. Mas de qualquer maneira, é bom vê-lo, ele está muito bonito hoje. Mais do que o comum. Veste uma calça jeans com a barra dobrada, blusa branca, suspensórios, coturno e um agasalho verde água de pelinhos. Seu senso de moda é mesmo diferente, mas agrada meus olhos assim que o vejo.

Gostaria poder dizer a Jimin que está tudo bem, mas as palavras se prendem em minha garganta à medida que meu olhar segue Jeongguk se encaminhar até sua mesa e direcionar um doce sorriso a mim, fazendo meu coração acelerar um passo e minhas bochechas queimarem.

Eu estava entalado juntamente com uma mentira, da qual eu não sabia se um dia seria capaz de contar.

“Você sabe que pode falar comigo sobre qualquer coisa, né?” Eu sabia que sim, que Jimin me ouviria e não me julgaria em qualquer coisa, menos nesse assunto.

Também sabia que um dia as coisas viriam à tona, ele acabaria descobrindo por conta de algum deslize ou eu e Jungkook terminaríamos e essa história ficaria enterrada para sempre. E qualquer uma das opções me assusta igualmente.

“Eu sei, só estou lidando com algumas coisas no momento.”

Durante nosso tempo de amizade, Jimin havia aprendido a lidar comigo da mesma forma que eu aprendi a lidar com ele. Depois de um tempo, se acostumou com as minhas barreiras e parou de questionar quando sabia que eu já havia colocado um ponto final no assunto e não voltaria atrás com ele.

“Obrigado por se preocupar.” Digo segurando sua mão, que está sobre a mesa.

“Só me prometa que vai ficar tudo bem, ok?” Ele diz, apertando seus dedos com os meus.

“O que há de errado com o Yoongi hyung?” Jungkook disse, aproximando-se da mesa.

O olhar do maknae estava incendiando sobre mim e o irmão e por mais que eu não soubesse o real motivo dele estar bravo daquela forma, retirei minha mão da de Jimin.

“Posso me sentar aqui?” Perguntou, apenas por respeito, já que antes mesmo que pudéssemos responder ele já estava se arrastando sobre o banco, ao meu lado.

Havia espaço o suficiente para que ambos ficássemos confortáveis, mas ele insistiu em me espremer contra parede, deixando um espaço quase nulo entre nossos corpos.

“Eu também queria saber o que há de errado com o Yoongi, Kookie. Mas ele não quer contar.” Jimin é tão inocente, que a cada segundo que passo nessa conversa um pouco mais de culpa percorre meu sangue.

“Aish, vocês dois deviam cuidar dos próprios problemas!” Digo começando a me irritar.

“Por que está tão irritado, Suga-hyung? Diz para o seu dongsaeng.” Jungkook fala. Sua voz sai fofa, mas sua mão abaixo da mesa aperta minha coxa com ousadia.

Meus sentimentos se revezam em derreter meu coração por conta da meiguice de Kookie, transbordar hormônios por conta de suas mãos em mim e me manter são para não lhe dar bons tapas por agir dessa forma descarada. No fim das contas tudo o que faço é direcionar um olhar ameaçador para o garoto.

“Melhor desistir, Kookie. Deixe seu hyung em paz.” Jimin diz, dando leves tapas no irmão enquanto tenta o afastar de mim. Suas mãos pressionam minhas pernas cada vez mais, como se ele tentasse me mostrar o quanto sou dele.

“Ya! Parem vocês dois. Já está na hora de voltarmos para a aula.” Digo, praticamente gritando, enquanto me levanto afastando as mãos de Jungkook de mim e dando um esporro em Jimin com o meu próprio pulso.

 

Como de costume, as aulas seguiram seu rumo até que chegasse a hora de irmos para casa. Jimin permaneceu me chamando para conversar sempre que podia, afirmando sobre o quanto estava bravo por não ter tido a chance de falar comigo no café já que o irmão o interrompeu. Todas as vezes que ele fazia alguma reclamação sobre Kookie meus instintos para defender o garoto afloravam em mim. Tentei manter em minha mente que era porque ele é meu dongsaeng e é assim que funciona a relação hyung/dongsaeng, mas parte de mim sabia que isso era mentira.

No caminho de casa meu celular vibra sinalizando uma nova mensagem.

“Hyung, ele realmente gosta de você...”

“Ele quem?”

“Jimin...”

“Ele não é o único, Jungkookie!”

Dizer que eu não fiquei muito surpreso, seria um tanto arrogante e eu não poderia falar isso ao maknae.  Nem a Jimin. Muitas vezes ele agiu como se tivesse interesse, mas eu afirmei a mim mesmo que aquele era o seu jeito, que nossa intimidade de melhores amigos permitia isso. Então eu não posso dizer que sempre soube, era apenas uma intuição, da qual eu fiz o favor de esconder sob meus olhos para que não atrapalhasse nossa amizade.

“Estou falando sério, Yoongi!!!”

“Como você descobriu isso?”

“Pareceu meio óbvio para mim.”

“E você só me dá essa notícia agora?”

“Antes eu não parei para observar isso. Era trivial.”

“Então porque você parou para observar isso agora?”

“Por que eu também gosto de você, Suga hyung...”

