História So Numb - Arrepio

A casa dele era próxima à escola, então fomos caminhando, achei que seria tenso, mas de repente, do nada mesmo, perdi a vergonha e timidez que irradiava meu rosto no início da nossa conversa, e da mesma forma imediata que tal aconteceu, meu dia ficou mais animado e meu humor subiu erraticamente.

De repente andávamos, ríamos, conversávamos como dois garotos, e nada além disso. Nunca tive uma amizade mais intensa com um garoto, mas sempre foi uma curiosidade, pelo fato de eles serem mais próximos ao meu universo, não que eu goste de garotas, é que eu tenho um espirito meio velho e masculino.

Logo chegamos em sua casa, enquanto ele girava a chave na tranca da porta, soltei minha mochila no sofá e o segui até a cozinha, achando que ia encontrar sua família almoçando.

- O que quer para comer? Ah, olha, uma pizza! – Disse ele, abrindo o forno.

- Você tá sozinho em casa? – Perguntei.

- Estou, meus pais estão trabalhando e a escola da minha irmã funciona em turno integral. Ei, essa pizza está boa, quer uma fatia? – Ele deu uma mordida em um pedaço enquanto tinha em seus braços a caixa da mesma.

- Quero sim. – apoiei-me na bancada. – Qual o sabor?

- Vegetariana, a melhor pizza ever. – Exclamou, fazendo uma expressão vitoriosa.

- É meu sabor preferido, tá me zoando, é o seu também? – Sorri.

- É sim. – Ele riu também, enquanto levava duas fatias de pizza até o micro-ondas. Enquanto as mesmas aqueciam, ele caminhou até a geladeira. – Você toma Coca né? É que, tem umas garotas que fazem dieta, tipo, não que você precise, é que você é magra, pensei que, ah, desculpe, eu sou muito trouxa às vezes!

- Calma! – Dei uma risada – Não faço dieta, é que têm umas coisas que me impedem engordar. E eu tomo Coca sim!

- Beleza! – Ele pegou duas latinhas e colocou-as na bancada em que eu estava apoiada. – O que te impede de engordar? Exercícios, ou genética mesmo?

- Nenhum dos dois, anemia, e minha falta de vontade de trata-la. – Respondi.

- Ah. Desculpe-me preguntar...

- Imagine, tranquilo falar sobre isso. – Sorri, fazendo-o sorrir de volta.

- Essa latinha está um pouco estranha. – Disse Shawn, olhando para a latinha de coca, que tinha uma elevação circular perto do lacre. – nada que eu não possa resolver.

Dei uma risada e peguei a outra latinha para avaliar. Estávamos praticamente colados, Shawn foi abrir sua latinha, e a mesma explodiu ao ter seu lacre tirado. Voou refrigerante para a roupa e cabelo dele, e para minha blusa também. Eu dei uma risada alta com a situação.

- Holy shit! (puta merda) – Exclamou ele, afastando-se um pouco e tirando sua camiseta, revelando seu físico, que não deixava a desejar.

Era a primeira vez que eu via um garoto sem camisa assim, ao vivo, foi natural ficar observando as linhas e entrelinhas que existiam em seu abdome, tanto que eu me esqueci de que estava toda melada de refrigerante. Shawn soltou sua camisa no chão e ficou me observando também, ele colocou sua mão em meu queixo, e levantou meu rosto até ficar na direção do seu. Nossos rostos se aproximavam, mas o micro-ondas acionou seu som, avisando que a pizza estava pronta.

Ele correu para abrir e pegar os dois pedaços, entregando um para mim, apenas enrolado em um guardanapo. Comemos rapidamente, em pé mesmo, apenas apoiados na bancada, sem falar nada, ou sequer se entreolhar.

Terminamos de comer mais ou menos ao mesmo tempo, então bebi meu refrigerante, e ele ficou de lado, me observando. Acabei dando risada e quase cuspindo todo o líquido.

- Opa, só não baba. – brincou ele, colocando-se a minha frente, pegando a latinha da minha mão e bebendo um gole. Como estávamos cara a cara, fiquei olhando-o beber o refrigerante.

