Era sexta-feira. Meus dias se baseiam em dormir demais, enquanto o sol bate na janela, quase a incinerando com seu forte calor. E, passar a noite admirando o brilho das estrelas, esperando uma visita de Shawn, querendo me ver, que nunca chega. Ele me prometeu o mundo, mas que mundo? Se o meu mundo é ele, e eu nem posso vive-lo.
Chorar virou algo tão comum para mim, que acho que posso chorar a hora que quiser. Não é mais preciso nem sequer música triste para me desmoronar.
- E minha vida é uma merda mesmo, mas fui eu que a tornei uma merda, e não outras pessoas. – Disse Chandler, finalizando seu momento de fala, não prestei atenção no resto que ele falava.
- Para mim não. Meus pais me odeiam, tipo, nossa. Tipo, muito. – Citou uma garota muito bonita, com os olhos verdes e o cabelo escuro com mechas loiras, nada nela dizia que ela era viciada em qualquer tipo de droga. – Eu nem sei porque, cara, eu era uma filha tipo, nossa, perfeita! Ai de repente... Nossa sou odiada.
- As pessoas não mudam de opinião sem motivo. – Comentei, um tanto irritada com aquela garota, ela sim parecia que se drogava para irritar a alguém e não para qualquer motivo próprio.
Aquela reunião foi um tédio. Todos estavam falando sobre suas vidas serem um lixo. Já não basta eu saber isso por mim mesma? Eu acho tão ridículo esses grupos, pois... O que vai ajudar falar para os outros sobre nossos problemas?
Ao fim, novamente Chandler me abraçou com uma força exagerada, e sussurrou algo no meu ouvido, fazendo-me arrepiar a nuca:
- Desculpa por aquele dia.
Respondi com um “Ok” baixo.
Saí de lá e fui sentar um banco, ao lado externo. De repente, me bateu uma saudade muito grande de Shawn, eu precisava muito ouvir a voz dele. Usei um telefone orelhão que havia do lado de fora do hospital. Gastei meus trocados para ligar para ele.
- Oi! – Exclamei, tão feliz por ele ter atendido a ligação de um número desconhecido. – Que saudade de você, eu preciso tanto, tanto, tanto falar contigo, não sabe a falta que faz!
- Hm... Quem é? – Perguntou ele do outro lado, doeu um pouquinho saber que ele não reconhecia minha voz.
- Sou eu Shawn. Elle.
- Ahhhh, oi meu bem... Como você está?
Mal.
- É, bem.
- Ah, que bom né?
Então, um silêncio tomou conta da ligação. E de repente, deu para ouvir vozes de fundo, gritando algo como: “Vem logo, Shawn!”, e coisas do gênero.
- Tá sozinho? – Perguntei.
- Hm, estou, e você está em casa? – Ele cortou minha pergunta.
- Não. Estou em um hospital psiquiátrico.
- Que piadista você.
- Eu estou falando sério.
- Tá bom. Hã, eu estou com coisas para fazer amor, se você quiser a gente se fala depois...
- Eu estou gastando meus últimos trocados em um orelhão do hospital psiquiátrico para falar com você e recebo de volta um tratamento rude. Que legal da sua parte! – Exclamei, um tanto enfurecida por ele estar falando com tanta falta de vontade comigo.
- Desculpa, Elle. Eu realmente tenho coisas para fazer.
Bati o telefone no gancho com força. Enquanto derramava umas lágrimas. Recostei a cabeça no telefone e bati minha testa contra o material duro. Uma, duas, três. E de repente, uma mão macia fez com que amortecesse a batida.
- Não desconte a raiva no orelhão, desconte no seu namorado. – Disse Chandler, colando seu rosto de lado ao telefone também, ficando próximo à mim.
- Eu queria...
- Então bate em mim. – Citou ele, mordendo o lábio inferior. – Eu gosto de sadomasoquismo.
- Mas o que diabos você tá falando? – Indaguei, confusa e com vontade de rir.
- Ué, não vai me bater? Estou aqui esperando você aparecer com um chicote.
- O que? – Comecei a rir.
- Cuidado, vou estapear sua bunda até tatuar a marca da minha mão.
- Você é fodido da cabeça, garoto.
- As melhores pessoas são fodidas. – Disse ele, sorrindo de lado.
- Cadê seu piercing? – Questionei, percebendo a falta do pedaço de metal em formato de ferradura em seu septo.
- Eu tiro às vezes. Por quê? Com ele é mais evidente que sou um sadomasoquista? – Chandler dava leves sorrisos do qual eu não conseguia decifrar.
- Claramente. Quando eu vi você com aquele piercing eu pensei: nossa, eu vou manter a minha bunda bem longe desse sadomasoquista.
- Bom pensamento. Tenha medo de mim mesmo. – Riu ele.
