Dakota me olhou arregalada e com o carro ligado, saiu do mesmo batendo a porta. Entrei rápido, para os vizinhos não tiverem o prazer de ver Dakota invocando o satanás.
- Vem cá garota, você pensa que é quem? Onde é que você estava? – Gritou ela. – Me responde sua peste!
- Eu disse onde estava, se não recebeu mensagem o problema é seu. – Disse parecendo o mais calma possível. Isso me fez lembrar, de que eu não lembro-me de onde coloquei meu celular.
- Como é que é? Eu não só recebi, quanto mandei mensagem, liguei várias vezes, e nada de você atender... Onde você estava?
- Na casa de uma colega. - Respondi, não prestava atenção direito no que ela dizia, só tentava me lembrar de onde coloquei meu celular.
- Que colega?
- Você não conhece. – Me apoiei no corrimão da escada, pensando no meu celular.
- Escuta aqui, eu não sei se você... – Fomos interrompidas pelo toque do telefone fixo, nós duas olhamos para ele ao mesmo tempo, e então eu me lembrei de onde estava meu celular.
Tentei correr até o telefone, mas ela foi primeiro.
- Alô? Ah sim, é da casa dela... Ela tá no banho no momento, mas eu passo recado. Ah, sim, ela estava aí né? Tudo bem, sem problemas. Tchau Shawn, prazer em conhecê-lo! – Ela desligou o telefone e me olhou enfurecida.
- Eu posso explicar. – Me defendi.
- Você é muito vadia. Disse que ia fazer trabalho, mas você foi é foder com um coleguinha. – Disse ela, me olhando com nojo.
- Meu Deus do céu Dakota, olha o que você tá falando. Ele só me convidou para passar a tarde lá.
- Eu não sei onde mamãe errou com você, caramba, você só faz cagada e escolhas erradas... O que é essa mancha na sua camiseta, Jesus Mary Elle, você bebeu? Ainda por cima vomitou em si mesma!
- É refrigerante, sua imbecil! Para de falar asneira caralho, você é muito estranha, só pensa em bobagem, sua cabeça é um ninho de minhocas. Se eu não saio com ninguém você diz que eu sou lésbica, diz para mamãe e para o pai que eu transo com garotas sem nem sequer vir falar comigo, ainda diz que Isabelle é minha ficante. Quando eu vou para a casa de um amigo, você já diz mais besteira. Meu Deus Dakota, eu tenho nojo de ter em mim seu DNA, NOJO! – Gritei, virei-me para o lado e lá estava Evan encostado no batente, ele me olhou e abriu um sorrisinho orgulhoso, era a primeira vez que eu enfrentava minha irmã, de fato. – E sabe, Hanna Dakota, quem errou, fui eu, apenas eu. Quando desisti de fugir desse inferno que vocês chamam de casa, porque fui burra ao ponto de pensar que um dia seríamos uma família.
Sorri com a minha vitória, ao vê-la ficar calada. Porém, levei um murro no meio da cara, com toda força. Cambaleei e me apoiei a parede, do lado direito da escada.
- Nunca mais fale comigo desse jeito, eu sou sua irmã e você tem que me respeitar. – Disse ela, cuspindo palavras sujas em meu rosto. Dessa vez, eu não iria conseguir segurar e deixar barato.
A olhei fundo e devolvi o tapa, ainda mais forte, fazendo-a cambalear para o lado.
- Sua vagabunda. – Disse ela, levantando-se e dando um soco em mim, meu corpo pendeu para o lado esquerdo, perdendo o equilíbrio mantido entre minhas pernas, jogando-me ao chão. Meus olhos enxergaram o tombo em câmera lenta, e focaram muito bem, no meio da queda, quando tive minha testa esmurrada contra corrimão da escada, do qual eu estava apoiada. Por muito pouco não apaguei com a batida, só fui de encontro ao chão.
Minha visão estava embargada, e eu estava muito tonta, e minha cabeça latejando. Vi Dakota chorar e correr até o banheiro fazer sabe-se lá o que, Evan veio até mim. A batida deixou até meus ouvidos meio trancados, ouvia tudo mais abafado, mas percebia que ele xingava Dakota pelo que ela fez.
Evan me ajudou a subir até meu quarto, me ajeitei na cama e ele sentou-se ao meu lado. Enquanto eu tomava consciência ele falava comigo.
- Me desculpe por isso.
- Não foi você, Evan.
- Mas eu poderia ter impedido.
- Uma hora ela ia fazer isso... Natural.
- Me desculpe por ela.
- Eu que me desculpo por você ter que aturar ela.
Evan deu uma risada pelo nariz, abaixou a cabeça e ia falar algo, mas Dakota adentrou o quarto. Chorando.
- Não, nem fala nada, eu não quero ouvir sua voz, sai do meu quarto e me deixa em paz. – Disse, colocando o travesseiro na cara.
- Elle. As coisas não podem ficar assim... E. – Dakota foi interrompida por Evan, que levantou-se e a levou para fora.
Finalmente estava sozinha, ajeitei-me na cama e apenas suspirei, enquanto minha visão ia se recuperando. Levantei-me e fui tomar um banho, deixar a água fria escorrer pelo meu corpo, para aliviar a tensão de um dia pesado e carregado, para esfriar a cabeça e tentar acalmar minha mente.
Enquanto deixava a espuma do shampoo escorrer dos meus cabelos, pelas minhas costas, levando embora assim, resquícios de sangue, do qual eu não havia me dado conta. A batida fora muito mais forte que eu pensava. Aumentei a temperatura do chuveiro.
Levei minhas mãos até o corte, que encontrava-se no canto lateral da testa, coberto pelo cabelo.
Sangue fresco pairou sobre minha mão quando a abaixei de volta ao meu campo de visão. Coloquei meus dedos sob a água, deixando o sangue se diluir por entre a água que escorria, minha mente ficou vazia, e tão cheia ao mesmo tempo. Senti que ia deixar-me levar pelo choro, fechei meus olhos com força, impedindo que qualquer lágrima vazasse.
Mas quando percebi, já havia desabado ao chão, com minhas pernas dobradas, circuladas por meus braços, minhas costas quentes tocavam a parede gelada.
Quando dei-me conta, já tinha meus olhos transbordados por gotas quentes e salgadas, lágrimas carregadas de dor. Minha voz não hesitou em escapar por entre suspiros e soluços, abafados pelo vapor da água quente, e pelo som da água tocando o chão.
Após horas chorando no banho, saí do banheiro, com o rosto vermelho e inchado, e os dedos murchos. Tranquei a porta do meu quarto, e liguei, nem tão alto e nem tão baixo, minha playlist de músicas tristes.
Em uma fração de segundos, já segurava minha agenda velha e algumas canetas e lápis. No papel, escritas algumas palavras que compunham um texto melancólico repleto de desastre.
Amassei o papel e joguei em minha mochila, o ignorando.
Peguei meu maço de cigarros e tirei um de dentro, colocando-o entre meu lábios. Assim que aceso, sentindo a nicotina adentrar meu organismo e destruindo um pouco de mim.
Para algumas pessoas, as coisas às vezes são tão difíceis. Para mim, o “às vezes” é sempre.
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