Então meus pés travaram ali, no meio da rua. Eu estava em choque com todas as notícias que havia recebido. No entanto, foi inevitável não abrir meu melhor sorriso ao saber que Jungkookie gosta de mim. Junto com o sorriso, veio a falta de ar, porque Jimin tinha os mesmos sentimentos que o irmão. E nesse momento, eu não queria mais me gabar sobre quantas pessoas gostam de mim.

‘Tudo vai ficar bem’ foi o que surgiu em minha mente, fazendo-me repetir tal pensamento até que eu acreditasse nisso efetivamente. Eu realmente não me importo com os meus sentimentos enquanto sei que Jungkook está enfrentando um peso ainda maior que o meu. De qualquer maneira eu terei que seguir em frente.

As palavras de sua última mensagem também se repetem em minha mente, porque eu não sei o que responder. Nosso relacionamento não é do tipo que admiti sentimentos, nós dois havíamos prometido isso desde o início. Por mais que passássemos de alguns limites de vez em quando, a possiblidade de ultrapassar o envolvimento de apenas sexo nunca passou pela nossa cabeça. Não até então.

“Eu não diria que é muito apropriado fazer declarações desse porte por mensagem.”

“Você também gosta de mim?”

“Kookie...”

“Me diz, hyung. Você gosta ou não?”

“Gosto...”

Meus pés ainda estavam fixos no chão e o céu ainda estava cinza, mas assim que enviei a mensagem tudo pareceu mais intenso, era como estar caindo em um buraco sem fim e também era como se as coisas a minha volta estivessem um tom mais quente. Pela primeira vez na vida eu posso sentir como é estar apaixonado e esse sentimento é totalmente errado. Nenhuma obra literária ou composição romântica haviam me preparado para a dor do amor e da culpa.

 

A noite passou em passos lentos, mantendo meus olhos abertos e minha mete em alerta, pressionada por preocupações. Meu coração se movimentou em completa dor e profundo amor. Durante muito tempo, tudo o que eu senti foi leve e calmo, mas agora eu sou carregado pela intensidade de Jungkook. E também pela falta que ele me faz, já que nem ao menos havia respondido minha última mensagem. Entre tanta confusão, consegui soltar um sorriso pensando no quanto esse garoto é estranho. Quem no mundo ouve uma declaração e some como fumaça?

Assim que o sol subiu no céu, vi-me na necessidade de levantar da bagunça que minha cama se tornou e tentar dar um jeito em tudo. Não é como se eu realmente tivesse chegado a uma solução depois de passar horas matutando ideias na cabeça, mas de qualquer jeito, permanecer ali parado para sempre não é o ideal.

Encaminhei meu corpo até a cafeteria da faculdade, sendo exigido a tomar um café quente e amargo. Jungkook e Jimin parecem ter caído de suas camas também, já que estão sentados na costumeira mesa, em meio a uma conversa que parece séria.

Condeno tudo o que posso, reclamando por ter que lidar com esse tipo de coisa logo cedo. Eu sequer havia tido a oportunidade de tomar meu café ainda.

Jimin sabia que eu estava ali, seu olhar se levantou e um sorriso se instalou em seu rosto assim que entrei no estabelecimento, como se minha presença pudesse ser sentida por ele de alguma forma. Contudo, ele não deixou de dar um esporro no irmão, suas palavras pareciam duras e Jungkook parecia chateado de verdade.

‘Ao menos não é por minha causa que os dois estão brigando. ’ Pensei, logo que me aproximei tentando fazer com que aquilo parasse.

“O que está havendo aqui?” Perguntei, apoiando minha mão no ombro de Jungkook.

“Problemas de família.” Jimin respondeu. Seus olhos praticamente soltando raios onde eu encostava o irmão.

“Mas está tudo bem, certo?” Direcionei-me ao mais novo, porque mesmo que seus lábios mentissem para mim, seus olhos não seriam capazes de fazer o mesmo.

“Está tudo bem.” Mentiu. Fingi acreditar.

“Jiminie, eu não vou poder ficar para a aula hoje.” Menti também.

“Aconteceu alguma coisa, hyung?”

“Eu não estou me sentindo muito bem. Pensei que um bom café ajudaria, mas...”

“Tudo bem. Espero que você melhore!” Ele disse, parecendo realmente preocupado e até mesmo triste.

“Cabule aula. Vamos sair hoje.”

Escrevi em um SMS para Jungkook assim que virei as costas para a cafeteria. Eu sou mesmo um grande traidor.

“Pensei que você não estivesse se sentindo bem.”

“Não pensei que você fosse tão inocente quanto o seu irmão.”

“Você não presta, Suga.”

 

Combinei de encontrar o garoto na praia. Durante nosso breve tempo juntos, eu aprendi coisas sobre Jungkook que iam além de como conquistar bons beijos seus. Dentre elas, eu sei o quanto ele é apaixonado pelo mar e essa foi a única coisa que consegui pensar para anima-lo.

Não foi surpresa encontra-lo sentado no cais, observando cada canto daquela paisagem melancólica. Apressei-me em sentar ao seu lado, o mais próximo de seu corpo quente que eu poderia, passando meu braço em volta de seus ombros. Logo seus olhos estavam sobre mim, observando-me como se eu fosse ainda mais bonito do que a vista de antes, então um sorriso singelo se expandiu em seu rosto e fingir que eu não o sentia me observando já não era mais uma opção. O olhei com a mesma força, querendo encontrar alguma coisa em seus olhos escuros. Fiquei satisfeito por ter gasto todas as minhas energias com preocupações na noite anterior, porque nesse momento eu não tenho mais nada para pensar, além do quanto eu acho Jungkook o ser humano mais bonito do universo.

