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História So Numb - Finale


Escrita por: Xmoniqu3

Notas do Autor


Olá. Bem vindos ao fim.

Capítulo 54 - Finale


Eram tantos comprimidos.

De tantos tipos.

Todos tão coloridos.

Tão convidativos.

Tão por mim, desejados.

Derrubei todos em uma pequena tigela. Separei um grande copo cheio de água gelada. Peguei meu diário de interno, o abri em frente ao chão, com uma caneta vermelha, nele escrevi:

“Não. Não peço desculpas. Pois não preciso fazê-lo. Cada um enxerga o que quer ver de qualquer coisa. Aquilo que um viu com pena, sendo a pior coisa do mundo, outro viu como fonte de força. Onde um viu dor, outro viu amor. E vice e versa.

Na verdade, eu só tenho a agradecer. A todo mundo que de alguma forma já apareceu em minha vida.

Simplesmente por ter tirado um pedaço de mim.

A cada pouco, eu fui me desfazendo.

Mas era disso que eu precisava.

Uns, são destinados à alegria de chegar ao fim de uma vida bem vivida, chegar ao fim triste por ter ali chego, por ansiar mais daquela vida plena. Outros, são destinados a uma curta vida, no entanto, intensa. O fim vem com êxito.

Já outros, são condenados à sentir a dor.

Mas todos, são destinados a encontrar seu entorpecente. Aquilo que ameniza a sua realidade e dá um fim às dores, a qualquer dor que seja.

Eu não encontrei o meu.

Obrigada, por me matarem aos poucos. Tanto, que eu tenha o prazer de morrer.”

Coloquei um vestido preto, o único vestido que eu ainda tinha. Que por sorte havia ido junto com a mudança. O guardava há tempos para uma ocasião especial. Essa era uma. Sem dúvida.

Soltei meus cabelos com tons desiguais, e um comprimento alto em função do tempo sem tocá-lo.

Adentrei a banheira, relaxando ali.

Um para dormir.

Um para me acalmar.

Um para a esquizofrenia.

Um para depressão.

Dois para dormir.

Um para energizar.

Três para me acalmar.

Dois para esquizofrenia.

Quatro para depressão.

Mais um para depressão.

Um copo de água.

Três para convulsão.

A seco.

Eles deslizam pela garganta, com mais rapidez que a porta se abre de repente. Agora já foi. Agora já era. Agora estou morta.

- NÃO! – teria meus olhos fechados, se não fosse o choque que levei ao ouvir a voz que tomou o ambiente. Aquela voz. A voz dele.

Em uma rapidez nervosa, seus braços estavam em meu corpo. Sua força me impulsionou para fora d’água. Sua mão segurou meu cabelo, e outra empurrou meu rosto até a privada, enfiando dois dedos em minha boca. Um de seus dedos, pressionou o fundo da minha língua, fazendo tudo, tudo voltar.

Todos os comprimidos voltaram inteiros, nem sequer foram deteriorados pelo ácido estomacal, que quando lhe era necessário, não cumpriu com sua tarefa.

- Você estragou tudo. – murmurei. Ainda enjoada.

- Eu sei. É só o que eu faço.

Aquilo só podia ser um delírio dos remédios...

Mas não era.

- Eu preciso que você me escute. – não respondi. – Eu não consigo. Eu não consigo ir embora. Eu tento. Mas... Eu não consigo ir. Por que eu sempre penso em você, toda hora, todo tempo.

- Não me vem com essa. Eu não ligo. Não me importa mais.

- Eu sei que você pensa, que não sente mais nada, e que sua vida não tem mais sentido.

- Não tem mesmo.

- Mas pode ter. Assim como a minha também pode ter. Assim como nós. Ainda podemos ser “nós”.

- Você foi embora. Eu precisava de você. - ali então, dei-me conta. De que era real. Sempre que eu tentava ir embora, ali estava ele. Chandler.

Não era delírio, não era imaginação, não era sonho nem pesadelo. Era a realidade.

