História So Numb - Por favor... Não

- Não! – Escutei a mesma voz que me estava lá da última vez. - Não vou te deixar fazer isso de novo.

Chandler puxou da minha mão o canivete, puxando meu corpo para cima, para si. Sujando suas roupas de sangue, o meu sangue. Eu não conseguia fazer nada direito. Eu era uma total fracassada.

- Meu Deus Elle! – Exclamou meu pai, adentrando o quarto. – Meu deus.

Ouvia Megan Chorando alto. Enquanto vi uma figura que eu não esperava ver. Shawn adentrou meu quarto com os olhos vermelhos.

- Deixa comigo. – Ele veio em minha direção, pegando-me no colo, tentei me espernear, mas eu não tinha força, meu corpo todo ardia quando eu era tocada. Chandler jogou um lençol por cima do meu corpo quase todo desnudo.

Eu me vi no colo da pessoa que no momento eu mais odiava. Ele descia as escadas rápido. Eu ouvia as coisas pela metade. Eu chorava como uma criança. Nem mais pela dor. E sim, por mais uma vez. Não ter cruzado a linha. Sempre acontecia, sempre havia o empecilho, e eu não aguentava mais. A única coisa certa que eu gostaria fazer na minha vida, e eu sempre era salva, mas eu nunca quis isso.

Em frente ao prédio, havia uma ambulância. Eu comecei a soluçar entre minhas lágrimas quando Shawn me largou naquela maca. Até uma agulha adentrar meu braço e então, eu apagar de vez.

[...]

Abri meus olhos. Piscando algumas vezes. Eu não sentia nada. Nada. Por um instante até pensei estar morta. Mas aí vi de novo aquela merda dentro da minha veia. E notei que, de novo, não havia deixado o plano natural do qual eu não aguentava mais.

Ouvi conversas ao fundo, então, apenas levei meus olhos até a fonte do barulho. Eles não percebiam que eu já estava acordada.

- Foi a segunda vez? – Perguntou Shawn.

- Terceira. – Disse meu pai. – Terceira. – Repetiu ele, colocando a mão no rosto.

- Meu Deus... – Shawn colocou uma das mãos nos olhos, secando as lágrimas que caíam.

- Não dá mais para deixa-la sozinha. – Disse Megan, chorando muito.

- Não adianta. Ela vai dar um jeito. Ela não quer mais estar aqui. – Falou Chandler. O único daquela roda que pelo jeito, de alguma forma, me entendia.

- Não fala isso, Chandler. Não fala isso! – Exclamou Megan, tornando a chorar.

- Eu não sabia que ela estava tão mal. – Afirmou Shawn.

- Claro, você estava ocupado com outras coisas. – Disse Chandler.

- Meu Deus, Robert. Ela precisa de ajuda. – Disse Megan, deixado sua voz falhar, ela estava em desespero.

- Sim. Acho que. Nós não podemos fazer mais nada. Já fizemos o que podíamos. – Suspirou meu pai.

Fechei os olhos lentamente, sentindo as lágrimas quentes descerem pelo meu rosto. Meu pai mal falava comigo... E isso foi o que ele podia fazer? Eu não aguentava mais. Dessa vez não aguentava mais nada. Soltei um suspiro arrastado.

- Acho que ela acordou. – Disse Chandler, vindo até mim. – É, ela acordou.

Meu pai saiu da sala, levando Megan e Shawn.

- Eu vou ficar. – Citou Chandler.

- Não. – meu pai o puxou para fora também.

Fiquei sozinha com meus pensamentos, levantei meu olhar para ver meu corpo. Eu estava toda suturada, cheia de fitas, de remendas, de curativos. Em alguns pontos era possível ver o sangue manchando o material do curativo. E, eu não me arrependia de ter feito isso. Eu me arrependia de não ter ido até o fim.

Fiquei por um bom tempo sozinha no quarto. Eu estava acordada, chorando. Pensando no que aconteceria. Vi ao lado de fora, pela pequena parcela de vidro na porta, meu pai estava no celular, ele estava com uma expressão séria, e com o cenho franzido, ele falava quase se lamentando ao telefone.

Soltei um suspiro arrastado. Quando de repente ouço a porta se abrir. Shawn a adentrou um pouco recluso.

- Me desculpe Elle. – Murmurou ele, com a voz falha enquanto deixava lágrimas escaparem. – Eu não percebi, e eu realmente me afastei. Desculpa-me.

- Você apostou o meu corpo. Você é um fodido. É mais fodido que eu.

- O que?

- Eu não fui nada para você.

- Não... Você foi a melhor coisa que eu já tive.

- Você sempre teve coisas melhores.

- Eu tinha medo.

- Medo do que?

- Aquele dia. Que eu te peguei com a bicicleta. Eu... Eu percebi que sabia muito. E não sabia nada sobre você. Acontece que... Eu sou um tolo. E eu sei disso. E, eu tinha certeza que não seria bom para você. Não com sua instabilidade emocional.

- Vai embora daqui.

Até que, dois homens com roupas brancas adentraram o quarto. Eu nem liguei, pois pensei serem dois médios. No entanto, atrás deles, veio então um médico, ele veio próximo e retirou todas as coisas ligadas em mim.

- Podem leva-la. – Disse ele. Vi meu pai na porta. Olhando tudo com sua mão na boca e uma expressão séria.

- O que? O que é isso? – Perguntei enquanto um dos caras pegava em meu braço. – Que porra é essa? Que porra é essa, pai? Que porra é essa?

- Você precisa de ajuda, filha. – Disse ele, lentamente. Aquelas palavras serviram de gatilho para que eu entendesse o que estava acontecendo. Só podia ser brincadeira. Só podia ser brincadeira.

Eu comecei a gritar da forma mais escandalosa que eu podia. Eu pedia ajuda, e, de uma tão idiota, pedia desculpa. Desculpa pelo que? Se eu só queria fazer o melhor para mim.

Gritava, sentindo minhas cordas vocais vibrarem. Mexia meus braços e pernas violentamente, tentava impulsionar meu corpo para longe.

Eu vi Megan, meu pai, Chandler e Shawn, Passei por eles, sendo segurada por dois homens. O único que tentava tomar atitude era Chandler, que era segurado pelo meu pai. Eu gastava minha voz cada vez mais, atingindo altos pontos vocais, sentindo minha garganta vibrar e meu corpo estremecer.

Eu estava tremendo, ao ver a minha “família” ao longe, me entregando na mão do que eles achavam ser a única saída.

Clamava por piedade. Clamava pela morte. Que levassem meu corpo de vez, mas que não me fizessem de prisioneira de mim mesma.

Senti uma forte ferroada em meu braço. E meu corpo foi ficando fraco, vi um paramédico retirando a agulha. Meu corpo foi caindo, eu fui fraquejando. Ao passo que minha vista foi embargando, e aos poucos, minha mente foi desligando.

- Por... Favor... – Murmurei em busca de maiores tons de voz. – Não...