Deposito meus lábios nos seus, sentindo a maciez que o hidrante labial lhe proporciona. Não é como em nenhuma das outras vezes, não tem fogo nem desejo incessável. Isso é amor, ainda mais íntimo e forte do que antes. Pergunto-me se serei capaz de descrever isso um dia ou se existirá palavras bonitas o suficiente para definir meu sentimento. Chego à conclusão de que nem mesmo a composição musical mais bela se compara com isso.

Mesmo que eu não queira separar nosso beijo, a falta de ar se faz presente. Dessa vez, sou eu quem deixa um sorriso se impor em meu rosto, querendo demonstrar o quanto eu estou feliz, apesar dos pesares.

Por muito tempo não houve ninguém na minha vida, ninguém que eu pudesse contar sobre todo o amor que havia no meu peito. Na falta de alguém, depositei tudo o que eu tinha nas letras melódicas das minhas composições. Então, ele apareceu.

“Você vai quebrar o meu coração, não é?” Falei ainda olhando profundamente seus olhos.

“Eu não seria capaz!” Ele diz, passando seus dedos em minha bochecha, num carinho gostoso.

O diálogo que segue dali não é mais com palavras. Em vez disso, nos comunicamos com pequenos gestos, mudanças na expressão e em um silêncio que pode dizer tudo. Agora, não muito diferente do começo, não é preciso que falemos para entender o que estamos pensando e querendo.

Levanto-me de onde estamos sentados, levando Jungkook comigo pelas mãos, até que cheguemos à beira mar. Definitivamente o clima não é muito propicio para entrar na água, mas estando com o mais novo ao meu lado eu sinto que posso fazer qualquer loucura.

Começo a retirar meu casaco, tênis, calça e todo o restante de roupa que cobre meu corpo, sem pudor algum, já que não tem ninguém além de nós na praia. Jeon me olha como se eu fosse paranoico, sem ao menos mover um músculo para seguir meus atos.

“Não pense que vou entrar nessa água com você.” Ele diz, dando passos para trás enquanto ando em sua direção.

“Como é, Jungkook?”

“Hyung... Não!”

Não penso duas vezes em correr atrás do garoto, o pegando de surpresa. O agarro em meus braços, tendo o vislumbre de um Jungkookie frágil e feliz, que mesmo relutando para sair do meu aperto ri feito bobo.

“Você não quis acompanhar seu hyung por bem, então vai ser por mal.” Guio nós dois até a água rasa, sem ainda molhar o garoto.

“Tudo bem! Tudo bem! Só deixe-me tirar as roupas.” Ele diz, enfim desistindo de relutar.

Assim que ambos estamos apenas com a roupa intima, entramos no mar, ainda abraçados devido à temperatura gélida da água. E é assim que o restante do dia se estende, apenas eu, Jungkook e a imensidão que é o céu e o mar. Por um dia inteiro nós estávamos longe de qualquer problema e preocupação, sendo um casal normal, mesmo que isso ainda esteja longe de ser nossa realidade.

 

O alarme soando em meus ouvidos foi o que me trouxe de volta a vida real novamente. Eu sabia que cedo ou tarde as coisas voltariam ao normal, só não queria que acontecesse tão rápido.

Meu mau humor se instalou assim que tive que abrir meus olhos e levantar do conforto quente que era minha cama. Saber que terei que enfrentar um longo dia na faculdade, com horas extras de estudo para compensar o que perdi quando estava com Jungkook sobrecarrega todo o peso já existente em minhas costas. Também vou ter que lidar com Jimin e com a mentira que só tem crescido desde nossa última festa, quando me envolvi com seu irmão.

O dia ainda está frio. Frio demais para que eu tenha que lidar com qualquer coisa. ‘Tão desnecessário’ é o que se repete em minha mente enquanto faço meu caminho até o campus da universidade, sentindo meus pelos do braço se eriçarem a cada vez que o vento sopra contra minha pele. Um sentimento de arrependimento se aflorando em mim a cada passo que dou, fazendo-me desejar nunca ter saído da minha cama.

Cheguei à sala ainda faltando alguns minutos para o horário da aula, sentando-me em algum lugar que fosse bem afastado das janelas, a espera de Hoseok, Jin ou qualquer um que pudesse me distrair de meus devaneios até que a matéria começasse ser dada.

Contrariando qualquer expectativa e desejo de ter um pouco de sorte, foi Jimin quem chegou primeiro, sentando na carteira a minha frente e logo iniciando uma conversa. Poucas coisas me surpreendiam mais do que pessoas amantes do frio e pessoas que mantinham um bom humor matinal. Jimin era justamente a junção das duas opções.

“Yoongi, você está ouvindo o que eu estou dizendo?” Jimin chama minha atenção, seu sorriso até então presente em seu rosto se desfazendo, dando lugar a um bico.

“Desculpa Jiminie! Hoje não é um dos meus melhores dias.”

“Você tem certeza de que está bem? Não é de hoje que está assim.” Ele diz, entrelaçando seus dedos nos meus, passando o polegar em minha mão em movimentos circulares.

Não é a primeira vez que seu carinho e bondade aparecem no momento certo, sendo mais do que bem-vindos. O calor de sua mão se propaga para as minhas, comprovando teses físicas das quais me remetiam ao colegial.