- Eu não sabia. – disse ele.

- Cala a merda dessa boca.

- Eu não sabia como ter você. Como te manter sólida, se eu estava derretendo.

- Não me interessa. – Rastejei até a porta, mas, sua mão pegou meu braço, puxando-me para perto, pegando meu rosto com sua outra mão, tendo entre seus dedos, minhas bochechas.

- Eu sou um assassino. Eu sou um louco. Eu sou drogado. E você... Você é a melhor coisa que poderia acontecer com alguém.

- Como consegue? Aparecer toda vez que eu tento partir...?

- Por que você não pode fazer isso sozinha.

- O que?

- Eu não consigo ir embora. Porque eu te amo. E você não consegue melhorar, porque me ama também. Esse amor nos faz mal, e é isso que nos mantém tão... Errados no mundo.

- O que diabos você tá falando?

- Nós somos uma melodia que não se encaixa em nenhuma letra. Somos uma chuva de pedra que não tem fim. Nós somos o fogo que nada queima e a água que nada molha. Nós somos o fim do mundo. Mas só o somos, quando estamos juntos. Separados, somos só dois merdinhas problemáticos. – dizia Chandler. Ele pegou meu diário. – Eu, te agradeço por ter me dado o prazer de ter um pedaço de você...

Ele segurou uma de minhas mãos e a beijou, com lágrimas em seus olhos.

- Eu te amo, Elle. Eu tive que te machucar para perceber, tive que me machucar pra saber. Por que é isso que esse amor faz, ele nos machuca. Machuca à nós dois. Mas... É disso que a gente gosta. Pois... – ele voltou a ler o que eu havia escrito. Então, olhou em meus olhos. – Alguns estão condenados a sentir a dor.

- Por quê...? – Eu tinha um milhão de perguntas para fazer. Um milhão de coisas para entender.

- Não... Eu não posso responder suas perguntas, eu não posso responder nada. – Chandler olhou para os comprimidos que ainda restavam na tigela, pegando-a. – Eu não aguento mais. Eu sou um fracassado da porra, e eu não consigo me consertar. Eu não posso e não consigo melhorar.

- Chandler...

- Eu sei que é isso que você quer. – Ele pegou um dos comprimidos. – Mas, eu não vou suportar te ver em um caixão. Eu não vou suportar te ver morrer.

- Chandler... – peguei em sua mão, tentando afastar aquele comprimido de sua face.

- A menos, que eu morra junto.

- Para com isso, larga essa merda, Chandler.

- Só me prometa, que vai dar um jeito de burlar as regras lá de cima, e vai descer pra me ver.  Anjos e demônios não vão para os mesmos lugares... – Ele estava prestes a colocar o remédio na boca. – Eu te amo tanto...

Pulei em cima de seu corpo, vendo o comprimido ir para longe. O abracei com toda minha força, tendo o mesmo retorno, deixamos enfim nossas dores se misturarem. O banheiro soava alto, nossos gritos de dor. Chorávamos juntos.

- Você é o meu anjo, Chandler... – Segurei seu rosto. – Não importa nenhuma merda que você tenha feito. Não importa qualquer trauma que você tenha, ou qualquer mania. Eu te amo. Do jeito que você é. Violento. Louco... Nem os anjos são perfeitos, amor.

Chandler me abraçou e deixou meu rosto sobre seu peito.

- Me prometa. Uma coisa. – murmurou ele, entre o som de nossos suspiros repletos de lágrimas.

- Qualquer coisa.

- Quando chegar a hora. A gente vai ir. Sem dar adeus a ninguém. Só eu e você. – eu sabia o que ele queria dizer. Eu sabia ao que ele se referia. Eu sabia a resposta.

- Com você... Eu vou para qualquer lugar. Qualquer mesmo. – disse.

- Nós somos muito fodidos, Elle. – Chandler murmurou por fim.

- Somos... – sussurrei, dando, pela primeira vez, um sorriso de verdade.



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