História So Numb - "Bon Voyage"

Pela segunda de manhã, minha mãe estava surtando em silêncio pois estava sem cigarros. Ela nem se lembrava de que dividiu um maço todo comigo, ela fumou a maioria, juro. Assim como não se lembrava da vodca, que eu tomei moderadamente, e ela, por outro lado, estava de ressaca visível.

Estava feliz, pude provar uns bons Gold Flakes e tá tudo bem, porque foi como se não tivesse acontecido.

Mamãe e Dakota saíram para trabalhar em suas vidas chatas e eu fiquei sozinha. Havia acordado cedo, pois Shawn viria hoje, por volta das 9h.

Eram 10 horas e eu estava caminhando pela sala, eu estava louca para abraça-lo, principalmente por ele ter dito que me amava. Alguém me ama nesse mundo!

Passada mais meia hora, meu celular tocou. Era ele, dizendo que ia ficar até quinta na praia, pois estava chovendo e ia ser ruim para voltar (isso era só desculpa para não ter que dizer para a própria namorada que ele tá feliz na praia com várias garotas de biquíni) “Tudo bem”, eu disse. Tudo mal, estava.

Eu estou ficando descontrolada com meu vício na nicotina, naquela tarde de segunda, assim como a tarde de terça, e de quarta, eu fumei três fodidas cartelas de cigarro. Uma por dia, isso é muito, eu mal chegava a quatro cigarros por dia. Puta merda. Eu já até havia feito amizade com a vendedora da loja do posto no fim da rua, eu pagava no caixa e ela colocava dois maços sob uma barra de chocolate para as câmeras não captarem a venda ilegal que ela fazia ali.

Na quarta de manhã, ela até passou seu intervalo comigo em frente ao posto, fumando seu maço de Lucky Strike azul, cujo provei um e odiei em função do tabaco torrado.

Decidi não ligar mais para o meu regime, já que pelo menos eu estava tomando remédio, devorei um hambúrguer do tamanho da minha cara, cujo chamei por tele entrega. Valeu lanchonetes, vocês são demais!

Era quinta-feira, faltava um dia para o meu aniversário e Shawn chegava hoje de viagem. Ele me mandou mensagem, avisando que chegaria ao fim da tarde e que era para eu passar na casa dele, pois o pessoal ia estar lá. Ah, vá se foder, eu queria passar um tempo a sós com o meu namorado, eu nem iria fumar hoje, já que ele nem sabe sobre isso, mas perdi o interesse em vê-lo hoje. Então fui até o mercadinho do fim da rua encontrar com Kaya, a vendedora, em seu intervalo.

- Seu namorado te deu um bolo um dia antes do seu aniversário? Que babaca. – Disse ela, após eu contar a história. – Você não tem medo de sei lá... Ele ficar com a garota solteira que tá junto com ele lá?

- Um pouco. Ele é o primeiro garoto com quem eu saio... E tal.

- Ai, sério? Mas tipo, você já ficou com outros né?

- Não...

- Mas... Perdeu o BV com ele? Tipo, esse ano? – Perguntou ela.

- É, pois é...

- Caralho! – Kaya deu uma tragada enquanto ria. – Isso é muito irônico, uma garota bonita como você, deve dar muitos foras nos garotos.

- Não... Eu sou um pouco invisível na escola. E em todo lugar...

- Parece que eu te conheço mais do que o seu namorado... Ele sabe que você fuma?

- Não. Eu sempre uso spray de menta e perfume, e fumo ao ar livre se eu vou sair depois.

- Inteligente você... Mas uma hora ou outra ele vai descobrir.

- Ah... Dane-se né?

Kaya riu.

- Olha, já que seu namorado está ocupado fazendo uma festa com seus amigos legais...Vai rolar uma festa hoje... É em uma boate aqui perto, quer ir? – Perguntou ela.

- Menor de idade entra?

- Comigo entra, o dono do lugar é meu ex, mas às vezes a gente se pega. Vamos, vai ser legal, começa às 22h e vai até o dia raiar. Vamos celebrar as primeiras horas do seu aniversário fritando na pista de dança!