“São só alguns problemas, em breve estarão resolvidos. Já te disse para não se preocupar.”

“Espero que se resolvam mesmo, você é realmente muito chato quando está assim.”

Logo que o professor chegou, o mais novo parou de falar, virando seu corpo na direção oposta a minha.

 

Mais tarde, naquele mesmo dia, descobri que o que Jimin estava me falando se referia sobre uma festa que ele e os meninos estavam querendo fazer no fim de semana. Ele argumentava que todos nós, principalmente eu estávamos precisando desta; primeiramente, porque meu estado de espírito andava muito para baixo recentemente e segundo, porque no ano que viria teríamos muito mais responsabilidades com a faculdade e trabalho do que temos agora e, de acordo com ele, temos que aproveitar ao máximo esse tempo que nos resta para agir de forma imatura.

Ouvir tudo o que ele tinha a me falar me fez rir e concordar no mesmo instante em ir fazer parte da mais nova loucura que nosso grupo estava me proporcionando. A pouca diferença de idade que existe entre nós sempre nos deu a chance de agir de forma oposta da que deveríamos. Eu pude ajudar Jimin a ser alguém responsável e ele pode me dar momentos de pureza e inocência. Eu definitivamente sou muito grato por isso.

Diferentemente da última confraternização em que fomos, organizamos tudo com nossas próprias mãos; alugamos uma casa no campo, preparamos a decoração, compramos bebidas e comida e até mesmo contratamos um DJ. No entanto, dessa vez eu não estava realmente interessado na festa. E Min Yoongi sempre ficava empolgado para uma boa oportunidade de passar a noite com os amigos, com bons drinks de acompanhamento.

Enquanto estava sentando no sofá da sala, com as pernas de Jimin apoiadas sobre as minhas, ouvindo as discussões de Hoseok e Jin sobre o que faríamos para que esse evento se diferenciasse dos outros que chegamos a frequentar, minha mente era inundada pela culpa e medo. Sentimentos dos quais se tornaram frequentes em meu corpo.

Jin queria que fizéssemos uma guerra de travesseiros, com direito a plumas e um ringue montado. Hoseok desejava que realizássemos o famoso Pepero Game. O restante de nós via pontos positivos e negativos nas duas opções, então decidimos concretizar as duas ideias, até mesmo para que o assunto não gerasse mais polêmica.

Conforme a noite foi começando, os convidados foram aparecendo. Namjoon fez o favor de convidar praticamente todas as pessoas de quem é próximo, o que inclui boa parte do pessoal do nosso curso e dos outros que se relacionam com a nossa área.

A casa se enchia aos poucos, mas como em todas as festas, o clima já estava abafado, o teor da bebida se espalhava e a música preenchia o corpo das pessoas na pista de dança. Todavia, eu ainda não estava em meu estado máximo de animação, fiquei encostado em um canto qualquer com um copo de cerveja nas mãos até que as brincadeiras começassem.

Sabia que Jungkook estava em algum canto da casa, mas não o tinha visto até então, já que resolvemos nos evitar ao máximo enquanto soubéssemos que seu irmão está no mesmo ambiente que nós.

Meu coração palpitou um pouco mais rápido quando o vi, pela primeira vez na noite, em cima do ringue improvisado que montamos para as guerras de travesseiro. Havíamos programado algo realmente bacana para os jogos, que envolvia duas pessoas se golpeando com travesseiros cheios de penas, até que um caísse e fosse “nocauteado”. O vencedor poderia escolher quem quisesse para realizar o Pepero Game consigo e o perdedor não poderia brincar.

Assim que vi Jungkook ali, soube que Jimin seria seu oponente. Os dois eram os únicos na casa que poderiam lutar com quem quer que fosse e ainda sim sairiam vencedores, mas ninguém poderia dizer quem ganharia caso um lutasse contra o outro. O mais novo tem noção que não precisa da brincadeira para ganhar um beijo meu quando bem entender, sem custo algum, e também que, com Jimin saindo do ringue como um vencedor, me escolherá para brincar com os palitinhos de chocolate na primeira oportunidade.

Todos sabem que o Pepero Game consiste em morder, juntamente com outra pessoa, o palito, até que ele chegue ao seu mínimo. Mas obviamente usamos o jogo como pretexto para acabar beijando alguém que nos interessa. Jungkook, Jimin e eu sabíamos o quanto o mais baixo de nós queria ganhar essa batalha para no fim poder ter uma chance de me beijar.

Então a luta começou. Ambos se estapeavam com os travesseiros com toda a força que podiam, sem que acabassem machucando um ao outro. Jungkook estava concentrado em não perder e o Park em vencer. Talvez essa tenha sido a diferença quando o vencedor foi anunciado. O mais velho lutou de verdade, porque queria com todas as suas forças vencer o jogo e seu irmão apenas queria impedir que isso acontecesse. A vontade de um era maior e com um pró melhor que o do outro. Por isso, Jimin ganhou.

Pronto para receber seu prêmio, um palitinho de chocolate e a chance de dividi-lo com quem quisesse, meu melhor amigo abre seu melhor e mais belo sorriso. Ele está feliz de verdade, seus olhos chegam a brilhar e suas mãos a tremer em anseio. Sou capaz de observar isso do canto em que estou encostado desde que a festa começou, da mesma maneira que pude notar que para que um pudesse ganhar o outro teria que perder. Para que Jimin saísse feliz, Jeongguk teria que lidar com sua própria tristeza.

