História So Numb - A Família Perfeita

Depois de pegarmos no sono na banheira e os pais de Shawn adentrarem o banheiro, nossa posição, pouca roupa e meu sutiã cor de pele não ajudaram muito para dizer que estávamos realmente apenas abraçados na banheira com roupas íntimas.

A mãe do Shawn ficou extremamente empolgada por seu filho ter saído da inércia do amor, e provar que não é gay, o que eu achei estranho, em minha imaginação, Shawn saía com várias garotas e nunca passava um fim de semana sozinho na cama. No entanto, eu fiquei muito feliz em saber que sou a primeira “namorada” do Shawn, se é que posso chamar o que estamos tendo de namoro.

Ela me convenceu a almoçar com a família Mendes, a mãe, o pai e a irmã de Shawn, foi legal ver como ele se comporta perto da família, que claramente o ama muito. Os pais dele, mesmo com o que ele tinha me falado sobre um possível divórcio, se tratam tão bem, vivem em uníssono, não dá nem para entender o motivo de eles estarem se separando.

Meus pais, antes de se separarem, estavam insuportáveis, não tanto como hoje em dia, mas era terrível almoçar, jantar, ver TV ou fazer qualquer coisa naquela casa perto deles. Eu tinha 8 e Dakota 14. Aquilo me incomodava, realmente, mas eu era nova demais para entender. No entanto, Dakota estava em sua adolescência, teve seu desenvolvimento no meio de brigas, talvez isso tenha a feito tão ranzinza hoje... Pois, naquela época, nós éramos unidas, éramos nós duas contra o mundo.

Shawn fazia careta e abria a boca cheia de batatas recheadas mastigadas e mostrava para Aaliyah, que ria e fazia o mesmo, mas ela não era tão nojenta quanto Shawn. Os pais deles riam ao mesmo tempo em que pediam para parar, pois senão eu não iria querer voltar ali para almoçar “no meio de dois porcos”, como ela disse.  No início eu estava um pouco (pra caralho) envergonhada, pela forma que nos conhecemos. Mas logo, me senti confortável, almoçando batatas recheadas com uma família legal e usando as menores roupas que havia no guarda-roupa de Shawn, amarrotadas por estarem ao fundo do armário.

Naquele momento, eu daria tudo para ser parte daquela família, mesmo que sacrificasse um relacionamento. Eu sempre vi filmes cenas entre famílias que, como não via acontecer em minha casa, achava que não aconteciam em nenhum lugar, que era apenas teatro mesmo. Mas existe, e acho que existe em todas as casas normais. Sobre aquela mesa, sobre as piadas e risadas, sobre os leves sermões e palavras ditas, havia algo muito forte pairando sobre cada um. Amor.

A mãe de Shawn fez questão de me levar para casa, embora eu tenha agradecido e negado. Ao que parecia, ela gostou de mim. No entanto, o que eu não queria que acontecesse, aconteceu.

Minha mãe abriu a porta com a mesma cara carrancuda de sempre, Karen, a mãe do Shawn, saiu do carro, logo depois de mim e Shawn , que sentimos uma vergonha alheia em uníssono, provavelmente ele leu minha expressão de: “puta que pariu minha mãe achava que eu fui dormir na casa da Isabelle”.

- Relaxa. – Ele sussurrou no meu ouvido, fazendo com que a brisa vinda de sua boca levantasse alguns fios de cabelo. Olhei para ele e fiquei tão excitada com aquela voz sexy sussurrada no meu ouvido que me esqueci da porra toda que acontecia ali.

- Ué... – Disse minha mãe descendo as escadas e indo ao quintal, olhei para ela e ela estava com uma cara tão fechada que eu senti a dor de uma chinelada na bunda na hora.

- Oie! Eu sou a Karen, a mãe do Shawn... - Apresentou-se, muito simpática estendendo a mão para minha mãe, que a cumprimentou. – Sua filha é um amor! Eles ficam muito bem juntos, super apoio! – Exclamou. Shawn de uma risadinha, acenando para minha mãe enquanto tinha seu rosto corado.