Do nada, enquanto ainda bebia Coca, ele levou uma de suas mãos até minha cintura, e me segurou, por impulso, segurei seu braço, ele largou a latinha na bancada atrás de mim, e colocou sua mão agora livre, também em minha cintura. Curvou um pouco a cabeça para o lado e me olhou sorrindo, e então se aproximou, depositando um beijo demorado em minha testa, depois, em minha maçã do rosto, desceu até minha bochecha, chegou perto da orelha, foi até meu maxilar, e novamente na bochecha, agora, bem perto da boca.

Fiquei nervosa, e o pausei quando ele ia tocar minha boca.

- Ei. – Disse, fazendo-o se afastar para me olhar, porém, Shawn é bem mais alto que eu, estávamos próximos demais, então, sua forma de curvar-se, não foi nada favorável para mim, ele levou sua clavícula para trás, deixando seu tronco em diagonal, tocando o centro entre suas coxas em mim. Tocando de verdade. E estava tenso o negócio ali. – Nossa.

- O que foi?

- É que, bem, isso é meio estranho... Eu meio que...

- Nunca beijou? – perguntou ele, meio assustado.

- É.

- Sério?

- Sim... – Abaixei o olhar.

- Eu não sabia... Desculpe.

Nos afastamos e lavamos o que tinha de louça para lavar. Demorou mais de meia hora para as coisas voltarem de fato ao normal entre nós.

O resto da tarde foi normal, era estranho ter outro amigo além de Isabelle, era estranho estar perto de alguém diferente, uma amizade nova. Mas ao mesmo tempo em que era tudo tão estranho, era muito legal.

Shawn de repente abriu um laço de confiança comigo, contando detalhes de sua vida, das brigas de seus pais e o medo que tinha da separação deles, por causa de sua irmã mais nova Aaliyah, que não entendia muito bem o que estava acontecendo, seu apego com a família e seu pai principalmente, contou seus sonhos de carreira, que envolvem a música, e como ele gostaria de ser conhecido pelo mundo. Ele mostrou-me músicas que havia escrito, letras profundas e bonitas.

O dia passou voando mais rápido do que eu imaginava, já eram 18h e 45min, e eu havia combinado de estar às 17h em casa, estava sentada no sofá da sala, junto com Shawn, conversando e jogando papo furado, estávamos rindo de uma piada idiota que eu tentei contar, ao pararmos de ir, enquanto a respiração ia se regulando, ele pairou sua mão sobre minha coxa, coberta pelo tecido da calça jeans. Ele ainda estava sem camisa.

Nos encaramos por alguns minutos. Shawn é realmente bonito, seu cabelo estava despenteado, então ajeitei com a minha mão, e ele abriu um sorriso quando o toquei. Fiz um pequeno cafuné no topo de sua cabeça.

- Desse jeito eu vou dormir. – Disse ele, deitando em meu ombro, deixando-me com meu braço rodeado sobre ele.

Sua mão começou a circular por sobre minha coxa, aquele toque me dava arrepios, de repente, ele deu uma apertada que fez-me dar um sobressalto.

- Ah, você tem cócegas, é? – Indagou, dobrando seu braço para cima e tocando minha barriga, mas senti que sua intenção era colocar a mão mais para cima. Foi então que vi a hora no meu relógio.

- Meu Zeus! – Exclamei, saltando do sofá, assustando-o.

- Que foi? – Indagou.

- Olha a hora, minha mãe vai me matar. – Peguei minha mochila e fui até a porta.

- Oh, me desculpe, deixei levar, esqueci-me do horário. – desculpou-se.

- Imagine, eu quem me distraí...

- Não quer esperar mais um pouco? Daqui a pouco meus pais chegam e podem de levar até em casa.

- Bobagem, eu moro super perto daqui. – Disse.

- Bom, ok, você que sabe. – Ele foi até a porta para abri-la.

- Até amanhã. – Passei rápido pela porta, mas Shawn me puxou pela mão, deixando-me colado em sua face.

- Boa noite... – Ele depositou um beijo demorado em minha testa, sorri com o ato, dei um beijo rápido em sua bochecha e saí correndo.

Corri pela rua até chegar em casa. Minha irmã saía de carro quando eu passei pela garagem.

A treta ia começar.