Ouço meu nome sendo clamado pela voz grossa de Namjoon, nosso suposto juiz, convidando-me a subir no ringue e participar do jogo, como Jimin deseja. Caminho em passos lentos até onde eles estão, como se estivesse indo para minha própria sentença de morte. Não é como se o que estivesse prestes a acontecer fosse o fim do mundo, eu até mesmo tinha esperanças de que isso não acabasse com um beijo entre nós dois, mas de qualquer forma eu ainda me sentia condenado. É Jungkook quem eu quero beijar ou simplesmente compartilhar do chocolate, não o meu melhor amigo.

Logo que coloco meus pés sobre o ringue montado, as pessoas começam a gritar em animação, assim como foi quando Jeon disse que me queria na noite de seu aniversário. A história inevitavelmente está se repetindo e eu sequer tenho uma chance de evitar.

Antes de virar-me para Jimin tenho a visão de Jungkook saindo do local, os olhos cheios de mágoa e a respiração descompensada, indicando o quanto ele está triste e bravo com a situação. Meu desejo é de sair correndo atrás dele, dizer sobre o quanto eu queria que nosso relacionamento pudesse ter sido diferente, mas tudo o que consigo fazer é ficar parado ali, o observando ir embora para longe de mim, enquanto seu irmão fica cada vez mais próximo.

“Preparado, Yoongi?” Jimin diz, colocando seus dedos entrelaçados aos meus. Meus olhos buscam por alguma chance de evitar isso, encontrando com os de Namjoon, que permanece ao nosso lado com uma régua em mãos, pronto para medir o quanto do palito irá sobrar.

“Preparado ou não, vamos começar.” Ele diz, levando todas as minhas expectativas por água abaixo.

Senti-me enrubescer e o incomodo preencher meu corpo, vendo que mais uma vez eu não havia medido as consequências dos meus atos. Por outro lado, Park Jimin sorri de orelha a orelha, acarinhando meus dedos que ainda estão presos aos seus. O olho nos olhos pela primeira vez desde que adentrei a arena de batalha e ouço o murmúrio das pessoas a nossa volta.

O mais novo pega seu palitinho e o coloca na boca, aproximando-se ainda mais de mim. Sua mão se direciona para minha nuca, segurando-me com força e desejo. Pego a outra extremidade do alimento, com a boca e começo a morder rapidamente. A respiração de Jimin se encontra mais próxima de mim do que jamais esteve e minha vontade é de me afastar, no entanto, sua força impede que eu o faça. Quando o palitinho chega ao seu fim, antes mesmo que eu tenha tempo de tentar evitar o encontro de nossas bocas, sinto os lábios do garoto contra os meus. Seus olhos estão fechados e suas mãos me pressionam junto a ele e aos poucos, involuntariamente, vou deixando de resistir. Meus olhos se fecham e meus lábios correspondem ao beijo, que felizmente não passa de um simples selar.

Quando consigo me afastar do garoto, vejo seu sorriso ainda maior do que antes, como se isso fosse possível. Meu coração se despedaça em mil pedaços, por ele, que certamente acredita que agora terá uma chance comigo, por Jungkook que se sentirá traído e por mim, que terei que lidar com uma culpa ainda maior do que antes.

Sem pensar muito, simplesmente saio andando no sentindo contrário do de Jimin, sem dizer nada. Um sentimento de frieza se desperta em mim, assim como também a raiva e o arrependimento. Desejo que aquele Yoongi reservado e desprezado volte sem nunca dar lugar a alguém amoroso e cheio de sentimentos borbulhando dentro de si novamente.

Durante meu caminho até algum lugar mais discreto não vejo nada a minha volta, evitando todos os chamados e olhares que estão sobre mim. Não sei o que vai acontecer futuramente, mas sinto medo, principalmente de perder a amizade de Jimin e o amor de Jungkook. Pensar no maknae me sufoca; estávamos tão bem, mas agora não estamos mais.

Assim que chego a um dos quartos da casa, entro neste e tranco a porta, logo me direcionando até a cama e deitando nela. Lembranças de momentos bons com os irmãos invadem minha mente como flashes rápidos. Lágrimas ameaçam se acomodar em meus olhos, sendo afastadas por mim antes mesmo que se soltem. Eu sei que a dor que estou sentindo agora não é ainda o meu 10, sei que ainda terei que enfrentar a situação de frente e então todas as minhas lágrimas poderão se desencadear em forma de cachoeira quando perder duas das pessoas mais importantes da minha vida. Porque, entre as poucas coisas que sei nesse momento, é que isso acontecerá sem que eu possa fazer nada para impedir.

Permiti-me adormecer, mesmo com todo o barulho da festa que continua rolando no primeiro andar da casa e com toda a confusão de sentimentos que se impuseram em meu coração. Dessa maneira pude afastar tudo de mim e afundar na escuridão profunda, sem mais consciência de nada do mundo.

 

Acordei com o sol batendo em meus olhos, já que a cortina do quarto se encontra totalmente aberta, possibilitando a entrada de luz do dia no ambiente. Ainda estou na mesma posição de quando fui dormir e com a visão turva e uma dor de cabeça incômoda, procuro meu celular pelos meus bolsos. Logo que o encontro verifico a hora, tendo a afirmação de que o dia acaba de começar.