- Ah sim, fiquei sabendo desse garoto. Mas... Vocês estavam aonde? – Perguntou minha mãe, Karen meneou a cabeça para o lado, sem entender.

- Shawn chamou a gente pra jogar videogame de manhã, a gente foi e almoçou lá, o pai da Isabelle foi busca-la lá! – Tentei parecer o menos nervosa/tendo um ataque de nervos/sentindo meu corpo entrar em pane de novo possível. Karen me olhou confusa, dei um sorrisinho do tipo “socorro”.

- Podia ter me ligado, Dakota de mandou várias mensagens e você nem recebeu...

- Acabou a bateria do celular. – Azar, é uma coisa tensa. Muito tensa, no mesmo momento que eu disse isso, o meu celular ativou o Wi-fi de casa e soltou o som de várias mensagens sendo recebidas do WhatsApp.

- Ata. Para dentro. Agora. – Disse minha mãe.

Karen deu uma aliviada no assunto:

- Adolescentes e seus celulares! Aparelhos tão tecnológicos!

- Verdade, na minha época não tinha isso...

- Pra falar com o amado era por carta.

- Ou ir na casa mesmo né hi hi hi.

Minha mãe e Karen conversavam como duas velhas. Karen é demais, minha mãe não fala nem com a mãe de Isabelle, pois por causa das mentiras de Dakota, ela pensa que Isabelle é lésbica e fica possessa que a mãe dela aceite isso, acha uma baixaria e não fala com ela. Cabeça fechada...

Aquela conversa deu tempo de Shawn dizer que tinha que pegar minha bolsa no porta-malas. Eu nem tinha levado nada. Era só para ir para o outro lado do carro e me agarrar mesmo.

- Vou ir para a praia segunda com os caras... – Os caras são: Nash, Cameron e uns dois outros que eu não lembro o nome. – É só por uma semana, eu ia te convidar para ir... Você iria?

- Eu queria. – Dei um suspiro. – Queria mesmo, mas... Acho que depois de hoje não vai rolar... -Na verdade nem iria antes.

Shawn fez uma cara de desapontamento que cortou meu coração.

- Entenda que, não é por mim... Meus pais são malucos. Vou ter que ir para a casa do meu pai na quarta-feira, até sexta ou sábado. Minha mãe vai pra não sei aonde.

- Tudo bem... A gente se despede amanhã?

Ai meu coração parte 2.

- Ihhh... Domingo é dia de ir até a casa da minha tia e ver como a vida dela é boa e ficar triste. - Ele fez outra cara de cortar o coração.

- Vou uma semana, mas em julho vamos ir de novo para a praia... São só 4 dias, tenta ir... Por favor, ia ser tão legal passar o verão na praia contigo. – Shawn colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e desceu sua mão, segurando meu queixo.

- Vou fugir de casa mesmo. – brinquei.

- Tipo Rapunzel.

- Mas ela morava numa torre e...

- Shh. Errei a história.

Selamos nossos lábios por um tempo, eu meio que me desliguei de tudo, e nem me toquei que Karen e minha mãe pararam de conversar. Percebi uns minutos depois, quando Shawn já estava me prensando contra o carro e chupando meu pescoço. Minha mãe pigarreou.

- Opa achei seu colar! – Disse Shawn, disfarçando, como se não desse pra ver que estávamos nos engolindo.

- Até mais, mané... – Sorri.

- Té mais, Amorazinha. Fica bem, se te der aqueles trecos de novo, vai para o médico. Ou invade minha casa e rouba minha banheira eu não me importo.

- Tá bem, já roubei e você nem se ligou. – Rimos.

Fui correndo até minha mãe, me despedi de Karen e observamos os dois entrarem no carro branco e irem para casa.

- Pelo menos não é um marginal. – Disse minha mãe, dando de ombros para mim.

- Posso ir para a praia com ele então?

- Pode

- QUE? SÉRIO? – Corri até ela, enquanto a mesma fechava a porta.

- Não. Vai lavar a louça.

A vontade que eu tive foi de mandar tomar no olho daquele lugar. Querer não é poder, meus caros... Fui é fumar uns cigarros.