Sua mão invadiu meu rosto e secou a lágrima que escorria, do qual eu nem lembrava-me mais.
- Nunca desperdice água do seu corpo por alguém que é feito de fogo. Deixe que ele se apague sozinho. Senão, você pode se desidratar de graça. – Dizendo essas palavras, sua mão quente se afastou do meu rosto e ele pegou seu celular do bolso. – Minha mãe tá aqui. Até mais.
Seus lábios tocaram minha bochecha, e seus passos andaram tão rápido até o estacionamento de trás que eu nem tive tempo de dizer “tchau, até mais”. Sentei na calçada e fiquei ali, olhando para o chão, e para as formiguinhas que ali passavam, com suas vidas monótonas, repletas de monotonia.
Depois de uns 30 minutos meu pai chegou, dessa vez, ele desceu junto comigo de casa.
- Vai fazer o que aqui? – Perguntei.
- Preciso falar com sua mãe e sua irmã.
- Tá.
Não tinha ninguém em casa, então ele disse que voltava depois. E, para minha felicidade, não trancou a porta.
HEHEHE
Eu corri até a mesma assim que o carro deixou as proximidades, fui correndo igual uma louca até a casa do Shawn. Toquei sua campainha e aguardei com um sorriso enorme no rosto, nem liguei para o que ele havia dito antes, sobre estar ocupado.
- Oi! – Saudou Aaliyah, a irmã mais nova dele, que atendeu a porta com um vestido de praia e uma toalha no pescoço.
- Oi! Seu irmão tá por aí? – Indaguei.
- Tá sim, pode entrar... Ei, você não tá com calor com essa roupa? – Perguntou ela, referindo-se à minha calça preta e casaco preto.
- Meu corpo é frio!
- Como o de um vampiro?
- Isso mesmo!
Ela disse que ele estava no pátio, então fui andando até lá, o som de vozes e risadas foi aumentando, e comecei a ficar tensa. Até que abri a porta dos fundos, que dava acesso ao pátio. Passei pela varanda, e logo vi a piscina de Shawn.
Estava ele e seus amigos e amigas na piscina, brincando e se divertindo, dando risadas enquanto se refrescavam na água. A mãe de Shawn estava sentada em uma cadeira na varanda.
- Ah oi querida! – Exclamou ela, levantando-se e me cumprimentado, fazendo com que todos da piscina se virassem para mim. A expressão de Shawn, não foi nada positiva em me ver. – Você melhorou da gripe?
- Gripe? Que gripe?
- Shawn disse que você não podia vir pois estava gripada. Duas semanas mal! Foi um resfriado daqueles! – Disse ela, meu coração doeu.
- O que? – dei uma risada irônica e olhei para Shawn. – O tempo que eu passei pensando, as noites que eu não dormi, esperando que a saudade lhe transbordasse como estava me transbordando e fosse me ver... Os tempos de tortura que venho passando. Enquanto eu dou um jeito de gastar meus trocados que eu poderia usar com outra coisa, para falar com você, no orelhão do hospital psiquiátrico, o tempo que você me disse que estava ocupado. – Deixei uma lágrima escorrer, uma dolorosa. – O tempo que você me tomou.
- Hospital psiquiátrico? – Instigou Cameron de dentro da piscina.
- Eu faço meu impossível para ter o mundo que você me prometeu, do qual você faz questão de piora-lo. Cara. Você podia apenas ser sincero comigo? “Não, eu não quero falar com você, pois eu tenho que me divertir com outras garotas.”, podia ter dito isso. Ainda bem que nunca começamos esse relacionamento de merda.
- Calma, Elle. Calma. Queria que eu dissesse o que? Que você não pode vir até minha casa pois está de castigo por se drogar em uma festa? Se tivesse passado aquela noite comigo, não estaria mal agora. – Disse ele, saindo da piscina, sua mãe me olhava surpresa e confusa. “drogas, como assim meu Deus?” era tipo isso.
- Queria. Queria que você estivesse comigo quando eu preciso. Sabe tudo da minha vida, tanto que sabe como e quando eu vou desabar. E o que você faz? Você fica longe.
- Não é verdade. No que eu posso te ajudar, Elle? Você fuma por que quer. Eu não enfiei drogas dentro de você.
- Enfiou um sentimento de merda que faz com que eu pense em você mais do que a mim. Que faz com que me importe com você mais do que tudo. Você me fez sentir em quase dois meses, o que eu nunca senti a minha vida toda. Largaria meus cigarros para ficar contigo. Mas você não largaria nada por mim. Assim como não faria esforços também. – Gritei, todo mundo ao meu redor estava percebendo a tensão, Shawn estava com o maxilar trincado, mas não dizia mais nada. – Vai se foder, imbecil.
Saí de sua casa correndo, sendo seguida por ele e por Karen somente até seu jardim, onde fui puxada para trás.
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