Sendo difícil de evitar, a primeira coisa da qual me recordo é os problemas que terei de enfrentar assim que sair desta cama. Condeno todos que posso e os que não posso também, sem esquecer de condenar a mim mesmo, acima de qualquer um. Fico parado por um tempo, reunindo coragem para sair da confortável estabilidade em que estou.

“MIN YOONGI! VOCÊ VAI SE ESCONDER POR MAIS QUANTO TEMPO?” Ouço Jungkook gritar do andar inferior, fazendo meu corpo inteiro se reprimir. Sua voz está cheia de raiva, mas acima disso, também há mágoa.

Sem ter outra escolha, levanto-me da cama e caminho até a porta, destrancando-a, e por fim chego até a sala de estar da casa. O lugar está preenchido apenas pela presença de Jungkook e pela enorme bagunça e sujeira que todo fim de festa proporciona. Não tenho coragem de dizer nada, não por enquanto. Apenas observo o caos que nos cerca, percebendo o quanto ele se assemelha a minha vida neste momento.

“OLHA SÓ QUEM RESOLVEU APARECER! NÃO É GRANDE FILHO DA PUTA DO YOONGI HYUNG?” Ele diz, direcionando-se em minha direção com agilidade e deferindo um soco em meu rosto.

A dor de seu golpe é terrível, mas não se compara com a dor que sinto por vê-lo dessa forma. Mais do que em qualquer outro momento, sei que é nesse instante que irei perdê-lo.

“FALA ALGUMA COISA! OU VOCÊ SÓ SABE USAR A SUA BOCA PARA CHUPAR SABEM-SE LÁ QUANTOS PINTOS POR AÍ?”

De repente, parte da minha mágoa se transforma em raiva, trazendo o meu eu frio e de poucos sentimentos átona. A forma que o mais novo se dirige a mim, sem o mínimo de respeito pelo hyung que eu fui para ele me deixa transtornado. Além das já ditas, mais palavras de ódio saem de sua boca, sem filtro algum. Aos poucos, meu sangue ferve mais e mais, até que o pouco de autocontrole que me sobra se esvai, sendo descontado sobre as coisas que estão próximas a mim, das quais saem voando pelos lados.

Jungkook mais uma vez se aproxima de mim, puxando-me pelos braços enquanto grita sentenças que já não consigo mais escutar. E sem que eu consiga controlar, acabo o expulsando para longe de mim. Partes do meu corpo e da minha alma que amam o mais novo se manifestam em um grito, tentando impedir que tudo isso continue.

“POR QUE VOCÊ FEZ ISSO COMIGO? POR QUE PERMITIU QUE TUDO ISSO ACONTECESSE? PORRA YOONGI, VOCÊ BEIJOU O MEU IRMÃO.” Ele diz com todo o poder que tem; as lágrimas já presentes em seus olhos, permitindo que toda a sua raiva desse lugar ao sofrimento.

Jungkook, por algum motivo, corre para os meus braços, acolhendo-me entre eles com força. Seu choro parece incessável e me acerta como navalhas. Ele está mais frágil do que nunca e sofre com uma intensidade absurda, tudo por minha culpa. Pergunto-me se não poderia ter evitado tudo isso e ele me responde como se lesse meus pensamentos.

“Você poderia nunca ter aceitado me beijar no meu aniversário, poderia não ter me acolhido em sua casa, poderia ter me evitado, ter contado ao meu irmão ou simplesmente ter recusado brincar com ele. Mas, você não fez nada disso, Suga!” As palavras saem de sua boca enquanto ele ainda me abraça e tudo o que consigo fazer é empurra-lo para longe de mim, em um impulso que o acerta contra a parede.

“VOCÊ DIZ COMO SE EU FOSSE O ÚNICO CULPADO, NÃO É JEONGGUK? COMO SE VOCÊ TIVESSE FACILITADO ALGUMA COISA. ‘SÓ MAIS UMA VEZ, SUGA HYUNG’. VAI A MERDA, GAROTO.”

Profiro as palavras sem ao menos pensar ou concordar com o que eu mesmo estou falando, porque de alguma forma não consigo controlar meu corpo e a situação. Ele me encara da forma mais pura e frágil possível e sei que cada pedacinho seu está se desmoronando internamente.

Com o mesmo olhar entristecido ele dispara mais um soco em meu rosto, levando-me ao chão. O ar falta em meus pulmões e é como se eu estivesse sendo levado para debaixo da superfície d’água. Mais um puxão e seu rosto está próximo ao meu, sendo encharcado pela cachoeira de lágrimas, das quais eu acreditava que estariam sendo derrubadas por mim.

Sem medir minha força, o impulsiono na direção contrária a minha e o mais novo cai de encontro ao chão, batendo a costela no sofá. Seu rosto estampa não só a dor sentimental, mas também a física; ambas proporcionadas por mim. O arrependimento por todos os meus atos desde que o beijei na noite do seu aniversário correm pelas minhas veias, juntamente ao meu sangue.

Antes de ir embora, coloco todos os meus sentimentos na força, jogando uma cadeira qualquer contra a parede e o espelho que está nela, deixando Jungkook para trás.