- Então bora. Te encontro a noite.

- Isso. Pega meu número. – Kaya adicionou seu contato em meu celular, fiz o mesmo e fui para casa.

Shawn não me mandou nenhuma mensagem depois daquela, então não mandei nada também. Eu estava um pouco triste por ele optar outras companhias à ficar comigo. Mas, por outro lado, ele precisa sair com os amigos, e ter essa vida livre... Mas, ele bebeu na festa, sabe-se lá o que ele fez bêbado...

Pela noite, me arrumei e ia dizer para minha mãe que eu ia para Isabelle, mas nem ela e nem Dakota estavam em casa, havia um recado sobre a mesa, dizendo que elas iam à casa da minha tia, tinha jantar na geladeira e tal. Caso elas chegassem antes, escrevi um papel dizendo que ia a uma festa com Isabelle. Liguei para ela, caso minha mãe ligasse para ela, para avisar que estávamos juntas em uma festa. Ela concordou de boa.

 Kaya estava ao lado de fora com seu carro velho e sujo, mas que andava. Ali dentro havia mais duas garotas. Uma com o cabelo de duas cores, separadas na metade da cabeça, de um lado, preto, de outro, rosa. Ela apresentou-se como Melanie. Ao seu lado, uma garota com os cabelos curtos, quase totalmente raspados, seu rosto era tão bonito que ela nem precisava de cabelos para destaca-la.  Apresentou-se como Halsey.

- Bem vindo ao clube das incompreendidas. – Disse Kaya, quando eu adentrei o carro.

Senti-me muito integrada, as duas garotas acompanhavam meu estilo, e isso era muito legal, fora nossas conversas que eram alinhadas e nunca faltava assunto.

Passamos pela casa do Shawn, onde estava com bastante movimento, mas ele não havia me mandado nenhuma mensagem, pelo visto eu não estava fazendo falta.

Fomos cantando várias músicas empolgadas no carro, Halsey contornou seu braço sobre meu ombro e começou a balançar-se, ela me encarava freneticamente. Mas eu estava cantando a música, e me balançando junto com ela.

Chegamos na tal boate, Kaya, Melanie e Halsey tem 22, elas são cinco anos mais velha que eu, mas elas são muito legais. Na porta da boate, o guarda parou a gente, por minha cara de criança aparente. Kaya cochichou algo no ouvido o guarda e ele me encarou, sorri para ele e então o mesmo nos deixou entrar.

Dançamos pra caramba, a música nostálgica entrava em nossos ouvidos, nos fazendo balançar os quadris e soltar os braços para o alto. Eu estava realmente animada. Quando meu celular vibrou duas vezes no bolso do meu short.

Parei de dançar e peguei o mesmo. Shawn havia me mandado 2 mensagens. Só 2.

“Cheguei de viagem louco para te ver, esperei você chegar e nada, fui até sua casa e sua irmã me avisou que você havia ido para uma festa, mas vi Isabelle sozinha no mercado do posto comprando pizza congelada, você não fez esforços para me ver e nem sequer me avisar. Não precisava mentir Elle.” Dizia a primeira mensagem.

A segunda, era uma foto dele abraçando a tal garota loira da praia, atrás, todo mundo da praia. E abaixo da foto dizia “Bon Voyage”.

Eu senti meu interior se destruir em pedaços. Melanie, Halsey e Kaya me olhavam assustada.

- Tá tudo bem? – perguntou Halsey.

- Vamos fumar! – Exclamei.

- Não dá para fumar aqui dentro, mas tem algo melhor, se quiser. – Disse Melanie, mostrando-me um quadradinho de papel. – É LSD.

Peguei de sua mão e coloquei na língua. Tudo ficou embargado e aquela era a melhor sensação do mundo todo. Voltamos a dançar freneticamente.

Entre danças e tropeços, eu juro, juro que vi Evan vindo à minha direção. Tudo foi ficando mais embargado, e eu só me lembro de cair sobre os braços de alguém.