A morte é a forma mais silenciosa de comemorar uma vida inteira.
– Joaquim Pessoa.
Seus pés se arrastavam pela neve como se estivessem acorrentados a uma bigorna. O frio não lhe incomodava – sua existência era tão palpável quanto a do próprio ar. A roupa pesava como há muito não pesava, e ele sentia dor como há muito tempo não sentia. Nas mãos pálidas, Watanuki trazia flores azuis, os olhos brilhando com o prelúdio de um choro que sequer existia. Ainda assim, doía. Doía como da primeira vez – doía como em todas as vezes que o visitara. Passaram-se anos, mas seu coração ainda latejava de pesar e sofrimento e miséria. Passaram-se anos, mas o túmulo de Doumeki era eterno – quase tão eterno quanto o próprio Watanuki. Enquanto deslizava as pontas dos dedos sobre a lápide fria, expulsando dali a neve acumulada, postou-as delicadas sobre a superfície rachada pelos séculos. As flores azuis murchariam, assim como o corpo debaixo daquela terra há muito tempo murchara, e, por um momento, tudo o que Watanuki sentiu foi inveja.
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