 

Não tive coragem o suficiente para ir à faculdade nos dias seguintes, também não liguei o celular ou até mesmo sai de casa. Dizer que meu coração não está totalmente despedaçado, é uma enorme mentira, porque ele está. A cada coisa que faço ou lugar para onde olho, o mais novo está presente, invadindo minha mente com nossos melhores momentos e também com as ríspidas palavras que usou contra mim na última vez em que nos vimos.

Sinto-me um idiota completo. Não há um minuto sequer em que eu não me arrependa de tudo que fiz e falei para Jungkook. A culpa de tudo isso é inteiramente minha, exatamente como ele me disse. Eu poderia ter evitado nossos encontros e até mesmo o beijo de Jimin, mas eu não o fiz, porque fui fraco demais para tal atitude. Eu o culpei, sem ao menos pensar que ele é apenas uma criança, que eu deveria ter sido seu exemplo, mas tudo o que fiz foi justamente o contrário do certo.

Depois de sentir raiva e ter crises de choro, tudo o que me sobrou foi a saudade. O cheiro do garoto parece estar por toda a casa, apenas para me lembrar sobre o erro de ter o permitido entrar tantas vezes. Nem mesmo quando tentei tocar piano consegui tirar seu rosto bonito de minhas memórias. Park Jimin não fugiu de minhas lamurias, tanto quanto o irmão, se fez presente em cada recordação e ato meu.

Já não aguentando mais, decidi que precisava tomar alguma providência. Mesmo que me arrependesse depois e que sofresse um pouco mais, eu precisava fazer alguma coisa. Liguei meu celular depois de dias sem sequer toca-lo, ignorando todas as mensagens e notificações existentes nele, direcionando-me diretamente para o número de Jimin.

Um toque. Dois toques. Três toques. Eu deveria mesmo estar fazendo isso? Quatro toques. Observo o clima do lado de fora da janela; é uma tempestade. Combina perfeitamente com a minha atual situação.

“Alô!” A voz de Jimin chama minha atenção novamente para a ligação.

“ChimChim?” Uso do seu apelido, porque sei que no momento essa é a única arma que tenho.

“Não precisa tentar me bajular, está tudo bem!” Gostaria de uma definição de ‘tudo bem’.

“Você já sabe de tudo?”

“Sobre você e meu irmão terem se encontrado e vivido numa espécie de relacionamento todo esse tempo, sem me contarem nada? É, eu sei.” Sua voz deixa escapar fragmentos de sua mágoa e entendo seu sentimento, compartilhando da mesma dor.

“Você me odeia muito?”

“Odeio ter sido enganado. Odeio que tenham agido nas minhas costas. Odeio que você ame meu irmão e que ele também te ame. Eu odeio muita coisa, mas você não é uma delas.”

“E ele? O quanto ele me odeia?” Pergunto relutante, porque tenho medo da resposta, acima de tudo.

“Você deveria perguntar isso a ele, hyung.”

Rio alto, descartando totalmente a ideia. Eu não mereço o perdão de Jungkook, não mereço ter alguém tão maravilhoso quanto ele, mas pensar em sua raiva e mágoa direcionadas a mim é algo difícil demais para que eu consiga lidar.

“Desculpa por tudo isso.” Jimin diz pesaroso. Pergunto-me se a bondade é algo de família.

“Você não tem pelo que se desculpar. Fica bem Jiminie, perdão por tudo. Eu te amo, não se esqueça disso, ok?” Digo rapidamente, desligando o telefone antes mesmo de ouvir sua reposta.

Afundo meu rosto no travesseiro, que ainda tem aquele cheiro amadeirado do perfume de Jungkook impregnado nele. Um soluço se permite escapar do fundo da minha garganta, trazendo consigo o sufocamento e as lágrimas. Peço perdão, a Jungkook, a Jimin e a mim mesmo, por ter destruído tudo sem nem ter sido capaz de perceber.

 

Voltei a frequentar a faculdade e fazer coisas normais do dia a dia na manhã seguinte. Não que eu realmente quisesse fazê-las, mas porque eu tenho obrigações a cumprir. Foi difícil, encarar tudo novamente como se nada tivesse acontecido, porque foi exatamente o que eu fiz; agi como se eu não estivesse desmoronando em desespero. Não coloquei nenhum sorriso no rosto ou fiz piadas com Taehyung como havia me acostumado nos últimos meses, mas simplesmente voltei a ser o Yoongi que todos estavam acostumados, como quando me conheceram.

Jimin, por mais que dissesse que está tudo bem, se afastou. E eu não o culpo, faria exatamente o mesmo se estivesse em seu lugar. No entanto, isso não significa que não machuca, ele é o mais próximo de um amigo verdadeiro que eu cheguei a ter, me proporcionou tanta coisa em um período muito curto de tempo e em troca apenas consegui ferir seus sentimentos.

Em meio a todo esse caos, pelo menos algo bom floresceu. Hoseok viu nisso tudo a oportunidade de se aproximar de Jimin, dando a ele todo o suporte que precisa, como também o seu amor e alegria que contagia. Vez ou outra vejo os dois juntos, conversando sobre algo que pareça engraçado, enquanto o mais velho acarinha o cabelo do mais novo de uma forma que eu nunca seria capaz de fazer. São nesses momentos que me pego dando um indicio de sorriso, torcendo para que Hoseok faça meu amigo feliz.

Ao contrário da vida de Jimin, da qual pude acompanhar todos os dias de perto, não tive uma notícia sequer de Jungkook. Eu não tinha o costume de encontra-lo na faculdade quando estávamos juntos e agora não é diferente. Perguntar para o irmão também se tornou uma possiblidade fora de cogitação.

Tornou-se costume procurar constantemente algo novo em suas redes sociais, tentar acha-lo no meio da multidão de pessoas quando o período de aulas se encerra e esperar ansiosamente que meu telefone toque com o aviso de que uma nova mensagem sua chegou, tendo mais tarde o garoto batendo em minha porta, pronto para uma nova aventura rumo ao paraíso.

Mas evidentemente isso não aconteceu. Foram dias e dias torturando-me enquanto esperava por sua volta, sentindo o resto de presença que minha casa ainda mantinha dele, até que não sobrou mais nada além do vazio.

Eu não sei dizer quando foi que me apaixonei por Jungkook, não tive consciência dos meus sentimentos até que ele se declarasse para mim naquelas mensagens. Também não sei explicar o que exatamente tivemos um com o outro; nós éramos apenas conhecidos, até que nos beijamos no dia de seu aniversário, depois disso suas vindas a minha casa tornaram-se comuns, ao ponto de conhecermos o corpo alheio mais do que conhecíamos a nós mesmos, para então finalmente gostarmos do outro com intensidade suficiente para que terminássemos dessa maneira.

Fui me recuperando aos poucos, permitindo que o tempo curasse meus machucados. Vez ou outra o mais novo aparece em minhas memórias, atormentando a sanidade que tento conservar, mas na maior parte do tempo mantenho-me ocupado, pensando o mínimo sobre qualquer coisa que não envolva o que eu esteja fazendo no momento.

Enganei-me ao pensar que as coisas permaneceriam calmas e que eu conseguiria esquece-lo tão facilmente. Seria impossível não encontra-lo em algum momento. Até que isso aconteceu.

Ele estava ainda mais bonito do que eu me lembrava, parecia ter crescido e amadurecido muito em tão pouco tempo. O cabelo que antes tinha uma coloração escura, agora está pintado em castanho claro. Seu olhar e expressão também mudaram, deixando um Jungkook inocente de lado, para dar lugar a alguém sério e centrado. Tenho certeza de que ele também podia notar minhas mudanças.

A cafeteria da faculdade estava incrivelmente lotada naquela manhã e facilmente poderíamos ter passado despercebidos um pelo outro. Mas, de alguma maneira ainda era como se fossemos atraídos feito imãs.

Eu não sou capaz de descrever a experiência que tive quando nossos olhares se cruzaram, foram as sensações mais clichês possíveis invadindo cada espaço do meu corpo e eu as odiava com força, porque me tornavam frágil novamente.

Jungkook parecia impassível em relação a mim e aquilo me machucava de uma maneira absurda. Cogitei me aproximar, correr para os seus braços e até mesmo ajoelhar sobre seus pés em um pedido de perdão; dizer pela primeira vez sobre o quanto eu o amo, sobre a falta que me faz e questionar porque ele havia feito isso comigo. Então ele se virou para a direção oposta a minha, tomando seu rumo para fora do estabelecimento.

 

Todas as minhas feridas, das quais acreditei terem sarado, foram reabertas. Passei novamente por cada etapa de esquecimento e recuperação. Eu me sentia como um viciado em drogas, e talvez eu fosse exatamente um. Jungkook era a minha droga e eu nunca me recuperaria dos efeitos que ele teve sobre minha vida.

Em cada uma das vezes em que pensei finalmente estar conseguindo seguir com a minha vida, existia uma recaída; uma nova checada em suas redes sociais, uma nova mensagem escrita (da qual era apagada logo em seguida) e uma nova olhada ao redor, procurando por Jeon.

Compus mais músicas sobre ele do que já havia composto sobre qualquer outra coisa durante todos os meus anos, escrevi textos melancólicos e passei a frequentar mais bares. Eu não entendia porque me sentia tão triste nem porque estava sendo tão difícil me recuperar. Até agora.

Meu celular apita por conta de um chamado no Skype e apesar de estar realmente surpreso por alguém ter decidido conversar de verdade comigo, nada se compara com o fato da pessoa ser o jovem Jeon Jungkook.

Eu entendi assim que vi seus olhos marejados de água logo no inicio da chamada , quando ouvi sua voz suave, eu entendi que estava sendo tão difícil porque o garoto fazia falta e porque eu o amava da forma mais pura e verdadeira que alguém pode amar.

“Hyung, eu estou com saudade! Você está livre agora?”

Eu não sei se ele me perdoou ou se quer apenas mais uma noite de diversão, mas corri para o seu encontro o mais rápido que meu corpo é capaz aguentar. Corri porque se eu tiver só mais uma chance de tê-lo em meus braços eu serei o homem mais grato desse mundo. Corri porque cada molécula do meu corpo implora para se encontrar novamente com as moléculas de Jungkook.

Eu não sei muito sobre as coisas que vêm acontecendo, mas eu tenho a certeza de quanto eu amo cada pedacinho do mais novo.

Eu estou feliz novamente.


Notas Finais


Se essa fic não tiver flopado totalmente e você chegou até aqui, muito obrigada mesmo!
É a primeira vez que eu posto uma one-shot (não é atoa que ficou enorme) e também alguma coisa sobre os meninos, então desculpa se ficou ruim ou se teve algum erro.
Qualquer crítica será bem vinda, então ficarei muito feliz se puderem comentar qualquer coisinha.
<3


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